PROJETO EMPRESA SIMULADA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA DO CURSO TÉCNICO EM MANUTENÇÃO E SUPORTE EM INFORMÁTICA DO IFMG - UNIDADE JOÃO MONLEVADE NOVAIS JUNIOR, Osvaldo 1 RODRIGUES DIAS, Daniela 2 INTRODUÇÃO João Monlevade, cidade com aproximadamente 80.000 habitantes, localizada 110 km a leste de Belo Horizonte, é a porta de entrada do Vale do Aço, uma região altamente industrializada. Importantes indústrias encontram-se na região, tais como a ArcelorMittal, a Cenibra, a Vale, a Usiminas e a Acesita, entre outras. A cidade tem um comércio ativo e diversificado e a economia local tem como destaque as atividades da ArcelorMittal, porém a cidade também se projeta como importante pólo regional, comercial e prestador de serviços. A qualidade da infra-estrutura urbana e a localização geográfica estratégica (às margens de rodovia federal de fluxo intenso e relativa proximidade da capital mineira) potencializam a sua capacidade de crescimento. O elevado padrão econômico da região determina uma crescente demanda das empresas e da população por novos produtos e serviços. Há particularmente uma demanda pelo oferecimento de vagas no ensino técnico e superior, como se verificou, na última década, pela implantação de escolas técnicas, faculdades e universidades. O Curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática foi oferecido, na modalidade subsequente, através um convênio de cooperação técnica, educacional, científica e cultural firmado entre o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - IFMG e a Prefeitura Municipal de João Monlevade, com início em Março de 2010 e conclusão em Agosto de 2011. O curso foi planejado com uma ênfase na Educação Empreendedora. Além das disciplinas técnicas oferecidas, como por exemplo: Informática Básica, Manutenção, Programação, Redes de Computadores, Sistemas Operacionais, Estudos Complementares Integrados, o curso teve como inovação as disciplinas de Gestão em Informática I, II e III, com foco no empreendedorismo, articulando conhecimentos teóricos com a prática. 1 Coordenador do Curso Técnico Subsequente de Manutenção e Suporte em Informática, IFMG - Unidade João Monlevade. Professor do Curso Técnico Integrado de Automação e Controle, IFMG - Campus Ouro Preto. Pós-graduado em Administração de Redes Linux e Mestrando em Administração - MINTER IFMG/FUMEC. 2 Professora das disciplinas de Informática básica, Sistemas de Informação I, II e III, Gestão em Informática I, II e III e Estudos Complementares Integrados I, II e III do Curso Técnico Subsequente de Manutenção e Suporte em Informática, IFMG - Unidade João Monlevade. Pós-graduada em Informática Educacional e MBA em Gestão Empresarial. 322
Empreendedorismo é o envolvimento desde pessoas e processos que, em conjunto, levam à transformação de ideias em oportunidades. E a perfeita implementação destas oportunidades leva à criação de negócios de sucesso. (DORNELAS, 2008). O conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil, nos últimos anos, intensificando-se no final da década de 1990. Existem vários fatores que talvez expliquem esse repentino interesse pelo assunto, já que, principalmente nos Estados Unidos, país onde o capitalismo tem sua principal caracterização, o termo entrepreneurship é conhecido e referenciado há muitos anos, não sendo, portanto, algo novo ou desconhecido. No caso brasileiro, a preocupação com a criação de pequenas empresas duradouras e a necessidade da diminuição das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos são, sem dúvida, motivos para a popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido especial atenção por parte do governo e entidades de classe. (DORNELAS, 2008). Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, as Micros e Pequenas Empresas - MPEs correspondem a 98% das empresas formais, sendo que existem mais 9,5 milhões de empresas informais gerando juntas cerca de 21% do produto interno bruto - PIB e empregam mais de 60% da mão de obra do país. A entrada em vigor da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em 2007, e da Lei do Empreendedor Individual, em 2008, confirmam o papel de destaque das MPEs na política econômica e o desejo do governo de impulsionar o empreendedorismo no Brasil (GEM, 2010). As micro e pequenas empresas (MPEs) representam 98,9 % do total de empresas no país, sendo que, destas, 22% decretam falência antes dos dois primeiros anos de existência (SEBRAE, 2007). Apesar de todo o apoio governamental para a criação e manutenção de MPEs no Brasil, ainda é preocupante a chamada mortalidade infantil dessas empresas. A pesquisa SEBRAE (2007) mostra uma melhora nas taxas de sobrevivência e mortalidade de empresas no Brasil nos anos 2000. Porém, essa pesquisa ainda aponta a falta de habilidades gerenciais, baixa capacidade empreendedora e problemas de logística operacional como as principais causas do insucesso do empreendedor. Nessa perspectiva, vários estudos destacam a importância dos programas de educação empreendedora para o desenvolvimento de habilidades, atitudes e comportamentos necessários para criar empregos, promover o crescimento econômico, melhorar as condições de vida e estimular a inovação para enfrentar os desafios que as mudanças globais nos impõem (DOLABELA, 1999; CRUZ JR et al, 2006; LOPES, 2010; GEI, 2009). O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) desde 1999 monitora o nível de empreendedorismo no Brasil e em 59 países. Na área de educação e capacitação para o empreendedorismo este grupo de pesquisa propõe que para o fortalecimento do empreendedorismo no Brasil é necessário que as escolas revejam seus currículos e insiram neles projetos pedagógicos que mesclem formação técnica com desenvolvimento de habilidades empreendedoras. 323
Dentro deste cenário procuramos realizar atividades que possibilitassem uma melhor visualização da Educação Empreendedora. Portanto, no último módulo do curso, como trabalho final da Disciplina Gestão em Informática III, foi desenvolvido o Projeto Empresa Simulada. O Projeto Empresa Simulada foi elaborado com o objetivo precípuo de incentivar e despertar habilidades empreendedoras nos alunos do Curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática do IFMG - Unidade João Monlevade. MATERIAIS E MÉTODOS O percurso do projeto Empresa Simulada consistiu desde a concepção de um Plano de Negócios até a exposição das empresas criadas pelos alunos. Como trabalho final da disciplina Gestão em Informática III, os alunos organizaram-se em equipes para elaboração de um plano de negócios para a criação de uma empresa. A empresa deveria ter um produto definido, com viabilidade técnica e de mercado, ser inovadora e apoiada na Gestão da Informática. Foi então, disponibilizado para os alunos um modelo padrão de Plano de Negócios e a partir deste criou-se um cronograma de tutoria de como montar e utilizar este plano. A elaboração de um Plano de negócio é fundamental para o empreendedor, não somente para a busca de recursos, mas, principalmente, como forma de sistematizar suas ideias e planejar de forma mais eficiente e eficaz. Após a confecção dos planos de negócios pelos alunos, foram montados os stands, onde seriam expostas as ideias consequentes dos Planos de Negócios. Cada equipe que compunha a empresa deveria ficar responsável pela decoração de seu stand, ou seja, a gestão visual das empresas trouxe ao projeto um ambiente criativo e confortável àqueles que por lá passaram. Salientamos que toda a criatividade, também na produção e confecção dos produtos, foi de autoria dos alunos. A exposição dos trabalhos do Projeto Empresa Simulada aconteceu no dia 17 de Junho de 2011 na unidade conveniada do IFMG em João Monlevade. Foram apresentados planos de negócios nos segmentos de serviço e comércio, não só na área de informática, como também em áreas como turismo, arte, lazer, gastronomia e segurança do trabalho. Todos os professores, o coordenador de curso e coordenação pedagógica foram convidados para visitar e avaliar as empresas. Foram avaliadas as estratégias Mercadológicas, Competitivas, Financeiras, Tecnológicas e estratégias de Marketing das empresas. O nível dos trabalhos foi elevadíssimo e houve um grande destaque na importância da tecnologia da informação nas empresas, sendo que a sua utilização é fator chave para que as empresas mantenham a competitividade no mercado atual, onde a transformação tecnológica e globalização dos negócios é uma realidade. Muitos alunos desenvolveram sites para divulgar as empresas na Internet e manifestaram o interesse de colocar em prática seu plano de negócio e levar adiante os conhecimentos adquiridos nas aulas. 324
Ressalta-se que o Projeto Empresa Simulada do Curso Técnico de Manutenção e Suporte em Informática do IFMG - Unidade João Monlevade não está vinculado à Empresa Simulada que é uma metodologia de capacitação adquirida em 1994 pelo SEBRAE Minas. O objetivo desta metodologia do SEBRAE é através de empresas virtuais, que estão inseridas num mercado também virtual, simular situações empresariais como existem na vida real. Essas empresas são coordenadas pelo CESBRASIL - Centro Brasileiro de Empresas Simuladas, cuja missão é proporcionar apoio operacional, representando o papel de Banco Central. Todas as transações comerciais internacionais das Empresas Simuladas são respaldadas pelo CESBRASIL junto ao EUROPEN, órgão que coordena as empresas simuladas em âmbito mundial, com sede na Alemanha. As Empresas Simuladas possuem linhas de produtos, serviços definidos, tabelas de preços e gestão própria, tudo pesquisado e analisado de acordo com a oferta e demanda por esses produtos no mercado real. (CESBRASIL, 2011). RESULTADOS O Projeto Empresa Simulada do IFMG Unidade João Monlevade, consistiu em integrar, de forma prática, não só os conteúdos das disciplinas Gestão em Informática I, II e III, aplicadas durante o curso, como também as disciplinas voltadas para Programação, Manutenção e Suporte em Informática. Através do Projeto Empresa Simulada observamos alguns aspectos comportamentais dos alunos: Desenvolvimento de atitudes empreendedoras: iniciativa, persistência e busca de informações; Perspectivas positivas em relação ao futuro profissional; Identificação de oportunidades de negócios na região; Melhoria da capacidade de expressão: perda da inibição e do medo de se expor em público, acompanhadas de mudanças na apresentação pessoal; Melhoria da auto-estima; Perspectiva de abertura de empreendimentos; Motivação para o trabalho em equipe e Conscientização da importância da cidadania. O Projeto Empresa Simulada foi uma oportunidade valiosa para que os alunos não só praticassem os conhecimentos gerenciais aprendidos em sala de aula, como também para que consolidassem a proposta de Educação Empreendedora do Curso. DISCUSSÃO A experiência de implantação da disciplina de Educação Empreendedora no curso técnico em Manutenção e Suporte em Informática mostrou-se desafiante e enriquecedora, onde buscamos o desenvolvimento das seguintes competências profissionais: Conhecimentos informação, atualização profissional, reciclagem constante; Habilidades maneira prática de aplicar o conhecimento na solução de problemas e situações; 325
Atitudes capacidade de trabalhar em equipe, de comunicação oral e escrita, de apresentar novas ideias, de administrar o tempo e de atuar com autonomia para aprender. Integrar a teoria à prática na sala de aula é sempre um desafio. O conhecimento pode ser reproduzido e, para ser absorvido, necessita levar em conta o compromisso mútuo - do professor e do aluno. Através das estratégias didáticas adotadas como histórias de empreendedores de sucesso, a disciplina potencializou as oportunidades para aproximar os alunos da gestão dos pequenos negócios e dos riscos e oportunidades inerentes à atividade empresarial. Também a elaboração do projeto de negócios mostrou-se um importante instrumento como referência para que os potenciais empreendedores possam avaliar a viabilidade do negócio, seus entraves e barreiras, suas potencialidades de sucesso e expansão. CONCLUSÃO As práticas empreendedoras caracterizam como soluções técnicas com possibilidade de se transformar em empreendimentos executáveis que comprovadamente contribuam com o processo de desenvolvimento da comunidade. Para ser empreendedor, há que perseverar. O início do negócio próprio é sempre difícil, e os obstáculos põem à prova a capacidade de o empreendedor seguir em frente. Desistir é a saída mais fácil, mas a mais distante para a auto-realização. Não abrir mão de um sonho, de um desafio pessoal e de um comprometimento com todos os envolvidos faz parte do perfil do empreendedor que não se assusta com os percalços do caminho e supera o próprio limite. O empreendedor de sucesso é aquele que jamais desiste e está sempre aprimorando seus conhecimentos para conseguir melhores resultados. Em empreendedorismo um dos principais ensinamentos que podemos ter é o fato de que nada se constrói sozinho, sempre há a necessidade de trabalho em equipe. Qualquer projeto empreendedor sempre terá maiores chances de sucesso se a equipe envolvida for comprometida e agregar valor, trazendo o complemento necessário para a conclusão do trabalho. Concluindo, consideramos que o Projeto Empresa Simulada foi um sucesso e teve sua importância e relevância reconhecida pelos alunos. A pesquisa de avaliação realizada com os alunos no final do curso apontou que 62,2% dos alunos consideraram ótima a proposta de realização do Projeto de Empresa Simulada e o restante 37,8 %, também avaliaram positivamente considerando muito boa a iniciativa. Espera-se que, ao investir em desenvolvimento de conhecimento técnico e informações empreendedoras que possam auxiliar gestão dos pequenos negócios e na redução do índice de mortalidade das empresas, o Curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática esteja, também, contribuindo para o desenvolvimento econômico e social. 326
BIBLIOGRAFIA CESBRASIL. Centro Brasileiro de Empresas Simuladas. Disponível em <http://www.cesbrasil.com.br>. Acesso em: 09 Maio 2011. CRUZ JR, João Benjamim; ARAÚJO, Pedro da Costa; WOLF, Sérgio Machado; RIBEIRO, Tatiana V. A. Empreendedorismo e Educação Empreendedora: Confrontação entre a teoria e prática. Revista de Ciências da Administração - v. 8, n. 15, jan/jun 2006. DOLABELA, Fernando. Oficina do Empreendedor. 6. ed. São Paulo: Editora de Cultura, 1999. p. 280. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 3. Ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2008. p. 01-36. GEI. Global Education Initiative. Educating the Next Wave of Entrepreneurs: Unlocking entrepreneurial capabilities to meet the global challenges of the 21st Century. World Economic Forum. Switzerland, abr. 2009. Disponível em: <http://members.weforum.org/pdf/gei/2009/entrepreneurship _Education_Report.pdf>. Acesso em: 09 Maio 2011. GEM. Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil 2010. Joana Paula Machado et al. Curitiba: 2011. Disponível em: < http://www.sebrae.com.br/>. Acesso em: 29 Abr. 2011. LOPES, Rose Mary Almeida (Org.). Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: Sebrae, 2010. ROESE, André; BINOTTO, Erlaine; BÜLLAU, Hélio. Empreendedorismo e a Cultura Empreendedora: um estudo de caso no Rio Grande do Sul. II Seminário de Gestão de Negócios. FAE Centro Universitário. Blumenau, 2005. Disponível em: <http://www.fae.edu/publicacoes/pdf/iiseminario/gestao/gestao_08.pdf>. Acesso em: 25 Fev. 2010. SEBRAE. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Fatores Condicionantes e Taxas de Sobrevivência e Mortalidade das Micro e Pequenas Empresas no Brasil 2003-2005. Brasília, 2007. p. 60. Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/>. Acesso em: 12 Mar. 2011. SOUZA, Edna Castro Lucas de. Empreendedorismo: da gênesis à contemporaneidade. In: EGEPE Encontro de Estudos Sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas. 2005, Curitiba, Anais... Curitiba, 2005, p. 134-146. 327