O Interface de Transportes
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- Bruna Cavalheiro Fortunato
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1 O Interface de Transportes Tipologias de funcionamento e morfologia espacial - aplicação ao projecto Resumo Alargado Inês Isabel do Nascimento Piedade Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Júri Presidente: Professor Doutor António Costa Orientador: Professor Doutor Pedro Brandão Vogais: Professor Doutor Fernando Nunes da Silva Setembro 2008
2 RESUMO ALARGADO A presente dissertação explora a temática dos Interfaces de transportes, quer em termos morfológicos, funcionais e organizacionais, quer em termos de enquadramento e relação com a cidade. A escolha do tema tem a sua origem na cadeira de Projecto Final. De facto, o projecto desenvolvido nesta disciplina incentivou a autora a estudar com maior profundidade esta temática, na medida em que a zona de intervenção escolhida, Sete Rios, propicia uma análise conjunta do espaço com os vários modos de transporte que se interligam. No primeiro capítulo, para além das motivações, do Estado da Arte, da estrutura e das restrições, são ainda descritos os principais objectivos deste trabalho: O estudo das funções do interface de transportes como centralidade urbana e a avaliação da atractibilidade do interface para os usos urbanos. Ou seja, pretende-se perceber se o interface começa a ser, ou se tem capacidade para ser um ponto importante na estrutura urbana, não sendo apenas mais um nó de transportes, mas também um espaço cultural, de lazer e de interacção social; A avaliação dos factores que motivam a organização espacial do interface por níveis (altimetria); A análise de como e em que situações práticas, estas ligações (não só interiores como exteriores) dentro do Interface de Transportes, são feitas da melhor forma; A avaliação dos aspectos que mais contribuem para uma adequada concepção de um Interface de Transportes, através da análise e comparação de casos de estudo; Por fim, a avaliação das implicações que todos os pontos estudados tiveram no projecto desenvolvido na cadeira de Projecto Final. No segundo capitulo é feita uma contextualização do tema dos Interfaces de Transportes, a qual começa com uma breve descrição da evolução dos transportes e do conceito de mobilidade ao longo dos tempos. Refere-se que a ideia de mobilidade quotidiana surgiu no século XIX, com a era moderna devido, principalmente, à separação por zonas (zona da habitar, zona de trabalhar e zona de lazer). As pessoas começaram a sentir a necessidade de viajar todos os dias, quer fosse das suas casas para o trabalho, quer fosse para a zona comercial ou de lazer. Com o evoluir dos tempos, estas deslocações passaram a estar cada vez mais facilitadas, muito devido à fácil aquisição de um automóvel. É ainda salientada a ideia de que o automóvel vai originar uma diminuição acentuada do uso pedonal das ruas e, em casos extremos, do próprio sentido do espaço público. 2
3 A segunda parte deste capítulo debruça-se, precisamente, nas implicações que o aparecimento do automóvel teve no desenho e na vivência da cidade. É feita uma descrição da evolução do espaço público, desde as cidades pré-automóvel, passando pela construção das galerias comerciais (século XIX) em Itália, França ou Inglaterra, até à cidade contemporânea, onde se verificam muitas mudanças ao nível da vivência e usufruto da cidade, estando estas relacionadas com a utilização (ou com o abandono) por parte da população, não só do espaço público, mas também dos centros das cidades. Assiste-se a uma privatização do espaço público, nomeadamente com a construção de centros comerciais localizados na periferia, verificando-se uma consequente deterioração e abandono por parte dos peões, das tradicionais ruas e lojas dos centros, tornando-se estas zonas cada vez mais inseguras. São ainda apresentadas algumas hipóteses de resolução da actual falta de compatibilidade entre a cidade e o automóvel, nomeadamente o conceito do Utility-Car e o desenvolvimento de automóveis com motores híbridos ou eléctricos. A última parte deste capítulo evidencia como, da concentração e proximidade entre os modos de transporte, se começaram a conceber espaços subterrâneos e sobrepostos de qualidade, na cidade. Estes espaços, que são os Interfaces de Transportes, são pontos cada vez mais importantes na cidade. Estes, aliados à coordenação e organização dos vários modos de transporte, são os principais concorrentes do transporte individual e, o facto dos modos se encontrarem parcialmente enterrados e de se organizarem verticalmente, por níveis, tem ainda a vantagem de libertar espaço na cidade, devolvendo-o ao peão. São, por fim, apresentados alguns exemplos internacionais de reconversões de estações e áreas obsoletas nas suas proximidades, onde são valorizados os modos existentes e adicionados outros, estando estes novos espaços associados a grandes pólos empresariais, comerciais e habitacionais. No terceiro capítulo, o tema dos Interfaces de Transportes é abordado mais aprofundadamente, descrevendo-se o seu aparecimento e função, a sua implantação e organização funcional e dando-lhe um enquadramento legal e de gestão territorial. Refere-se que, se recuarmos no tempo, vemos que inicialmente, os portos, aeroportos e estações de caminhos-de-ferro eram apenas nós de uma rede ou de um sistema de transportes. Hoje em dia, estando muitas vezes ligados a outros modos de transporte e a diversas actividades (Interfaces de Transportes), fazem já parte de sistemas bastante mais complexos de mobilidade. Salienta-se ainda que os Interfaces de Transportes, para fazerem concorrência ao transporte individual, têm de ser cada vez mais atractivos e, para isso, é importante que sejam cada vez mais eficientes, cómodos, de fácil percepção da estrutura de funcionamento, seguros, que assegurem a protecção dos passageiros das intempéries aquando das mudanças de modo de transporte e 3
4 minimizarem ao máximo o tempo de espera e o tempo perdido em mudanças entre os modos. Outro dos factores que tornam um interface agradável e atractivo, é a qualidade dos percursos pedonais, aquando do transbordo de um modo para outro. A última parte deste capítulo pretende dar um enquadramento do que foi feito nesta área em termos legais e de gestão territorial. É salientada a importância da implementação de Planos de Mobilidade, que permitirão uma melhor coordenação, organização e gestão entre os diferentes modos e empresas de transporte. O quarto capítulo tem um âmbito mais prático. Numa primeira fase foram escolhidos quatro Interfaces de Transportes: Cais do Sodré, Pragal, Oriente e Sete Rios (interface actual e interface do projecto de final de curso). É dada uma pequena explicação da escolha de cada um deles e é apresentado um quadro que sintetiza os modos de transporte que encontramos em cada Interface. Numa segunda fase, procede-se à escolha de um conjunto de critérios para análise dos referidos casos de estudo. Na escolha destes critérios, foram bastante úteis os métodos explicados em: A imagem da cidade; O CHÃO DA CIDADE guia de avaliação do design de espaço público; Project for Public Spaces. Embora utilizem critérios de avaliação distintos, acabam por se complementar. Foi feita então uma selecção dos critérios que se pensa serem os mais adequados e pertinentes para o que se pretende avaliar, e acrescentaram-se e adaptaram-se alguns deles, conforme a sua maior pertinência: Continuidade existência ou não de relação com a estrutura e malha urbana envolvente, ou seja, se existe continuidade ou relação com ruas, praças ou espaços existentes; Permeabilidade existência ou não de ligações físicas ou visuais com a envolvente; Segurança Conforto Aprazibilidade os espaços serão analisados em termos de: manutenção, iluminação, mobiliário urbano, presença de seguranças ou agentes da autoridade; Legibilidade se o local é de percepção imediata ou se uma pessoa tem de recorrer obrigatoriamente aos sistemas de comunicação direccional para se orientar. Também é analisada a qualidade destes sistemas de comunicação, quer os informativos e direccionais, quer os comerciais; Mobilidade existência de barreiras arquitectónicas; existência ou não de equipamentos que ajudem a superar estas barreiras (elevadores, escada rolantes, plataformas elevatórias para cadeiras de rodas); e facilidade ou não de mudança entre modos de transporte, a nível físico, ou seja, sem ter em conta se esta mudança é de percepção imediata ou não, ou se está bem ou mal assinalada; 4
5 Acessibilidade qualidade dos acessos pedonais mais próximos do equipamento; existência de ligação com parques de estacionamento; zonas de táxis; e zonas de Park&Ride e Kiss&Ride; Usos e Actividades existência ou não de ligações a zonas comerciais; tipologias de comércio encontramos; utilização destes locais só pelos utentes do interface de transportes ou também os transeuntes normais os utilizam; realização de actividades no espaço do interface. No capítulo que antecede a conclusão, a análise e comparação dos Interfaces supracitadas, em conjunto com os conhecimentos obtidos no decorrer da pesquisa, são aplicadas ao projecto desenvolvido na cadeira de projecto Final. Este capítulo começa por uma introdução onde são descritos a área escolhida para o projecto, assim como a sua envolvente mais próxima e os principais objectivos que o projecto deve atingir. È ainda apresentada uma breve explicação do projecto desenvolvido pela autora. Seguidamente são apresentadas algumas das questões de projecto relacionadas com a pesquisa para a dissertação, tais como: a relação destas grandes infra-estruturas com a envolvente urbana; a ligação entre os diferentes pisos e modos de transporte; organização interior do Interface, etc.. São também descritos alguns dos problemas e condicionantes no projecto: área ocupada por infra-estruturas viárias; topografia do terreno, apresentando diferenças de cotas muito elevadas; falta de ligação entre as zonas envolventes; viaduto do Eixo Norte/Sul; separação dos modos de transporte. Por fim, é feita uma descrição das opções tomadas no projecto: mancha edificada que permite uma maior relação entre as zonas; prolongamento de ruas da envolvente; ligação pedonal entre todas as zonas e todos os modos de transportes a partir do piso -1; concentração dos modos de transporte numa zona (Interface de Transportes). A elaboração deste trabalho permitiu à autora destacar alguns pontos que considera essenciais na concepção de Interfaces de Transportes mais eficientes, quer em termos de relação com a cidade, quer em termos de conjugação e compatibilização de usos: O Interface de Transportes deverá ser um espaço integrado na estrutura urbana, ou seja, deverá constituir não só um local de acesso aos meios de transporte, mas deverá assumir-se como um espaço privilegiado de passagem. Deve por isso promover a cultura (com feiras temáticas, exposições e outros eventos), o lazer e a interacção social. Desta forma há que referir a importância dos interfaces de transportes estarem associados a zonas comerciais que complementem os usos existentes na envolvente; 5
6 A sua organização torna-se mais eficaz e cómoda se for estruturada verticalmente, por diferentes níveis. Deste modo os utilizadores estarão sempre protegidos das intempéries, conduzindo a percursos entre modos de transporte, mais atractivos, confortáveis e seguros. Esta disposição tem ainda a vantagem de libertar espaço na cidade, devolvendo-o ao peão; A inexistência de barreiras arquitectónicas é um aspecto fundamental. É imprescindível que estes espaços permitam o acesso quer por meio de escadas rolantes, quer por elevadores, aos diferentes níveis e zonas do interface; Uma boa acessibilidade ao interface é também essencial. Em termos de acessibilidade pedonal, é importante a existência de passadeiras junto aos acessos, ou de passagens aéreas ou subterrâneas no caso de serem vias de tráfego muito elevado. A acessibilidade automóvel é também um ponto relevante. Deverão ser previstas não só zonas de estacionamento, com ligação directa ao interface (Park&Ride) ou na sua envolvente, mas também zonas de paragem que permitam largar ou apanhar passageiros (Kiss&Ride). 6
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