SEGUNDO ANASTÁCIO CHEMBEZE, DO INEFP: Formamos para responder às necessidades do mercado O INSTITUTO Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFP) está a reestruturar os seus serviços para responder às actuais necessidades do mercado de trabalho, com destaque para as áreas de gás e petróleo, que marcam uma nova era da economia moçambicana. Através de parcerias com algumas multinacionais que estão a financiar a instalação de novos centros em Maputo, Inhambane, Cabo Delgado, Nampula, Sofala e Tete, esta instituição, que pertence ao Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social, tem estado a privilegiar a formação dos jovens orientados para estas áreas específicas. O director-geral do INEFP, Anastácio Chembeze, destaca na conversa com o que a revisão dos currículos e a introdução de novos cursos que terão certificação internacional vai possibilitar aos formandos adquirir competências e habilidades para concorrer em qualquer ponto do mundo. Acompanhe de seguida as partes mais significativas da entrevista. NOTÍCIAS (NOT) Muitos jovens da nossa sociedade queixam-se de dificuldades para conseguir um emprego. Quais são as atribuições do INEFP na preparação dos candidatos ao mercado do trabalho? ANASTÁCIO CHEMBEZE (AC) O INEFP tem como vectores de actuação a promoção do emprego e a formação profissional. Na promoção procuramos criar condições para que o emprego seja acessível e disponível para o cidadão através dos nossos centros, prospecção do mercado de trabalho e tomada de medidas activas do emprego. No que diz respeito à formação profissional os centros de emprego têm duas áreas-chave, designadamente os sectores de orientação profissional e colocação profissional. A orientação profissional serve para ajudar o cidadão a se descobrir nos testes psicotécnicos através de conversas com especialistas nesta matéria, enquanto a formação é direccionada para as áreas 1
consideradas de alta intervenção física, como serralharia, mecânica, construção civil e electricidade industrial. Temos também a área de formação para serviços terciários, como a contabilidade, informática, corte e costura, entre outras profissões de interesse. NOT Um cidadão que pretende um emprego como deve proceder? AC Inscrevendo-se nos nossos centros de emprego e nós nos encarregamos de ir às empresas em busca de oportunidades nas diferentes áreas. Estabelecemos também acordos de estágio pré-profissional, que representam uma oportunidade para o primeiro emprego ou para aqueles que estão à procura de uma nova oportunidade. Os que estão inscritos nos nossos centros não são apenas os formados pelo INEFP, mas todos aqueles que procuram emprego, pois estes lugares estão abertos ao público. A Convenção 88 da Organização Internacional do Trabalho diz que o serviço público de emprego é gratuito e, por esta via, qualquer cidadão pode e deve se inscrever no centro do emprego e poder ter oportunidade de estágio ou ainda uma oferta imediato de trabalho. NOT Mesmo assim os cidadãos queixam-se do fenómeno da venda de vagas de emprego. Como se explica isto? AC A liberalização da economia permitiu a criação de cerca de 90 agências privadas de emprego em todo o país, mas na nossa acção de fiscalização detectamos uma série de ilegalidades, com destaque para a questão da corrupção. Multámos algumas e mandámos encerrar outras que já não reuniam condições para o seu funcionamento. E mesmo para responder a esta preocupação iremos introduzir dentro em breve a campanha vaga não se paga, como forma de dizer ao cidadão que a procura de emprego é um direito consagrado na Constituição da República e deve denunciar actos de corrupção. Criados mais empregos no primeiro semestre COM a pressão exercida pela sociedade, maioritariamente constituída por jovens recém-formados em diferentes áreas profissionais, numa situação da economia que obriga algumas empresas a fechar as portas, exige-se das instituições capacidade para adoptar estratégias de respostas seguras aos candidatos. 2
NOT Qual é a eficiência do INEFP na orientação profissional e na colocação do cidadão no mercado do emprego? AC Estamos neste momento a reestruturar todo o serviço de emprego, porque temos consciência dos desafios que nos esperam sobre a capacidade humana. Precisamos de ter no nosso quadro pessoas capazes de responder à demanda. Para além de conhecer a área de emprego, os profissionais afectos aos nossos serviços devem ser também pessoas criativas e inovadoras. Um técnico de emprego deve ser um indivíduo inconformado que vai ao mercado à procura de oportunidades. Deve identificar as vagas que o mercado oferece e o tipo de profissões que são mais procuradas para poder estar em altura de ajudar ao cidadão que procura apoio no centro de emprego. Por outro lado, elaborar bem o curriculum e saber ser entrevistado são duas técnicas básicas que o candidato a emprego deve dominar e, infelizmente, hoje em dia as pessoas têm pouco tempo para ler. Importa realçar que a primeira página do curriculum é fundamental, porque diz tudo sobre o cidadão e o resto é complementar. NOT Se sente confortável em termos de quadros na área de orientação profissional? AC Devo confessar que não estamos bem. No ano passado, por exemplo, lançámos um concurso que depois fomos obrigados a cancelar por não se estar a fazer novas admissões no Aparelho do Estado. Na área de orientação profissional precisamos de técnicos com formação em psicologia, porque o número que temos não é suficiente e na área de colocação precisamos de mais técnicos de emprego que conhecem um pouco a área de economia do trabalho e sabem fazer leitura da demanda. Temos 25 centros de emprego e precisaríamos de ter pelo menos dois psicólogos em cada um. Em Xai-Xai estamos a trabalhar com estagiários que estão em formação na Universidade Pedagógica. NOT Qual tem sido a capacidade de resposta nos últimos tempos? AC Na área da promoção de empregos e estágios pré-profissionais, por exemplo, foram beneficiados no primeiro semestre deste ano 2054 candidatos colocados nas empresas com as quais temos acordos nas diferentes províncias, o que corresponde a uma realização em 65 por cento, superando o previsto para este período, o que 3
traduz uma certa fertilidade na área de estágios. Precisamos de ser mais agressivos, ter um pouco mais de meios para as zonas de difícil acesso onde não estamos representados. Durante este período foram ainda criados cerca de 120 mil empregos, o que corresponde a 43 por cento da meta estabelecida para este ano fixada em 297.152 novos postos de emprego. Revisão dos curricula e certificação internacional O NÍVEL mínimo exigido para ingressar no INEFP é a 7.ª classe, que entretanto está fora do contexto actual para alguns cursos, como automação e instrumentação, que requerem conhecimentos de programação, o que obriga a uma revisão pontual dos curricula e a introdução de novos cursos que terão certificação internacional. NOT Há algum limite de nível académico para ingressar no INEFP? AC O limite é a 7.ª classe, mas há uma série de elementos que estamos a rever, que é para adequar os curricula à realidade actual e, por essa via, há cursos que requerem o mínimo da 10.ª classe. Temos, por exemplo, o curso de electricidade de manutenção industrial, que requer conhecimentos de Física e Matemática, porque o candidato deve saber fazer cálculos, desenhar e esboçar esquemas. Há um outro curso de instrumentação que provavelmente precise de pessoas com orientação para as engenharias porque estamos a falar do uso do controlo automático e programação para fabricar peças. A outra área é de automação, que requer também conhecimentos de programação, por isso os níveis de exigência são cada vez mais elevados para acompanhar o crescimento do nível tecnológico. NOT Um indivíduo formado pelo INEFP tem competências para concorrer no mercado? AC Estamos a fazer parcerias com as empresas para uma elaboração conjunta dos novos curricula, tendo em conta a conjuntura actual. As parcerias que estamos a estabelecer com as empresas permitem levar os nossos formadores a estagiar nessas unidades, o que ajuda na questão psicológica e das habilidades brandas, porque para além das lições que transmitem na sala de aulas partilha a experiência adquirida na indústria e pode chamar à atenção sobre o ambiente que espera o formando na fábrica. Felizmente, a maior parte dos nossos formadores têm experiência de trabalho na indústria e isto facilita a supervisão dos estagiários. Mas 4
também queremos o contrário, onde os profissionais que estão na indústria possam ministrar cursos, lições ou módulos nos nossos centros de formação. NOT Esta estratégia faz parte de planos futuros ou já está em curso? AC Vai começar a acontecer logo que for aprovada. Há um trabalho que começou há algum tempo e este ano submetemos à aprovação do Programa Integrado de Reforma de Educação Profissional (PIREP) três novos cursos nas áreas de manutenção industrial e electricidade, serralharia e mecânica. Estamos a falar do trabalho que fizemos com as empresas para conceber currículos que respondam às actuais exigências do mercado do trabalho. Envolvemos neste processo um grupo de dez empresas, como a Sasol, Cervejas de Moçambique, Coca-Cola, Mozal e outras que acolheram a nossa proposta de conceber cursos que possam dar resposta ao tipo de profissionais que precisam, de acordo com o seu nível de exigências. Estamos a trabalhar nesse sentido e eles estão a nos ajudar a elevar cada vez mais a qualidade dos nossos serviços através da disponibilização de especialistas, materiais e equipamentos de standard internacional. Assim que forem aprovados aqueles cursos os nossos formados terão a certificação internacional da City and Guilds, uma entidade baseada em Londres com escritórios na África do Sul. A vantagem é que tudo será feito em Português, porque neste momento os centros de electrotecnia têm alguns cursos certificados pela City and Guilds em Inglês e são poucos os moçambicanos que tinham essa oportunidade. NOT O que vai acontecer depois da aprovação dos cursos propostos? AC Assim que os novos cursos forem aprovados serão instalados centros de formação. Neste momento estamos a colocar equipamento da última geração no INEFP da cidade de Maputo e vamos ter um outro construído de raiz em Inhassoro, província de Inhambane, em parceria com a Sasol. Outros centros serão estabelecidos na Beira, Tete, Nampula e Pemba, o que vai permitir aos formandos ter a nossa certificação e da City and Guilds, habilitando-os a concorrer em qualquer lugar. Centro de formação em petróleo e gás a inaugurar em Novembro EM Novembro deverá ser inaugurado o centro de formação da cidade de Pemba, em Cabo Delgado, que vai poder responder às necessidades da indústria de petróleo e 5
gás naquela região e no resto do país. A sua construção resulta das parcerias que o INEFP tem com as empresas do ramo e terá capacidade para formar anualmente mais de mil profissionais. NOT Sendo uma formação específica, como estará organizado o processo e qual será a capacidade deste centro? AC Trata-se de um pavilhão que construímos com a parceria da Capital Outsourcing Group dentro das instalações do INEFP de Cabo Delgado e deverá ser inaugurado em Novembro próximo. Já está praticamente equipado e estão a terminar os arranjos. Este centro vai servir para formar profissionais que irão responder à indústria de petróleo e gás. É um projecto com capacidade para formar 1050 pessoas por ano e depois de alguns anos o centro reverte a favor do Estado. Serão constituídas turmas restritas de 16 formandos, que é o nosso padrão para garantir a assimilação das componentes teórica e prática nas melhores condições. Em todos os centros estabelecemos este número de formandos, porque são cursos longos que devem durar pelo menos dez meses e estamos a falar de um investimento muito alto que nalguns casos as empresas ajudam na aquisição de equipamentos. Por exemplo, em Inhassoro o centro tem apoio total da Sasol, num investimento de mais de seis milhões de dólares e serão formados técnicos na área de manutenção industrial, petróleo e gás e serralharia. Em Moatize, na província de Tete, temos acordo com outra empresa para formar operadores de máquinas pesadas. NOT Os centros de formação são sustentáveis? AC Há uma série de actividades que estão a ser feitas no sentido de tornar os centros sustentáveis. Para além da formação na área técnica os dirigentes dos centros estão sendo formados em gestão. Estamos a nos organizar melhor para formar e garantir que os nossos quadros sejam qualificados e comprometidos com o trabalho. Temos um acordo com a International Youth Foundation (Fundação Internacional da Juventude) para a capacitação de formadores do INEFP em habilidades para a vida. A formação terá duração de cinco anos e vai decorrer na cidade de Maputo e províncias de Maputo, Inhambane e Tete, o que vai capacitá-los a cultivar outras habilidades, como o compromisso e o bem servir. 6
NOT Quais são as condições de ingresso no INEFP? AC Os cursos são bonificados pelo Estado, mas para os cursos de manutenção industrial, com duração de 12 meses, paga-se 12 mil meticais e há cursos que custam 2500,00 meticais para três a quatro meses, como por exemplo culinária, secretariado e informática. Nas zonas rurais há cursos ministrados nas unidades móveis a custo zero para grupos vulneráveis. Temos 20 unidades móveis que ministram cursos de hotelaria e turismo, serralharia civil, electricidade instaladora e processamento de frutas, vegetais e outros alimentos em geral. Em Inhambane temos uma unidade móvel instalada há alguns anos e este ano queremos levar esta experiência para outras províncias. Vamos levar o nosso equipamento para a comunidade e nos fixamos em qualquer ponto para formamos mais pessoas. NOT Até que ponto os vossos serviços estão divulgados? AC Para lhe ser honesto, temos ainda fragilidades na divulgação. Vamos ter em breve o portal do emprego, que vai divulgar todos os serviços que prestamos e este ano vamos lançar o primeiro boletim. 7