Parcerias público-privadas para a implementação de normas internacionais de trabalho e promoção do comércio justo IV Conferência Interamericana sobre Responsabilidade Social da Empresa Oded Grajew 11 de dezembro de 2006
Trabalho Forçado
A Convenção nº 29 da OIT de 1930, define sob o caráter de lei internacional o trabalho forçado como todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o qual não se tenha oferecido espontaneamente. A mesma convenção, proíbe o trabalho forçado em geral, incluindo, mas não se limitando, à escravidão. A escravidão é uma forma de trabalho forçado. Constitui-se no absoluto controle de uma pessoa sobre a outra, ou de um grupo de pessoas sobre outro grupo social.
Estatísticas de Trabalho Forçado Estimativas Globais 12.3 milhões de pessoas são vítimas do trabalho forçado mais de 2.4 milhões foram traficados 9.8 milhões são explorados por agentes privados 2.5 milhões são forçados a trabalhar pelo estado ou por grupos rebeldes militares Distribuição Regional do Trabalho Forçado Asia e Pacífico 9.490.000 América Latina e Caribe 1.320.000 Países Industrializados (Europa, EUA) 360.000 Oriente Médio e Norte da África 260.000 Países em Transição 210.000 África Sub-Sahariana 660.000 Fonte: OIT
Trabalho Forçado de acordo com sexo Exploração econômica forçada Mulheres e garotas - 56% Homens e meninos - 44% Exploração sexual comercial forçada Mulheres e garotas - 98% Homens e meninos - 2% Trabalho forçado de acordo com idade Crianças - 40 a 50%; Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento 2 Trabalhadores forçados traficados (Distribuição Regional) Ásia e Pacífico 1.360.000 Países Industrializados (Europa, EUA) 270.000 América Latina e Caribe 250.000 Oriente Médio e Norte da África 230.000 Países em Transição 200.000 África Sub-Sahariana 130.000
Tráfico de trabalho forçado de acordo com a forma 43% dos traficados são usados para exploração sexual comercial forçada 32% das vítimas do tráfico são usados para exploração econômica forçada 25% das vítimas são traficadas para uma mistura dos citados acima ou por razões indeterminadas Rendimentos do tráfico de trabalho forçado Global US$ 31,6 bilhões Ásia e Pacífico US$ 9,7 bilhões Países Industrializados (Europa, EUA) US$ 15,5 bilhões América Latina e Caribe US$ 1,3 bilhões Oriente Médio e Norte da África US$ 1,5 bilhões Países em Transição US$ 3,4 bilhões África Sub-Sahariana US$ 159 milhões
Trabalho escravo No Brasil, o termo usado para o recrutamento coercitivo e essa prática trabalhista em áreas remotas é trabalho escravo. Todas as situações que abrangem este termo pertencem ao âmbito das Convenções sobre o trabalho forçado da OIT As quatro formas mais comuns de cercear essa liberdade são: servidão por dívida, retenção de documentos, dificuldade de acesso ao local e presença de guardas armados. Essas características são freqüentemente acompanhas de condições subumanas de vida e de trabalho e de absoluto desrespeito à dignidade de uma pessoa.
Em 1995, o governo brasileiro, por intermédio de um pronunciamento do Presidente da República, assumiu a existência do trabalho escravo no Brasil. Segundo relatório da OIT Organização Internacional do Trabalho, no Brasil, estima-se que 25 mil pessoas sejam mantidas sob condições análogas as de escravidão, principalmente nos estados do Pará e Mato Grosso. Os casos de trabalho escravo tem sido encontrados principalmente na pecuária (80% do casos) e na agricultura (17%).
Estatísticas de Trabalho Forçado No Brasil TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL 2002 2003 2004 2005 2006 NÚMERO DE DENÚNCIAS 151 237 230 278 221 Os campeões PA, MT, MA, TO PA, MA, TO, MT PA, TO, MA, MT PA, TO, MT, MA PA, TO, MT, MA Número de trabalhadores envolvidos 5.637 8.315 5.812 7.628 6.396 Os campeões PA, MT, MA, RO PA, BA, MT, TO PA, MT, TO, GO PA, MT, TO, MA PA, BA, MT, TO Número de escravos libertados 2.260 4.999 3.212 4.586 3.497 Os campeões PA, MT, MA, SP PA, BA, MT, TO PA, TO, MA, MT MT, PA, MT, TO PA, BA, TO, SP Nº de proprietários na Lista Suja 53 163 133 178 Os campeões PA, MT, MA PA, MT, MA, TO PA, MA, MT, TO PA, TO, MA, MT
O Trabalho escravo na cadeia produtiva ONG Repórter Brasil, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), identificou as cadeias produtivas em que estão inseridas as fazendas do cadastro de empregadores da portaria 540/2004 do Ministério do Trabalho e Emprego (conhecido como a lista suja do trabalho escravo no Brasil). Seu objetivo é informar e alertar a sociedade brasileira, à indústria e aos mercados consumidor, varejista, atacadista e exportador da existência de mão-de-obra escrava na origem da cadeia de produção de muitas mercadorias que hoje são comercializadas no país.
Com varejistas, atacadistas, industriais e exportadores negando-se a comprar produtos que possam ter trabalho escravo na origem, outros fornecedores intermediários, como os frigoríficos, já estão se mobilizando para excluir o produtor que utiliza essa prática. Dessa forma, o corte de custos trazido ao empresário rural pela utilização desse tipo de mão-de-obra está deixando de ser um bom negócio.
Os produtos identificados na pesquisa das cadeias produtivas foram: pecuária (carne e miúdos de boi), algodão (pluma), soja (grão, óleo e ração), cana-deaçúcar (álcool combustível e cachaça), café (grão verde), pimenta-do-reino (grão) e carvão vegetal (carvão para siderurgia). Boa parte deles produzidos nessa região de fronteira com a floresta amazônica. A pecuária responde por 80% do total. Trabalho escravo também pode ser encontrado em outras cadeias produtivas como as de tomate, frutas, madeira, entre outros. Como a pesquisa usou um recorte da realidade, há mercadorias que acabaram ficando de fora dessa análise.
DESTAQUES BRASIL Atualmente, o Brasil merece destaque no enfrentamento do trabalho escravo. A existência de lista de empregadores que exploram mão de obra escrava no Brasil é uma importante referência para o combate a empregadores que se valem de coerção física e moral, cerceando a livre opção e a livre ação de trabalhadores; Apesar dos esforços e avanços empreendidos pelas empresas envolvidas nas diversas cadeias produtivas, órgãos governamentais e entidades da sociedade civil, há muitos focos de trabalho forçado no Brasil.
A ampliação da promoção de uma agenda positiva que valorize o comprometimento das empresas e das diversas entidades representativas com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável dos governos e da sociedade revelase fundamental; A construção de um Pacto foi uma iniciativa audaciosa e inovadora. Envolveu diversas cadeias produtivas.
O Instituto Ethos, a Organização Internacional do Trabalho - OIT e ONG Repórter Brasil, comprometidos com o fim do trabalho escravo no Brasil, promoveram durante meses uma série de debates com grandes empresas de diversas cadeias produtivas e as entidades representativas destes setores.
Histórico Agosto/2004 - siderúrgicas do Pará e Maranhão, articuladas pelo Instituto Ethos, assinaram um compromisso de combate ao trabalho escravo em sua cadeia produtiva, especialmente na produção de carvão vegetal.
Medidas implementadas a criação do Instituto Carvão Cidadão para o monitoramento das carvoarias; a definição das metas para regularizar as relações de trabalho; e a imposição de restrições comerciais a empresas que utilizam mão de obra escrava.
Os resultados até agora alcançados demonstram que este tipo de concertação resulta em melhorias consideráveis nas condições de trabalho ao longo de toda a cadeia produtiva e deixa vislumbrar o imenso resultado positivo que pode ser alcançado pelo grande pacto nacional Colocado em prática, promete mudar para melhor os rumos do emprego nos elos mais fracos da cadeia produtiva siderúrgica, com forte impacto ambiental também, já que o carvão vegetal é um dos subprodutos do desmatamento.
Maio /2005 - Responsabilidade Social do o Instituto Ethos de Empresas e realizou solenidade de formalização Pacto Nacional Pela Erradicação do Trabalho Escravo.
Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo Instituto Ethos, fez o anúncio oficial do Pacto na reunião do CDES Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Em seguida, conselheiros, ministros de Estado, demais autoridades presentes e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram o documento. Articulação: Instituto Ethos, em conjunto com a OIT - Organização Internacional do Trabalho e a ong Repórter Brasil. Participaram dessa iniciativa: empresas nacionais e multinacionais de áreas diversas, como o setor de supermercados, combustíveis, alimentos, têxtil açúcar e álcool, entre outros
Diretrizes do Pacto 1. Definir metas específicas para a regularização das relações de trabalho nestas cadeias produtivas, o que implica na formalização das relações de emprego pelos produtores e fornecedores, no cumprimento de todas as obrigações trabalhistas e previdenciárias e em ações preventivas referentes à saúde e a segurança dos trabalhadores; 2. Definir restrições comerciais àquelas empresas e/ ou pessoas identificadas na cadeia produtiva que se utilizem de condições degradantes de trabalho associadas a práticas que caracterizam escravidão; 3. Desenvolver e apoiar ações de reintegração social e produtiva dos trabalhadores que ainda se encontrem em relações de trabalho degradantes ou indignas (mesmo que não submetidos a praticas de escravidão), garantindo-lhes oportunidades de superação da sua situação de exclusão social, em parceria com as diferentes esferas de governo e organizações sem fins lucrativos;
Diretrizes do Pacto 4. Desenvolver e apoiar ações de informação aos trabalhadores vulneráveis ao aliciamento de mão de obra para fins de praticas escravagistas, assim como campanhas destinadas à sociedade de prevenção contra a escravidão; 5. Desenvolver ações, em parceria com entidades públicas e privadas no sentido de propiciar o treinamento e aperfeiçoamento profissional de trabalhadores libertados; 6. Desenvolver propostas que subsidiem e demandem a implementação pelo Poder Público das ações previstas no Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.
Diretrizes do Pacto 6. Monitorar a implementação das ações descritas acima e o alcance das metas propostas, tornando públicos os resultados deste esforço conjunto; 7. Sistematizar e divulgar a experiência, de forma a promover a multiplicação de ações que possam contribuir para o fim de práticas escravagistas e, ao mesmo tempo, reduzir todas as formas de trabalho degradante, no Brasil e em outros países; 8. Avaliar publicamente, completado um ano da celebração deste termo, os resultados da implementação das políticas e ações previstas neste pacto.
Monitoramento As ações serão monitoradas e seus resultados serão tornados públicos. A experiência será sistematizada e divulgada de forma a promover a multiplicação de ações que possam contribuir para o fim de práticas escravagistas e ao mesmo tempo reduzir todas as formas de trabalho degradante no Brasil e em outros países. Anualmente haverá uma avaliação pública dos resultados da implementação das políticas e ações previstas no pacto.
Até agora, mais de 80 grandes empresas e associações, representando uma parcela significativa do Produto Interno Bruto brasileiro, assinaram o pacto se comprometendo a adotar medidas para manter suas cadeias produtivas longe do trabalho escravo.
Lista Suja A Organização Internacional do Trabalho, o Instituto Ethos e a ONG Repórter Brasil desenvolveram um sistema de busca facilitado com base no Cadastro de Empregadores da Portaria 540 de 15/10/2004 - a chamada lista suja divulgada pelo governo federal. Dessa forma, as empresas signatárias do Pacto Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo podem consultar se determinada propriedade está na relação. A ferramenta é de grande importância para que o setor empresarial cheque com rapidez quais fazendas devem ser suspensas das listas de fornecedores.
A lista suja do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), totaliza 178 nomes infratores, o que leva em conta os 30 nomes que foram excluídos do documento por decisões judiciais.
Combater o trabalho escravo e as formas de injustiça social são iniciativas que devem integrar as práticas das empresas socialmente responsáveis, porque garantem negócios sustentáveis, ao promover a interação das empresas com as principais reivindicações da sociedade civil. Oded Grajew
Registro Fotográfico Mão de José ferida pelo trabalho no pasto e água que os trabalhadores bebiam Camisa de garimpeiro contratado para limpar pasto. Fonte: Repórter Brasil
Registro Fotográfico Fiscal toma depoimento de trabalhadores na fazenda Cabaceiras Caderno do gato Belmiro em que está o valor pago pelos peões no hotel Fonte: Repórter Brasil
Registro Fotográfico Chefe da equipe móvel toma depoimento do gerente da fazenda Francisco, 74 anos, libertado durante fiscalização Fonte: Repórter Brasil
Registro Fotográfico José, encontrado aos 16 anos na fazenda Cabaceiras Fonte: Repórter Brasil Ocupação na fazenda Cabaceiras
Registro Fotográfico Barraco onde dormiam parte dos trabalhadores da fazenda Nossa Senhora, incluindo o adolescente Pedro Auditor do MTE fiscaliza barracão no meio da mata na fazenda Nossa Senhora Aparecida Fonte: Repórter Brasil
Registro Fotográfico Auditor do Trabalho toma depoimento de trabalhador encontrado em barraco na fazenda São Luiz (PA) Fonte: Repórter Brasil Tudo o que eles [os peões] pegam aqui tem desconto. Arroz, feijão, óleo, café, açúcar, sabão, milharina, bolacha..., conta Manuel dos Reis.
Registro Fotográfico Motosserra utilizada para derrubar a floresta em sítio no município de Sapucaia (PA) Trabalhador em situação de escravidão resgatado da fazenda Peruano, município de Eldorado dos Carajás, Pará Fonte: Repórter Brasil
Registro Fotográfico Integrantes do grupo móvel de iscalização checam os caderninhos dos gatos nos quais ficam anotados as dívidas dos trabalhadores Fonte: Repórter Brasil
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo IV da Declaração Universal dos Diretios Humanos Proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948