Ano VI Número 11 Julho de 2008 Periódicos Semestral BOUBA AVIÁRIA

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Transcrição:

BOUBA AVIÁRIA MOÇO, Helder Filippi DIAS, Lauriane Conceição ANDOLFATO, Luiz Henrique M. ALVES, Maria Luiza BRONZATTO, Andresa RAYA, Diego Abdo Discentes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça FAMED helderfilippi@hotmail.com PEREIRA, Rose Elisabeth Peres Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Garça FAMED RESUMO Bouba das aves, também conhecida por epitelioma contagioso, bexiga, pipocas, varíola aviária, difteria aviária, é uma moléstia infecciosa, altamente contagiosa, caracterizada pelo aparecimento de erupções na pele e mucosas. Dissemina-se em todo o mundo, atacando as galinhas, perus e pássaros, tanto em aves domésticas quanto nas selvagens. A bouba pode atingir aves de qualquer idade, sendo mais comum e grave nas jovens, apresentando-se sob duas formas: epiteliomatosa cutânea e diftérica mucosa. O agente etiológico da enfermidade é um poxvírus. Palavras chave: Bouba, aves e poxvirus. Tema: Medicina Veterinária ABSTRACT Bouba of the birds, also known for epitelioma contagious, bladder, pipocas, aviária smallpox, aviária diphtheria, is an infectious disease, highly contagious, characterized for the appearance of eruptions in the skin and mucosae. One spreads in the whole world, attacking the hens, turkeys and birds, as much in domestic birds how much in the savages. Bouba can reach birds of any age, being more common and serious in the young, presenting itself under two forms: cutaneous epiteliomatosa and diftérica mucosa. The causal agent is a poxvírus. Keywords: Bouba, birds and poxvirus. 1. INTRODUÇÃO A Bouba aviária é uma doença viral das aves domésticas, sendo de disseminação lenta e caracterizando-se pela formação de lesões proliferativas da pele, discretas, nodulares, nas regiões desprovidas de pena no corpo da ave (forma

cutânea); ou lesões fibrio-necróticas e proliferativas na membrana mucosa do trato respiratório superior, boca e esôfago (forma diftérica). Normalmente, a mortalidade é baixa, mas pode elevar-se quando na forma diftérica ou quando da complicação por infecções secundárias e/ou má qualidade de manejo (BERCHIERI & MACARI, 2000). Não é uma doença de interesse na saúde pública e normalmente, não afeta mamíferos, porém já foi isolado um poxvirus de um rinoceronte que foi caracterizado como poxvirus de galinha (BERCHIERI & MACARI, 2000). 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O agente etiológico da enfermidade é o poxvírus avícolas,que acomete galinhas, peru, pombo, codorna, canário, papagaio entre outros) são membros do gênero avipoxvírus da família poxviridae (BERCHIERI & MACARI, 2000). A varíola é transmitida pela picada de inseto como mosquito e pelo contato de aves infectadas (MORENG & AVÉNS, 1990). A bouba é um vírus filtrado bastante conhecido, podendo permanecer no solo vários anos e causar a doença em aves não vacinadas (FREITAS, 1992). As escamas que se desintegram depois de desprendidas, propagam a doença, pois o vírus é altamente resistente ao sol e à luz e se mantém infestante no solo por mais de um ano. Assim o material infestante pode ser espalhado pelo vento, por pessoas, veículos, animais diversos e parasitos das aves (MALAVAZZI, 1995). Quanto as alterações anatomo patológicas, na forma cutânea as lesões variam de aparência: pápulas, vesículas, pústulas e crostas, dependendo do momento da observação. As pápulas são as primeiras lesões observadas que consistem de nódulos de cor clara na pele. As vesículas e pústulas são geralmente amareladas podendo, às vezes apresentar pequenas lesões do tipo papular (BERCHIERI & MACARI, 2000). Na forma diftérica (BERCHIERI & MACARI, 2000). As lesões nas mucosas são placas sobressalentes de cor amarelada. A maioria se encontra na boca, mas podem estar presente nos seios nasais, cavidade nasal, conjuntivite, faringe, laringe, traquéia e esôfago (BERCHIERI & MACARI, 2000).

Nas alterações histopatológicas, o quadro evidenciado é a hiperplasia do epitélio e alargamento das células, associado às mudanças inflamatórias. Os achados na mucosa da traquéia incluem uma hipertrofia inicial e hiperplasia das células produtoras de muco com subseqüente alargamento de células epiteliais (BERCHIERI & MACARI, 2000). Os sinais clínicos variam com a virulência e o patotipo da cepa viral, modo de transmissão e suscetibilidade do hospedeiro (RUPLEY, 1999). A ave doente apresenta se apática, encorujada, arrepiada e com febre (BIER, 1970). A doença pode acorrer na forma cutânea: É a apresentação mais comum dos surtos, as aves apresentam poucos sintomas, redução no ganho de peso ou perca na produção de ovos (BERCHIERI & MACARI, 2000). Na forma diftérica tem a presença de lesões na parte superior do trato respiratório e/ou digestório, podendo produzir dispnéia, inapetência. A mortalidade pode ser alta, mas em geral é baixa (BERCHIERI & MACARI, 2000). O diagnóstico é realizado através das lesões cutâneas e/ou diftéricos com a confirmação por exames histopatológicos (presença das inclusões citoplasmáticas), ou isolamento viral. Devem ser diferenciadas de lesões de laringotraqueíte infecciosa, deficiência de ácido pantotênico, biotina em pintinhos ou lesões de micotoxicose T-2 (BERCHIERI & MACARI, 2000). O diagnóstico microscópico é realizado através de exames de cortes histopatológicos para verificação de alterações nas células do epitélio e presença dos corpos de Bollinger. No microscópio eletrônico, pode-se pesquisar a presença do vírus nas lesões (BERCHIERI & MACARI, 2000).O diagnóstico diferencial é a Doença de Gumboro, Doença de Marek, candidiase, aspergilose (MACARI & GONZALES, 2003). Não há tratamento curativo, porém as aves doentes podem ser aliviadas com a remoção das crostas volumosas e cauterização das feridas com tintura de iodo ou nitrato de prata. As placas diftéricas podem ser lavadas com soluções fracas de permanganato de potássio (MALAVAZZI, 1995). Deve ser usado antibióticos para evitar e tratar as infecções bacterianas secundárias nas aves infectadas com poxvirose. A escolha dos antibióticos e

antifúngicos para o tratamento das infecções se baseia na cultura e no antibiograma.uma suplementação com vitamina A pode ser útil (RUPLEY, 1999). O controle é feito com princípios da biosseguridade, nos ambientes domésticos com varias aves inclui isolamento das aves infectadas, controle dos mosquitos e desinfecção das superfícies expostas a aves infectadas. Os desinfetantes efetivos incluem o hidróxido de potássio (KOH) A 1%, o hidróxido de sódio (Na0H) a 2% e o fenol a 5%. Encontram se disponíveis vacinas para psitaciformes, canários, pombos e aves domésticas e estas podem ser úteis nas populações de alto risco, tais como as aves importadas, aves expostas a aves importadas e aves em áreas nas quais ocorre uma densidade alta de mosquitos. Algumas mortes se associam com a administração da vacina (RUPLEY, 1999). A prevenção da bouba é feita pela vacinação sistemática dos pintos a partir de 10 dias.o tipo de vacinação que mais tem sido usada entre nós é o preparado com vírus de galinha atenuado por passagens sucessivas em pombo, que melhor parece reunir as qualidades de eficiência e de inocuidade (BIER, 1970). Seu uso será de acordo com a necessidade regional ou época do ano (estação de chuvas mais freqüentes que propicia a multiplicação do agente transmissor) (MACARI & GONZALES, 2003). Também devem revacinar as frangas bem antes do inicio da produção (MORENG & AVÉNS, 1990). 3. CONCLUSÃO A Bouba é uma enfermidade muito comum nas aves podendo estressa- la, e ser uma porta de entrada de infecções secundarias. Por ser uma doença viral sem tratamento as medidas de biosseguridade são imprensídiveis para possível prevenção e controle da doença. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIER, O. Bacteriologia e Imunologia. São Paulo: Melhoramentos, 1970. p.618-619 BERCHIERI JUNIOR., Â.;MACARI, M. Doenças das Aves. Campinas: Fapesp, 2000. p.333-338 FREITAS, C. Como criar galinhas. São Paulo: 1992 Tecno-print, [s.d]. p.89-91 MORENG, R. E.; AVENS, John S. Ciência e produção de aves. São Paulo: Roca, 1990. p.210-211 MALAVAZZI, G. Avicultura Manual Prático. São Paulo: 1995 Nobel. p.118-121 MACARI, M.; GONZALES, E. Manejo da Incubação. Campinas: FACTA, 2003. p.292 RUPLEY, A. E. Manual de Clínica Aviária. São Paulo: Roca, 1999. p.301