DIREITO CIVIL IV PROF. LUCIANA BERLINI

Documentos relacionados
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO IMOBILIÁRIO.

POSSE PROF. PAULO H M SOUSA

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDE CIVIL DOS ENFERMEIROS

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICO- HOSPITALAR E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

II - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA. Nexo causal

Responsabilidade civil do empreiteiro e do projetista. Mario Rui Feliciani

Responsabilidade civil do empreiteiro e do projetista

RESPONSABILIDADE CIVIL

I - RESPONSABILIDADE CIVIL

RELAÇÃO DE CONSUMO. objeto. consumidor. fornecedor INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA NO CDC

RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA REPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO

DIREITO E JORNALISMO RESPONSABILIDADE CIVIL

1) RESPONSABILIDADE CIVIL - INTRODUÇÃO:

Professor Me. Vitor Monacelli Fachinetti Júnior Professor Me. Walter Vechiato Júnior

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL.

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO PLÁSTICO

16/9/2010. UNESP Biologia Marinha Gerenciamento Costeiro LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Rodrigo Andrade de Almeida ROTEIRO DE ESTUDOS. Direito Civil. Responsabilidade Civil. Volume

SUMÁRIO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Sumário OPÇÃO METODOLÓGICA Parte I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

DIREITO CIVIL E PROCESUAL CIVIL 2014

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSO CIVIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL NA SAÚDE DOS HOSPITAIS E CLÍNICAS

SUMÁRIO. Meireles-Responsabilidade civil.indd 9 15/01/ :13:21

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Aula n. 79. Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Tema: SANGUE CONTAMINADO - RESPONSABILIDADE CIVIL

Direito Civil II Direito das Obrigações

Responsabilidade Civil. Prof. Antonio Carlos Morato

Perfil da Coleção - GlSELDA M. F. NOVAES HIRONAKA Sobre os Autores... Organogrann...

Sumário. Parte I DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Aula 6. Responsabilidade civil

ERRO DE DIAGNÓSTICO Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Módulo I Responsabilidade Civil na Saúde

REVISA LEI DIREITO CIVIL DEGUSTAÇÃO

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS DENTISTAS

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA AULA 03

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA PÓS-GRADUAÇÃO EM DIVERSIDADE

ENCONTRO 04. Ocorrência de ato ilícito. Que este ato tenha causado dano à alguém

ENUNCIADOS SELECIONADOS DAS JORNADAS DE DIREITO CIVIL DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIÁRIOS DO CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL

O desastre ambiental de Mariana: análise sob a ótica do Direito Ambiental Brasileiro. Marcelo Leoni Schmid

Conceito. obrigação tanto crédito como débito

Breves anotações sobre as regras de indenização previstas no Código Civil para os casos de ofensas aos direitos da personalidade

ATOS UNILATERAIS (Prof. Laryssa Cesar)

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO PLÁSTICO

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Curso de Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde - Módulo I - Responsabilidade Civil na Saúde

Sumário. Palavras Prévias 13ª edição Prefácio Apresentação As Obrigações em Leitura Civil-constitucional... 25

ESPECÍFICOS * Estudar a teoria geral da responsabilidade civil e das relações de consumo perante o ordenamento jurídico brasileiro;

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA AULA N. 07

DIREITO ADMINISTRATIVO. Responsabilidade Civil da Administração Pública. Prof.ª Tatiana Marcello

Ação civil ex delicto

Direito Administrativo

RESPONSABILIDADE CIVIL

Profa. Dra. Maria Hemília Fonseca A MODERNA EXECUÇÃO: PENHORA ON LINE

GEORGIOS ALEXANDRIDIS

O QUE É O DEVER DE REPARAR O DANO. RESPONSABILIDADE CIVIL? A RESPONSABILIDADE CIVIL NADA MAIS É SENÃO:

Seus Direitos Relacionados A Danos Morais E Materiais

FACULDADES INTEGRADAS DO TAPAJÓS RESPONSABILIDADE CIVIL. Prof. MSC. Handerson Bentes. Santarém PA 2016

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO:

PROFESSOR: SILMAR LOPES

DIREITO ADMINISTRATIVO Responsabilidade Civil do Estado. Prof. Luís Gustavo. Fanpage: Luís Gustavo Bezerra de Menezes

ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR CC

Responsabilidade civil do Estado

Favorecer o estudo da teoria geral da responsabilidade civil e das relações de consumo perante o ordenamento jurídico brasileiro.

PROGRAMA DE DISCIPLINA

RC Profissional Objetivo do Seguro

O Dano extrapatrimonial e a sua história. Posição constitucional e contribuição jurisprudencial.

Dano. Perda de uma chance

Direito & Cotidiano Diário dos estudantes, profissionais e curiosos do Direito.

ILICITUDE PROFESSOR: LEONARDO DE MORAES

AULA 08: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. Professor Thiago Gomes

Conteúdo: Direitos da Personalidade: Introdução; Formas de Tutela; Características. - DIREITOS DA PERSONALIDADE -

DIMENSÕES DOS DANOS AMBIENTAIS, JURIDICIDADE E FORMAS DE REPARAÇÃO

Responsabilidade Civil por Erro Médico

Responsabilidade Civil. Prof. Antonio Carlos Morato

DIREITO DO TRABALHO. Remuneração e Salário. Dano moral e indenização. Parte I. Prof. Cláudio Freitas

AULA DE APRESENTAÇÃO DO CURSO E INÍCIO DA AULA 01

é a obrigação que ele tem de reparar os danos causados a terceiros em face de comportamento imputável aos seus agentes. chama-se também de

DIREITO DO TRABALHO E A RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR NA JUSTIÇA A DO TRABALHO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL: EVOLUÇÃO, ESPÉCIE E EFEITOS

Prof. Mariana M Neves DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

O artigo 937 é importante e muito aplicado nas hipóteses de responsabilidade civil nas incorporações imobiliárias.

Direito Civil IV. Faculdade de Direito da UFMG Ana Clara Pereira Oliveira Professor(a): Edgar Marx 2015/2º - Diurno

RESPONSABILIDADE CIVIL

SENTENÇA. Justiça Gratuita Juiz(a) de Direito: Dr(a). Luiza Barros Rozas

Instituto das Perdas e Danos

LEGALE - PÓS GRADUAÇÃO DIREITO DO TRABALHO. III - Lesões Acidentárias / Acidente do Trabalho. Professor: Dr. Rogério Martir

Responsabilidade Civil. Paula Ferraz 2017

OS ATOS ILÍCITOS E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Pós-Graduação em Direito do Consumidor Módulo: Introdução ao Código de Defesa do Consumidor Matéria: Cláusulas Abusivas

Responsabilidade Civil e Criminal de Envolvidos nos Projetos, Execuções e Manutenções das Instalações de Detecção, Prevenção e Combate a Incêndio

RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE TRABALHO

Com a Constituição Federal de 1988, houve uma mudança na natureza da responsabilidade do empregador em casos de acidente de trabalho.

LEGALE - PÓS GRADUAÇÃO DIREITO DO TRABALHO. II - Lesões Acidentárias / Acidente do Trabalho. Professor: Dr. Rogério Martir

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA CONTRATO DE TRANSPORTE

Aula 15 Dos Atos Ilícitos: Por Marcelo Câmara

Responsabilidade Civil Ambiental. Fernando Nabais da Furriela Advogado

Transcrição:

DIREITO CIVIL IV PROF. LUCIANA BERLINI luciana@berlini.com.br 19/10/2012 Bibliografia Rui Stocco Pablo Stolze Sérgio Cavalieri Avaliações 1ª prova 30-11-2012 40 pontos Prova final 14-12-2012 30 pontos Trabalho 20 pontos Fatos stricto sensu: caso fortuito e força maior Caso fortuito e força maior são inevitáveis. O primeiro não é previsível, mas o segundo sim. São situações que independem da vontade humana. Do ponto de vista prático não há diferença, porque as consequências jurídicas são as mesmas. Fatos jurídicos: ato jurídico, ato fato, negócio jurídico e ato ilícito Os fatos jurídicos são fatos que interessam para o direito, ou seja, têm repercussão na esfera jurídica. a) ato jurídico manifestação de vontade conduta humana atrelada ao direito. Obs.: ato jurídico stricto sensu a vontade é livremente manifestada, mas os efeitos dela decorrentes não são escolhidos pela parte, isto é, os efeitos são trazidos pela lei. b) ato fato tem-se a conduta humana, mas não se tem consciência desse ato, sendo que ele produz efeitos jurídicos. Exemplo: uma criança acha uma res nullius e dela se torna proprietária.

Obs.: pode ser que um agente capaz pratique um ato fato, pois não possuía discernimento no momento da prática do ato. c) negócio jurídico manifestação de vontade por meio da qual as partes podem escolher o resultado, os efeitos oriundos daquela manifestação de vontade. Exemplos: testamento, contratos em geral, promessa de recompensa. d) ato ilícito CC, art. 186 (comando geral) No art. 187 o Código também chama de ato ilícito o abuso de direito. Em alguns casos, existe responsabilidade mesmo sem ato ilícito. RESPONSABILIDADE CIVIL 1. Conceito A palavra responsabilidade vem de respondere, o que já deixa antever o significado de responder pela conduta praticada. A noção de responsabilidade é muito antiga, pois surgiu junto com a vida em sociedade. 2. Noções históricas A responsabilidade civil é mais nova do que a responsabilidade penal. A noção que vigorava era de vingança privada. As responsabilizações eram penas corporais, escravidão, confisco de patrimônio. Entretanto, mesmo com as penas, a vítima continuava no prejuízo. Trabalhava-se apenas o aspecto punitivo. Não havia compensação ou ressarcimento para a vítima do prejuízo. Lex Aquilia, (200 a. C.) ela fala de culpa, de responsabilização fora do estabelecido nos contratos, estabelece formas de compensação. Hoje, há também uma incorporação da responsabilidade objetiva. Ademais, a preocupação atual é com a vítima, isto é, qual foi o dano causado a ela e como reparar tal dano. Se o dano não foi patrimonial, não há como reparar, mas apenas compensar. 3. Espécies a) moral x jurídica Não se confunde responsabilidade civil com a moral. Nesta, não há ingerência estatal.

Obs.: a pessoa jurídica pode ser tanto sujeito ativo quanto passivo de crime, bem como sofrer e causar danos na seara cível (tanto materiais quanto morais). b) penal x civil Não se confunde responsabilidade civil com a penal. CC, art. 935 as responsabilidades civil e penal são independentes. Exceção: excluindo na esfera penal a autoria do fato ou sua existência, não se pode responsabilizar civilmente o indivíduo. Na responsabilidade penal há crime, já na civil há ato ilícito; naquele há tipificação, neste não há. No Direito Civil tem-se cláusula geral (CC, art. 186) na qual a conduta pode se encaixar. Por outro lado, no Direito Penal a interpretação deve ser restritiva para não causar ingerência indevida na esfera jurídica do cidadão; já no Direito Civil amplia-se a incidência para garantir o cidadão. Ademais, a responsabilidade civil é através do patrimônio, a penal se dá, corriqueiramente, por meio da liberdade. c) contratual x extracontratual Na responsabilidade contratual, há um contrato pré-existente. Na extracontratual há possibilidade de se responsabilizar mesmo sem negócio pré-existente. Na lei a responsabilidade contratual recebe a denominação de perdas e danos. Já o termo indenização é utilizado para a responsabilidade extracontratual. d) subjetiva x objetiva No Brasil, a regra é a responsabilidade subjetiva, que possui como elemento a culpa civil (culpa e dolo). A culpa aparece no art. 186 na forma de negligência e imperícia, olvidando-se a imprudência. Entretanto, é pacífico que a imprudência também está implícita no dispositivo em questão (espécie de culpa). Como exceção, há a responsabilidade objetiva, isto é, independente de culpa, nas hipóteses previstas em lei e que estiverem dentro da teoria do risco.

Obs.: segundo o CDC, são nulas as cláusulas abusivas, principalmente as previstas em contrato DE adesão (uma das partes não tem liberdade de negociar). Há também o contrato POR adesão, em que a parte tem a liberdade de negociar, mas não a utiliza. No CDC, não se pergunta sobre culpa do causador do dano. Teoria preceptivista dos contratos as pessoas não contratam porque querem, mas porque necessitam. 26-10-2012 (completar essa aula) ELEMENTOS DO ATO ILÍCITO Art. 186 1. Ação ou omissão voluntária a) antijuridicidade contrariedade ao Direito Antijuricidade vs. ato ilícito (ilicitude) Antijuricidade não é ilicitude, mas aquela está contida no conceito desta a contrariedade ao direito não será necessariamente ato ilícito. Pode haver responsabilidade civil mesmo sem a presença de ato ilícito. b) imputabilidade voluntarismo b.1) responsabilidade do incapaz Não se pode imputar ato ilícito ao absolutamente incapaz e ao relativamente incapaz, pois ausente a voluntariedade. O incapaz provoca o dano involuntariamente, pois ausente ou insuficiente o discernimento. b.1.1) fato de terceiro (art. 932) responsabilidade indireta que decorre de terceiro b.1.2) teoria da substituição (art. 933) responsabilidade objetiva, independente de culpa exceção legal para a responsabilidade subjetiva. Obs.: as instituições escolares possuem responsabilidade objetiva pelos menores, desde que os pais não tenham incorrido em culpa (como por exemplo, deixar o filho levar uma faca para escola).

b.1.3) responsabilidade subsidiária (art. 928) pode-se exigir o cumprimento do responsável subsidiário apenas após esgotada a exigência do responsável primário preocupação com o dano provocado à vítima. Enunciado 39, Conselho da Justiça Federal (CJF) esse esgotamento é delimitado pela manutenção da dignidade do responsável legal. Perda do poder familiar os pais deixam de ter obrigação relativa à responsabilidade civil. Se os pais são divorciados, a doutrina entende que quem tem a responsabilidade civil é aquele que possui a guarda. Porém, a jurisprudência dominante entende que, apesar do divórcio, ambos os pais são civilmente responsáveis. Ressalte-se que quando um dos pais atua com culpa, a responsabilidade civil será exclusivamente sua. b.1.4) litisconsórcio sucessivo Se o pai não tiver condições de arcar com o prejuízo, o juiz determinará, quando pedido, que o patrimônio do menor responda pelo dano (responsabilidade subsidiária). Obs.: na dúvida deve sempre se pensar no escopo da responsabilidade civil, a saber, reparar o dano causado à vítima. Por isso, na maioria das vezes, se o menor tiver patrimônio, este responderá subsidiariamente pelos danos causados. b.1.5) bem de família Impenhorável, mas há exceções de regra, o bem de família é impenhorável quanto às indenizações cíveis, mas há exceção (indenizações referentes aos lucros cessantes com natureza alimentar). b.1.6) responsabilidade mitigada (art. 928, parágrafo único) b.1.7) relativização da obrigação paterna b.1.8) direta (art. 116 do ECA e Enunciado 40 do CJF) b.1.9) responsabilidade solidária (Enunciado 41 do CJF)

Emancipação voluntária é a única hipótese de emancipação que não tem cunho econômico, financeiro não isenta os pais de responsabilidade (emancipando voluntariamente o filho, os pais ainda são civilmente responsáveis por ele). b.1.10) ação regressiva (art. 934) Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. Se houve emancipação voluntária, a ação regressiva em face do filho é cabível. 2. Culpa a) modalidades a.1) negligência culpa por omissão; a.2) imprudência culpa por assunção de risco desnecessário; a.3) imperícia culpa que pressupõe habilidade técnica a doutrina entende que esta modalidade de culpa está implicitamente incluída no art. 186. Para fins de indenização, a modalidade de culpa não importa. b) mitigação da reparação (art. 944, parágrafo único) A indenização poderá ser ajustada se houver desproporção entre o grau de culpa e o dano provocado. 09-11-2012 3. Nexo de causalidade No Brasil, para fins de responsabilidade civil, dependendo do caso concreto, aplica-se ou a teoria da condição adequada, ou a teoria da causalidade direta e imediata. 4. Dano a) material Lesão a bem jurídico apreciável economicamente. a.1) danos emergentes

Prejuízo suportado de forma imediata, aquilo que foi efetivamente perdido. a.2) lucros cessantes Aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar (final do art. 402). Onde se lê razoavelmente, entende-se por certamente. Assim, a atividade que aufere lucro deverá ser lícita (pressuposto existencial do direito à indenização a título de lucros cessantes). Exemplo: um bicheiro que tem sua atividade ilícita interrompida por ato de terceiro não faz jus ao pagamento de lucros cessantes. b) moral Lesão a determinado bem jurídico que não pode ser avaliado patrimonialmente (lesão extrapatrimonial) direitos da personalidade direitos que recaem sobre aspectos não econômicos. Pela legislação e pela jurisprudência (Súmula 277 do STJ), a pessoa jurídica pode ser vítima de dano moral. Entretanto, Nelson Rosenvald entende que a pessoa jurídica não sofre dano moral, pois a lesão sempre terá caráter patrimonial (dano material). Obs.: direitos fundamentais direitos previstos na Constituição; direitos da personalidade direitos previstos no Código Civil; direitos humanos direitos de abrangência internacional. Obs.: num preciosismo técnico-jurídico, compensação relaciona-se com os danos morais e indenização com danos materiais. c) estético Súmula 387 do STJ Lesão à integridade física capaz de produzir desequilíbrio das formas. O dano estético ganhou autonomia perante o dano moral, pois aquele se perpetua no tempo (considera-se que a vítima do dano estético é lesada a todo o momento). Obs.: além de ter natureza compensatória, a indenização tem caráter punitivo e pedagógico (entendimento não pacífico na doutrina). Indenização por morte (arts. 948 a 950)

Dano reflexo ou dano ricochete o dano não atinge diretamente o indivíduo que vai ser indenizado, mas sim seu direito fracionado em relação ao que sofre o dano direto, relacionamento afetivo entre o que sofre dano direto e o que sofre o dano indireto. Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: Danos emergentes I no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família. Lucros cessantes (alimentos) II na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando se em conta a duração provável da vida da vítima. Legitimados dependentes do morto; Período duração provável da vida da vítima; Quantum a título de lucros cessantes entende-se que o valor devido será de 2/3 dos proventos do desafortunado, pois 1/3 era utilizado para seu gasto pessoal. Entretanto, tanto a condição de quem sofreu o dano como a de quem deve arcar com o dano também são levadas em conta. Dano moral Informativo 505 do STJ máximo de 500 salários mínimos. Pode-se penhorar bem de família daquele que não arcou com os danos decorrentes da morte (pensão alimentícia). Entretanto, o homicida não pode ter a prisão decretada pela falta de pagamento informativo 503 do STJ. 23-11-2012 ABUSO DE DIREITO É modalidade de ato ilícito, pois o CC no art. 187 assim dispõe. Cometer abuso de direito é ultrapassar o limite estabelecido pela lei tecnicamente, não é ato contrário à lei, mas conduta que transpõe os limites estabelecidos. Abuso de direito está contido na responsabilidade subjetiva ou na objetiva? Em nenhuma das duas. Não é subjetiva, pois não é necessária a comprovação de culpa

(como na responsabilidade subjetiva). E não é tecnicamente objetiva, porque o legislador optou por fazer a diferenciação. Para responsabilizar o agente que ultrapassou os limites estabelecidos em lei, não há necessidade de se conjugar os elementos do art. 187 com os do art. 186, apesar do abuso de direito ser modalidade de ato ilícito. TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE Deve-se provar a existência da chance e a possibilidade de sucesso da chance, a fim de se estabelecer uma probabilidade em relação às chances. A teoria da perda de uma chance não exclui a indenização por danos materiais e morais. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA 1. Incidência Art. 927, parágrafo único haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. a) teorias do risco Teoria do risco proveito o agente tira proveito da atividade que implica risco para os direitos de outrem arcar com o ônus pelo bônus que se recebe. O proveito é subjetivo, não se vinculando necessariamente com o caráter financeiro. Referida teoria exclui a responsabilidade objetiva de alguns casos. Teoria do risco criado o risco trazido pelo parágrafo único do art. 927 é o risco que se cria com o desenvolvimento da atividade. Responsabilidade objetiva impura, pois há excludentes com essa teoria, exclui-se a responsabilidade objetiva, por exemplo, quando o dano causado pelo Estado é suportado por toda a sociedade. Teoria adotada por nosso ordenamento. Teoria do risco integral assemelha-se à teoria imediatamente supra. Entretanto, na presente teoria não se admite excludente de responsabilidade. Responsabilidade objetiva pura. Teoria não adotada no Brasil.

Obs.: culpa presumida é responsabilidade subjetiva. A culpa se relaciona apenas com a responsabilidade subjetiva. A culpa presumida apenas tem o efeito de inverter o ônus da prova. Não é necessário provar a culpa do autor do evento lesivo. Em regra, o ônus da prova é de quem alega. Porém, no caso de culpa presumida, aquele contra quem se alega é que tem o ônus da prova. Se o autor do evento quiser se furtar da obrigação de indenizar, ele que deve provar alguma excludente de responsabilidade. Exemplo de culpa presumida: responsabilidade do médico. b) casos especificados em lei Hipóteses de responsabilidade objetiva especificadas pela lei. Hipóteses previstas no CC, no CDC e em lei esparsa (posteriores e anteriores à Constituição). b.1) fato de terceiro (arts. 932 e 933) Art. 932 I os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos; V os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia. Os incisos I e II já foram trabalhados. Em relação ao inciso III, há uma polêmica, pois o artigo trata de responsabilidade objetiva, sendo que a Constituição prevê a responsabilidade subjetiva do empregador. Dando-se uma interpretação sistêmica, no sentido de trazer à tona o escopo da norma constitucional, flexibiliza-se a interpretação deste dispositivo. Entende-se que, na verdade, trata-se de responsabilidade objetiva, pois a Constituição almeja proteger o máximo possível o empregado (entendimento não pacífico). O inciso IV se relaciona com prestações de serviços.

O inciso V se relaciona com a responsabilidade penal. b.2) fato da coisa e do animal (arts. 936 e 938) Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força maior. O próprio dispositivo traz excludentes, a saber, fato exclusivo da vítima e força maior. Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar indevido. Nas hipóteses de responsabilidade objetiva, é possível o ajuizamento de ação regressiva contra o culpado pelo evento lesivo. Nesse caso, o direito de regresso é fundado na responsabilidade subjetiva, devendo-se provar a culpa do autor do evento lesivo. 07-12-2012 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE Segundo o legislador, responsabilidade com culpa presumida é responsabilidade objetiva. Assim, em questões objetivas, seguir o erro do legislador, nomeando a culpa presumida de responsabilidade objetiva. A responsabilidade objetiva e a culpa presumida necessitam de previsão legal. A responsabilidade objetiva que admite excludente, transformando-a em culpa presumida, continua sendo responsabilidade objetiva responsabilidade objetiva impura. A cláusula de não indenizar só produzirá efeitos em contratos de não adesão, relacionando-se apenas com a responsabilidade contratual. Fortuito Fortuito interno relacionado à atividade realizada não exclui a responsabilidade objetiva;

Fortuito externo desvinculado à atividade realizada pode excluir a responsabilidade objetiva. Ver Súmula 479 do STJ fortuito interno que não é capaz de excluir a responsabilidade. Fato exclusivo de terceiros Fato exclusivo da vítima O fato exclusivo da vítima exclui a responsabilidade. Entretanto, se houve apenas contribuição da vítima, haverá redução da indenização e não excludente da responsabilidade. A redução da indenização levará em conta a culpa do ofendido. Para se excluir a responsabilidade, o fato exclusivo de terceiros e o fato exclusivo da vítima devem ser analisados com base no fortuito externo. Alguns atos lícitos (art. 188) O ato lícito também pode ensejar a responsabilidade civil. Exemplo: noivo que, no altar, diz não à noiva negligência do noivo. Apesar de não ter pratica ato ilícito, o noivo poderá ser civilmente responsabilizado. A responsabilidade do Estado é objetiva responsabilidade baseada no risco administrativo. A pretensão de indenização deve ser acompanhada da comprovação da anormalidade e da especificidade do dano decorrente do ato administrativo. Por anormalidade entende-se o conflito entre interesse público e interesse privado. Por especificidade entende que o dano é suportado de maneira diferente pelo(s) integrante(s) da sociedade (atingimento de forma distinta). INDENIZAÇÃO Danos materiais reparação Danos morais e danos estéticos compensação alguns doutrinadores entendem que essa indenização deverá ter um caráter pedagógico e punitivo (tentativa de coibir as práticas lesivas).

Em suma, para fins de fixação do quantum indenizatório, analisa-se a condição financeira da vítima, a do causador do dano e a extensão do dano frente à conduta praticada. Obs.: a fixação do quantum indenizatório a título de danos morais não é obrigatória (pode-se requerer que o magistrado fixe o valor). Entretanto, no juizado especial vale a pena fixar o valor da indenização no máximo possível (quantidade de salários mínimos que fixa a competência do juizado). Por outro lado, na justiça comum deve-se ter atenção, pois havendo erro técnico processual (ex. sentença terminativa), o autor deverá arcar com os honorários, os quais são calculados com base no valor da causa. Dano moral coletivo destinação a fundos previstos aplicação em políticas públicas.