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Ação Civil Originária nº 1348213-8 e nº 1348851-8, do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba. Autor: Estado do Paraná. Réu: APP Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná. Relator: Des. Luiz Mateus de Lima. Vistos, 1. O Estado do Paraná ajuizou ação declaratória de abusividade de greve de servidor público cumulada com obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada em face da APP Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná, em 27 de fevereiro de 2015, às 14:20hs (protocolo nº 0049845/2015 fl. 12), autuada sob o nº 13.8213-8, distribuída a este Relator. Alegou, em síntese, que: (a) a ré é entidade sindical representativa da categoria funcional dos professores da rede de ensino público estadual, os quais são regidos pelas Leis Estaduais nºs 13.666/2002 e 6.174/1970; (b) por meio do Ofício nº 201/2015, a entidade ré mobilizou a categoria para deflagrar greve a partir do dia 09/02/2015, sob a justificativa de inefetividade das negociações com o governo estadual; (c) houve significativas melhorias implementadas em favor da categoria nos últimos quatro anos; (d) o governo estadual investiu 37% da receita própria em educação em 2014; (e) houve a valorização profissional da remuneração dos professores em 60%, a ampliação da hora-atividade em 75% e a contratação de 37% de professores e funcionários nos últimos quatro anos; (f) foram otimizadas as condições de trabalho dos professores por Página 1 de 12

meio de medidas paralelas (aumento dos gastos com merenda escolar, ampliação de recursos com transporte escolar, investimento na educação especial, aumento dos recursos destinados ao Fundo Rotativo para as Escolas); (g) todos os itens da pauta reivindicatória foram atendidos; (h) as atas das reuniões havidas nos dias 19/02/2015, 20/02/2015 e 25/02/2015 demonstram o cumprimento da pauta de reinvindicação do Sindicato; (i) houve a retirada dos Projetos de Lei nºs 06/2015 e 60/2015; (j) foi efetuado o pagamento da rescisão dos contratos temporários em 24/02/2015, bem como do auxílio alimentação; (l) foi definida solução para o pagamento do terço de férias; (m) outros temas ainda estão sendo negociados, havendo esforços da Administração para a solução do impasse; (n) ocorre que o movimento grevista não tem previsão para cessar, conforme inúmeras notícias veiculadas na mídia; (o) embora constitucionalmente garantido, o direito a greve em questão está em flagrante estado de abuso de direito; (p) jamais ocorreu a interrupção das negociações relativas ao interesse da categoria; (q) o movimento grevista afronta o artigo 3º da Lei nº 7.783/89; (r) os maiores prejudicados são os alunos; (s) houve inúmeros avanços concedidos à categoria pela Administração; (t) a Lei nº 7.783 não prevê a possibilidade de deflagração de greve com conotação política; (u) a entidade ré pretende interferir na gestão da Administração Pública em decisões de natureza gerencial do Estado (ajustes das contas públicas); (v) tendo em vista que a educação é um serviço público essencial, não se pode admitir a integral paralisação, Página 2 de 12

ainda mais levando em consideração a extensão temporal do movimento. Assim, requer a concessão da antecipação de tutela, para o fim de determinar a paralisação do movimento grevista pelos servidores estaduais vinculados à Secretaria de Estado da Educação, com fixação de multa à entidade e aos seus dirigentes. Subsidiariamente, que seja determinada a manutenção da prestação dos serviços nas escolas estaduais e afins, limitando-se a greve aos setores administrativos. Ainda, pleiteia a concessão de interdito proibitório, no sentido de proibir que os grevistas obstem de qualquer modo os acessos às dependências de quaisquer órgãos públicos estaduais ou impeçam outros servidores de trabalhar regularmente. Por fim, postula pela procedência da presente demanda. 2. Na mesma data, em 27 de fevereiro de 2015, às 18:10hs (fl. 02), no Serviço do Plantão Judiciário, foi interposta nova demanda, com as mesmas partes e os mesmos pedidos, autuada sob o nº 1348851-8 (protocolo nº 51217/2015 02.03.2015 fl. 12). É o relatório. (autos nºs 1348213-8 e 1348851-8). 3. Primeiramente, reúnam-se os feitos 4. Tendo em vista que as demandas apresentam identidade de partes, de causa de pedir e de Página 3 de 12

pedido, é de rigor o reconhecimento da litispendência (artigo 301, parágrafos 1º, 2º e 3º, do Código de Processo Civil) Em razão da litispendência, determino a extinção do feito relativo aos autos nº 1348851-8, nos termos do artigo 267, inciso V, do Código de Processo Civil. Via de consequência, resta extinta a liminar concedida pelo Plantão Judiciário de Segundo Grau (fls. 40/56 autos em apenso), bem como resta prejudicada a apreciação da petição interposta pela APP Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (protocolo nº 0053879/2015 fls. 111/112 autos em apenso) e do petitório apresentado pelo Estado do Paraná (protocolo nº 0052949/2015), cuja cópia se determina a juntada no presente momento. 5. Diante de tal extinção, passo a análise do pedido de tutela antecipada requerido. 6. A antecipação de tutela pode ser concedida, quando estiverem presentes os pressupostos previstos no artigo 273 do Código de Processo Civil, verbis: Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. Página 4 de 12

Júnior: Autos nº 1348213-8 A propósito, leciona Humberto Theodoro "(...) há antecipação de tutela porque o juiz se adianta para, antes do momento reservado ao normal julgamento do mérito, conceder à parte um provimento que, de ordinário, somente deveria ocorrer depois de exaurida a apreciação de toda a controvérsia e prolatada a sentença definitiva. Justifica-se a antecipação de tutela pelo princípio da necessidade, a partir da constatação de que sem ela a espera pela sentença de mérito importaria denegação de justiça, já que a efetividade da prestação jurisdicional restaria gravemente comprometida. Reconhece-se, assim, a existência de casos em que a tutela somente servirá ao demandante se deferida de imediato. (...) ( Curso de Direito Processual Civil, volume II, 41ª edição, Rio de Janeiro, editora Forense, 2007, p. 750) Logo, para a concessão da tutela antecipada é necessária a aparência de bom direito, ou seja, a verossimilhança das alegações, acrescida da existência do fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, isto é, perigo de que não sendo concedida a medida, venha a decisão final tornar-se ineficaz ou haja a grande possibilidade de tal fato ocorrer. No caso em exame, entendo que a antecipação de tutela deve ser concedida, tendo em vista a presença dos requisitos autorizadores, quais sejam, verossimilhança das alegações e fundado receio de dano irreparável. Como se sabe, a Constituição Federal de 1988 assegura, entre os direitos sociais, o exercício do direito de greve: Página 5 de 12

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. O artigo 37, inciso VII, da Carta Magna garante tal direito no âmbito da Administração Pública, verbis: Art. 37 A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) VII o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. (...) Ante a falta de edição de norma específica, a Lei nº 7.783/89, que disciplina o direito de greve no âmbito privado, é aplicável, por analogia, ao setor público, conforme decidido pelo Supremo Tribunal Federal nos Mandados de Injunção nºs 670-9-ES e 708-0-DF, em 25/10/2007, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, que prolatou o acórdão com a seguinte ementa: MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL (CF, ART. 5º, INCISO LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, INCISO VII). Página 6 de 12

EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS Nºs 7.701/1988 E 7.783/1989. Todavia, tal legislação deve ser aplicada levando em consideração os princípios que regem a Administração Pública. Na hipótese, embora o movimento grevista em apreço seja legítimo, bem como pautado na legalidade, tendo inclusive a autoridade estadual sido devidamente notificada (fls. 15/16 TJPR) a respeito da deflagração da greve, entendo que as atuais circunstâncias fáticas autorizam a concessão da tutela antecipada, no sentido de determinar a cessação do exercício do direito de greve. Consoante se observa dos autos, bem como das notícias constantemente veiculadas nas diversas mídias, o Estado do Paraná já realizou algumas reuniões (19.02.2015, 20.02.2015 e 26.02.2015) com o sindicato réu a fim discutir as reivindicações da categoria e tentar pôr termo à paralisação. Página 7 de 12

É inegável também que houve alguns avanços nas negociações, como por exemplo, a retirada dos Projetos de Lei nº 06/2015 e 60/2015, bem como o pagamento da rescisão dos contratos temporários, além da perspectiva da solução de outras questões (pagamento do 1/3 de férias em atraso, retomada do porte das escolas, distribuição de aulas, progressões e promoções). Somado a tais avanços das tratativas, há também o decurso de lapso temporal significativo de paralisação, contabilizando mais de 20 (vinte) dias, o que é extremamente prejudicial a milhares de estudantes, os quais estão sendo as maiores vítimas de tal impasse. Ademais, a permanência do estado grevista afetará também o calendário escolar, pois ainda que haja a reposição de tal carga horária no futuro, é inegável o prejuízo quanto aos conteúdos disciplinados, uma vez que não serão ministrados com a mesma qualidade do que se fossem no período regulamentar. Por derradeiro, ainda que o interesse da categoria sindical envolvida seja legítimo e pautado na legalidade, deve prevalecer o direito essencial/fundamental à educação. O direito de greve no âmbito da Administração Pública sofre limitações, tendo em vista os princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços públicos, os quais se sobrepõem ao interesse particular (categoria profissional). Página 8 de 12

Sobre às limitações ao direito de greve dos servidores públicos, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: (...) O Superior Tribunal de Justiça é competente para julgar a presente demanda, tendo em conta que o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar simultaneamente os Mandados de Injunção n. 670/ES, 708/DF e 712/PA, fixou a competência desta Corte para decidir as ações ajuizadas visando ao exercício do direito de greve aos servidores públicos civis, quando a paralisação for de âmbito nacional ou abranger mais de uma unidade da federação. No mesmo processo, o Supremo Tribunal Federal determinou que todas categorias inclusive servidores públicos têm direito à greve e enquanto não for editado norma específica deve-se utilizar, por analogia, a Lei n. 7.783/89, que disciplina o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais e regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. O direito de greve no âmbito da Administração Pública deve sofrer limitações, na medida em que deve ser confrontado com os princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços essenciais, para que as necessidades da coletividade sejam efetivamente garantidas, (...) (STJ, Pet nº 007985, Rel. Min. Humberto Martins, Dje 25.06.2010) (...) De fato, o direito de greve dos servidores públicos deve lhes ser assegurado, porém não de forma irrestrita, haja vista a necessidade de ser harmonizado com os princípios da supremacia do interesse público e da continuidade dos serviços essenciais para que as necessidades da coletividade sejam efetivamente garantidas, como é o caso das atividades exercidas pelas Instituições Federais de Ensino IFEs. (...) (STJ, Pet nº Página 9 de 12

8634, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Dje 08.08.2011) O princípio da supremacia do interesse público é basilar da Administração Pública. Nesse contexto, sempre que houver confronto de interesses, o da coletividade deve prevalecer sobre o individual. Essa é uma das prerrogativas conferidas à Administração Pública, porque a mesma atua por conta de tal interesse, ou seja, o legislador na edição de leis ou normas deve orientar-se por esse princípio, levando em conta que a coletividade está num nível superior ao do particular. O interesse público é indisponível não podendo deixar de existir, pois não há faculdade de atuação ou não do Poder Público, mas sim um dever de atuação. Assim, sempre que uma greve venha a comprometer o interesse da coletividade ela deve ser considerada abusiva. Já o princípio da continuidade dos serviços públicos visa não prejudicar a população, vez que existem serviços que são indispensáveis. No caso em apreço, embora legal o direito de greve, tem-se que tal direito não é absoluto, devendo ser relativizado em razão das características do serviço que presta (educação) e da prevalência do interesse coletivo sobre os interesses individuais de uma categoria de servidores. De maneira alguma digo com isso, que as reivindicações dos integrantes do sindicato réu não são dignas ou justas. Todavia, o que não me parece justo e legal, Página 10 de 12

no caso, é comprometer toda a sociedade, maior afetada nesse momento, pelo movimento paredista. 7. Desse modo, dado o contexto fático atual (avanço das negociações, extenso lapso temporal da paralisação, milhares de estudantes prejudicados) e tendo em vista os efeitos nefastos para a sociedade (supremacia do interesse público), é de rigor a concessão da tutela antecipada, sem prejuízo das negociações em trâmite, no sentido de: (i) determinar o retorno imediato das aulas, com a cessação do movimento grevista dos servidores estaduais vinculados à Secretaria de Estado da Educação, sob pena de incidência de multa diária no montante de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) em caso de descumprimento; (ii) proibir os grevistas de vedarem e limitarem, de qualquer modo, os acessos às dependências de quaisquer órgãos públicos estaduais ou de impedirem outros servidores de trabalhar regularmente. policial, caso necessário. (iii) desde já, autoriza-se o uso de força 8. Cite-se a entidade sindical ré (APP Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná). Intime-se também sobre a liminar concedida, por mandado, ficando autorizado o Juiz de plantão a assinar o referido. Página 11 de 12

9. A entidade sindical ré deve expedir, no prazo de 24 horas, a comunicação de todos os seus filiados, sob pena de responsabilização pessoal dos seus dirigentes. 10. Após o cumprimento da presente decisão, será designada data para audiência de conciliação. 11. Publique-se. Curitiba, 04 de março de 2015. LUIZ MATEUS DE LIMA Desembargador Relator Página 12 de 12