Colesteatoma congênito gigante: relato de caso

Documentos relacionados
TÍTULO: COLESTEATOMA DE CONDUTO AUDITIVO EXTERNO COMO DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PATOLOGIAS DA ORELHA EXTERNA

Anatomia da orelha media e interna

Lesões inflamatorias otite media aguda

Concurso Unifesp nº105 PROVA TEÓRICO-PRÁTICA MÉDICO/ OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA

CIRURGIA DE TIMPANOMASTOIDECTOMIA. Termo de ciência e consentimento

Mastoidectomia Pediátrica. E3 Eduardo Lopes El Sarraf Hospital Cruz Vermelha Paraná Set/2013

ARTIGO ORIGINAL. Objetivo:

CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO

Algumas Reflexões sobre o Colesteatoma em Pacientes Pediátricos em Países em Desenvolvimento

Otite Média Crônica. Alberto Chinski e Hernán Chinski

Carcinoma adenoide cístico de nasofaringe localmente avançado: Relato de caso

Fratura de osso temporal em pacientes com traumatismo crânio-encefálico

Casos MRI. Dr. Jorge Cueter Dr. Ênio Setogu5

VIII Curso de Anatomia e Dissecção do Osso Temporal. Programação 16/10/2013 QUARTA FEIRA

Facial paralysis caused by cholesteatoma is uncommon.

Mastoidectomia em Crianças Seleção da Técnica Cirúrgica e Preparo Pré-Operatório

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

DIAS REGINA H. G. MARTINS

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

Complicações na Doença Inflamatória Intestinal

COMPLICAÇÃO DE OTITE MÉDIA CRÓNICA COLESTEATOMATOSA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO DE MASTOIDITE COM ABCESSO DA MASTOIDE

Descritores: otite média crônica; mastoidite; meningite; abscesso cerebral.

Aim: to describe two rare complications of acute otitis

Caso Clínico. Paciente do sexo masculino, 41 anos. Clínica: Dor em FID e região lombar direita. HPP: Nefrolitíase. Solicitado TC de abdome.

RELATO DE CASO DE SINUSITE MAXILAR POR FÍSTULA OROANTRAL COM DIAGNÓSTICO TARDIO

Mestrado Profissional associado à residência médica MEPAREM. Diretrizes para tratamento de crianças disfônicas

Mastoidectomia: parâmetros anatômicos x dificuldade cirúrgica

Acta Otorrinolaringológica Gallega

Estudo Comparativo entre Achados Radiológicos e Cirúrgicos na Otite Média Crônica

Afecções Vasculares do Osso Temporal: Diagnóstico Diferencial e Tratamento

Otogenous lateral sinus thrombosis (OLST) is a rare

Serviço de Pediatria HU-UFJF. Versão preliminar

Radiologia do crânio e face

Estudo de Caso: Reabilitação Vestibular em paciente portador de glômus jugulo-timpânico

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM)

Versão em Português English Version Versión Español TEACHING PATIENT CARE RESEARCH INTERAMERICAN ASSOCIATION OF PEDIATRIC OTORHINOLARYNGOLOGY

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

Gaudencio Barbosa R4 CCP HUWC UFC

Tumores renais. 17/08/ Dra. Marcela Noronha.

Tympanoplasty is done to eradicate ear pathology and

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Tomografia dos Seios Paranasais

Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial Director: Dr. Luis Dias

Corpo Estranho. Rolha Ceruminosa

DOI: / ORIGINAL ARTICLE. Intratemporal complications of otitis media. Complicações intratemporais das otites médias

Mastoidectomia canal wall up - Factores preditivos de recidiva Canal wall-up mastoidectomy - Predictive factors of recurrence

Colesteatoma: utilidade da sequência de difusão sem echoplanar

radiologia do TCE

CARCINOMA ESPINOCELULAR DO CONDUTO AUDITIVO EXTERNO: ESTUDO POR TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE SEIS CASOS*

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc

Apresentação RINO Relato de caso

How to cite Complete issue More information about this article Journal's homepage in redalyc.org

The treatment of tympanic membrane perforations in the

Autor : Larissa Odilia Costa Binoti Co-autores : Bernardo Relvas Lucas Camila Bae Uneda Daniella Leitão Mendes Juliana Cagliare Linhares

Imagem da Semana: Colangioressonância

Introduction: Chronic otitis media (COM) is an entity

Acta Otorrinolaringológica Gallega

[ESTUDO REFERENTE À ENCF - JOELHO]

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

Descrição de 34 Pacientes com Otite Média Crônica Colesteatomatosa Complicada

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

Tubos de Ventilação. Manoel de Nóbrega

In spite of significant decrease after antibiotic advent,

Aplicação da ressonância magnética no acompanhamento da cirurgia do colesteatoma

TUMORES CONGÊNITOS EM CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO. Dr. Mário Sérgio R. Macêdo Dr. Luís Alberto Albano

Dor de Ouvido e OTITE MÉDIA AGUDA. Angel Mar Roman MFC Universidade Positivo Curitiba (PR)

área acadêmica Anatomia Anatomia radiológica do crânio e face

19º Imagem da Semana: Radiografia de Tórax

Identifique-se na parte inferior desta capa. Caso se identifique em qualquer outro local deste Caderno, você será excluído do Processo Seletivo.

Diagnóstico por imagem das infecções do sistema musculoesquelético

c) cite o tratamento mais adequado para esse caso. (7,0 pontos) Respostas:

16º Imagem da Semana: Radiografia do Joelho

E MUDOU PARA MELHOR TUDO EM IMAGENS POR IMAGEM DE POR IMAGEM MUDOU A MEDICINA DE DIAGNÓSTICOS A MEDICINA DE DIAGNÓSTICOS E NÓS VAMOS REGISTRAR

Surdez súbita secundária a caxumba: relato de caso

RASTREIO AUDITIVO NEONATAL UNIVERSAL (RANU)

PERFIL DAS CRIANÇAS SUBMETIDAS À AMIGDALECTOMIA E/OU ADENOIDECTOMIA EM UM HOSPITAL GERAL DE TAUBATÉ-SP

FORMA TUMORAL DA CISTICERCOSE CEREBRAL

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

CASO CLÍNICO DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA NÃO ATEROSCLERÓTICA

Avaliação de Serviço

FACTORES DE RISCO PARA REINTERVENÇÃO CIRÚRGICA NO TRATAMENTO DA OTITE MÉDIA EFUSIVA NA CRIANÇA

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

DESENVOLVIMENTO DE MATERIAL DIDÁTICO OU INSTRUCIONAL FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU- UNESP

Relato de Caso: Otoliquorreia Espontânea em Adulto

UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO UNI - RIO

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

INVESTIGAR AS EMISSÕES OTOACÚSTICAS PRODUTO DE DISTORÇÃO EM TRABALHADORES DE UMA MADEREIRA DO INTERIOR DO PARANÁ

Médico Vet...: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 12 Ano(s) CRMV...: 2588 MICROCHIP/RG..: Data de conclusão do laudo..: 02/04/2019

COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO NO PROJETO DE EXTENSÃO:

TEMA INTEGRADO (TI) / TEMA TRANSVERSAL (TT) 4ª. SÉRIE MÉDICA DRA. LUCIA HELENA NEVES MARQUES DR MAURY DE OLIVEIRA FARIA JUNIOR

II Combined Meeting ABORL-CCF

Sinusite: Dificuldades Diagnósticas e Diagnóstico Diferencial

Carcinoma de osso temporal sem foco metastático primário: relato de caso e revisão de literatura

Acta Otorrinolaringológica Gallega

TC Protocolo de Mastoide. José Pedro Gonçalves TN Esp. em Radiologia

Curso de Capacitação e Formação Complementar de Reabilitação Cirúrgica da Audição: Implante Coclear

Transcrição:

Colesteatoma congênito gigante: relato de caso Giant congenital cholesteatoma: a case report Colesteatoma gigante congénita: reporte de un caso Valeriana de C Guimarães * Paulo H Siqueira ** Edson Junior de M Fernandes *** Victor L da S Castro **** Resumo Introdução: O colesteatoma congênito é uma doença rara, de etiologia controversa. Provavelmente de natureza embriológica originado por remanescentes epidérmicos. Objetivo: Descrever um caso de colesteatoma congênito atendida em um hospital público no Centro-Oeste do Brasil. Relato de caso: Paciente de 8 anos de idade, sexo masculino, com queixa de hipoacusia e abaulamento retroauricular com fi stula drenando secreção purulenta à esquerda, sem outros sintomas. As etapas do atendimento foram descritas desde a consulta inicial, até os resultados de exames e cirurgia. Considerações Finais: O colesteatoma deve ser lembrado no diagnóstico diferencial das doenças da orelha média, mastoidite e abscessos retroauriculares, uma vez que o diagnóstico precoce favorece o prognóstico. Palavras-chave: colesteatoma, mastoidite, otite média, perda auditiva. Abstract Introduction: The congenital cholesteatoma is a rare disease, of controversial etiology. Probably of etiological nature originated from epidermal residues. Objective: To describe a case of congenital cholesteatoma attended at a public hospital in the Middle West of Brazil. Case report: 8 years old patient, masculine sex,with complaint of hypoacusis and retroauricular bulging with fi stula, that drains pus secretion at left. The stages of the attendance had been described since the initial consultation, results of examinations and surgery. Final Comments: congenital cholesteatoma must be remembered in the distinguishing diagnosis of middle ear disease and mastoid, once the injury may reach great proportions and it may favour the appearance of serious complications. Key-words: cholesteatoma, mastoiditis, otitis media, hearing loss. * Fonoaudióloga epidemiologista. Doutora em Ciências da Saúde. Responsável pelo Serviço de Audiologia do Hospital das Clínicas - UFG. ** Médico otorrinolaringologista. Professor assistente da Clínica de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina - UFG. *** Médico Residente da Clínica de Otorrinolaringologia - UFG. **** Médico otorrinolaringologista. 159 Artigo 3.indd 159 6/10/2012 11:43:33

Valeriana de C Guimarães, Paulo H Siqueira, Edson Junior de M Fernandes, Victor L da S Castro Resumen Introducción: El colesteatoma congénito es una enfermedad rara de etiología controvertida. Probablemente de naturaleza embrionaria originado por restante epidérmico. Objetivo: Describir un caso de colesteatoma congénito tratado en un hospital público en el Medio Oeste de Brasil. Caso clínico: Paciente varón de 8 años de edad, se queja de hipoacusia y el abultamiento retroauricular, con fístula de drenaje de pus a la izquierda, sin otros síntomas. Las medidas de atención se han descrito desde la consulta inicial, hasta los resultados de exámenes y la cirugía. Conclusión: Se debe considerar el colesteatoma en el diagnóstico diferencial de las enfemedades del oído medio, mastoiditis y abscesos retroauriculares, ya que el diagnóstico temprano favorece el pronóstico. Palabras-claves: Colesteatoma, mastoiditis, otitis media, pérdida auditiva. Introdução O colesteatoma congênito é uma afecção rara, de etiologia controversa. Provavelmente de natureza embriológica originado por remanescentes epidérmicos. O colesteatoma, caracteriza-se por uma lesão benigna que acomete as estruturas da orelha média. Entretanto, outras estruturas da cavidade craniana localizadas no osso temporal como: ápice petroso, área do gânglio geniculado, ângulo pontocerebelar, forâmen jugular, apófise mastóide, porção escamosa do osso temporal, meato acústico interno e conduto auditivo externo, podem ser afetadas. A gravidade da doença dependerá de sua localização ( 1, 2, 3, 4, 5, 6 ). Diante do comportamento destrutivo, os congênitos correspondem de 2% a 5% de todos os colesteatomas e representa de 0,2 a 1,5% de todos os processos expansivos cranianos ( 1, 2, 7 ). O diagnóstico e o tratamento precoce são necessários para um prognóstico favorável, com a exerese da lesão através de procedimentos cirúrgicos. Excepcionais na fase adulta, mais prevalentes na infância e no sexo masculino ( 6, 7 ). De tratamento cirúrgico, o diagnóstico da doença baseia-se na avaliação clínica, achados otoscópicos ou durante a cirurgia. Os exames de imagens são úteis para evidenciar a localização e extensão das lesões, auxiliando na conduta clínica a ser seguida. A remoção cirúrgica da lesão é um recurso utilizado para abreviar a cura, entretanto podem ocorrer recidivas ( 3, 8 ). Geralmente cursam sem história de doença otológica, otorréia, perfuração da membrana timpânica, otite média, ausência de cirurgia prévia ou procedimentos otológicos. As manifestações iniciais silenciosas podem ser assintomáticas evoluindo para perda auditiva, vertigens, dor no pescoço e/ou protuberância retroauricular. A detecção precoce desta doença pode ser desafiadora, mas é importante para evitar complicações. ( 1, 2, 3, 8 ). Neste artigo é proposta a apresentação de um caso, cuja relevância reside no fato de ser incomum no ambulatório de otorrinolaringologia, possivelmente pela raridade de sua ocorrência, e por se tratar de um colesteatoma de grandes proporções, com exposição de extensa área da meninge na fossa posterior e seio sigmóide (transverso) e membrana timpânica integra. Entretanto, os sinais e sintomas clínicos apresentados pelo paciente foram discretos. No presente relato os autores descrevem um caso de colesteatoma congênito gigante atendido em um hospital público, na cidade de Goiânia. Relato do caso Paciente JCFS, 8 anos de idade, sexo masculino, estudante, natural e procedente de Goiânia (GO), procurou o Pronto Socorro de Otorrinolaringologia de um hospital público no Centro-Oeste do Brasil, em maio de 2010, com o seguinte quadro clínico: hipoacusia e abaulamento retroauricular com fístula drenando secreção purulente à esquerda. A acompanhante afirmou que há três anos a criança apresentou dor e secreção purulenta na orelha esquerda, quando foi atendida em uma unidade de saúde sendo tratada com antibiótico oral e tópico. Nos últimos dois meses, apresentou dor e abaulamento retroauricular, sendo atendida por um médico que realizou a drenagem do abscesso retroauricular por incisão, sem melhora do quadro, 160 Artigo 3.indd 160 6/10/2012 11:43:33

Colesteatoma congênito gigante: relato de caso passando a apresentar saída contínua de secreção purulenta pelo orifício. No momento da consulta, o paciente encontrava-se em bom estado geral com sinais vitais normais. Na avaliação clínica otorrinolaringológica a orofaringoscopia e rinofaringoscopia anterior não apresentavam alterações. À otoscopia, a orelha direita apresentava-se normal, enquanto na orelha esquerda a membrana timpânica estava íntegra, abaulada, visualizando por transparência imagem esbranquiçada na porção póstero superior e fístula retroauricular com drenagem de secreção purulenta. Diante do quadro clínico e com hipótese diagnóstica de tumor ou colesteatoma o paciente foi internado. Na ocasião, a análise anatomopatológica do material da fístula revelou tecido de granulação. Iniciou-se tratamento medicamentoso com antibioticoterapia endovenosa que se estendeu por quinze dias. O exame de audiometria tonal detectou perda auditiva do tipo condutiva de grau moderado à esquerda com limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade à direita (figura 1). A tomografia computadorizada de ossos temporais revelou sinais de otite média crônica colesteatomatosa à esquerda, com rompimento dos limites posteriores do osso temporal por massa em íntimo contato com a duramáter da fossa posterior (figura 2). A ressonância nuclear magnética do crânio, após injeção de contraste endovenoso, evidenciou presença de material que se realça no interior da cavidade timpânica esquerda, se estendendo para cavidade da mastóide. Apresenta também realce meníngeo em grande extensão da fossa posterior e seio sigmóide (transverso) (figura 3). Figura 1 Audiometria tonal limiar. Perda auditiva do tipo condutiva de grau moderado à esquerda com limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade à direita. 05/2010. Figura 2 TC de ossos temporais. Sinais de otite média crônica colesteatomatosa, com rompimento dos limites posteriores do osso temporal por massa em íntimo contato com a duramáter da fossa posterior à esquerda. 05/2010. 161 Artigo 3.indd 161 6/10/2012 11:43:33

A RTIG OS Valeriana de C Guimarães, Paulo H Siqueira, Edson Junior de M Fernandes, Victor L da S Castro Figura 3 RNM do crânio. Corte axial com contraste. Presença de material que se realça no interior da cavidade timpânica esquerda, se estendendo para cavidade da mastóide. Realce meníngeo em grande extensão da fossa posterior e seio sigmóide (transverso). 05/2010. Vinte hum dias depois da consulta inicial, o paciente foi submetido à mastoidectomia radical esquerda. Feita a incisão, havia um colesteatoma de grandes proporções ocupando orelha média, células da mastóide e exposição de grande área da duramáter da fossa posterior e seio transverso (figura 4) com erosão do canal do facial na altura do 2º joelho. Foi realizada a exérese de toda a lesão. Sete dias após a cirurgia o paciente retornou ao ambulatório com melhora acentuada do quadro otológico. Durante o seguimento por dois meses, houve manutenção da melhora clínica. Considerando a possibilidade de recidivas, a criança permanece em acompanhamento no serviço de otorrinolaringologia. Figura 4 Intra-operatório - Exposição do seio transverso. 06/2010. 162 Artigo 3.indd 162 6/10/2012 11:43:34

Colesteatoma congênito gigante: relato de caso Discussão A literatura é vasta quando se aborda o colesteatoma, mas é limitada quando se trata especificamente de colesteatoma congênito, podendo esses dados oferecer subsídios para novos estudos sobre o tema. De caráter insidioso, por vezes o diagnóstico da doença baseia-se nos achados da avaliação otoscópica da orelha. No caso descrito, o paciente apresentou abscesso na região retroauricular esquerda, com membrana timpânica íntegra, sendo observado na otoscopia presença de imagem esbranquiçada na orelha média por transparência.o quadro clínico desenvolvido pelo paciente está condizente com relatos da literatura, sugerindo o diagnóstico de colesteatoma ( 8,9 ). A alta resolução da Tomografia Computadorizada (TC) é considerada a modalidade de escolha, sendo indispensável no pré-operatório. O exame facilita o diagnóstico precoce e tratamento adequado do colesteatoma congênito, pois define a extensão da doença e alterações anatômicas existentes, que são importantes para a cirurgia. No entanto, a Ressonância Nuclear Magnética (RNM) pode fornecer informações adicionais sobre o delineamento e a extensão do colesteatoma e possíveis complicações, além de proporcionar um diagnóstico mais acurado da lesão. O conhecimento prévio das delimitações e dimensões da lesão são aspectos importantes a serem considerados. Assim, no caso apresentado, a proposta e planejamento cirúrgico considerou os resultados dos exames de imagem e audiometria realizada no pré-operatório, como preconizam alguns estudos ( 10, 11 ). A abordagem cirúrgica é recomendada para os casos de colesteatoma nessa região ( 2, 3, 7, 11 ). No caso relatado, a exérese cirúrgica procedeu-se por mastoidectomia radical, com dissecção cuidadosa e completa da lesão, sem danos às estruturas adjacentes. Considerando o processo recidivante da doença, manteve-se o acompanhamento periódico no ambulatório, como sugerem alguns autores ( 2 ). Considerações finais O colesteatoma congênito deve ser lembrado no diagnóstico diferencial das doenças da orelha média e mastóide, pois a lesão pode alcançar grandes proporções favorecendo o surgimento de complicações múltiplas como abscesso intracraniano, meningite, paralisia do nervo facial entre outras, inclusive óbitos. Assim, o profissional deve estar atento, diante de abscessos retroauriculares com membrana timpânica integra, uma vez que o diagnóstico precoce melhora o prognóstico. Referências 1. Alves AL, Pereira CSB, Ribeiro FAQ, Fregnani JHTG. Análise dos padrões histopatológicos do colesteatoma adquirido da orelha média. Braz J Otorhinolaryngol. 2008; 74(6): 835-41. 2. Adjibabi OW, Balle FM, Gbenou VS. Congenital cholesteatoma of the mastoid. Rev Laryngol Otol Rhinol (Bord). 2008; 129(4-5): 293-5. 3. Park KH, Park SN, Chang KH, Jung MK, Yeo SW. Congenital middle ear cholesteatoma in children; retrospective review of 35 cases. J Korean Med Sci. 2009; 24(1):126-31. 4. Chen Z, Tang L, Zhou H, Xing G. Congenital cholesteatoma of the infratemporal fossa. J Laryngol Otol. 2010; 124(1):80-2. 5. Jang CH, Cho YB. Congenital cholesteatoma extending into the internal auditory canal and cochlea: a case report. In Vivo. 2008; 22(5):651-4. 6. Testa JRG, Vicente AO, Abreu CEC, Benbassat SF, Antunes ML, Barros FA. Colesteatoma causando paralisia facial. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2003; 69 (5):657-62. 7. Mornet E, Martins-Carvalho C, Valette G, Potard G, Marianowski R. Adult localized congenital cholesteatoma. Ann Otolaryngol Chir Cervicofac. 2008; 125(2): 85-9. 8. Migirov L, Carmel E, Dagan E, Duvdevani S, Wolf M. Mastoid subperiosteal abscess as a first sign of unnoticed cholesteatoma in children. Acta Paediatr. 2010; 99(1):147-9. 9. Jang CH, Cho YB, Kim YH, Wang PC. Congenital cholesteatoma associated with blue eardrum. In Vivo. 2009; 23(1):163-6. 10. Manolis EN, Filippou DK, Tsoumakas C, Diomidous M, Cunningham MJ, Katostaras T, Weber AL, Eavey RD.Radiologic evaluation of the ear anatomy in pediatric cholesteatoma. J Craniofac Surg. 2009; 20(3):807-10. 11.Vercruysse JP, De Foer B, Somers T, Casselman J, Offeciers E. Magnetic resonance imaging of cholesteatoma: an update. B-ENT. 2009; 5(4):233-40. Recebido em março/12; aprovado em junho/12. Endereço para correspondência Valeriana de Castro Guimarães Endereço: 1.ª Avenida, s/n Setor Leste Universitário, CEP 74605-020 Goiânia - Goiás E-mail: valerianacastroguimaraes@gmail.com 163 Artigo 3.indd 163 6/10/2012 11:43:34