Os desafios à política externa da Coreia do Sul: a solução pode estar no G20?

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Transcrição:

Análise Conjuntural Os desafios à política externa da Coreia do Sul: a solução pode estar no G20? Luciana Leal Resende Paiva Setembro de 2012 Márcia de Paiva Fernandes i Resumo: As relações de cooperação realizadas pela Coreia do Sul são em sua maioria bilaterais. Elas ocorrem, principalmente, com os EUA pelas questões de segurança regional, pois o país ainda possui tensões com as ameaças da Coreia do Norte, e com a China no que concerne às questões relativas ao desenvolvimento econômico. Porém, o governo sul-coreano busca diversificar suas parcerias para ter mais autonomia na condução da política externa do país e, com isso, atender a outros setores que não sejam apenas o militar e o econômico. Sendo assim, o G20 demonstra ser uma alternativa, mas alguns fatos evidenciam que ele não está sendo uma solução efetiva para essa busca por uma nova orientação da política externa da Coreia do Sul. Dessa maneira, a proposta desse artigo é analisar o posicionamento da Coreia do Sul nas cúpulas de Seul, Cannes e Los Cabos, a fim de compreender os desafios apresentados à sua atuação. Palavras-chave: Política externa. Coreia do Sul. G20. Abstract: Cooperative relations held by South Korea are mostly bilateral. They occur mainly with the U.S. in relation to regional security issues because the country still faces tensions from the threats from North Korea, and China in regard to issues concerning economic development. However, the South Korean government seeks to diversify its partnerships in order to have more autonomy in the conduct of foreign policy and, therefore, attend to sectors other than military and economic sectors. Thus, the G20 proves to be an alternative but some facts show that it is not an effective solution to this quest for a new foreign policy orientation blushed South Thus, the purpose of this article is to analyze the positioning of South Korea in the summits in Seoul, Cannes and Los Cabos in order to understand the challenges presented to its performance. Key words: Foreign Policy. South Korea. G20.

8 Conjuntura Internacional Belo Horizonte, v. 9, n. 5, p. 7-12, 2 o sem. 2012 Introdução Caracterizada por ter alcançado um rápido e destacado desenvolvimento econômico, a Coreia do Sul é uma das maiores economias asiáticas, sendo um mercado atraente para os países da região, especialmente para a China. Contudo, o país enfrenta algumas dificuldades relacionadas ao equilíbrio de poder na região, o que faz com que suas alianças e parcerias econômicas oscilem entre seus parceiros tradicionais e as potências emergentes asiáticas. Uma das maneiras adotada pela Coreia do Sul para tentar solucionar tais questões e, consequentemente, poder adotar uma política externa mais autônoma, ou seja, mais independente da centralidade militar que a caracteriza devido à rivalidade que o país possui com a Coreia do Norte, é através de sua atuação no G20. O país atua nesse grupo com o objetivo de se projetar de forma mais contundente na Ásia e também para buscar ser um mediador entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Os desafios à política externa sul-coreana A Coreia do Sul é um país que sofreu forte influência com as disputas da Guerra Fria, mas esse período também proporcionou um grande desenvolvimento econômico para o país. As políticas econômicas e sociais adotadas pelo governo sul-coreano permitiram que o país conseguisse se industrializar de uma forma que acelerou seu desenvolvimento, diminuindo a importância do setor agrícola na economia nacional. Tal desenvolvimento causou um significativo avanço social e na infraestrutura nacional (BI- CHARA; CUNHA, 2009). O atual cenário internacional, marcado por relações multilaterais, desafia a Coreia do Sul a conciliar seus interesses com seus possíveis aliados. A ascensão econômica da China e da Índia faz com que os EUA temam que sua influência na região seja afetada e, por isso, o continente asiático enfrenta atualmente um conflito de interesses entre tais países, principalmente em questões de segurança e de liderança econômica. Portanto, a atuação externa da Coreia do Sul é limitada pelas tensões geradas pelo relacionamento conflituoso entre as potências emergentes asiáticas e seu tradicional aliado, os EUA, o que dificulta sua inserção de forma competitiva no plano econômico e assertiva no plano político (BICHARA; CUNHA, 2009, p.287). A histórica rivalidade da Coreia do Sul com sua vizinha do norte faz com que a diplomacia sul-coreana se divida entre duas correntes, a saber: uma que defende o distanciamento da Coreia do Norte, apoiado por uma aliança estratégica com os EUA, e outra que defende a manutenção do diálogo com tal país, a fim de resolver

Conjuntura Internacional Belo Horizonte, v. 9, n. 5, p. 7-12, 2 o sem. 2012 9 as pendências entre ambos (BICHARA; CU- NHA, 2009). Assim sendo, os principais objetivos da política externa sul-coreana são: [...] a resolução pacífica da questão nuclear da Coréia do Norte; a construção de uma aliança Coréia-EUA [...]; o estabelecimento de um regime pacífico e durável na península coreana; a construção de uma base diplomática para o desenvolvimento asiático; o desenvolvimento de uma futura diplomacia com orientação global, o que inclui a consolidação das relações diplomáticas com os países vizinhos, a expansão dos esforços; e os esforços diplomáticos com o intuito de promover o desenvolvimento econômico do país (BICHARA; CUNHA, 2009, p. 293). Uma das condições para o país alcançar tais objetivos é possuir uma economia forte que permita uma atuação externa de forma mais independente. Contudo, a rivalidade entre China e EUA, principalmente, impõe desafios a tais pretensões sul-coreanas e o G20 tem sido um dos foros onde a Coreia do Sul busca superar tais obstáculos. A atuação da Coreia do Sul no G20 O governo sul-coreano vê no G20 uma oportunidade para superar as históricas dificuldades de sua política externa, que são resultado de questões geopolíticas e também econômicas (DONG-HWI, 2009). O país também defende que os membros do G20 devem construir uma ligação entre as recomendações propostas pelo grupo e a implementação em nível nacional. Ele ainda se apresenta como capaz de superar as diferenças entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, defendendo o crescimento sustentável (DONG-HWI, 2009). A cúpula do G20, que ocorreu nos dias 11 e 12 de novembro de 2010, foi presidida pela Coreia do Sul, tendo ocorrido na capital Seul (G20 SEOUL SUMMIT, 2010). Uma das questões levantadas pelo país anfitrião foi o reconhecimento de que o início da recuperação econômica internacional foi devido ao elevado nível de cooperação entre os países do G20. A Coreia do Sul afirmou que continuaria a trabalhar para superar os efeitos da crise financeira internacional e defendeu que o G20 deveria definir a agenda do pós-crise, bem como elaborar medidas que proporcionassem o crescimento sustentado e equilibrado a nível global (MYUNG-BAK, 2010). Na mesma cúpula, o governo sulcoreano afirmou que direcionaria seus esforços para alcançar um consenso entre os membros do G20, a fim de conseguir implementar um quadro forte para o crescimento sustentável e equilibrado. Afirmou também que trabalharia no sentido de construir um sistema mais eficaz para alertar sobre a possibilidade de ocorrência de crises e para monitorar os países sobre esta questão (MYUNG-BAK, 2010).

10 Conjuntura Internacional Belo Horizonte, v. 9, n. 5, p. 7-12, 2 o sem. 2012 No ano de 2011 a cúpula do G20 foi presidida pela França, tendo ocorrido na cidade de Cannes, e foi marcada pelo agravamento da crise financeira, especialmente na Europa, onde a existência do próprio euro estava ameaçada. (G20 RESEARCH CENTER, 2011). A agenda dessa cúpula tinha em pauta questões como a reforma do sistema monetário internacional, a dimensão social da globalização, a regulação financeira, o combate à volatilidade dos preços das commodittes, entre outras. Porém, esses temas foram deixados em segundo plano, uma vez que a principal preocupação nessa cúpula era a crise europeia e as condições de uma eventual ajuda dos países emergentes à zona do euro, especialmente à Grécia. O grande destaque da Cúpula de Cannes foi a atuação de países emergentes, como Brasil e China, e o valor que cada membro da cúpula poderia destinar ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar a zona do euro (G20-G8 France 2011; KIRTON, 2011). A Coreia do Sul, juntamente com outros países, reafirmou o compromisso com a consolidação fiscal e com a redução do déficit interno até 2016, além de se comprometer em controlar suas finanças públicas e estimular suas medidas fiscais para impulsionar o crescimento. Porém, segundo o G20 Research Group, alguns países como o Brasil, o Japão e a própria Coreia do Sul, são os únicos que não estão correspondendo a algumas das recomendações que foram realizadas desde a cúpula de Seul, como a flexibilização das taxas cambiais que, por sua vez, foi reafirmada em Cannes (G20 RESEARCH CENTER, 2012). A cúpula seguinte à de Cannes ocorreu nesse ano, 2012, em Los Cabos, México, sendo que pela primeira vez um país da América Latina presidiu uma cúpula do G20. A agenda possuía vários tópicos, dentre eles: a estabilização econômica e estrutural para possibilitar o desenvolvimento; fortalecer o sistema financeiro e aumentar a inclusão financeira para estimular o crescimento econômico; segurança alimentar e a promoção do desenvolvimento sustentável (G20 INFORMATION CENTRE, 2012). Porém, a principal questão discutida foi o valor que seria destinado ao FMI para ajudar os países da zona do euro e possibilitar a recuperação de suas economias. Tal valor superou as expectativas e atingiu US$456 bilhões, sendo que os maiores doadores foram o Japão e a China (FMI OBTÉM 456 BILHÕES..., 2012). Na cúpula de Los Cabos, Lee Myungbak, presidente da Coreia do Sul, afirmou que os países emergentes do G20 devem continuar trabalhando em conjunto para superarem a crise econômica, recuperando suas economias e possibilitando o crescimento destes (G2012 MÉXI- CO, 2012; KIRKON; KULIK, 2012) e anunciou que a Coreia do Sul contribuiria com cerca de US$15 bilhões ao FMI (RIBEIRO, 2012). O presidente pretendia discutir com vários líderes mundiais as soluções para a crise da zona do euro

Conjuntura Internacional Belo Horizonte, v. 9, n. 5, p. 7-12, 2 o sem. 2012 11 e buscar uma resolução para coordenar as políticas macroeconômicas, fortalecendo o sistema financeiro internacional, o que não difere da posição do país nas duas cúpulas anteriores. A Coreia do Sul continua reafirmando a necessidade de controle cambial e a redução do déficit interno, porém, suas ações nem sempre ocorrem em consonância com os discursos do presidente e culminam por não atender a alguns objetivos do G20, conforme determinados indicadores evidenciam (G2012 MÉXICO, 2012; KIRKON; KULIK, 2012). Portanto, embora busque no G20 um espaço para conciliar os interesses divergentes das potências asiáticas e dos EUA, além de buscar ser um mediador entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, as relações sul-coreanas têm se resumido a acordos militares com o governo estadunidense. As questões referentes aos problemas de segurança em relação à Coreia do Norte assumem um papel muito importante para a Coreia do Sul, o que incentiva essa relação bilateral, fazendo com que o país priorize tal questão em detrimento das recomendações do G20. Portanto, apesar de estar caminhando para uma cooperação multilateral e transformações políticas, a Coreia do Sul ainda possui obstáculos que dificultam a efetividade de sua atuação no grupo das vinte maiores economias mundiais (MYUNG-BAK, 2012). Considerações finais As relações entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos são voltadas para questões militares, que representam a maior preocupação da política externa sul-coreana. Por outro lado, a China tem se tornado um dos maiores parceiros econômicos do país, tanto no mercado de exportação quanto no de importação. No G20, portanto, embora a Coreia do Sul busque a cooperação multilateral, procurando parceiros alternativos, ainda é complicado para o país desvincularse de suas parcerias bilaterais, pois a relação com os EUA é necessária pelo receio que o país possui das ameaças feitas pela Coreia do Norte. Embora não seja o único país do G20 que não atenda a algumas de suas recomendações, esse descumprimento de tais recomendações possui maiores implicações para a Coreia do Sul do que para países como a China ou os EUA, por exemplo. Isso porque o G20 é justamente o âmbito onde a atuação sul-coreana busca projetar o país como dotado de autonomia na condução de sua política externa e como mediador das diferenças entre desenvolvidos e emergentes, bem como propiciar que o país possa realizar novas parcerias em setores diversos. Assim, o não cumprimento das recomendações do G20 pode ser mais ameaçador para a Coreia do Sul do que para outros países, principalmente para aqueles que disputam o controle da Ásia.

12 Conjuntura Internacional Belo Horizonte, v. 9, n. 5, p. 7-12, 2 o sem. 2012 O impasse enfrentado pela Coreia do Sul em sua delicada política externa, fazendo com que o país privilegie suas alianças militares com os EUA e sua forte parceria econômica com a China, faz com que os demais objetivos que busca em sua atuação no G20 fiquem comprometidos. Assim sendo, torna-se difícil para a Coreia do Sul exercer um papel de apaziguadora das diferenças entre países desenvolvidos e em desenvolvimento no G20, por exemplo, e, consequentemente, outros países asiáticos adquirem maior relevância no grupo, como a China e a Índia. Referências BICHARA, Julimar da Silva; CUNHA, André Moreira. A Coreia do Sul e o desafio da integração econômica da região da Ásia-Pacífico. PESQUISA & DEBATE. São Paulo, v. 20, n. 2 (36), p. 275-298, 2009. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/rpe/article/view/7444/5 434>. Acesso em: 12 jul. 2012. DONG-HWI, Lee. The G20 in Korea s Diplomacy. G20 Research Group, 2009. Disponível em: <http://www.g20.utoronto.ca/events/lee-091106.html>. Acesso em: 10 jul. 2012. FMI obtém 456 bilhões de dólares para fundo anticrise, 2012. Disponível em: <http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/internacional/noti cia/2012/06/19/fmi-obtem-456-bilhoes-de-dolares-parafundo-anticrise-349598.php>. Acesso em: 11 jul. 2012. G20 RESEARCH CENTER. The G20 Cannes Summit Commitments, 2011. Disponível em: <http://www.g20.utoronto.ca/analysis/commitments-11- cannes.html#greengrowth>. Acesso em: 09 jul. 2012. G2012 MÉXICO. Mexican presidency of G20, 2012. Disponível em: <http://www.g20.org/index.php/en/mexican-presidency-ofthe-g20>. Acesso em: 13 jul. 2012. GRIVE, Giovanni. The G20 after Cannes: As identity crisis. FRIDE, n. 105, nov. 2011. KIRTON, John. Cannes 2011: A Summit of Substantial Success, 2011. Disponível em: <http://www.g20.utoronto.ca/analysis/111104-kirtoncannes-perf.html>. Acesso em: 09 jul. 2012.. KULIK Julia. A Summit of Significant Success: G20 Los Cabos Leaders Deliver the Desired Double Dividend G20 Research Group, 2012. Disponível em: <http://www.g20.utoronto.ca/analysis/120619-kirtonsuccess.html>. Acesso em: 11 jul. 2012.. RASMUSSEN, Leanne. A Firm Foundation for Los Cabos: G20 Summit Performance, 2008-2011. Disponível em: < http://www.g20.utoronto.ca/analysis/120618- foundations.html>. Acesso em: 12 jul. 2012. MYUNG-BAK, Lee. Seoul G20 Summit: Priorities and Challenges. Davos Forum Special Address, 2010. Disponível em: < http://www.g20.utoronto.ca/summits/2010seoul.html>. Acesso em: 09 jul. 2012. RIBEIRO, Alex. Compromisso de reforço ao FMI se aproxima dos US$ 400 bilhões. Valor Econômico, 2012. Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/2625800/compromisso -de-reforco-ao-fmi-se-aproxima-dos-us-400-bilhoes>. Acesso em: 16 jul. 2012. G20-G8 FRANCE 2011. G20 CANNES SUMMIT: DECLARATIONS AND REPORT, 2011. Disponível em: <http://www.g20-g8.com/g8-g20/g20/english/the-2011- summit/declarations-and-reports/g20-cannes-summitdeclarations-and-reports.1553.html>. Acesso em: 10 jul. 2012. i Alunas de graduação em Relações Internacionais da PUC- MG. G20 INFORMATION CENTRE. Prioridades de La Presidencia Mexicana. Disponível em: <http://www.g20.utoronto.ca/2012/2012-111213- prioridades-es.html>. Acesso em: 23 mar. 2012.