Estado e Relações de Poder. Prof. Marcos Vinicius Pó

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Transcrição:

Estado e Relações de Poder Prof. Marcos Vinicius Pó marcos.po@ufabc.edu.br

Contratualismo Lógica de dominação do Estado moderno Formação de instituições A noção de liberdade

Foi considerado um autor maldito, acusado de: Inspiração autoritária; Defender a monarquia decadente; Atentar contra o direito de propriedade; Quebrar paradigmas filosóficos como: O homem não ser naturalmente bom; A noção de liberdade limitada para a vida em sociedade. Contudo, tratou de princípios que depois seriam considerados liberais: Os direitos do indivíduo; Igualdade dos homens; O caráter artificial da ordem política e do Estado; A noção de que o poder deve se basear no consenso das pessoas. Hobbes, por John Michael Wright (séc 17) Fonte: Wikipédia

Bill Waterson, o autor de Calvin & Hobbes, tirou o nome do tigre do filósofo inglês

Rei Charles I, por Willem Jacobsz Delff (1628) Fonte: Web Gallery of Art (www.wga.hu) Guerra civil inglesa (1642-1649) Estima-se que 15% da população britânica morreu em decorrência da guerra e doenças O poder político foi alterado, aumentando-se tremendamente o poder do Parlamento O rei Charles I foi condenado e executado por traição em 1649 A Inglaterra se transformou em uma república de 1649 a 1653 e de 1659 a 1660 Entre 1653 e 1659 foi um protetorado, governado por Oliver Cromwell Oliver Cromwell, por Sir Peter Lely (séc. 17) Fonte: Web Gallery of Art (www.wga.hu)

O nome completo do livro é: Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil Publicado em 1651 Leviatã:monstro marinho mítico, citado na Bíblia Não há nada igual a ele na terra, pois foi feito para não ter medo de nada (Jó, 41:24) Capa original de O Leviatã Fonte: Wikipédia

A guerra de todos contra todos Contratualismo O Estado como proteção para as pessoas Proteção contra a barbárie Traz condições para a prosperidade Submissão necessária da sociedade ao poder do Estado

Durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens. Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. Na guerra, a força e a fraude são as duas virtudes cardeais. numa tal condição todo homem tem direito a todas as coisas, incluindo os corpos dos outros. Portanto, enquanto perdurar este direito de cada homem a todas as coisas, não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sábio que seja) a segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver.

Hobbes atribui a guerra de todos contra todos à natureza humana, que apresenta constantes causas para discórdias Competição Desconfiança Glória Assim, o estado da natureza significa Insegurança; Não há garantia de vida e propriedade; Necessidade permanente de luta para a proteção. Para Hobbes há um desprazer da companhia entre os homens se não houver um poder capaz de manter todos em ordem.

Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu fruto é incerto; conseqüentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há sociedade; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta.

O direito de natureza, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida. Uma lei de natureza é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que pense poder contribuir melhor para preservá-la. A transferência mútua de direitos é aquilo a que se chama contrato.

... para que as palavras "justo" e "injusto" possam ter lugar, é necessária alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao beneficio que esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que renunciaram. E não pode haver tal poder antes de erigir-se um Estado.

Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações Do pacto entre os homens surge uma autoridade a que todos devem se submeter: O Leviatã. Detalhe do Leviatã em A tentação de Santo Antônio (Hieronymus Bosch, 1505-6) Fonte: Web Gallery of Art (www.wga.hu)

Uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum A função do Estado é proteger a vida dos súditos e preservar a paz Hobbes não admite rebelião contra o Estado, a não ser que ele não garanta a vida dos súditos

Paz, guerra, morte e violência são constantes no texto de O Leviatã e decorrem da realidade vivenciada pelo autor Para Hobbes, é melhor se sujeitar a um poder, ainda que com problemas, do que sofrer as desgraças proporcionadas pela guerra e pela insegurança do estado da natureza.

E isto sem levar em conta que a condição do homem nunca pode deixar de ter uma ou outra incomodidade, e que a maior que é possível cair sobre o povo em geral, em qualquer forma de governo, é de pouca monta quando comparada com as misérias e horríveis calamidades que acompanham a guerra civil, ou aquela condição dissoluta de homens sem senhor, sem sujeição às leis e a um poder coercitivo capaz de atar suas mãos, impedindo a rapina e a vingança.

Poderes do soberano Prescrever regras Executar Autoridade judicial Armas Os súditos devem a ele completa submissão, desde que ele cumpra seus objetivos de paz e proteção. O poder do soberano é quase divino: Lugartenente de Deus, o detentor da soberania abaixo de Deus

Se antes de mais não houvesse sido aceite, na maior parte da Inglaterra, a opinião segundo a qual esses poderes eram divididos entre o rei e os lordes e a câmara dos comuns, o povo jamais haveria sido dividido nem caído na guerra civil: primeiro entre aqueles que discordavam em matéria de política, e depois entre os dissidentes acerca da liberdade de religião; lutas que agora instruíram os homens quanto a este ponto do direito soberano, a ponto de poucos haver hoje (na Inglaterra) que não vejam que esses direitos são inseparáveis, e assim serão universalmente reconhecidos no próximo período de paz

O Leviatã impede os homens de usarem a sua liberdade plena uns contra os outros ainda assim eles devem aceitar essa submissão, pois a alternativa é o estado de natureza Liberdade significa, em sentido próprio, a ausência de oposição (entendendo por oposição os impedimentos externos do movimento); e não se aplica menos às criaturas irracionais e inanimadas do que às racionais. Conforme este significado próprio e geralmente aceite da palavra, um homem livre é aquele que, naquelas coisas que graças a sua força e engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer o que tem vontade de fazer.

O pensamento de Hobbes ainda tem alguma valia hoje? Onde podemos ver o estado da natureza hobbesiano?

nos Estados que não dependem uns dos outros, cada Estado (não cada indivíduo) tem absoluta liberdade de fazer tudo o que considerar (isto é, aquilo que o homem ou assembléia que os representa considerar) mais favorável a seus interesses. Além disso, vivem numa condição de guerra perpétua, e sempre na iminência da batalha, com as fronteiras em armas e canhões apontados contra seus vizinhos a toda a volta.