O PAPEL DA FAMILIA NO PÓS-ALTA DOS PACIENTES PSIQUIATRICOS 1 CÁCERES, Karine 2 ; WEBER, Shuelen 3 ; OLIVEIRA, Angelica 3 ; BORGES, Gabriela 3 ; KUHN, Roberta 3 ; QUADROS, Elisa 3 ; CARDOSO, Homero 3. 1 Trabalho de pesquisa da disciplina de Desenvolvimento Profissional V do curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano UNIFRA 2 Docente do Curso de Enfermagem, UNIFRA. Membro do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Saúde-GIPES 3 Acadêmicos do quinto semestre do Curso de Enfermagem, UNIFRA. E-mail:angelica.oliveira24@hotmail.com RESUMO O objetivo do presente estudo é descrever a importância do papel da família no pós-alta dos pacientes psiquiátricos. Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, com abordagem qualitativa. Foi realizado na Unidade Psiquiátrica, do Hospital São Francisco de Assis, Santa Maria, RS. O critério de inclusão da pesquisa foi os pacientes psiquiátricos internados na Unidade. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento no formato de um roteiro, constando quatro questões relativas à percepção do paciente sobre sua expectativa no pós-alta. Os dados foram obtidos através da técnica da entrevista. Os resultados indicaram importância da atuação dos acadêmicos de enfermagem durante as internações, e do papel dos familiares no pós alta, também foram mencionados as perspectivas para o futuro. A participação familiar torna-se indispensável no processo de internação, como no pós-alta do paciente, e devido o instrumento de cuidado utilizado pelos acadêmicos de enfermagem com eles, observou-se a importância destes na recuperação dos pacientes frente a internação. Palavras-chave: Família; Pacientes Psiquiátricos; Pós-alta; Enfermagem 1.INTRODUÇÃO Na atualidade, vivencia-se um período de amplas mudanças nas atuações de saúde mental, essas mudanças vão desde políticas estruturais até a institucionalização da assistência ao paciente com algum distúrbio mental. Devido à reforma da psiquiatria, estar focada na desospitalização, e, assim buscar uma maior interação da família com o paciente, espera-se construir um novo marco na história, procurando atender á todas as expectativas dos pacientes e da equipe de saúde, deixando estes, cada vez mais aptos para o enfrentar do cotidiano. A internação torna-se relevante, por ser um procedimento importante na configuração da assistência e evolução das principais doenças psiquiátricas, a internação psiquiátrica continua sendo um recurso utilizado. Muitas vezes há situações clínicas em que 1
a internação se faz prudente, podendo ser até mesmo imperativa, sobretudo para os casos mais graves (BRASIL, 2002). Usando a proposta da Reforma Psiquiátrica de promover a reinserção social do paciente portador de transtorno mental, o qual, antes de possuir qualquer diagnóstico, é um sujeito com nome, desejo, história e direito de exercício de cidadania. Na história da saúde mental, esses sujeitos têm sido marginalizados e excluídos do convívio na sociedade por apresentarem um diferente modo de ser no mundo, que é rejeitado e desconsiderado, posto que vai de encontro às formas de existirem padronizadas e concebidas pela sociedade como normais (BEZERRA; DIMENSTEIN, 2009). Um ponto fundamental na alta dos pacientes psiquiátricos é o envolvimento dos familiares nos cuidados cotidianos, dando ênfase na reinserção dos pacientes a sociedade, lhes proporcionando condições de terem uma vida ativa na comunidade, participando de serviços voluntários ou até mesmo de serviços que gerem renda para o seu próprio sustento. O envolvimento familiar no pós- alta do paciente psiquiátrico é motivada pelo projeto Alta assistida que consiste em promover um contato com o paciente e sua família, após a sua alta, direcionar acompanhamento ao portador de transtorno mental para uma unidade de saúde e diminuir a freqüência de reinternações do paciente (BEZERRA; DIMENSTEIN, 2009). O ajustamento social adequado se faz necessário na prevenção de recaídas diante situações estressantes e também é um meio de evitar possíveis comentários críticos e resistência dos familiares no que se referem aos déficits sociais, estes associados à alta taxa de recaída (MOREIRA; 2002). Sendo assim, este projeto de pesquisa justifica-se por meio de uma inquietação que os acadêmicos do 5º semestre de Enfermagem tiveram ao observarem os relatos informais dos pacientes sobre a importância do papel família no pós-alta dos mesmos. Objetivou-se identificar e compreender a importância do papel da família no pós-alta dos pacientes psiquiátricos. 2. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado na Unidade Psiquiátrica, do Hospital São Francisco de Assis, Santa Maria, RS. O critério de inclusão da pesquisa foi os pacientes psiquiátricos internados na Unidade Psiquiátrica que aceitassem participar da pesquisa; estar em condições de 2
responder as questões norteadoras da entrevista. A coleta de dados foi realizada no período de maio e junho de 2011, de acordo com o cronograma estabelecido. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento no formato de um roteiro, constando de quatro questões relativas à percepção do paciente sobre sua expectativa no pós-alta. Os dados foram obtidos através da técnica da entrevista. A análise e a interpretação dos dados serão consideradas pela análise de conteúdo, proposta por Bardin. A análise será operacionalizada por meio dos seguintes passos: préanálise, exploração material, tratamento dos resultados obtidos e interpretados. Essa análise permite descobrir núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifique alguma coisa para o objetivo analítico visado (BARDIN, 2004). Os entrevistados serão representados com a letra P nos resultados e discussões. As questões éticas foram relevantes para desenvolver esse estudo, com o consentimento dos indivíduos de estarem cientes de que se trata de uma pesquisa científica, assegurando o sigilo e o anonimato aos sujeitos, com cuidados para a não manipulação dos dados (BRASIL, 1996). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFRA, obtendo o registro nº 051.2011.2. 3.RESULTADO E DISCUSSÕES Foram realizadas 6 entrevistas na instituição hospitalar na unidade de psiquiatria. Através da análise das entrevistas emergiram três categorias: O papel do acadêmico de enfermagem frente a internação; Papel dos familiares no pós alta; e Perspectivas para o futuro. Na primeira categoria O Papel do acadêmico de enfermagem frente a internação podemos observar nas falas abaixo como os pacientes visualizam a atuação dos acadêmicos durante seus estágios: Sinto-me bem à vontade, sinto que com os acadêmicos posso contar minha história de vida P 1) Gosto bastante dos acadêmicos, me sinto a vontade para conversar, passam segurança para nós, acho importante essa participação no tratamento.(p2) Gosto dos acadêmicos, das atividades que realizam conosco. Tenho mais confiança nos acadêmicos que nos funcionário, podemos contar que não vão espalhar as conversas. (P 3) Tenho uma alegria quando os acadêmicos chegam, fazem bem para todos nós. (P6) 3
O papel do enfermeiro psiquiátrico é o de agente terapêutico, e suas ações têm base no relacionamento estabelecido com o paciente psiquiátrico a partir da compreensão do significado de seu comportamento e da aceitação de que o paciente é um ser humano. Isso implica, em o enfermeiro psiquiátrico dispor de conhecimento científico e habilidade profissional e pessoal, para desempenhar adequadamente seu papel (LUIZ; AVANCI; MALAGUATI; AGUILERA, 2003). A comunicação entre o enfermeiro e o paciente é denominada comunicação terapêutica, porque tem a finalidade de identificar e atender as necessidades de saúde do paciente e contribuir para melhorar a prática de enfermagem, ao criar oportunidades de aprendizagem e despertar nos pacientes sentimentos de confiança, permitindo que eles se sintam satisfeitos e seguros. A comunicação representa uma troca de informação e compreensão entre as pessoas, com objetivo de transmitir fatos, pensamentos e valores, é o processo humano de emissão e recepção de mensagens (OLIVEIRA et al, 2005). A segunda categoria: Papel dos familiares no pós alta. enaltece a importância que a família representa na recuperação dos pacientes,conforme as falas abaixo: Meus filhos e minha esposa me apóiam muito em minha reabilitação, me incentivando para seguir o tratamento e que não venha a ter recaída e volte a beber.(p4) Que eles continuem me apoiando como fazem aqui no hospital. (P3) Que me ofereçam apoio, eu e minha Irma sempre ajudamos uma a outra. (P5) A família consiste a primeira rede social das pessoas, é fundamental, quer para a manutenção do doente mental fora do hospital psiquiátrico,ou em uma visão mais ampla de assistência à saúde mental, que considera essenciais os recursos e a atuação destas. Isso contribui para o entendimento da família como a unidade básica da saúde, num modelo de intervenção que possibilite resolver os problemas cotidianos, diminuindo o stress e, indiretamente, as recaídas (PEREIRA; JUNIOR, 2003). É necessário o trabalho com as famílias dos usuários para que esta não exclua os usuários do convívio familiar, pois estas muitas vezes também são marginalizadas pela sociedade, isto leva a uma reação em cadeia, ou seja, ela exclui para não ser excluída. Assim, a reabilitação dos pacientes psiquiátricos no pós-alta, visa à permanência do usuário próximo a família e a rede social. A participação da família conduz ao estabelecimento de 4
estratégias de intervenção mais abrangentes consistentes onde podem ser trabalhadas as dificuldades e necessidades de ambas, familiares e usuários (COIMBRA et al.,2005). A terceira categoria Perspectivas para o futuro.aborda sobre os desejos que os pacientes têm, como as falas abaixo: Viver com minha família, sem ter recaídas. (P6) Voltar a trabalhar...e formar uma família.(p5) Quero realizar algumas mudanças no meu quarto. (P4) Holanda (2000) relata que a re-orientação vocacional ocupacional em hospitais psiquiátricos é definida como um renascimento que proporciona ao sujeito o reencontro consigo mesmo e a identificação de seu potencial. Tal perspectiva, ao ir além da busca de uma ocupação, permitiria o reconhecimento de si como alguém capaz de reformular o presente e planejar o futuro, levando em conta o desejo pessoal. Nessa perspectiva, o trabalho de orientação profissional, como um espaço de ação, de reflexão sobre a ação, de reconstrução da história de vida e de articulação de um outro tipo de relação com o mundo tendo o trabalho como mediador, serviria ao propósito de reestruturação do mundo fragmentado característico das vivências psicóticas e da própria vida (VALORE, 2010). O momento do pós alta da instituição, na volta ao convívio social é esperado pelos pacientes, mas muitas vezes vem acompanhado da incerteza de como será a vida na realidade externa. 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se perceber no decorrer das entrevistas com os pacientes psiquiátricos, que estes consideram importante o apoio da família no seu processo de reinserção social, visualizando sua alta com perspectivas de um futuro de melhor convivência familiar e almejando sua entrada no mercado de trabalho. A participação da família torna-se indispensável no processo de internação como no pós-alta do paciente, oferecendo-lhes apoio para reconstrução de sua auto-estima e autonomia impedindo assim, sua reinternação. Devido o instrumento de cuidado utilizado 5
pelos acadêmicos de enfermagem com os pacientes, observou-se a importância destes na recuperação dos pacientes frente a internação. REFERENCIAS BARDIN, L. A análise de conteúdo. 3.ed. Lisboa: Edições 7O, 2004. BEZERRA, C. G.; DIMENSTEIN, M. Acompanhamento terapêutico na proposta de alta assistida implementada em hospital psiquiátrico: Relato de uma experiência. Psicol. clin., Rio de Janeiro, vol.21, n.1, p. 15-32, 2009 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-56652009000100002&script=sci_abstract&tlng=pt. Data de acesso: 02 de abril de 2011. BRASIL. Resolução nº 196/96. Pesquisa em seres humanos. Revista Bioética. p.36-8, Abr.-Jun., 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Legislação em saúde mental: 1990-2002. 3ª ed. Brasília: 2002. COIMBRA, V.,et al. Reabilitação psicossocial e família: considerações sobre a reestruturação da assistência psiquiátrica no Brasil. Revista Eletrônica de Enfermagem., v. 07, n. 01, p. 99 104, 2005. Disponível em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen/article/view/849/1024. Data de acesso: 14 de junho de 2011. HOLANDA, L. Re-orientação vocacional ocupacional: Um resgate da cidadania. In I. D. Oliveira (Org.),Construindo caminhos: Experiências e técnicas em orientação profissional (p. 184-189). Recife: Universitária da UFPE, 2000. LUIZ, J. P.; AVANCI, R. de C.; MALAGUTI, S.E.; AGUILERA, A.M. da S. Atitude frente à doença mental: estudo comparativo entre ingressantes e formandos em enfermagem. Medicina, Ribeirão Preto, v.36, p. 37-44, jan./mar. 2003. MOREIRA, M. S. S.; CRIPPA, J. A. S.; ZUARDI, A. W. Expectativa de desempenho social de pacientes internados em hospital geral. Revista de Saude Publica, São Paulo, vol. 36, n.6, p. 734-742, Dezembro/2002. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v36n6/13529.pdf Data de acesso: 04 de abril de 2011. OLIVEIRA, P.S de; NÓBREGA, M.M.L. da; SILVA, A.T. da; FILHA, M. de O. F. Comunicação terapêutica em enfermagem revela nos depoimentos de pacientes internados em centro de terapia intensiva. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.07, n.01, p.54-63, 2005. PEREIRA, M.A.O.;JUNIOR, A.P.Transtorno mental: dificuldades enfrentadas pela família. Rev Esc Enferm USP. v.37,n.4, p. 92-100, 2003. VALORE, L.A. Orientação profissional no contexto psiquiátrico: Contribuições e desafios. Rev. bras. orientac. Prof. São Paulo, vol.11, no.1,jun. 2010. 6