Relatório de Actividades Outubro de 2005 Setembro de 2006 O ano que passou Ficou marcado pelo desenvolvimento de alguns projectos e também por um acontecimento que marcou profundamente o grupo: a morte do Frederico a 30 de Janeiro, companheiro e amigo insubstituível. Acompanhámos todos com perplexidade, dor e impotência os passos de uma caminhada sem retorno. Continuarmos com entusiasmo o trabalho do Anima Mea e alimentarmos a alegria de estarmos juntos será certamente a memória mais sentida que dele possamos fazer. Os projectos 1. Projecto Magnificat anima mea música centrada na figura de Maria. Este concerto tem por base um tema central que percorre toda a história da Igreja e das artes que a acompanharam ao longo de dois milénios, em particular a pintura, a escultura e a música: Maria, Mãe do Salvador. O programa do concerto apresenta três partes que se complementam e que constituem uma viagem musical através do património da música sacra dedicada à Virgem: 1ª Parte - Uma visão diacrónica de variadas versões musicais do Magnificat, exemplificada com o excerto inicial de cada um deles, que compreende o primeiro versículo do texto: Magnificat Anima Mea Dominum. 2ª Parte - Uma apresentação de diferentes visões musicais de outros textos referenciados à figura de Maria: O Magnum Mysterium, Ave Maria e Salve Regina Foram escolhidos estes textos pela sua relação directa com momentos essenciais do ano litúrgico cristão, nomeadamente o Natal (O Magnum Mysterium) e a Páscoa (Salve Regina). 3ª Parte - A interpretação integral do Magnificat, em três versões que abrangem um período de cerca de mil anos: a visão medieval do canto gregoriano (século X), a
visão barroca de J. Rodrigues Esteves (compositor português do século XVIII), e a visão contemporânea de Arvo Pärt (compositor estónio nascido no século XX). Esta última peça é interpretada a meio desta trilogia porque, paradoxalmente (ou não), está muito mais próxima da sensibilidade medieval, nomeadamente com o seu hieratismo, o seu recolhimento e a sua referência permanente ao cantochão. Este programa foi apresentado em três concertos: v 3 de Dezembro Igreja Matriz de Meinedo, Lousada v 7 de Dezembro Igreja do Mosteiro de Grijó, Gaia v 10 de Dezembro Igreja de Santa Clara, Porto 2. Música de Natal no Metro Mais uma série de concertos nas estações do Metro do Porto para quem passa e vai apanhar o seu transporte e ainda tem uns breves instantes para parar e ouvir cantar o Natal. v 20 de Dezembro estação da Trindade v 22 de Dezembro estação do Bolhão Na sequência destes concertos o Metro do Porto decidiu atribuir um subsídio ao Anima Mea para aquisição de um órgão, o que se veio a concretizar em Fevereiro. 3. Projecto de gravação de um CD com músicas do Programa Magnificat No dia 25 de Abril, na igreja de N. Sª de Fátima (padres jesuítas), com a direcção artística de Francisco Melo e direcção técnica de Frederico Monteiro, responsável pela gravação, mistura, processamento e edição. Uma experiência interessante de rigor do trabalho do grupo e do desempenho individual, de audição e crítica das interpretações. 4. Projecto A Música na Evangelização intercâmbio musical entre Europa, África e América Cada projecto do Coro Anima Mea tem sido pensado em torno de uma ideia comum, unificadora, que dá coerência a um conjunto de peças musicais e textos não cantados. 2
A ideia inicial para este concerto era reunir um conjunto de peças relacionado com a presença portuguesa na América do Sul, nos séculos XVI e XVII. Esse reportório, criado no contexto da evangelização, reflecte influências das tradições musicais locais. O vilancico religioso é o género musical que melhor ilustra essas influências e, ao usar textos em língua vulgar, demonstra também uma clara preocupação em chegar a camadas da sociedade claramente populares. Logo surgiram várias questões: (1) a presença escassa, no Brasil, de reportório musical seiscentista; (2) a existência de muitas peças de autores portugueses, escritas em castelhano. Por isso, a ideia inicial foi-se alargando: (1) por um lado, abriu-se a um espaço geográfico maior, desde Portugal e Espanha até à África e América, na época quinhentista e seiscentista; (2) por outro lado, abriu-se aos dias de hoje: procurou-se algum reportório do tempo actual que evidencie o modo como a herança europeia, no diálogo com outras culturas, se incorpora numa nova realidade musical viva, autónoma e independente. Chegamos assim ao título do programa que agora se concretiza: A Música na Evangelização Intercâmbio musical entre Europa, África e América. A primeira parte do concerto reúne um conjunto de peças que mostra a riqueza e variedade dos locais de partida e de chegada onde a evangelização teve lugar. Os locais de partida incluem Portugal e Espanha, já que os dois países apresentam intensas afinidades e intercâmbios musicais e culturais ao longo dos séculos XVI e XVII, particularmente durante a sua união, sob a mesma coroa, entre 1580 e 1640. Os locais de chegada incluem a África, a América Central e a América do Sul, em territórios diversos como o México, Peru ou Argentina. O vilancico religioso é o único género da música sacra com texto em língua vulgar, o que favorece de forma decisiva a comunicação da mensagem evangélica. Como alternativa ou como complemento ao omnipresente latim, surgem assim imensos textos nas línguas do povo: português, galego, castelhano, catalão, guinéu (crioulo africano), quechua (língua original dos Incas) ou nahuatl (dialecto dos Astecas). Por outro lado, a ambiência popular manifesta-se nesse género através do Ritmo, 3
directamente ligado à vivacidade da dança e à multiplicidade de instrumentos de percussão que acompanham a música tradicional. Não devemos esquecer que também na Península Ibérica o Vilancico religioso reflecte o modelo de evangelização pós-reforma, com a admissão de textos em vernáculo no espaço musical sagrado. Por outro lado, a vinda para a península de pessoas oriundas da África ou América influencia os textos e as personagens dos vilancicos. A segunda parte do concerto é preenchida com a Missa Crioula, do compositor argentino Ariel Ramirez, inspirada na ambiência e no ritmo da música tradicional sulamericana, em particular da Argentina e Bolívia. 5. Concertos de Verão O projecto Evangelização Intercâmbio Musical continua a ser trabalhado para ser apresentado no último trimestre do ano mas, já com base nele, realizaram-se três concertos no Verão. A 1ª parte do programa foi preenchida com peças musicais que integram esse projecto; na 2ª parte do programa, estruturada em torno do tema Natureza designada cena campestre, foram recuperadas algumas peças musicais apresentadas no Verão de 2005. As apresentações deste programa foram as seguintes: v 8 de Julho - Música numa noite de Verão, Samão* v 11 de Julho - Música no Metro Estação do Bolhão v 13 de Julho Música no Metro Estação da Trindade *A convite do Grupo Associativo de Samão (GAS), aí realizámos um concerto em 8 de Julho. Samão é uma aldeia nos contrafortes das serras da Cabreira e do Alvão, na freguesia de Gondiães, concelho de Cabeceiras de Basto. O Anima Mea contou com uma recepção muito hospitaleira. O ambiente do concerto, antes e depois, foi muito interactivo com as pessoas da aldeia, com a participação de um coro local e de um grupo de bombos de Samão. É imperioso referir o entusiasmo do organizador Eng. Barroso, presidente do GAS, que nos alojou em casas de familiares e no dia seguinte nos guiou num percurso pedestre de visita ao fojo do lobo e a um conjunto muito 4
interessante de moinhos movidos pela água de um ribeiro de montanha, alguns já recuperados pela associação. As actividades extra-curriculares 19 de Novembro Visita à igreja de Santa Maria do Marco (com projecto de arquitectura de Álvaro Siza Vieira) e à Área Arqueológica do Freixo (cidade romana de Tongóbriga), Marco de Canavezes e magusto em casa da Lininha, associada do Anima Mea, em Amarelhe, Baião. 3/4 de Junho visita ao Parque Arqueológico do Vale do Côa. O Vale do Côa é considerado um dos mais importantes sítios de arte rupestre do mundo e por isso foi classificada como Património da Humanidade. Visitámos os núcleos de gravuras da Penascosa e da Ribeira de Piscos. Éramos 45 expedicionários e assentámos quartel-general das operações na Pousada da Juventude de Foz-Côa. À noite ainda fizemos uma serenata à porta da matriz de Foz- Côa e ficámos com vontade de voltar. 5