II CONGRESSO DE INOVAÇÃO E METODOLOGIAS DE ENSINO 1 Eixo Temático Avaliação da Aprendizagem PORTFÓLIO: DIÁLOGOS FORMATIVOS Carla Finkler 1 Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC finkler.carla@gmail.com Vanir Peixer Lorenzini 2 Universidade do Planalto Catarinense - UNIPLAC vanirlp@gmail.com Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar relato de experiência relativa ao uso de portfólio como instrumento de avaliação formativa em um curso de medicina, cujo projeto pedagógico é desenvolvido por metodologias ativas de ensino e aprendizagem, quais sejam Problematização e Aprendizagem Baseada em Problemas. A utilização do portfólio, como instrumento de avaliação vem permitindo um acompanhamento sistemático da aprendizagem dos estudantes, por parte do professor. Também permite avaliar este processo de ensinar e aprender traduzido na produção dos estudantes e no diálogo entre professor e estudante, registrado no portfólio. A análise de portfólios de estudantes deste Curso, matriculados nos quatro primeiros anos, permitiu compreender a importância do mesmo como instrumento de avaliação, no sentido formativo - aquele que acompanha o processo de ensino e aprendizagem. Esta interação pela escrita possibilita uma avaliação contínua, na perspectiva formativa, desejável a formação profissional, no caso a formação médica. Palavras-chave: Portfólio. Avaliação Formativa.Metodologias Ativas. Formação Médica. INTRODUÇÃO O portfólio vem sendo utilizado em diferentes contextos, com diversos objetivos e finalidades. Inicialmente ele tem o significado de porta folhas. O termo portfólio vem do inglês e originalmente significa cartão duplo, dobrado e utilizado para colocar papéis. [...] O termo é emprestado do italiano portafogli e é, frequentemente, utilizado em fotografia, nas artes e, mais recentemente, na educação (COSTA, 2012, p.1). 1 Mestre em Genética e Biologia Molecular. Professora da Universidade do Planalto Catarinense. 2 Mestre em Educação. Professora da Universidade do Planalto Catarinense.
Na educação o portfólio vem ganhando reconhecimento como instrumento de acompanhamento e avaliação. 2 [...] portfólio demonstra a performance do estudante num determinado momento, tendo como base documentos coletados em cenários reais, selecionados e justificados quanto aos conhecimentos previstos, exigindo que o professor crie situações para que o aluno reflita sobre o que está explorando, para elaborá-lo adequadamente (ALVARENGA; ARAUJO, 2006, p. 1). A avaliação por meio do portfólio tem grandes possibilidades de assumir uma perspectiva formativa. Neste sentido este instrumento vem sendo utilizado em cursos, cuja avaliação formativa é privilegiada, uma vez que esta tem como função a regulação do processo de ensino e aprendizagem. A avaliação formativa considera as individualidades de cada estudante e busca identificar fortalezas e fragilidades do processo, visando à superação dos problemas identificados, sem o propósito de definir a progressão do estudante. É um componente quase obrigatório de toda avaliação contínua que almeja a melhoria das aprendizagens ao longo do tempo (PERRENOUD, 1999, p.78), onde o professor tem o papel de facilitador do processo de ensino e aprendizagem, devendo fornecer feedback constante aos estudantes sobre suas fortalezas e fragilidades (SILVA e SCAPIN, 2011, p. 547). Em cursos com ênfase em metodologias ativas de ensino e aprendizagem, a avaliação realizada assume formatos para além do aspecto quantitativo com maiores possibilidades, considerando instrumento de acompanhamento formativo, portanto avaliação em processo, de caráter qualitativo. São muitas as possibilidades de Metodologias Ativas formas de desenvolver o processo de ensino e aprendizagem, visando basicamente à solução efetiva de problemas reais, com potencial de levar os estudantes a desenvolver aprendizagens para a autonomia. Dentre elas,
as mais frequentes são a Metodologia da Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP). 3 Diante do novo perfil profissional que se pretende formar, ditado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), as Instituições de Ensino Superior têm voltado seu olhar para as Metodologias Ativas. Paulo Freire (1996) defende o uso das mesmas, dizendo que na educação de adultos, o que impulsiona a aprendizagem é a superação de desafios, a resolução de problemas e a construção do conhecimento novo a partir de conhecimentos e experiências prévias dos indivíduos (BERBEL, 2011, p. 29). Os cursos de graduação na área da saúde, em grande medida, vêm adotando em seus projetos pedagógicos as Metodologias Ativas. O curso de Medicina, que tem em suas DCN a indicação para um processo de ensino e aprendizagem na perspectiva da aprendizagem ativa, foi o pioneiro na utilização da ABP, enquanto que a Problematização teve um espectro de utilização mais amplo desde o princípio. Na Problematização, a educação acontece na realidade, a qual é utilizada como problema que deve ser resolvido ou melhorado. Esta educação tem como protagonista o próprio estudante, que conhece a realidade e tenta transformá-la, enquanto o professor se coloca como facilitador da aprendizagem (BORDENAVE, 1985). Neste processo educativo, o portfólio como instrumento de acompanhamento oferece múltiplas possibilidades de avaliação, entre elas a avaliação de aprendizagem e a avaliação da ensinagem (ANASTASIOU E ALVES, 2005, p. 106), do trabalho do professor. Neste trabalho pretendemos relatar a experiência de acompanhamento do trabalho docente por meio do portfólio do estudante. Este trabalho objetiva apresentar uma experiência de utilização do portfólio no Curso de Medicina, mais especificamente a análise do mesmo, como porta voz do diálogo entre estudante e professor no processo de aprendizagem.
APRENDER E ENSINAR: O LUGAR DO PORTFÓLIO 4 O curso de Medicina, contexto deste trabalho adota como metodologias de ensino e aprendizagem a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e a Problematização. A ABP é utilizada nas Unidades Educacionais Sistematizadas enquanto que a Problematização é utilizada na Unidade Educacional de Prática de Saúde na Comunidade (UPSC), bem como na Unidade Educacional Internato, ou seja, do 1º ao 6º Ano do Curso. Neste contexto, o Portfólio é integrante da proposta de avaliação formativa do desempenho do estudante na UPSC e no Internato, caracterizando-se como um instrumento que permite ao estudante refletir sobre sua vivência nas Unidades Educacionais supracitadas. Este Portfólio apresenta uma estrutura mínima, que foi definida pelos professores do Curso, após vários debates a cerca do assunto, levando em consideração a organização dos Ciclos de Aprendizagem onde se desenvolve a metodologia da Problematização. Na UPSC do 1º ao 4º Ano do Curso, o Portfólio está organizado de forma a conter as seguintes partes: Confronto Experiencial; Síntese Provisória; Nova Síntese; Avaliação; Prescrições, além da folha de capa com os dados de identificação. Os Confrontos Experienciais são produções individuais dos estudantes, resultando no registro todos os relatos de suas experiências ao longo do ano. A Síntese Provisória é uma construção realizada em pequenos grupos, que compreende a discussão dos relatos lidos, a identificação dos assuntos significativos para o grupo, a exploração dos conhecimentos prévios (chuva de ideias) e a elaboração das questões de aprendizagem. A Nova Síntese também é elaborada nos pequenos grupos, a partir do estudo individual das informações e dos debates e trocas de conhecimentos obtidos no grupo. A Avaliação compreende o registro da autoavaliação, heteroavaliação e avaliação do professor, realizada ao final de cada ciclo de aprendizagem. A Prescrição compreende encaminhamentos individualizados para os estudantes trabalharem fragilidades apresentadas nos laboratórios de apoio do Curso.
O portfólio, com todas as partes que o compõem, deve ser entregue pelo estudante sempre que solicitado pelo professor, sendo sugerido o recolhimento quinzenal, para acompanhamento efetivo das produções do estudante por parte do professor. Sugere-se também devolutiva imediata ao estudante para que ambos possam fazer a regulação da aprendizagem. 5 Ao professor cabe avaliar a organização do portfólio de acordo com a estrutura definida, a reflexão que o estudante faz sobre as experiências vividas, a seleção da bibliografia consultada para os ciclos da aprendizagem, a caligrafia, ortografia, clareza na redação com argumentações ou registros de ideias de forma coerente e lógica e o desenvolvimento processual ao longo do período. Como o papel dos professores no processo de ensino e aprendizagem deve estar articulado às novas diretrizes curriculares proposta para os cursos de Medicina, faz-se necessário um processo de capacitação contínuo destes professores. Para isso o curso de Medicina da UNIPLAC conta com a estratégia metodológica da educação permanente, adotada para propiciar aos professores uma reflexão contínua do processo de trabalho, incentivando as trocas de experiências que se estabelecem. A educação permanente é mediada por professores que compõe o chamado Grupo de Educação Permanente (EDUPE), bem como professores que compões o Grupo de Avaliação. A estes cabe propiciar o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender. O objetivo central dessa proposta é a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho. Os professores que compõe o EDUPE e o Grupo de Avaliação, ao longo do tempo, foram se reorganizando em suas tarefas. Atualmente os dois grupos somam sete professoras. Três acompanham a Unidade Educacional Sistematizada, enquanto duas acompanham a Unidade Educacional de Prática de Saúde na Comunidade e outras duas a Unidade Educacional Internato.
Há quatro anos as professoras que acompanham a UPSC desenvolveram um trabalho de avaliação da atividade docente por meio do portfólio do estudante. Uma vez ao ano é solicitado o portfólio de um dos grupos de estudantes de cada professor, do 1º ao 4º Ano. A escolha do portfólio de cada professor ocorre de maneira aleatória, por sorteio. Nesta atividade não está em jogo avaliar a produção dos estudantes e sim verificar como o professor desenvolve sua tarefa docente de acompanhamento da produção dos estudantes e feedback aos mesmos. 6 Seguindo um instrumento elaborado para tal fim, avalia-se a estrutura geral do portfólio (partes e organização); os confrontos experienciais (número e tipo de confronto); as sínteses provisórias (número, estruturação); as novas sínteses (elaboração e bibliografia); a avaliação (autoavaliação, avaliação dos pares e avaliação do professor); a caligrafia, ortografia, clareza na redação, ideias coerentes e lógicas (comunicação escrita); o desenvolvimento processual (comunicação escrita); a periodicidade do recolhimento (quinzenal) e o encaminhamento aos laboratórios (prescrições). CONSIDERAÇÕES A experiência vivida no contexto de um curso de medicina, acompanhando o trabalho docente, na condição de integrantes dos Grupos de Educação Permanente e Avaliação ofereceu oportunidade ímpar de olhar um processo de ensino e aprendizagem, pela relação dialógica, estabelecida pelo professor e estudante no portfólio, assumindo aqui o que preceitua Freire Sem ele (o diálogo), não há comunicação, e sem esta não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição educador educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o sujeito cognoscível que os mediatiza (FREIRE, 1987, p. 47). Através deste trabalho foi possível verificar que alguns professores não tinham como prática solicitar aos estudantes a entrega do portfólio com regularidade. Com isso, os estudantes
acabavam não valorizando o portfólio de maneira adequada, uma vez que os próprios professores não o faziam. Com este resultado, conseguimos levar este dado para as reuniões de educação permanente para problematização de tal situação. À medida que os professores foram se capacitando sobre a finalidade do portfólio, como instrumento de avaliação formativa, foram instituindo o uso do mesmo. Passaram a cobrar de maneira sistemática a entrega do portfólio, de modo que, atualmente, todos os professores da UPSC, do 1º ao 4º Ano o adotam. 7 À medida que iam organizando o trabalho de registros dos estudantes, os professores acabavam interagindo com o confronto experiencial ali relatado, interferindo nos relatos de forma propositiva, confirmando ou corrigindo informações, sugerindo ou indicando alternativas de solução. Este diálogo, que por vezes tenha começado monossilábico, aos poucos se transformava em conversas profícuas, porque a interatividade estava fortemente evidenciada. Então, efeito imediato e duradouro é verificado quando o professor demonstra que lê as produções do estudante e retorna a ele, através da comunicação escrita, suas considerações. Na escrita dos professores encontramos elogios, questionamentos, sugestões e apontamentos daquilo que deveria ser melhor trabalhado. Nas produções seguintes a estas devolutivas, percebeu-se que os estudantes procuravam corrigir suas fragilidades na busca de melhor desempenho, evidenciando-se aí a avaliação formativa. Assim, tem-se o portfólio reflexivo como instrumentos de diálogo e, como são produzidos durante todo o período, continuamente reelaborados na ação, podem ser partilhados e enriquecidos com novas informações, permitindo a integração de todas as atividades vivenciadas (VEIGA, 2015, p. 258). Entretanto, nem todos os estudantes conseguem fazer a integração daquilo que vivenciam, ou conseguem em tempos diferentes. O desafio então é capacitar os professores para estarem atentos a estas diferenças e dificuldades dos estudantes.
REFERÊNCIAS ALVARENGA, G. M.; ARAUJO, Z. R. Portfólio: conceitos básicos e indicações para utilização. Estudos em Avaliação Educacional, v. 17, n. 33, p. 137-148, 2006. 8 ANASTASIOU, L.G.C e ALVES, L.P. Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville: UNIVILLE, 2005. BERBEL, N.A.N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. BORDENAVE, Juan E. Diaz; PEREIRA, Adair Martins. Estratégias de ensino-aprendizagem. In: Estratégias de ensino-aprendizagem. Vozes, 1985. COSTA, et all. O Portfólio como Estratégia de Informação e Comunicação e de Educação Permanente na Formação em Saúde. XIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação - XIII ENANCIB 2012. Comunicação. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. PERRENOUD, P. Avaliação. Da excelência à regulação das aprendizagens - entre duas lógicas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. SILVA, R.H.A. e SCAPIN, L.T. Utilização da avaliação formativa para a implementação da problematização como método ativo de ensino-aprendizagem.est. Aval. Educ., São Paulo, v. 22, n. 50, p. 537-552, set./dez. 2011. VEIGA, I.P.A (Org.). Formação médica e aprendizagem baseada em problemas. Campinas: Papirus, 2015.