Título em português: Seguro agrícola, subvenções e a cultura da soja no Brasil.



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Transcrição:

Título em português: Seguro agrícola, subvenções e a cultura da soja no Brasil. A sojicultura é uma atividade econômica sujeita a intempéries e ao movimento dos mercados nacional e internacional. Tais incertezas demandam políticas públicas como a subvenção ao prêmio do seguro agrícola para proteção da atividade. Assim, este trabalho tem como objetivo analisar a importância do Programa de Subvenção do Prêmio do Seguro Rural, na sojicultura, de 2006 e a 2013. Para a realização do trabalho, fez-se revisão bibliográfica e coleta de dados secundários. Observou-se que a área segurada no país com soja, de 2006 a 2013, cresceu 341%, enquanto o número de apólices cresceu 132%, o que denota um aumento da área segurada por apólice. A importância segurada aumentou em 344%. O valor do prêmio apresentou crescimento de 596% e a subvenção, no mesmo período, aumento de 643%. É possível constar que a subvenção e o valor do prêmio apresentaram aumentos maiores do que a importância segurada. A área segurada de soja no país é de 20%, denotando possibilidade de expansão do setor. Palavras-chave: subvenção, seguro agrícola, soja Título em inglês: Agricultural insurance, subventions and soybean culture in Brazil. Growing soybeans is an activity influenced by weather and movements of national and international markets. These uncertainties require public policies such as grant to agricultural insurance premium in order to protect the agriculture. This study aims to analyze the importance of Insurance Premium Subsidy Program (PSP) in soybeans production, from 2006 to 2013. To support this study, literature review and survey of secondary data were made. It was observed that the insured acreage with soybeans in Brazil, from 2006 to 2013, grew 341%, while the number of policies increased by 132%, which indicates an increase of the insured area per policy. The insured value increased by 344%. The value of premium grew by 596% and grants, in the same period, increased by 643%. It is possible to state that the grant and the prize of agricultural insurance had greater increases than the value of the insured. The insured soybean area is 20%, indicating the possibility of expansion.

Keywords: subsidy, agricultural insurancy, soybean Introdução A agricultura, a pecuária e a silvicultura são atividades estratégicas para a humanidade, pois são responsáveis por fornecer alimentos de qualidade, além de outros produtos como fibras e combustíveis. Além disso, estas atividades estão diretamente relacionadas ao meio ambiente, ou seja, ao seu uso e à sua preservação. Longe de serem atividades simples, estão sujeitas a diversos riscos que podem ter origens em fatores edafoclimáticos, políticos ou econômicas, sob a influência da taxa de câmbio, taxa de juros, políticas agrícolas nacionais e internacionais. Frente a tal complexidade, buscando tornar as atividades agrícolas mais seguras, ferramentas de gerenciamento de riscos são desenvolvidas para dar suporte a produtores e ao sistema financeiro envolvido, caso ocorram eventos desfavoráveis a essas produções (BUAINAIN; VIEIRA, 2011). Políticas públicas agrícolas, como o crédito rural, utilizam a elaboração de zoneamento de risco agroclimático e seguro rural para mitigar os riscos, impactando positivamente produtores rurais, bancos, seguradoras, corretores (SANTOS; SOUSA; ALVARENGA, 2013). Ressalta-se a importância do seguro para combater a inadimplência do setor agrícola, em casos de sinistros e prejuízos, servindo com estímulo a melhores condições de financiamento (BUAINAIN; VIEIRA, 2011). O Governo Federal através do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural - PSR, criado pela lei nº 10.823/2003, busca reduzir os custos de contratação de seguro e estimular o acesso a esta ferramenta. O PSR, em conjunto com os programas Garantia Safra e o Programa de Garantia da atividade Agropecuária (PROAGRO) representam os esforços de implementação do seguro agrícola no país (SANTOS; SOUSA; ALVARENGA, 2013). É importante destacar que neste artigo, o objeto de analise é o seguro agrícola, que compõe o seguro rural. Este congrega também outras modalidades, como o penhor rural, o seguro de vida do produtor agrícola, entre outros. Neste contexto, a cultura da soja desponta como uma das principais culturas que se beneficia dessa subvenção federal. Por isso, este trabalho tem como objetivo analisar a

importância do Programa de Subvenção do Prêmio do Seguro Rural, para esta cultura, de 2006 e a 2013. Para a realização deste artigo fez-se revisão bibliográfica sobre seguros agrícolas, a partir principalmente de Ozaki (2010), Santos Souza e Alvarenga, (2013) e Buainain e Vieira (2011). Fez-se também levantamento de dados secundários em sites de pesquisa e de órgãos públicos. Para a obtenção de dados sobre: a cultura da soja buscou-se o sistema IBGE de recuperação Automática do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SIDRA/IBGE (2014) e a Companhia Nacional de Abastecimento CONAB (2014); a subvenção federal foram consultados os Relatórios Estatísticos do Seguro Agrícola, de 2006 a 2013, em Política Agrícola no site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA (2014). Os dados monetários, em Reais, foram tratados, para convertê-los a valor constante de dezembro de 2013. Para tal, utilizou-se o Índice Geral de Preços (disponibilidade interna) - IGPDI, base de dezembro de 2013, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), obtido no Banco Central (2014). Revisão Bibliográfica O seguro agrícola é um contrato estabelecido entre produtores e instituições seguradoras que, mediante pagamento de valores denominados prêmios, passa a cobrir danos a diferentes eventos. A Lei que está em vigor sobre seguro agrícola é a Lei nº 8.171, de 17 de Janeiro de 1991, que dispõe sobre as Políticas Agrícolas. O capítulo XV desta lei apresenta a instituição desse seguro, bem como a que é destinado. Art. 56. É instituído o seguro agrícola destinado a: I - cobrir prejuízos decorrentes de sinistros que atinjam bens fixos e semifixos ou semoventes; II - cobrir prejuízos decorrentes de fenômenos naturais, pragas, doenças e outros que atinjam plantações. Parágrafo único. As atividades florestais e pesqueiras serão amparadas pelo seguro agrícola previsto nesta lei.

É importante destacar que até a obtenção deste seguro, nos moldes atuais, é necessário compreender que houve um conjunto de ações direcionadas a esse objetivo. Ações que compreendiam alterações institucionais e organizativas, tais como a criação de leis, de seguros específicos a determinado evento e cultura, de órgãos e de programas (QUADRO 1). Segundo Santos, Sousa e Alvarenga (2013), a evolução do seguro agrícola pode ser tratada em seis momentos: o período de 1930 e 1940, quando há criação do seguro granizo pelo estado de São Paulo; a década de 1950 e 1960, com a criação da Companhia Nacional de Seguro Agrícola, em 1954, e da criação do Fundo de Estabilidade do Seguro Rural, pelo Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1964 1966 e 1973, com a criação do Fundo de Estabilização do Seguro Rural (FESR) e Decreto regulamentador em 1973; 1973, com a criação do Programa de Garantia da Atividade Agrícola (PROAGRO), pela Lei 5.969 de 1973, co exonerar o produtor das obrigações financeiras do crédito rural, caso houvesse quebra de produção em decorrência de eventos naturai (TÁVORA, 2004, p. 2-3); 2003 e 2004, com a criação e regulamentação da subvenção ao prêmio; e, em 2006 e 2012, com a operacionalização do Seguro Agrícola do Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR). (SANTOS; SOUSA; ALVARENGA, 2013). Quadro 1. Resumo dos momentos da estruturação do seguro agrícola no Brasil. Ano Evento Característica/pontos principais 1930 e 1940 1954 e 1964 1966/1973 Criação, pelo estado de São Paulo, do seguro contra o granizo Criação da Companhia Nacional do Seguro Agrícola (CNSA) e do Fundo de Estabilidade do Seguro Agrícola (FESA) Criação do Fundo de Estabilização do Seguro Rural (FESR) e Decreto regulamentador em 1973 Administrado pela secretaria de agricultura, contava com uma carteira e fundo específico. Cobertura direcionada para o algodão. Marca o início do seguro agrícola no Brasil. A CNSA era uma sociedade de economia mista. O FESA tinha como objeto a cobertura complementar de riscos devidos a catástrofes, por meio de ressarcimento de prejuízos às operadoras. O Instituto de Resseguros do Brasil foi instituído como agência reguladora/gestora (taxas de prêmio, estudos, administração). passa o seguro para o Sistema Nacional de Seguros Privados. Experiência fracassada pelos baixos recursos ao fundo e desinteresse do setor privado.

1973 2003/2004 2006/2012 Criação do Proagro (Lei no 5.969/1973) Criação e regulamentação da subvenção ao prêmio Operacionalização do Seguro Agrícola/PSR O Proagro tem o objetivo de exonerar o produtor do cumprimento de obrigações financeiras em operações de crédito de custeio, no caso de perdas de receitas motivadas pelas adversidades naturais inerentes à exploração agropecuária. Com as disposições da Lei no 8.171/1991, a Lei Agrícola, o Proagro passou a cobrir também atividades não financiadas. Aprovada a subvenção ao prêmio do seguro agrícola, devido ao alto custo do seguro e seguindo outros países. Empenho do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Federação Nacional das Seguradoras (FENSEG), da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e da confederação Nacional dos Agricultores (CNA). Novo momento do seguro agrícola no país, com o forte apoio do Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR). Fonte: Santos, Sousa e Alvarenga (2013). Destaca-se que a subvenção ao prêmio, proporcionada pelo Programa de Subvenção ao Seguro Rural (PSR), oferece auxílio financeiro para reduzir os custos de contratação de seguro e estimular o acesso a esta ferramenta, buscando garantir que os produtores recuperem parte do capital investido em culturas agrícolas. Este programa que foi criado em 2003, pela Lei 10.823, tem sido um estímulo essencial para adesão tanto de produtores, quanto de seguradoras privadas, para a efetivação do seguro agrícola (MAPA, 2014). Resultados A cultura da soja é uma das mais importantes do agronegócio brasileiro. Segundo o IBGE (2014), o país produziu 65.848.857 toneladas de soja em grão, no ano de 2012, utilizando uma área de 25.090.559 ha. O valor da produção da soja, nesse ano, foi de R$ 50,47 bilhões, em valores nominais, o que corresponde a 5% do PIB do agronegócio e 7% do PIB da agricultura, segundo CEPEA (2014). Isso denota a importância dessa cultura para a economia agropecuária do país. A Tabela 1 apresenta o desempenho das unidades federativas produtoras da cultura da soja na safra 2013/2014, segundo dados da CONAB (2014). A produção de soja no país, segundo estimativa realizada em agosto de 2014, deve atingir 85.656 mil toneladas. Esta produção está concentrada nas unidades federativas do Mato Grosso (31%), Paraná (17%), Rio

Grande do Sul (15%), Goiás (10%) e Mato Grosso do Sul (7%). A área plantada Brasil atinge 30.135,40 mil ha e as unidades federativas mais produtivas, acima de 3000 kg/ha, são Roraima, Pará, Santa Catarina e Mato Grosso, sendo esta, a unidade federativa mais relevante em quantidade produzida. Tabela 1. Desempenho da cultura da soja, na safra 2013/2014, nas unidades federativas e país. Área plantada (mil ha) % Produção (mil t) % Produtividade (kg/ha) MT 8.615,70 29 26.441,60 31 3.069 PR 5.016,60 17 14.773,90 17 2.945 RS 4.939,60 16 12.867,70 15 2.605 GO 3.101,70 10 8.709,60 10 2.808 MS 2.120,00 7 6.148,00 7 2.900 BA 1.312,70 4 3.229,20 4 2.460 MG 1.238,20 4 3.327,00 4 2.687 SP 751,7 2 1.688,30 2 2.246 TO 748,4 2 2.067,10 2 2.762 MA 662,2 2 1.838,90 2 2.777 PI 627,3 2 1.489,20 2 2.374 SC 542,7 2 1.644,40 2 3.030 RO 191,1 1 607,5 1 3.179 PA 177,5 1 551,5 1 3.107 DF 72 0 216 0 3.000 RR 18 0 56,2 0 3.120 Brasil 30.135,40 100 85.656,10 100 2.842 Nota: Estimativa de agosto de 2014. Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2014). Se considerar e relacionar os valores do PSR da cultura da soja com os valores totais Brasil, para o ano de 2013 (TABELA 2), pode-se notar a importância desta cultura para o programa. A soja representa 41% do total de apólices, 57% da área segurada, 41% da importância segurada, 43% do prêmio e 40% do valor oferecido como subvenção. Estes valores, embora relevantes, são menores do observado em 2006, o que é um indicativo do crescimento de outras culturas no PSR. No ano de 2006, a soja participava com 83% do total de apólices, 80% da área segurada, 57% do prêmio e 63% do valor oferecido como subvenção. Apenas a

importância segurada (36%) apresentou uma participação inferior ao observado em 2013. Isto deve estar atrelado à valorização dos bens segurados. Tabela 2. Comparação de indicadores do PSR total e de soja entre os anos de 2006 e 2013, em Real constante (IGPDI de dez. de 2013). Soja 2006 2013 Var. (%) Apólices (Unidade) 18.052,00 41.820,00 132 Área Segurada (ha) 1.245.126,00 5.486.454,00 341 Importância Segurada (R$) 1.637.378.312,22 7.271.789.521,70 344 Prêmio (R$) 65.017.572,24 452.785.436,66 596 Subvenção (R$) 31.712.682,82 235.622.647,40 643 Total Brasil 2006 2013 Var. (%) Apólices (Unidade) 21.779,00 101.850,00 368 Área Segurada (ha) 1.560.000,00 9.600.000,00 515 Importância Segurada (R$) 4.607.885.120,50 17.774.040.616,80 286 Prêmio (R$) 114.223.850,81 1.056.699.463,10 825 Subvenção (R$) 49.949.538,95 588.633.845,28 1078 Fonte: Elaborada pelos autores a partir de MAPA (2014). Observa-se na Tabela 2, também, que a área segurada subsidiada pelo PSR no país com soja, de 2006 a 2013, cresceu 341%. O número de apólices, por sua vez, cresceu 132%, o que indica o aumento de área média segurada por apólice, que passou de 69 ha, em 2006, para 101 ha, em 2013. A importância segurada aumentou em 344%, neste período, enquanto o valor do prêmio apresentou crescimento de 596% e a subvenção de 643%. É possível constar que a subvenção e o valor do prêmio apresentaram aumentos maiores do que a importância segurada, o que indica ajustes no prêmio, com maiores arrecadações, bem como maior estímulo de adesão ao seguro por parte do governo. A Região Sul, que concentrou 35% do total de área plantada de soja do Brasil na safra 2013/14 (TABELA 1), é a mais expressiva na utilização do PSR, considerando o ano de 2013. Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina possuem, respectivamente, 32%, 15% e 2%, ou seja, 49% do total de áreas seguradas que utilizam o PSR no país. As unidades federativas da

Região Centro-Oeste, que possuem a maior área plantada do país, 46%, detêm, por sua vez, 28% das áreas seguradas pelo PSR (TABELA 3). Tabela 3. Desempenho do PSR para a cultura da soja, por unidade federativa, no ano de 2013. Área Importância Segurada Apólices Prêmio (R$) Subvenção (R$) Segurada (ha) (R$) PR 19.612 1.774.557 2.170.465.617,24 141.539.784,53 79.095.903,26 RS 5.757 839.025 885.564.408,78 76.539.334,98 42.256.564,30 SP 3.848 338.628 493.716.777,03 31.058.497,66 13.842.898,34 GO 3.650 617.163 990.990.886,40 48.171.299,22 27.303.715,49 MS 3.021 577.850 749.891.015,84 46.267.138,38 21.761.384,87 MG 1.807 284.449 451.644.027,31 25.190.646,61 11.457.278,70 MT 1.410 504.036 761.827.013,84 29.678.059,48 15.260.092,89 SC 1.152 100.178 139.803.504,64 8.569.229,79 4.201.373,54 BA 660 207.994 301.360.781,37 24.026.737,68 10.655.614,91 TO 318 79.669 106.223.127,79 6.248.527,66 2.940.007,61 PI 246 78.784 108.911.592,05 7.680.410,62 3.391.893,31 MA 220 68.671 87.853.793,47 6.642.205,31 2.884.663,58 DF 63 8.675 14.439.735,91 668.272,48 282.738,42 RO 56 6.775 9.097.240,05 505.292,24 288.518,17 Total 41.820 5.486.454 7.271.789.521,70 452785436,66 235.622.647,40 Fonte: Elaborada pelos autores a partir de MAPA (2014). A concentração do PSR, para soja, na Região Sul acompanha a tendência das demais culturas, ou seja, onde se observa grande e variada produção agrícola (principalmente de soja, milho, maçã, uva, trigo e arroz) e, também, onde há diferenciada estrutura dos produtores (SANTOS; SOUSA; ALVARENGA, 2013). Os autores destacam que as regiões onde os produtores são melhor organizados e com maior acesso ao crédito rural, são aquelas onde se tem a maior adesão ao PSR. Ademais, é importante considerar, também, que as regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste apresentam menores riscos relativos à cultura da soja, visto às condições edafoclimáticas mais favoráveis que as observadas nas Regiões Sul e Sudeste (OZAKI, 2010). Segundo Ozaki (2010, p. 510)

entende-se por subscrição a análise preliminar dos riscos, resultando em aceitação ou rejeição desses riscos pelas seguradoras e, em última análise, pelas resseguradoras. A precificação, por sua vez, representa o processo de cálculo da taxa de prêmio, que é o preço do seguro. Nota-se que o preço não é fixado no mercado pela oferta e demanda, mas é calculado pelas seguradoras (ou resseguradoras), com base em metodologias atuariais adequadas. Assim, para o autor, a expansão do seguro também está condicionada à formação de bancos de dados consolidados, que permitam precisão nos cálculos de subscrição e precificação do seguro agrícola, utilizando métodos estatísticos e atuariais adequados. No ano de 2011, a seca foi a principal causa de sinistros. Ocorreram, nesse ano, 7.655 comunicações de sinistros às seguradoras, dos quais, 78% ocorreram no Paraná, 8% no Mato Grosso do Sul, 6% no Rio Grande do Sul e os 7% restantes distribuídos pelo restante do país (MAPA, 2014). A maior ocorrência de sinistros no ano de 2011 estimulou a adesão nos anos subsequentes, pela percepção de risco dos produtores (GRÁFICO 1). Este crescimento foi mais acentuado no ano de 2013, sendo de 56,52%. Gráfico 1. Número de apólices para a cultura da soja, no período de 2006 a 2013, Brasil. Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do MAPA (2014).

Além da subvenção federal, destaca-se que os estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, também, oferecem subvenção ao seguro agrícola, que tem complementado essa Política Agrícola Federal (BARROS, 2014). Destaca-se que o mercado de seguros agrícolas apresenta, apesar de suas limitações, possibilidades de expansão também neste sentido, visto que apenas 18% da área agrícola, no ano de 2011, estavam cobertas por algum tipo de seguro. O autor destaca ainda, que o seguro agrícola representou, em 2012, apenas 0,4% do total do mercado de seguros do Brasil, o que pode ser um indicativo de quanto este mercado pode crescer. Considerações Finais O seguro agrícola é uma ferramenta fundamental para o sucesso da agricultura brasileira e tem crescido nos últimos anos, junto com o programa de subvenção do governo federal. A cultura da soja se beneficia deste, principalmente em regiões de maior possibilidade de risco, como a Região Sul. Outra Região que apresenta relevância é a Centro-Oeste, participando com 28% da área segurada frente aos 49% da Região Sul. A importância do PSR para a cultura da soja, também, pôde ser observada com o crescimento de 596% no valor do prêmio e de 643% no valor das subvenções. Este crescimento reafirma a importância que o mercado de seguros apresenta para a agricultura, ao mesmo tempo que ressalta o grande potencial que ainda tem para ser explorado. Bibliografia BUAINAIN, Antônio Márcio; VIEIRA. Pedro Abel. Seguro Agrícola no Brasil: desafios e potencialidades, Revista Brasileira de Risco e Seguro, Rio de Janeiro, v. 7, n. 13, p. 39-68, abr./set. 2011. BARROS, Alexandre Mendonça. (Org.) Seguro agrícola no Brasil: Uma visão estratégica de sua importância para a Economia brasileira. São Paulo: Mb Agro, 2012. Relatório de pesquisa apresentado ao Mapa. Disponível em: <http://ciflorestas.com.br/arquivos/d_d_d_17833.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2014.

CEPEA. PIB do agronegócio. Disponível em: <http://cepea.esalq.usp.br/pib/>. Acesso em: 27 ago. 2014. BRASIL. Lei nº 8171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe Sobre A Política Agrícola. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8171.htm>. Acesso em: 28 ago. 2014. CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Séries Históricas de Área Plantada, Produtividade e Produção de soja. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/conteudos.php?a=1252&t=> Acesso em: 26 ago. 2014. IBGE. Produção agrícola municipal. 2014. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: 27 ago. 2014. OZAKI, Vitor. Uma digressão sobre o programa de subvenção ao prêmio do seguro rural e as implicações para o futuro deste mercado. Rev. Econ. Sociol. Rural, Brasília, v.48, n.4, dez.2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-20032010000400001&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 26 ago. 2014. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Relatórios Estatísticos. Brasília: MAPA, 2014. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/politica-agricola/seguro-rural/relatorios>. Acesso em: 26 ago. 2014. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - MAPA. Seguro Rural. Brasília: MAPA, 2014. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/politicaagricola/seguro-rural>. Acesso em: 26 ago. 2014. SANTOS, Gesmar Rosa; SOUSA, Alexandre Gervásio; ALVARENGA, Gustavo. Texto para discussão: Seguro Agrícola no Brasil e o Desenvolvimento do Programa de Subvenção ao Prêmio. 2013. Instituto de Pesquisa em Econômica Aplicada - Brasília. Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/pdfs/tds/td_1910.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2014. TÁVORA, Fernando Lagares. Seguro Rural: nova lei, velhos problemas. 2004. Consultoria Legislativa do Senado Federal - Brasília. Disponível em: < http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-paradiscussao/td-11-seguro-rural-nova-lei-velhos-problemas>. Acesso em: 27 ago. 2014.