Eficiência de extratos aquosos no controle de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) Fernando Vesohoski 1, Pedro. H. F. Z. A. Maciel 1, Eliana Macagnan 2, Renato C. Oliveira 3 e Volmir. S. Marchioro 4 Acadêmicos do curso de 1 Agronomia e 2 Biologia Faculdade Assis Gurgacz -FAG, Avenida das Torres, n 500 Cascavel - PR. 1 fernandovesohoski@hotmail.com, 3 Professor da FAG. renato@fag. edu.br, 4 Pesquisador da COODETEC, Cascavel (PR). volmir@coodetec.com.br Palavras-chave: Zea mays L., lagarta-do-cartucho, plantas inseticidas O milho (Zea mays L.) é um dos cereais mais importantes do mundo por constituir a base da alimentação humana e animal. A produção de milho tende a se expandir fortemente para suprir a demanda gerada pelo crescimento populacional e, principalmente, pelo consumo de fontes de energia renováveis, estabelecendo, assim, a era da agricultura energética. É empregado como matéria-prima para a produção de amido, óleo, farinha, glicose, produtos químicos, ração animal e na elaboração de formulações alimentícias. Em termos de distribuição geográfica, o milho aparece nos quatro cantos do país. A Região Centro-Sul é responsável por mais de 95% da produção do cereal (BULL & CANTARELLA, 1993). As perdas devido ao ataque de insetos na cultura de milho são variáveis, podendo atingir valores relativos elevados em casos extremos. As pragas que comumente ocorrem na cultura de milho são: coró, broca da cana-de-açúcar, cigarrinhas das pastagens, cigarrinhas, cupim, lagarta da espiga, lagarta do cartucho, lagarta elasmo, percevejo castanho, percevejo do milho e outras (BULL & CANTARELLA, 1993; FANCELLI & NETO, 2000). Dentre as principais pragas que ataca a cultura do milho está a Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae), que ocorre em todo o ciclo da cultura causando consideráveis perdas na produção. A dimensão das perdas provocadas pode variar em função da cultivar utilizada, da fase fenológica, do sistema de produção empregado e do local de plantio (SARMENTO et al., 2002). O seu ataque pode causar perdas na produção até de 38,7% (WILLIAMS & DAVIS 1990; CRUZ et al. 1996). A S. frugiperda pode ocorrer em arroz (FERREIRA & MARTINS, 1984) e algodão (ALMEIDA & SILVA, 1999). Após a ovoposição, a lagarta eclode num período de três a cinco dias, iniciando sua alimentação em folhas abertas, raspando-as sem perfurá-las. A partir do 4º ínstar, ataca preferencialmente o cartucho da planta, consumindo grande parte da área foliar antes das folhas emergirem do cartucho e, em completo desenvolvimento ataca todas as folhas centrais, chegando a destruir completamente o cartucho. Devido ao canibalismo, é comum encontrar-se apenas uma lagarta desenvolvida por cartucho, podendo-se encontrar lagartas em ínstares diferentes num mesmo cartucho, separadas pelas lâminas das folhas. Em razão do número elevado de plantas hospedeiras, como milho, arroz, sorgo, soja, feijão, capins (papuã, milhã, capim-elefante, gramaseda), cana-de-açúcar, trigo, aveia, algodão, alface, batata, amendoim, dentre outras, somando-se o cultivo de milho na safrinha, as infestações de S. frugiperda vêm aumentando progressivamente e, conseqüentemente, o número de aplicações de inseticidas para seu controle.
Pelo fato da lagarta se alojar no interior do cartucho, muitas vezes, se torna difícil o contato com o inseticida aplicado. Mas uma porcentagem razoável das lagartas é atingida por doses subletais, o que não causa sua morte, mas causam alterações na biologia e na capacidade de reprodução do inseto, causando redução populacional ao longo das gerações (SILVA & CROCOMO, 2007). O controle da lagarta-do-cartucho é feito com uso de inseticidas sintéticos, com isso necessita-se de várias pesquisas para que haja menor agressão ao meio ambiente. Apesar a eficiência dos inseticidas sintéticos, esses podem apresentar diversos problemas, como contaminação ambiental, altos níveis residuais em alimentos, desequilíbrio biológico e surgimento de populações de insetos resistentes (HENANDEZ & VENDRAMIM, 1996). Desde a Idade Antiga, o homem vem utilizando plantas com propriedades inseticidas, com mais de 2000 espécies de plantas conhecidas. O uso desses produtos naturais no manejo de pragas (GUERRA, 1985), é uma forma alternativa e barata que está ao alcance dos produtores, o que pode evitar prejuízos e eliminar riscos à saúde (SOUZA, 2004; LEÃO, 1996). Os extratos de plantas inseticidas vêm sendo estudados como uma alternativa no manejo integrado de pragas. Segundo Gallo et al. (2002) o uso de extratos vegetais tem por objetivo em reduzir o crescimento populacional de pragas. Atualmente a Família Meliaceae se destaca pela eficiência de seus extratos. Dentre as espécies utilizadas como inseticida, o nim, Azadirachta indica (MARTINEZ, 2002). Seus compostos controlam insetos, nematóides, fungos, bactérias e algumas viroses. É considerada uma das espécies de plantas inseticida mais importante devido á sua atividade sistêmica, eficiência em baixas concentrações e baixa toxicidade a mamíferos (GALLO et al., 2002). O principal composto extraído dos frutos desta planta é a azadiractina, um limonóide que atua interferindo no funcionamento de glândulas endócrinas que controlam a metamorfose em insetos e também apresenta propriedade fagoinibidora (VIEIRA et al., 2001). A azadiractina, um tetranortriterpenóide isolado da semente de nim, constitui o mais importante princípio ativo do ponto de vista entomológico (JACOBSON, 1989). Esta substância tem efeito repelente, intoxicante, regula o crescimento e a metamorfose dos insetos, causa deterrência alimentar, afeta a biologia, a oviposição e a viabilidade dos ovos (SCHMUTTERER, 1988; JACOBSON, 1989; SAXENA, 1989; SCHMUTERER, 1990; MORDUE & BLACKWELL, 1993; NEVES & NOGUEIRA, 1996). Os frutos são a principal fonte de azadiractina, o composto com maior ação sobre os insetos. Entretanto, a casca, as folhas e o óleo das sementes também possuem essa ação (BRUNETON, 1995). Os compostos bioativos de nim são utilizados na forma de pós, extratos aquosos e/ou orgânicos (metanólico, etanólico, acetônico, clorofórmico, hexânico), óleos e pasta, além de frações parcialmente purificadas e formulações ricas em azadiractina (SAXENA, 1989). O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito inseticida de extratos aquosos de plantas no controle de S. frugiperda. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Entomologia da COODETEC, Cascavel - Paraná. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados com 4 tratamentos e 4 repetições, sendo que cada repetição foi representada por cinco larvas de 3 ínstar. Foram utilizados os seguintes extratos aquosos para os experimentos: nim (Azadirachta indica), mamona (Ricinus communis), coroa-de-cristo (Euphorbia milii), comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amena) a fim de verificar a eficiência de cada planta no
controle de Spodoptera frugiperda. Foi utilizado 10gr de folhas de cada planta e 100 ml de água destilada. As folhas de cada planta foram trituradas separadamente no liquidificador e em seguida colocado o liquido em Becker de 100 ml e deixado em repouso por 24 hr e em seguida coado. Após esse período, cada concentração foi diluída a 1% e 5%. Os experimentos ocorreram por ingesta e contato utilizando um ml de cada diluição. Para cada tratamento foram utilizadas 05 larvas de 3 ínstar por repetição e 2 cm de dieta artificial em cada tubo. Para o experimento por contato, as larvas foram pulverizadas e o experimento por ingesta, as larvas foram alimentadas com a dieta contendo um ml de cada diluição (5% e 1%). As larvas foram acondicionadas em câmara climatizada (75%UR e 25 C) e a avaliação foi feita diariamente num período de 7 dias. Tanto nos ensaios por ingesta quanto por contato a mortalidade foi nula para todos os extratos testados, para ambas as dosagens. Foi observado através de trabalhos publicados por diversos autores a eficiência do uso de extratos aquosos de plantas no controle de pragas do gênero Lepidoptera. Contudo, para mamona, coroa-de-cristo e comigo-ninguém-pode, as referências são escassas. O princípio ativo de comigo-ninguém-pode é oxalato de cálcio (insolúvel) (OLIVEIRA et al., 2003). Este composto é encontrado em todas as partes da planta (STERN et al., 2003). O princípio ativo da mamona é a ricina (OLIVEIRA et al., 2003), uma proteína tóxica encontrada apenas nas sementes (STERN et al., 2003). A parte tóxica de coroa-de-cristo é a seiva (STERN et al., 2003), contendo como princípios ativos enzimas, terpenos, alcalóides e ésteres de forbol (OLIVEIRA et al., 2003) e o princípio ativo do nim é azadiractina. Como um dos objetivos do trabalho foi o de pesquisar novas substâncias inseticidas, o experimento foi conduzido com plantas pouco estudadas, tendo como comparativo o nim, o qual possui resultados positivos bem documentados. A ausência de mortalidade para mamona, coroa-de-cristo, comigo-ninguémpode, se deve provavelmente a não presença de princípios ativos com potencial inseticida. Já para nim com efeitos comprovados, o fato de não ter ocorrido mortalidade se deve, possivelmente, a baixa concentração do princípio ativo. O local de origem, idade das sementes e solvente utilizado na extração, podem ocasionar variações nos teores do princípio ativo e na sua atividade biológica (Schmutterer, 1987). O uso de extratos de plantas pode reduzir o custo de produção da lavoura, os riscos ambientais e a dependência dos inseticidas sintéticos. Segundo Schumutterer (1990), os lepidópteros são os mais sensíveis às substâncias derivadas do nim. Esse efeito tem sido particularmente demonstrado em condições de laboratório para várias espécies (SIMMONDS, 2000). Blaney et al. (1990) relataram que 1 ppm de azadiractina reduziu a alimentação de Spodoptera littoralis em dieta artificial, quando aplicado sobre um substrato para locomoção da lagarta. Conclui-se que as concentrações de cada extrato utilizada no experimento não teve efeito controle das larvas de S. frugiperda, com isso sendo necessário testar outras concentrações e outros diluentes. Referências bibliográficas ALMEIDA, R.P.; SILVA, C.A.D. Manejo integrado de pragas do algodoeiro. In: BELTRÃO, N.E.M. (ed.), O agronegócio do algodão no Brasil. Brasília: Embrapa Comunicação para Transferência de Tecnologia, p.753-820. 1999.
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