RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO BARATA EMBARGANTE : PROFABRIL ENGENHARIA LTDA ADVOGADO : EDISON FREITAS DE SIQUEIRA E OUTROS EMBARGADO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : CATIA DA PENHA MORAES COSTA DEC.EMBARGAD : ACÓRDÃO DE FLS. 268/269 A ORIGEM : DÉCIMA NONA VARA FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (200551010049443) R E L A T Ó R I O PROFABRIL ENGENHARIA LTDA., irresignada com o acórdão de fls. 268/269, ingressa com embargos de declaração para fins de prequestionamento expresso da matéria e objetivando, ainda, sejam supridas omissões que entende existentes no julgado. Alega que os embargos de declaração são cabíveis para fins de prequestionamento da matéria e que o acórdão é omisso por não ter se pronunciado sobre a vedação à cumulação da multa moratória com os juros moratórios, sobre a redução dos juros moratórios para o patamar de 20% (vinte por cento), sobre a violação aos arts. 150, I e 192, da Constituição Federal e acerca da ofensa aos princípios da menor onerosidade e gravosidade. Manifestação do Instituto Nacional do Seguro Social às fls. 294. É o relatório. Rio de Janeiro, 02 de abril de 2007. PAULO FREITAS BARATA Relator 1
V O T O EMENTA: TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. CUMULAÇÃO DE JUROS E MULTA MORATÓRIA. REDUÇÃO DA MULTA MORATÓRIA. EFEITOS INFRINGENTES. 1. Inexistência de omissão no tocante aos arts. 150, I e 192, da Constituição Federal e sobre a ofensa aos princípios da menor onerosidade e gravosidade. 2. Existência de omissão no que se refere à vedação à cumulação da multa moratória e dos juros moratórios e sobre a legitimidade da multa moratória para o patamar de 20% (vinte por cento), por aplicação retroativa do disposto no art. 61, da Lei nº 9.430/96. 3. É cabível a atribuição de efeito modificativo aos embargos de declaração excepcionalmente, quando manifesto o equívoco, como é o caso. 4. A jurisprudência é uníssona no sentido de que na execução fiscal é legítima a cobrança cumulativa da correção monetária, dos juros moratórios e da multa moratória. 5. Como a lei não distingue a multa moratória e a punitiva, o contribuinte faz jus à incidência da multa moratória mais benéfica, sendo cabível a aplicação retroativa do art. 61, da Lei nº 9.430/97, desde que o ato não se encontre definitivamente julgado, sendo inaplicável a restrição temporal contida em tal comando, eis que em desacordo com a norma prevista no art. 106, II, c, do CTN, que possui eficácia passiva de Lei Complementar. 2
6. Embargos de declaração parcialmente providos, para dar parcial provimento à apelação. PROFABRIL ENGENHARIA LTDA., irresignada com o acórdão de fls. 268/269, ingressa com embargos de declaração para fins de prequestionamento expresso da matéria e objetivando, ainda, sejam supridas omissões que entende existentes no julgado. Alega que os embargos de declaração são cabíveis para fins de prequestionamento da matéria e que o acórdão é omisso por não ter se pronunciado sobre a vedação à cumulação da multa moratória com os juros moratórios, sobre a redução dos juros moratórios para o patamar de 20% (vinte por cento), sobre a violação aos arts. 150, I e 192, da Constituição Federal e acerca da ofensa aos princípios da menor onerosidade e gravosidade. Inicialmente, inexiste omissão no tocante aos arts. 150, I e 192, da Constituição Federal e sobre a ofensa aos princípios da menor onerosidade e gravosidade, eis que o Juiz não é obrigado a examinar todos os argumentos expendidos pelas partes ou se pronunciar sobre todos os artigos de lei enumerados, bastando que, no caso concreto, decline fundamentos suficientes para lastrear sua decisão. Todavia, verifico que, de fato, há omissão no que se refere à vedação à cumulação da multa moratória e dos juros moratórios e sobre a redução dos juros moratórios para o patamar de 20% (vinte por cento), por aplicação retroativa do disposto no art. 61, da Lei nº 9.430/96. É cabível a atribuição de efeito modificativo aos embargos de declaração excepcionalmente, quando manifesto o equívoco, como é o caso. A jurisprudência é uníssona no sentido de que na execução fiscal é legítima a cobrança cumulativa da correção monetária, dos juros moratórios e da multa moratória. Neste sentido: EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. CDA. NULIDADE. SALÁRIO-EDUCAÇÃO. TR. UFIR. 3
SELIC. MULTA E JUROS DE MORA. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.... 5.Perfeitamente aplicável a multa pelo atraso no pagamento da exação, cumulada com juros de mora e correção monetária.... (STJ, REsp 642640/SC, Min. Castro Meira, 2a T., D.J.: 21/11/2005) Passo, então, para a análise da redução da multa moratória para o percentual de 20% (vinte por cento), por aplicação retroativa da Lei nº 9430/96. O art. 106, II, c, do Código Tributário Nacional prevê expressamente que a lei nova possa reger fatos geradores pretéritos, desde que se trate de ato não definitivamente julgado, por aplicação do princípio da retroatividade benéfica. Destarte, enquanto não preclusa a oportunidade para a oposição de embargos de devedor, de embargos à arrematação ou à adjudicação, ou se estes não tiverem transitado em julgado, possível será a aplicação do dispositivo acima referido, pois o ato não estará definitivamente julgado. Como a lei não distingue a multa moratória e a punitiva, o contribuinte faz jus à incidência da multa moratória mais benéfica, sendo cabível a aplicação retroativa do art. 61, da Lei nº 9.430/97, desde que o ato não se encontre definitivamente julgado, sendo inaplicável a restrição temporal contida em tal comando, eis que em desacordo com a norma prevista no art. 106, II, c, do CTN, que possui eficácia passiva de Lei Complementar. Neste sentido, vale colacionar os seguintes arestos: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. COFINS. DCTF. DÉBITO DECLARADO E NÃO PAGO. CERCEAMENTO DE DEFESA. INTIMAÇÃO DA JUNTADA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO E PROVA PERICIAL INDEFERIDA. MULTA 4
MORATÓRIA. REDUÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 61, DA LEI Nº 9.430/96 A FATOS GERADORES ANTERIORES A 1997. POSSIBILIDADE. RETROATIVIDADE DA LEGISLAÇÃO MAIS BENÉFICA. ART. 106, DO CTN. TAXA SELIC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DECRETO-LEI Nº 1.025/69. 1. omissis. 2. omissis. 3. omissis. 4. omissis. 5. O Código Tributário Nacional, por ter natureza de lei complementar, prevalece sobre lei ordinária, facultando ao contribuinte, com base no art. 106, do referido diploma, a incidência da multa moratória mais benéfica, com a aplicação retroativa do art. 61, da Lei nº 9.430/96 a fatos anteriores a 1997. 6. omissis. 7. omissis. 8. Recurso especial da empresa conhecido e conhecido em parte o recurso especial da Fazenda e ambos improvidos. (STJ, REsp 653645/SC, 2 a T., Rel. Min. Eliana Calmon, D.J 21/11/2005) EXECUÇÃO FISCAL. REDUÇÃO DE MULTA EM FACE DO DEL 2.471/1988. ART. 106, II, c, CTN. RETROATIVIDADE DA LEI MAIS BENIGNA AO CONTRIBUINTE. POSSIBILIDADE. 1. O ART. 106, do CTN admite a retroatividade, em favor do contribuinte da lei mais benigna, nos casos não definitivamente julgados. Sobrevindo, no curso da execução fiscal, o DL 2.471/1988, que reduziu a multa moratória de 100% para 20% e, sendo possível a 5
reestruturação do cálculo de liquidação, é possível a aplicação da lei mais benigna, sem ofensa aos princípios gerais do direito tributária. Na execução fiscal, as decisões finais correspondem as fases de arrematação, da adjudicação ou remição, ainda não oportunizados, ou, de outra feita, com a extinção do processo, nos termos do art. 794, do CPC. (STJ, REsp 94511/PR, 1 a T., Rel. Min. Demócrito Reinaldo, D.J.: 25/11/1996) Pelo exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO aos embargos de declaração, atribuindo-lhes efeitos infringentes, para dar parcial provimento à apelação e determinar a redução da multa moratória para o patamar de 20%, nos termos da fundamentação supra. Em relação aos honorários advocatícios, entendo que as partes sucumbiram em partes iguais, devendo os honorários de advogado ser, igualmente, repartidos e compensados, nos termos do art. 21 do Código de Processo Civil. Custas ex lege. É como voto. Rio de Janeiro, de de 2007. PAULO FREITAS BARATA Relator E M E N T A EMENTA: TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. CUMULAÇÃO DE JUROS E MULTA MORATÓRIA. REDUÇÃO DA MULTA MORATÓRIA. EFEITOS INFRINGENTES. 6
1. Inexistência de omissão no tocante aos arts. 150, I e 192, da Constituição Federal e sobre a ofensa aos princípios da menor onerosidade e gravosidade. 2. Existência de omissão no que se refere à vedação à cumulação da multa moratória e dos juros moratórios e sobre a legitimidade da multa moratória para o patamar de 20% (vinte por cento), por aplicação retroativa do disposto no art. 61, da Lei nº 9.430/96. 3. É cabível a atribuição de efeito modificativo aos embargos de declaração excepcionalmente, quando manifesto o equívoco, como é o caso. 4. A jurisprudência é uníssona no sentido de que na execução fiscal é legítima a cobrança cumulativa da correção monetária, dos juros moratórios e da multa moratória. 5. Como a lei não distingue a multa moratória e a punitiva, o contribuinte faz jus à incidência da multa moratória mais benéfica, sendo cabível a aplicação retroativa do art. 61, da Lei nº 9.430/97, desde que o ato não se encontre definitivamente julgado, sendo inaplicável a restrição temporal contida em tal comando, eis que em desacordo com a norma prevista no art. 106, II, c, do CTN, que possui eficácia passiva de Lei Complementar. 6. Embargos de declaração parcialmente providos, para dar parcial provimento à apelação. A C Ó R D Ã O Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas: Decide a Egrégia Terceira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2 a Região, à unanimidade, dar parcial provimento aos embargos de declaração, atribuindo-lhes efeitos infringentes para dar parcial provimento à apelação, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Rio de Janeiro, 15 de maio de 2007(data do julgamento). PAULO FREITAS BARATA Relator 7
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