POLÍTICAS PÚBLICAS E ORDENAMENTO TERRITORIAL: A URBANIZAÇÃO DE PONTA NEGRA, NATAL/RN RESUMO



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Transcrição:

POLÍTICAS PÚBLICAS E ORDENAMENTO TERRITORIAL: A URBANIZAÇÃO DE PONTA NEGRA, NATAL/RN Mariana de Vasconcelos Pinheiro Mestranda da UFRN Brasil marianavasconcelos@globo.com RESUMO Trata-se de uma parte da pesquisa para elaboração da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus sede em Natal, RN, Brasil. Este artigo tem por tema a influência de duas políticas públicas no crescimento, urbanização e ocupação do solo do bairro de Ponta Negra, localizado na cidade de Natal, RN. Estas duas políticas versam, a primeira sobre a habitação, com a criação do Plano Nacional de Habitação, e conseqüentemente construção dos conjuntos habitacionais Ponta Negra e Alagamar, no bairro em questão. E a segunda, o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/RN), que muito influenciou nas dinâmicas espaciais deste bairro. Assim, buscar-se-á compreender a importância dessas políticas perpassando conceitos-chave para a discussão das mesmas e seu contexto de implementação, bem como a dinâmica originada a partir delas no ordenamento do bairro de Ponta Negra. Palavras-chave: Políticas Públicas; Ordenamento Territorial; Urbanização; Ponta Negra; Configuração espacial. RESUMÉN Eso trabajo es una parte de la investigación para la elaboración de la disertación de maestro del Programa de Postgraduation en la Geografía, de la Universidad Federal de Rio Grande del Norte, el sede de Campus en Natal, RN, Brasil. Este artículo tiene para sujeta la influencia de dos políticas públicas en el crecimiento, el desarrollo y la ocupación del suelo del vecindario de Ponta Negra, situaron en la ciudad de Natal, RN. Estas dos política concierne, a primero acerca de la morada, con la creación del Plan Nacional de Morada, y consecuentemente construcción de los conjuntos Del habitación Ponta Negra y Alagamar, en el vecindario en cuestión. Otra política es el Programa del Desarrollo del Turismo en el Noreste (PRODETUR/RN) que mucho influyó en la dinámica espacial de este vecindario. Así, buscará entiender la importancia de esos conceptos de política para el argumento del mismo y su contexto de implementación, también quiere a dinámico los se originó en en el ordenamento del vecindario de Ponta Negra. Palabras-clave: La política pública; Ordenamento Territorial; el Desarrollo urbano; Ponta Negra; Configuración espacial. 1

1 INTRODUÇÃO Este artigo é parte constituinte da pesquisa que vem sendo desenvolvida sobre o bairro de Ponta Negra, localizado em Natal RN, pelo mestrado do Programa de Pós Graduação em Geografia, mais especificamente da base de pesquisa intitulada Unidade Interdisciplinar de Estudos sobre a Habitação e o Espaço Construído, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O tema do mesmo remete à influência de Políticas Públicas na urbanização, ocupação e crescimento do bairro de Ponta Negra, mais especificamente da Política Nacional de Habitação e do Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste. Desta forma, subdivide-se este breve estudo em quatro partes. A primeira delas, esta sucinta introdução; a segunda denota alguns conceitoschave para a compreensão da importância das políticas públicas no ordenamento das cidades; a terceira, a influência das duas políticas, anteriormente explicitadas, na urbanização do bairro de Ponta Negra; e por fim algumas considerações pertinentes ao estudo. Enfatiza-se aqui, que não são considerados pelo autor as políticas públicas e papel do Estado como único agente produtor do espaço em questão, entretanto o foco deste estudo é designar como essas políticas interferiram na dinâmica espacial do bairro estudado. 2 CONCEITOS-CHAVE PARA A DISCUSSÃO Não se pode entender a dinâmica ocasionada pelas políticas públicas urbanas sem tecer uma breve exposição sobre a cidade, o Estado e as próprias Políticas Públicas. Sabe-se da dificuldade de conceituar alguns destes itens, entretanto, adiante explicitamos os conceitos considerados neste artigo. É difícil designarmos um conceito fechado de cidade, uma vez ela é um fenômeno que ocorre em vários lugares, ou seja, haveria de ser um conceito amplo que enquadre características gerais de todas elas. Mesmo assim, 2

existem alguns conceitos plausíveis de autores renomados, e que por isso será feita uma breve viagem sobre a cidade e o urbano. Sabe-se que a cidade nasce graças a um determinado avanço das técnicas de produção agrícola, que propiciou a formação de um excedente de produtos alimentares (SANTOS, 2008, p.59). Esse excedente propiciou a emergência de classes sociais, ou seja, surgem outras atividades aquém da agricultura, nas quais pessoas passam a se dedicar, como as comerciais, administrativas, religiosas, políticas, dentre outras. O lugar de realização das mesmas é então a cidade. Em Christaller apud Souza (2007) a cidade é uma localidade central constituída de bens e serviços, de maior ou menor níveis dependendo da sua centralidade, ou seja, poder de centralização em relação à redondeza, diretamente ligada à economia. Para Souza (2007), sob o ângulo do uso do solo, ou das atividades econômicas, ela designa-se por ser um espaço de produção não-agrícola e de oferecimento de comércio e serviços. Ela também se constitui como um centro de gestão do território enquanto sede do comércio, serviço, mas também da religião e indubitavelmente da política. A política é então, um elemento para o desenvolvimento do urbano e existência da vivência na cidade, uma vez que as normas é que controlam os territórios existentes e que condicionam a manutenção da convivência entre grupos. É neste contexto que Gomes (2006) propõe, duas matrizes distintas, entretanto não díspares de viver e conceber o espaço, o nomoespaço e o genoespaço. Entretanto, nesta discussão nos interessa somente a primeira matriz. A delimitação de leis na busca de organizar a sociedade e ordenar o território acaba por incluir àqueles que estão inseridos nos espaços das mesmas, e fazendo o movimento contrário com os que estão fora desses espaços. É nesse contexto que: O espaço é hierarquizado, assim como os poderes que sobre ele são exercidos. Sua estrutura é complexa, assim como são as disposições formais (da lei) que o regem e controlam sua dinâmica. A esse tipo de relação social com o território demos o nome de nomoespaço, ou seja, uma extensão física, limitada, instituída e regida pela lei. Trata-se de um espaço definido por uma associação de indivíduos, unidos pelos laços de solidariedade de interesses 3

comuns próprios, e pela aceitação e aplicação de certos princípios logicamente justificados (GOMES, 2006, p.37). O nomoespaço exprime, então, relações formais de pertencimento e ordenamento, ou seja, designa a própria sociedade contratual. De fato, esse tipo de espaço é a base que funda uma sociedade de contrato. O nomoespaço é assim uma condição necessária para que se configure a idéia de um pacto social do tipo contratual. Diferentes pactos dão origem a diferentes composições espaciais (GOMES, 2006, p. 40). Hipoteticamente, quem segue a ordem designada, garante o acesso à cidadania e conseqüentemente ao princípio da igualdade de direitos. Esta hipótese deve ser bem analisada, visto que há grupos específicos, que desfrutam de privilégios, que criam estas normas formalizando o território, e que esses também têm vontades, o que faz perceber muitas vezes a real intenção de determinadas legislações de acordo com interesses prescritos anteriormente, o que negligencia o ideal de ordenamento territorial para um bem comum. É neste contexto que hoje as Políticas Públicas estão tão veementemente fazendo parte do dia-a-dia da sociedade, para fins de ordenamento do território, sejam elas de caráter econômico, social, cultural, dentre outros. 3 A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA URBANIZAÇÃO DO BAIRRO DE PONTA NEGRA, NATAL/RN Duas políticas públicas, explicitadas adiante, terão destaque na explicitação do processo de urbanização do bairro de Ponta Negra. Não se pode desconsiderar os variados agentes produtores do espaço que interagem nessa dinâmica, entretanto, para esta pesquisa, será evidenciado o papel dessas políticas públicas, uma delas remetente à habitação, e outra ao turismo. 4

3.1 PLANO NACIONAL DE HABITAÇÃO (PNH) E OS CONJUNTOS HABITACIONAIS PONTA NEGRA E ALAGAMAR Para um maior entendimento da implantação desses conjuntos habitacionais em Ponta Negra, faz-se necessária uma recapitulação da dinâmica urbana que vinha ocorrendo na cidade de Natal. Em linhas gerais, a cidade de Natal é caracterizada por ter um crescimento urbano expressivo e relativamente recente. Da sua fundação, em 1599, até a década de 1930, a cidade não apresentou um crescimento populacional considerável. Vários estudos sobre o crescimento urbano da cidade apontam importantes fatores que levaram essa dinâmica a se modificar a partir de meados da década de 1940. A aceleração do crescimento demográfico da cidade e o respectivo crescimento da malha urbana, se deu através das migrações, causadas pela Segunda Guerra Mundial, pelo declínio da economia com base no tripé gado-algodão-agricultura, na qual estava inserido o estado do Rio Grande do Norte e pelas migrações, relacionadas às secas frequentes ocorridas no interior do Estado, que teriam provocado deslocamentos constantes de contingentes populacionais do campo para a cidade. Entretanto, o impulso para o crescimento da cidade ocorreu de fato na década de 1940, com a Segunda Guerra Mundial. Com ela, o setor militar foi sendo desenvolvido, havendo então a instalação das bases militares Aérea, Naval e do Exército, o que, segundo Cunha (1991),contribuiu para a expansão do setor terciário e imobiliário. Diante da intensificação do fluxo migratório, houve uma maior demanda por habitações e os limites da cidade se tornaram pequenos para contemplar o contingente populacional. Nesse contexto, é iniciada a implantação do Programa Habitacional, com a criação da Fundação de Habitação Popular (FUNDHAP), que em convênio com a Aliança para o progresso, construiu o conjunto Cidade da Esperança, primeiro dos vários conjuntos habitacionais surgidos na cidade (SILVA, 2008). Posteriormente, a FUNDHAP foi incorporada à Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte (COHAB/RN). Isto acelerou as construções de moradias financiadas principalmente pelo BNH. Esses conjuntos foram habitados principalmente pela 5

classe média, movida pelo desejo da casa própria e pelas facilidades de financiamento. Mais recentemente, na década de 1970, a ampliação do setor terciário na cidade, principalmente na área de educação, saúde e lazer e a criação de empregos públicos contribuíram para o crescimento demográfico e a urbanização da cidade. Em 1975, o INOCOOP comprou 130 hectares de terras ao empresário Osmundo Faria, o que possibilitou a construção de conjuntos habitacionais, dentre eles Ponta Negra e Alagamar, financiados pelo BANORTE Crédito Imobiliário S/A. Segundo Castro (2006) os limites do bairro de Ponta Negra, com área de 707,16 hectares, foram estabelecidos posteriormente pela Lei nº 4.328 de 05 de abril de 1993, oficializada na publicação do Diário Oficial do Município em 07 de setembro de 1994. A construção dos conjuntos Ponta Negra e Alagamar foi de imensa importância para a urbanização desse bairro, uma vez que ele passou de área praticamente rural da cidade a uma importante área de expansão urbana da cidade, e posteriormente um dos seus principais bairros, no que concerne à perspectiva econômica. Segundo Silva (2003), com os residentes nos conjuntos, houve um maior fluxo de visitantes ao local, sobretudo vindos de outros bairros, cidades, estados. Logo em seguida a implementação desses conjuntos habitacionais, foi intensificada a atividade turística no litoral do estado do Rio Grande do Norte, outro importante fator ligado diretamente à urbanização do bairro Ponta Negra. 3.2 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO NORDESTE - PRODETUR NE Outra importante política pública que influenciou diretamente na dinamização urbana de Ponta Negra foi o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, que acabou por dar uma nova função ao bairro, de bairro predominantemente residencial para um bairro misto, com fins residenciais, de segunda residência e de serviços. 6

A construção da Via Costeira, com 8,5 km de extensão, entre as praias urbanas de Areia Preta e Ponta Negra se enquadra na Política de Megaprojetos, no projeto Parque das Dunas Via Costeira. A implantação do Projeto Parque das Dunas Via Costeira só pode ser compreendida, portanto, segundo sua contextualização, que envolve, de um lado, o desejo da iniciativa pública em desenvolver o potencial turístico do Estado através de sua capital e, de outro, a pressão urbana do município de Natal sobre um trecho de sua orla de localização bastante valorizada e, até então, não integrado à cidade (CRUZ, 1995, p. 42). O projeto consistiu na implantação de hotéis, criação do Parque Estadual das Dunas de Natal, reurbanização de Mãe Luiza, e construção de uma rodovia que ligaria as praias do centro à Ponta Negra, com fins de dotar Natal de uma infra-estrutura hoteleira, para incrementar a atividade turística proposta. Esta via teve uma grande importância no processo de urbanização do bairro estudado, visto a proximidade com a praia de Ponta Negra, que é a principal paisagem turística da cidade. Isso faz com que mais uma vez o uso do solo do bairro se reconfigure. As antigas casas de praia dão lugar à pousadas de médio e pequeno porte, que se proliferam, tornando a orla da praia ainda mais comercial. Isso se reflete também no número de restaurantes e bares que surgem neste período. Um grande número de barracas de praia são instaladas nas areias de Ponta Negra, e cresce desenfreadamente o número de ambulantes vendendo produtos variados como protetor solar, óculos de sol, ginga com tapioca, pulseiras, biquines, dentre vários outros produtos. Tudo isso em prol de um mercado voltado para o desenvolvimento turístico. O PRODETUR NE viabilizou também,na década de 1980, a melhoria e construção de algumas vias de acesso, visando uma maior abrangência da atividade turística. Isso também ajudou na dinamização do urbano no bairro Ponta Negra. Assim como uma das metas estava o projeto Rota do Sol. Essa rota ligaria a cidade de Natal aos municípios praianos do litoral Sul como Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, e Goianinha. A Rota do Sol compreende à RN 063: 7

Sua principal via é a RN 063, reformada com as medidas convencionais do Estado no período de 1980 e 1985, e duplicada no período de 1993 a 1999, pelo departamento de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Norte DER RN. A duplicação inicia-se no bairro de Ponta Negra, em Natal, e termina em Búzios, no município de Nísia Floresta (FURTADO E MELO, 2001, p.09). A importância dessa estrada está ligada à articulação dela com a condução de veículos de Natal para as praias do litoral sul como Cotovelo, Pirangi, Búzios, dentre outras. A especulação imobiliária cresceu muito neste período, o que tornaria o bairro, no ano de 2000, no metro quadrado (m²) mais caro da cidade e local de grandes investimentos de grandes empreendimentos imobiliários. Hoje percebe-se uma intensa modificação na dinâmica deste bairro, que muito cresceu, está cada vez mais verticalizado, e com o cotidiano bastante diferente do que era vivenciado no início dos anos de 1980. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As políticas públicas são uma forma de ordenar o território, uma vez que faz-se necessária a existência de planejamentos para o desenvolvimento dos lugares e da convivência em sociedade. Algumas políticas influenciam mais, e outras menos na dinâmica dos espaços nos quais são aplicadas, entretanto, no caso do estudo aqui proposto, a Política Nacional de Habitação e o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, tiveram relação direta na ocupação, crescimento, urbanização e mudanças no uso do solo do bairro de Ponta Negra. Ponta Negra passou, com essas políticas acima mencionadas, de um povoado de pescadores à uma das grandes rotas turísticas do Nordeste brasileiro, uma vez que recebeu infra-estrutura urbana para isso. 8

REFERÊNCIAS CASCUDO, Luís da Câmara. História da Cidade do Natal. Natal: EDUFRN, Civilização Brasileira, 1980. CRUZ, Rita de Cássia Ariza da. Turismo e impactos em ambientes costeiros. Projeto Parque das Dunas via Costeira, Natal (RN). (Dissertação) São Paulo, 1995. CUNHA, Gersonete S. da. Natal: a expansão territorial urbana. Natal, UFRN, 1991. FURTADO, Edna Maria. A onda do turismo na cidade do sol: a reconfiguração urbana de Natal. CCHLA, UFRN (Tese), 2005. GOMES, Paulo César da Costa. A condição urbana: ensaios sobre a geopolítica da cidade. 2 ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2006. REPÚBLICA, A. 16 de Março de 1983. SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. 6.ed. São Paulo, EDUSP, 2008. SILVA, Anelino Francisco. Migração e crescimento urbano: uma reflexão sobre a cidade de Natal, Brasil. Revista eletrônica Scripta Nova. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn-94-74.htm>. Acesso em: 10 de abril de 2008. SILVA, Ângelo Magalhães. Objetos imobiliários e a produção do espaço na Zona Sul de Natal/ RN. CCHLA, UFRN. (Dissertação), 2003. SOUZA, Itamar de. Nova história de Natal. In Diário de Natal. Natal/RN 25 de setembro de 2001. (Fascículo 20) SOUZA, Marcelo Lopez de. ABC do desenvolvimento urbano. 3. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2007. 9