Doença meningocócica: situação epidemiológica no Município de Manaus, Amazonas, Brasil, 1998/2002

Documentos relacionados
Epidemiology of Meningococcal Disease in Brazil

SALA DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE DOS IMIGRANTES

MENINGITE E DOENÇA MENINGOCÓCICA. Profa. Maria Lucia Penna Disciplina de Epidemiologia IV

Análise dos casos de meningites em residentes do município do Rio de Janeiro, 2014.

Título do Trabalho: Autores: Instituição: Introdução

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA LEPTOSPIROSE NO ESTADO DE SÃO PAULO NO PERÍODO DE 2007 A 2011

INFORME TÉCNICO DOENÇA MENINGOCÓCICA

COMPARAÇÃO SOBRE A INCIDÊNCIA E A LETALIDADE DE MENINGITE BACTERIANA E VIRAL NA FAIXA ETÁRIA PEDIÁTRICA NO ESTADO DE MATO GROSSO:

Journal of Public Health

HEPATITES VIRAIS SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM IDOSOS: BRASIL, NORDESTE E PARAÍBA

DOENÇA MENINGOCÓCICA

Estudo do perfil clínico e epidemiológico da hanseníase no estado do Tocantins, no período de 2004 até os dias atuais

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE HEPATITE A NOTIFICADOS EM UM ESTADO NORDESTINO

Vigilância das meningites e doença meningocócica

Perfil epidemiológico do surto de doença meningocócica na regional de saúde de Balsas-MA, 2012

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM HIV NO BRASIL NA DÉCADA

DOENÇA MENINGOCÓCICA EM PORTUGAL:

Vigilância das meningites e doença meningocócica 2019

Vigilância das meningites e doença meningocócica

Influenza A Novo subtipo viral H1N1, MSP

Boletim da Vigilância em Saúde ABRIL 2013

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO ARBOVIROSES Nº 001/2019

Vigilância em Saúde e Vigilância Epidemiológica

Situação epidemiológica da Influenza Pandêmica (H1N1), no Pará, semanas epidemiológicas 1 a 43 de 2009.

Trabalho Final Atividades Integradoras IV. Aline dos Santos Novaes Martins

Epidemiology of Meningococcal Disease in Brazil Following Introduction of MenC Vaccination Program

Vacinas Meningocócicas Conjugadas no Brasil em A infecção pela bactéria Neisseria meningitidis (NM) ocorre de forma

INCIDÊNCIA DE MENINGITE EM CRIANÇAS DE 0-5 ANOS DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR DO ANO DE 2007 Á 2009

Investigação de surto comunitário de doença meningocócica no Município de São Paulo, julho de 2007

Dengue em Dois Municípios de Pequeno Porte da Região Norte do Estado de São Paulo

Palavras-chave: Hepatite viral humana; Vigilância epidemiológica; Sistemas de informação; Saúde pública.

Investigação de Surtos e Epidemias

5º CICLO DE ENFERMAGEM. ENF 1081 PROMOÇÃO DA SAÚDE III EIXO TEMÁTICO 21 Medidas de Saúde Coletiva

DENGUEDEDENGUE BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA DENGUE. Dengue é um grave problema de saúde pública enfrentado em diversos países.

ANÁLISE DOS DADOS DE MORTALIDADE DE 2001

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE INDIVÍDUOS COM MALÁRIA NA CIDADE ESPIGÃO DO OESTE/RO NO PERÍODO DE 2007 A 2016

(043A) F383s '

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA DOENÇA MENINGOCÓCICA NA REGIÃO NORTE

Coqueluche em lactentes jovens um antigo problema de saúde pública, ainda presente

ARTIGO ORIGINAL PREVALÊNCIA DE SOROGRUPOS DE NEISSERIA MENINGITIDIS CAUSADORES DE DOENÇA MENINGOCÓCICA NO ESTADO DA BAHIA DE 1998 A 2007

Tuberculose: subnotificação de casos que evoluíram para o óbito em Fortaleza-CE

do Vale do Araguaia UNIVAR - LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA HUMANA NO MUNICÍPIO DE GENERAL CARNEIRO MATO GROSSO

A doença meningocócica na região de Sorocaba, São Paulo, Brasil, no período de 1999 a 2008

INCIDÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA A SÍFILIS CONGÊNITA NO ESTADO DA PARAÍBA

INCIDÊNCIA DE CASOS DE HANSENÍASE NO ESTADO DA PARAÍBA NO ANO DE 2015

FONTES DE DADOS EM MORBIDADE

Doença Meningocócica e Doença Invasiva por Haemophilusinfluenzae: Diagnóstico e Prevenção. Março de 2019

PERFIL DE ACOMETIDOS POR MENINGITE EM NATAL-RN ENTRE OS ANOS DE 2010 A 2017: UM ESTUDO DOCUMENTAL

UERGS Administração de Sistemas e Serviços de Saúde Introdução ao Método Epidemiológico

Boletim semanal de Vigilância da Influenza/RS Semana epidemiológica 37/2016

INFORME EPIDEMIOLÓGICO 002/2017

Situação epidemiológica da nova influenza A (H1N1) no Brasil, até semana epidemiológica 31 de 2009

Situação Epidemiológica da. Febre Maculosa Brasileira no Estado de São Paulo. Ana Cecília Costa França. São Pedro - SP

EPIDEMIOLOGIA. Profª Ms. Karla Prado de Souza Cruvinel

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS Cód. 35. Entende-se por comportamento endêmico de uma doença quando:

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA LEISHMANIOSE VISCERAL NA PARAÍBA: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA

Indicadores de Doença Cardiovascular no Estado do Rio de Janeiro com Relevo para a Insuficiência Cardíaca

CONCEITOS DE EPIDEMIOLOGIA

ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS NA TERCEIRA IDADE: DADOS EPIDEMIOLÓGICOS ( )

TUBERCULOSE NA TERCEIRA IDADE NO BRASIL

MORTALIDADE POR ACIDENTE DE TRÂNSITO ENTRE JOVENS EM MARINGÁ-PR NOS ÚLTIMOS 10 ANOS

A doença meningocócica no estado de santa catarina em 30 anos 1971 a 2000.

Hepatites e Infecção pelo HIV

Gilberto Ribeiro Arantes * Antonio Ruffino-Netto **

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DE HANSENÍASE NO MUNICÍPIO DE PALMAS - TOCANTINS

Leishmaniose Tegumentar Americana no Estado de São Paulo: Situação Epidemiológica

2 MATERIAL E MÉTODOS 1.1 OBJETIVOS DO TRABALHO

Boletim Epidemiológico

Medidas de freqüência

ANÁLISE DESCRITIVA DA SITUAÇÃO DE ENCERRAMENTO DOS CASOS DE TUBERCULOSE NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE - PB ( )

Doença Meningocócica na Região Norte

MENINGITE NO BRASIL EM 2015: O PANORAMA DA ATUALIDADE MENINGITIS IN BRAZIL IN 2015: OVERVIEW OF CURRENT

COQUELUCHE AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ANO DE 2013

INTOXICAÇÕES POR AGROTÓXICOS E DOMISSANITÁRIOS EM IDOSOS: DADOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS ( )

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE HANSENÍASE NA CIDADE DE SOBRAL 2010

DISTRIBUIÇÃO DA HEPATITE B NA PARAÍBA: ANÁLISE DOS CASOS NOTIFICADOS PELO SINAN

Sistematização e análise de casos notificados de violência contra a mulher em Viçosa-MG.

TÍTULO: INCIDÊNCIA DE AIDS NA POPULAÇÃO DE 50 ANOS OU MAIS EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP, NO PERÍODO DE 2003 A 2013

2 MATERIAIS E MÉTODOS

NOVA PERSPECTIVA DA EPIDEMIA DO HIV: INCIDÊNCIA DE HIV EM IDOSOS NO ESTADO DE ALAGOAS NA ÚLTIMA DÉCADA

ÍNDICE DE INFECÇÃO POR SÍFILIS EM MULHERES NO MUNICÍPIO DE VIÇOSA M.G. Introdução

MORBIDADE HOSPITALAR E MORTALIDADE POR DIABETES MELLITUS: RECIFE, 2016 e 2017

Mortalidade por meningite no Estado do Tocantins (Brasil) no período de 2000 a 2012

Situação epidemiológica da nova influenza A (H1N1) no Brasil, 2009

Autores: Costa DG;Barbosa RMG; de Morais LC; Pinheiro RS; Zuzino MKRT; Cavalcante JEDS Instituição: Faculdade de Medicina UFG

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS INTEGRADAS DO PONTAL CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

SIREVA no Brasil: funcionamento apresentação de dados

A VIOLÊNCIA SEXUAL COMO ACIDENTE DE TRAJETO. ANÁLISE A PARTIR DE CASOS ATENDIDOS E NOTIFICADOS NO HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UFPR EM 2016

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO LEPTOSPIROSE Nº 001/2018

NOTA TÉCNICA. Vigilância da Influenza ALERTA PARA A OCORRÊNCIA DA INFLUENZA E ORIENTAÇÃO PARA INTENSIFICAÇÃO DAS AÇÕES DE CONTROLE E PREVENÇÃO

Aspectos Epidemiológicos do Acidente Ofídico no Vale do Ribeira, São Paulo, 1985 a 1989

TÍTULO: COBERTURA VACINAL DA MENINGOCÓCICA C CONJUGADA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO ENTRE 2011 E 2016

ANÁLISE DESCRITIVA DAS INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS EM GOIÁS

MENINGITE: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA DOENÇA NO BRASIL NOS ANOS DE 2007 A 2013

Meningite: O que você PRECISA SABER

Perfil etiológico das meningites bacterianas, notificadas entre 1999 e 2010 no Rio Grande do Sul

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 011/2014

Investigação de óbitos suspeitos de dengue

Andressa Caroline Trautenmüller 2.

Transcrição:

ARTIGO ARTICLE 823 Doença meningocócica: situação epidemiológica no Município de Manaus, Amazonas, Brasil, 1998/22 Meningococcal disease: epidemiological profile in the Municipality of Manaus, Amazonas, Brazil, 1998/22 Magda Levantezi Santos 1 Antônio Ruffino-Netto 2 Abstract Introdução 1 Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil. 2 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil. Correspondência M. L. Santos Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília. Campus Universitário Darcy Ribeiro, Gleba A, Reitoria, Brasília, DF 791-9, Brasil. levantezi@ig.com.br This epidemiological study focused on meningococcal meningitis in the Municipality of Manaus, Brazil from 1998 and 22, considering the following aspects: incidence and case-fatality, age, sex, clinical manifestations, evolution, diagnostic criteria, and predominant meningococcal strains. The mean incidence rate for meningococcal meningitis in Manaus during the study period was 7.8 cases per 1, inhabitants. The disease was more common in males. Infants (< 1 year age) were the most frequently affected age group. Mean case fatality was 14.%. In 22, serotype B meningococcus was the most prevalent (78.2%), while serotype C accounted for 7.2% of cases of meningococcal disease. Meningococcal Meningitis; Neisseria meningitidis; Epidemiologic Surveillance A doença meningocócica é um sério problema de saúde pública em várias localidades do mundo, especialmente por causa da alta letalidade e da elevada incidência em faixas etárias menores 1,2. É causada pela Neisseria meningitidis e se apresenta sob diversas formas clínicas que vão desde o portador assintomático até a meningococemia fulminante 3. A ocorrência da doença meningocócica se dá em todo o mundo. Representa dez a quarenta por cento dos casos das meningites bacterianas. A Organização Mundial da Saúde divulgou, no ano de 1997, uma estimativa de que ocorreram, no mundo, aproximadamente 5 mil casos desse agravo, e que 5 mil culminaram em mortes causadas pelo meningococo 2. É muito conhecida a área endêmica da Etiópia à Mauritânia, denominada como Cinturão Africano, onde a média de casos registrada é de até 2/1 mil habitantes por ano, e o grupo mais acometido é o de crianças na faixa etária de 5 a 14 anos 2. No Brasil, o número de casos para o período de 1998 a, divulgado em 22 pela Fundação Nacional de Saúde (Guia de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Centro Nacional de Epidemiologia; 22), foi de 17.689, e o de óbitos foi igual a 3.149. No Estado do Amazonas, ocorreram 64 casos e 14 óbitos no período de 1998 a 22 (dados fornecidos pela Secretaria

824 Santos ML, Ruffino-Netto A de Saúde do Estado do Amazonas SUSAM), e em Manaus, nesse mesmo período, foram confirmados 532 casos e 74 óbitos de doença meningocócica, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde. Por tratar-se de uma enfermidade de alta gravidade, todos os casos suspeitos de meningite são de notificação compulsória. Esse estudo proporcionará o conhecimento comportamental da doença e poderá subsidiar o sistema de vigilância epidemiológica do município a adotar medidas de intervenção específicas no controle da doença e na prevenção do óbito freqüentemente ocasionado por ela. Métodos Trata-se de um estudo descritivo retrospectivo. A população que compõe esse estudo é composta por munícipes, que apresentaram a doença no período descrito anteriormente. Foram considerados como critérios de inclusão residir em Manaus na data da manifestação da doença; ser caso confirmado de doença meningocócica (segundo normas do Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde MS) e estar notificado no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação). O SINAN A análise do comportamento da doença meningocócica no município foi realizada com base nos dados do SINAN, que foi implementado no Estado no ano de 1998, através da Ficha de Investigação Individual de Meningites e que se configura como um roteiro de investigação do agravo, apesar de ser um dado secundário e apresentar restrições do tipo: preenchimento incompleto e ausência de registros sobre algumas variáveis estudadas. Foi realizado um levantamento do quanto a ausência de registros representava sobre o total dos dados pesquisados. Verificamos ausência de registro apenas para as informações relativas a critério diagnóstico(3,2%) e evolução (4,1%), para as variáveis relacionadas à identificação da bactéria (sorogrupo, sorotipo e subtipo), foi utilizada outra fonte de dados, a Divisão de Epidemiologia, Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT/AM). Acreditamos, portanto, que, apesar das restrições, o banco de dados apresenta condições satisfatórias para a análise do comportamento epidemiológico da doença meningocócica em Manaus no período do estudo. As variáveis estudadas foram: idade, sexo, forma clínica, evolução, critério diagnóstico, sorogrupo, sorotipo e subtipo da cepa e ano epidemiológico. As fontes de dados foram: banco de dados do SINAN da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus, o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ano 2 e a Divisão de Epidemiologia da FMT/AM. As variáveis foram codificadas, digitadas e analisadas em banco de dados do programa Epi Info, para as representações gráficas, o Microsoft Excel. Resultados O SINAN registrou 1.487 casos de meningite, 532 casos e 74 óbitos ocasionados pela doença meningocócica em Manaus, no período de 1998 a 22. A distribuição do número de casos de meningite, a proporção de doença meningocócica em relação ao total de casos de meningite e a taxa de letalidade do agravo em estudo estão representadas na Figura 1. O coeficiente de incidência da doença meningocócica registrou uma média de 7,8 casos por 1 mil habitantes, e a taxa de mortalidade, em torno de um óbito a cada 1 mil habitantes. Os coeficientes de incidência e de mortalidade da doença meningocócica (ambos por 1 mil) no Município de Manaus, por ano epidemiológico, estão apresentados na Figura 2. Estudando a distribuição dos 532 casos, segundo o sexo, observa-se que o agravo acomete mais o sexo masculino, que também se caracteriza como o de maior risco para a doença conforme representa a Figura 3. O número de casos e o coeficiente de incidência apresentado em cada ano epidemiológico por faixa etária e a média de incidência no período estão representados na Tabela 1. No ano de 22, em Manaus, foram confirmados 112 casos de doença meningocócica. Desses, 69 amostras foram submetidas à identificação da cepa. Verificou-se o predomínio do sorogrupo B (54 casos 78,2%), seguido do sorogrupo C (5 casos 7,2%). Nas dez amostras restantes, ocorreu morte da cepa. A identificação dos meningococos das 54 amostras do sorogrupo B aponta para um predomínio de casos (44) ocasionados pela cepa B:4:P1.19,15. Nos anos anteriores, não foi possível obter os dados referentes a amostras encaminhadas para identificação, ficando, portanto, a análise prejudicada. A distribuição do número de casos de doença meningocócica, segundo a forma clínica por ano epidemiológico, é apresentada na Figura 4.

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA 825 Figura 1 Número de casos de meningite, proporção de casos de doença meningocócica e taxa de letalidade. Manaus, Amazonas, Brasil, 1998 a 22. 4 35 3 25 Meningites Doença meningocócica Letalidade 2 15 1 5 1998 2 22 Figura 2 Coeficiente de incidência e mortalidade (por 1 mil habitantes) de doença meningocócica. Manaus, Amazonas, Brasil, 1998 a 22. 1 8 Coeficiente de incidência Coeficiente de mortalidade 6 4 2!998 2 22

826 Santos ML, Ruffino-Netto A Figura 3 Distribuição do número de casos e coeficientes de incidência (por 1 mil habitantes) de doença meningocócica segundo sexo. Manaus, Amazonas, Brasil, 1998 a 22. 1 Casos masculinos 8 6 4 Coeficiente de incidência masculina Casos femininos Coeficiente de incidência feminina 2 1998 2 22 Tabela 1 Distribuição dos casos e coeficientes de incidência de doença meningocócica por sexo e faixa etária. Manaus, Amazonas, Brasil, 1998 a 22. Faixa etária Freqüência Casos total Coeficientes de incidência/1 mil habitantes Taxa de incidência (anos) corrigida 1998 2 22 média < 1 43, 43, 24,3 4,7 26,2 19,7 22, 26,5 1-4 26,2 131, 29, 19,7 21,7 13, 19,8 2,6 5-9 21,4 17, 21,2 14,8 11,6 12,4 12,7 14,5 1-14 13,1 67, 1,9 5,9 1,3 9,9 17,7 8,9 15-19 15,4 77, 7,2 9, 8,5 1,6 11,5 9,3 2-49 3,2 98, 2,6 2,9 4,4 3, 3, 3,2 5 ou + 9, 3,8 1,4 2,1 1,5 Fonte: SINAN. No período do estudo (1998 a 22), a proporção do número de casos por forma clínica apontou como forma predominante a meningite meningocócica associada à meningococemia (4,9% 218 casos), em seguida, a meningococemia (38,5% 25 casos) e, por último, a meningite meningocócica (2,4% 19 casos). Cerca de 69,% (315) dos casos foram confirmados através do critério clínico laboratorial, sendo que 21,4% foram pela cultura; 37,7%, através da aglutinação por látex, e a bacterioscopia foi responsável por 9,5%. O critério clínico foi responsável pela confirmação de 21,8% dos casos. Em 32 casos (6,2%), outros critérios foram utilizados. Discussão A doença meningocócica apresenta uma boa possibilidade de vigilância e controle devido à obrigatoriedade de notificação e da hospitalização de quase 1,% dos casos, apesar de sabermos que ocorre a subnotificação por moti-

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA 827 Figura 4 Distribuição do número de casos de doença meningocócica segundo a forma clínica. Manaus, Amazonas, Brasil, 1998-22. 6 Meningococemia 5 4 3 Meningite meningocócica Meningite meningocócica + meningococemia 2 1 1998 2 22 vos diversos relacionados à sensibilidade e eficiência do sistema de vigilância epidemiológica dos diversos serviços de saúde. No Município de Manaus, a quase totalidade dos casos é atendida no Hospital da Fundação de Medicina Tropical, que é referência para doenças infecciosas, o que diminui a possibilidade da subnotificação principalmente devido às dificuldades relativas à coleta de material para se fazer o diagnóstico etiológico. No Brasil, a proporção de doença meningocócica em relação às meningites, segundo Ferreira 4, variou de 15, a 2,%, a encontrada no município revela-se bem maior, acredita-se que esteja relacionada ao fato de quase todos os casos do município serem atendidos num hospital de referência. Observa-se a elevação da taxa de letalidade ano a ano até e 22. A literatura internacional 5 refere taxas que se mantêm entre 5, a 1,% dos casos nos países mais desenvolvidos. Sabe-se que a letalidade não depende apenas da qualidade e rapidez no tratamento, mas também da própria imunidade do indivíduo e da virulência das cepas. Ela também apresenta variação conforme o sorogrupo envolvido. O sorogrupo B (que se mostrou mais incidente no ano de 22) é considerado atualmente o mais virulento 6,7,8, e, para esse sorogrupo, a letalidade esperada é de 15,% 6, quando se consideram as três formas clínicas. No ano de 1998, foi registrado o maior coeficiente de incidência, especificamente, em fevereiro, foi realizada a vacinação contra meningite meningocócica tipo B no município, outras medidas também foram adotadas pela Secretaria de Saúde Municipal, como: intensificação da quimioprofilaxia e educação em saúde nas creches e escolas. Observa-se, nos anos seguintes, uma diminuição dos coeficientes de incidência do agravo, porém não é possível atribuir esse decréscimo como sendo em conseqüência da vacinação. O sexo masculino se caracteriza como o que apresenta os maiores coeficientes de incidência. Esse achado é equivalente ao encontrado por Gama 9, em seu estudo sobre o agravo na cidade do Rio de Janeiro, e também é descrito por outros autores 1,11. Segundo Peltola 12, a maior concentração de casos em menores de quinze anos é uma característica da doença meningocócica em quase todo o mundo, menos nos países que compõem o Cinturão Africano. A partir da freqüência corrigida, observa-se que os grupos mais atingidos são as crianças menores de 1 ano, o grupo que corresponde à faixa etária de 1 a 4 anos, o grupo correspondente à faixa etária de 5 a 9 anos, o de 15 a 19 anos, o grupo dos 1 aos 14 anos, o de 2 a 49 anos e os pertencentes ao grupo dos 5 anos ou mais, respectivamente. O predomínio do agravo nas crianças menores de um ano tem sido relatado por vários pesquisadores de vários países 13,14,15 e tam-

828 Santos ML, Ruffino-Netto A bém por Kemp 7, que descreveu o maior coeficiente de incidência nos menores de um ano no Município de Campinas, São Paulo, e Gama 9, no Rio de Janeiro. A partir de 2, a doença meningocócica em Manaus vem apresentando um aumento de incidência na faixa etária que compreende os pacientes com 1 a 14 anos, sendo que, em 22, esse grupo de pacientes apresentou uma incidência quase igual ao grupo de 1 a 4 anos. Esse comportamento indica necessidade de adoção de medidas específicas para essa faixa etária. A confirmação dos casos baseada em diagnóstico laboratorial é essencial no controle da doença meningocócica e indica a qualidade do sistema de vigilância epidemiológica. Constata-se a necessidade de maior especificidade na investigação epidemiológica laboratorial, especialmente quanto à identificação da cepa predominante, pois esse desconhecimento inviabilizou a análise do período referente a essa variável e impossibilita necessários estudos de desenvolvimento de vacinas. Pode-se concluir que o sucesso das ações de vigilância no controle da doença meningocócica está intimamente relacionado a três eixos: a investigação epidemiológica, o manejo clínico do paciente e a investigação laboratorial. O perfeito entrosamento desses eixos é que pode garantir a realização de intervenções eficazes para alcançarmos uma diminuição das taxas de morbidade e de letalidade geradas pelo agravo. Resumo Estudou-se o comportamento da doença meningocócica no Município de Manaus, Amazonas, Brasil, no período compreendido entre 1998 a 22, referente à incidência e letalidade, idade, sexo, forma clínica, evolução, critério diagnóstico e cepas de meningococos predominantes. Os coeficientes de incidência da doença meningocócica, em Manaus, no período do estudo, apresentaram uma média de 7,8 casos por 1 mil habitantes. A doença meningocócica incide mais no sexo masculino. A faixa etária mais acometida são os menores de 1 ano. A taxa de letalidade média apresentada foi de 14,%. No ano de 22, o meningococo pertencente ao sorogrupo B foi o mais incidente (78,2%), os pertencentes ao sorogrupo C representaram 7,2% dos casos de doença meningocócica. Colaboradores M. L. Santos redigiu o artigo. A. Ruffino-Netto contribuiu nas discussões do artigo. Agradecimentos Ao Dr. Antônio Ruffino-Netto, ao Dr. Antônio Levino orientador e colaborador, respectivamente, da dissertação de mestrado apresentada à Universidade Estadual do Amazonas e à Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, à Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas, Secretaria Municipal de Saúde de Manaus e à Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Meningite Meningocócica; Neisseria meningitidis; Vigilância Epidemiológia

SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DA DOENÇA MENINGOCÓCICA 829 Referências 1. Noronha PC, Baran M, Nicolai ACC, Azevedo BM, Bernardes OTA, Monteiro RTG, et al. Epidemiologia da doença meningocócica na cidade do Rio de Janeiro: modificações após a vacinação contra os sorogrupos B e C. Cad Saúde Pública 1997; 13: 295-33. 2. Requejo HIZ. Doença meningocócica: um estudo epidemiológico comparativo em nível mundial, período 1887-1997 [Dissertação Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade Estadual de São Paulo;. 3. Meira DA. Doença meningocócica. In: Veronesi R, Focaccia R, organizadores. Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 22. p. 623-31. 4. Ferreira GC, Simões SJM. Etiologia das meningites na Região de Araraquara/SP, 1992 a 1996. Revista de Ciências Farmacêuticas ; 2:171-89. 5. Walen CM, Hockin JC, Ryan A, Ashton F. The changing epidemiology of invasive meningococcal diseae in Canada, 1985 trough 1992: emergence of virulent clone of Neisseria meningitides. JAMA 1995; 273:39-4. 6. Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac. Doença meningocócica: normas e instruções. Manual de vigilância epidemiológica. São Paulo: Secretaria de Saúde de São Paulo; 1995. 7. Kemp B. Aspectos epidemiológicos e diagnóstico laboratorial da doença meningocócica no Município de Campinas-SP no período 1988 a 1993 [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 1994. 8. Donalisio CAM, Kemp B, Rocha MMM, Ramalheira MFR. Letalidade na epidemiologia da doença meningocócica: estudo na região de Campinas/ SP, 1993 a 1998. Rev Saúde Pública 2; 34:589-95. 9. Gama SGN, Marzochi KB, Silveira GB. Caracterização epidemiológica da doença meningocócica na área metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil, 1976 a 1994. Rev Saúde Pública 1997; 31:254-62. 1. Bryan JP, Silva HR, Tavares A, Rocha H, Scheld WM. Etiology and mortality of bacterial meningitides in Northeastern Brazil. Rev Infec Dis 199; 12:128-35. 11. Fogarty J, Keane CT, Carroll R, Byrne M, Moloney AC. Meningococcal disease in childhood a regional study in Ireland. J Infect 1994; 28:199-27. 12. Peltola H. Meningococcal disease: still with us. Rev Infect Dis 1983; 5:71-91. 13. Jones DM, Abbott JD. Meningococcal disease in England and Wales. In: Vedros NA, editor. Evolution of meningococeal disease. Boca Raton: CRC Press; 1987. p. 65-89. 14. Cortes-Majo M. Epidemiologia descriptiva de las meningitis en Andalucia. Rev Sanid Hig Pública 1981; 55:665-68. 15. Rosenstein NE, Perkins BA, Stephens DS, Popovic T, Hughes J. Meningococol disease. N Engl J Med ; 344:1378-88. Recebido em 18/Jun/24 Versão final reapresentada em 17/Nov/24 Aprovado em 24/Nov/24