Pontifícia Universidade Católica de São Paulo FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

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Transcrição:

PROJETO DE PESQUISA HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS ESCOLARES E DOS MATERIAIS DIDÁTICOS. RESPONSÁVEL Profa. Circe Maria Fernandes Bittencourt COLABORAÇÃO Prof. Kazumi Munakata EMENTA: O projeto corresponde a uma continuidade de pesquisas centralizadas em abordagens que consideram as disciplinas escolares como unidades epistemológicas constituídas historicamente, elaboradas por diferentes sujeitos envolvidos nos currículos escolares a partir do século XIX. O conhecimento escolar tem sido referenciado nos diferentes processos de reformas escolares em diferentes países, com desdobramentos em vertentes sobre conteúdos, métodos e processos de avaliação. Como surgiram e se consolidaram os currículos com base em disciplinas? Quais as relações entre conhecimento cientifico e conhecimento escolar? Como são formados professores para as diferentes disciplinas? Estas, dentre outras indagações sobre as disciplinas e materiais didáticos vem sendo debatidas, sobretudo, a partir dos anos de 1970, momento de reformulações curriculares em que se questionavam os conhecimentos a serem selecionados para uma escola que se estendia para amplos setores da sociedade e pela constatação que tal conhecimento não se revestia de um caráter

meramente técnico e administrativo, organizado por setores do poder político educacional. Essa abordagem que conferia nova direção aos projetos de reforma curricular daqueles anos, mantem-se ainda fértil e com desdobramentos para pesquisas históricas que possibilitam novos embasamentos para as futuras propostas sobre o ensino escolar, as formas de apropriação e avaliação desse conhecimento, assim como fornece possibilidades de uma compreensão mais complexa dos materiais didáticos tradicionais e os mais inovadores que acompanham o mundo tecnológico. Estudiosos norte-americanos e ingleses dedicaram-se a estudos de caráter sociológico, sendo que igualmente foram introduzidas críticas com análises em perspectiva histórica para situar o tradicional em processo de reformulações curriculares (Goodson,1995).A vertente francesa de investigação da história das disciplinas escolares, representada, entre outros, por Chervel (1990) e Belhoste (1996), também interroga sobre o conhecimento escolar e o acadêmico, historicamente determinados em decorrência da crise das chamadas humanidades. As investigações tem se aprofundado, concebendo-se, as disciplinas escolares como processos que resultam de uma seleção de conteúdos e métodos cuja reorganização, implica em expurgos, acréscimos, alteração de significado etc., numa operação efetivada pela escola, na escola e para a escola (Chervel, 1990). A partir de investigações sobre a natureza do conhecimento escolar, os desdobramentos tem se multiplicado, propondo-se a desvendar não apenas os processos de sua constituição e de consolidação mas tambem sobre uma vulgata dela decorrentes e sobre as modalidades de sua difusão e formas de apropriação. (Chervel, 1990). No âmbito escolar, a constituição das disciplinas corresponde à redistribuição das finalidades atribuídas à instrução. Se as humanidades tinham como fim a formação do homem livre e integral, com as disciplinas de caráter tecnológico, agora, as finalidades precisam ser explicitadas minuciosamente. Nessa medida, identificar as finalidades, nem

sempre explícitas, das disciplinas escolares é de fundamental importância para a pesquisa nessa área. Postular que uma disciplina escolar possui finalidades é também afirmar que ela não se reduz a um conjunto, mais ou menos homogêneo, de conteúdos. Em suma, ela não é um conjunto de ideias, cujo ensino deve ser planejado à parte. Não há, de um lado, a disciplina escolar e, de outro, a sua didática, pois a noção de disciplina escolar já contém as atividades e os exercícios que ela requer. Do mesmo modo, as avaliações também constituem um componente importante das disciplinas escolares. Também não se pode perder de vista que as finalidades inscritas nas disciplinas escolares visam não simplesmente o ambiente escolar, mas a sociedade em que este se situa. Por isso um tópico importante da pesquisa sobre disciplinas escolares incide sobre os processos de aculturação dos alunos, situando-as na configuração de uma cultura escolar. No decorrer do século XXI este projeto articulou-se aos estudos sobre a história do livro didático (Projeto LiVRES) com vistas a favorecer o acesso as fontes fundamentais para a investigação. Novos subtemas foram sendo criados, como o Disciplinarização dos saberes profissionais, ampliando-se pesquisas sobre as diferentes esferas da escolarização, pela história das disciplinas escolares e dos materiais didáticos do ensino técnico ou profissional, de EJA, das escolas Normais e mais recentemente, das escolas indígenas. Uma das fontes fundamentais para se examinar as disciplinas escolares e, sem dúvida o livro didático cujo significado histórico também necessita ser explorado. Torna-se importante reconhecer que a vulgata também se determina em esferas pouco consideradas, que correspondem ao âmbito da edição e distribuição desses livros e os sujeitos aí envolvidos, desde autores, editores, divulgadores, até, quando houver, aqueles encarregados de avaliar os livros. Os protocolos de edição, definidos pelo governo ou pelas próprias editoras, determinam de modo considerável o produto final e, portanto, a disciplina a ser

ministrada. Pesquisar a história das disciplinas escolares incorporando como fonte os livros didáticos requer, para além das análises de conteúdos e métodos, que se examine também os aspectos editoriais, geralmente desprezados como meramente técnicos. É preciso também reconstituir todos os momentos pelos quais o livro passa até chegar à sala de aula, desde a concepção, a produção e a avaliação (quando houver), até a venda e a compra. Nesse circuito, conhecer a figura do comprador (governo, organizações, indivíduos) não é indiferente. Estudar o livro didático requer, igualmente deter-se nos sujeitos para os quais ele tem sido elaborado: professores e alunos. Torna-se fundamental verificar o que efetivamente acontece com ele na sala de aula, uma vez que a disciplina se constrói por intermédio de experiências e no cotidiano escolar. O que o professor e o aluno fazem com o livro didático, é um dos momentos que necessita de elucidação ao se pretende avançar para além da investigação das intenções proclamadas por autores de livros didáticos e dos currículos. O estudo dos usos efetivos do livro didático tem se constituído em uma das vertentes possíveis para a análise da disciplina em funcionamento. O livro didático (e similares: livro-texto, livro de leitura, manual etc.) tem sido considerado, assim, uma fonte privilegiada para o estudo da história das disciplinas escolares, na medida em que se constitui na expressão quase canônica da vulgata acima referida. Acompanhar as sucessivas edições de livros didáticos possibilita, dentre outras possibilidades, traçar a evolução das disciplinas escolares. Várias outras fontes tornam-se necessárias para a variedade de tópicos de investigação: os programas das disciplinas escolares, os debates legislativos que aparecem em transcrições de vários fóruns de discussão (Poder Legislativo, Câmaras, Conselhos etc.) assim como em diversos impressos e publicações; os cadernos e as anotações de alunos, os apontamentos do professor, os registros em dispositivos como diário de classe e as provas e os exames, tanto os realizados internamente à instituição escolar, quanto aqueles

que visam a avaliação externa, biografias e, principalmente, as autobiografias podem por vezes oferecer uma descrição inusitada, pessoal, das disciplinas ensinadas ou aprendidas em escolas variadas( rurais, internatos das elites) Determinadas obras de ficção também se prestam a isso. História oral e observação in loco são recursos que devem sempre ser levados em conta, apesar das dificuldades metodológicas que implicam. Dessas considerações decorrem os seguintes objetivos deste projeto: 1. Investigar o processo de constituição das disciplinas escolares, em particular no Brasil, suas relações com as propostas de outros países, sua evolução, desde o século XIX até o final do século XX. 2. Verificar a seleção, a partilha, os acréscimos e as supressões dos conteúdos que se operam nesse processo de constituição das disciplinas escolares. 3. Examinar as finalidades de que essas disciplinas são portadoras. 4. Analisar a articulação dos conteúdos com as atividades, os exercícios e os mecanismos de avaliação de que se espera a consecução dessas finalidades. 5. Determinar os graus de eficácia das disciplinas no que se refere às suas finalidades e averiguar a aculturação efetiva que se opera no educando. 6. Analisar o livro didático como fonte e como objeto de pesquisa, articulando-o a história das disciplinas escolares. 7. Examinar as políticas governamentais em relação a livro didático. 8. Identificar as transformações dos materiais didáticos relacionando-os `as mudanças curriculares `as transformações tecnológicas. Referências bibliográficas BIBLIOGRAFIA BELHOSTE, Bruno. 1996. Réformer ou conserver? La place des sciences dans les transformations de l enseignement secondaire en France (1900-1970). In: BELHOSTE, Bruno;

GISPERT, Hélène; e HULIN, Nicole (org.). Les Sciences Au Lycée. Un Siècle de Réformes Des Mathématiques et de Physique en France et À l'étranger. Paris: Vuibert, pp. 27-38. BITTENCOURT, Circe. Livro didático e saber escolar.1810-1910. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2008. CHERVEL, André. As humanidades no ensino. Educação e Pesquisa, 25, 2, jul./dez., pp. 149-170. 1999. CHOPPIN, Alain. O manual escolar: uma falsa evidencia histórica. História da Educação, Pelotas, v.13, n.27, p. 9-75, jan./abr, 2009. GOODSON, Ivor. 1995. Historia del currículum. La construcción social de las disciplinas escolares. Barcelona: Pomares-Corredor. MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos. Tese (Doutorado em Historia e Filosofia da Educação). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1997.