Agachamento e joelho Elke Oliveira Paulo Gentil

Documentos relacionados
Biomecânica aplicada ao esporte. Biomecânica aplicada ao esporte SÍNDROME PATELOFEMORAL

Aspectos Biomecânicos do Agachamento em Membros Inferiores

EFEITO DA CARGA EXTERNA SOBRE A ARTICULAÇÃO TIBIOFEMORAL DURANTE O EXERCÍCIO DE EXTENSÃO DE JOELHO

EFEITO INERCIAL DO EXERCÍCIO DE EXTENSÃO DE JOELHO SOBRE A FORÇA ARTICULAR TIBIOFEMORAL

ATIVIDADE MUSCULAR DE MEMBROS INFERIORES NO EXERCÍCIO DE AGACHAMENTO

Comparação dos exercícios em cadeia cinética aberta e cadeia cinética fechada na reabilitação da disfunção femoropatelar

Segurança e efetividade do exercício de agachamento* Safety and Effectiveness of the squat exercise

Saúde ASPECTOS BIOMECÂNICOS DO EXERCÍCIO AGACHAMENTO PROFUNDO RELACIONADOS À ARTICULAÇÃO DO JOELHO. Científica Fagoc

Lesões do ligamento cruzado anterior (LCA)

Efeito das variações de técnicas no agachamento e no leg press na biomecânica do joelho Escamilla et al. (2000)

Os 20 MELHORES EXERCÍCIOS DE AGACHAMENTO

REABILITAÇÃO ESPORTIVA APLICADA AO MÉTODO PILATES

VINÍCIUS MONTAGUTI FARINHA

AVALIAÇÃO DO JOELHO. Articulação Tibiofibular Superior: É uma articulação sinovial plana entre a tíbia e a cabeça da fíbula.

ANÁLISE DA FORÇA DO LIGAMENTO PATELAR A PARTIR DE DUAS PROPOSTAS METODOLÓGICAS

60 BENEFÍCIOS DA CADEIA CINÉTICA FECHADA NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM LESÃO DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR

Biomecânica do. Complexo Articular do Joelho 08/08/2016. COMPLEXO ARTICULAR do JOELHO. Isabel Sacco

AVALIAÇÃO DO JOELHO. Clique para adicionar texto

LESÕES EM ATLETAS DE BODYBUILDING: COMO PREVENIR E TRATAR?

Prof. Ms. Sandro de Souza

PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO APLICADO AO MÉTODO PILATES

Causas, incidência e fatores de risco:

ESTIMATIVA IN VIVO DA DISTÂNCIA PERPENDICULAR DO LIGAMENTO PATELAR A PARTIR DO MÉTODO GEOMÉTRICO.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE FISIOTERAPIA

BIOMECÂNICA DA AÇÃO MUSCULAR EXCÊNTRICA NO ESPORTE. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

FORÇA E CONTATO PATELOFEMORAL COMO F UNDAMENTOS BIOMECÂNICOS PARA REABILITAÇÃO DA SÍNDROME PATELOFEMORAL

É importante compreender a biomecânica do joelho (fêmoro tibial e patelo femoral ao prescrever exercícios para o joelho em um programa de

ESTIMATIVA DAS FORÇAS NA ARTICULAÇÃO TÍBIO-FEMORAL NO EXERCÍCIO DE EXTENSÃO DOS JOELHOS EM CADEIA CINÉTICA ABERTA REALIZADO EM MÁQUINA DE MUSCULAÇÃO

ANÁLISE BIOMECÂNICA DO EXERCÍCIO DE AGACHAMENTO LIVRE COM BARRA PARA DIFERENTES ALTURAS DE CALCANHARES

ALGUMAS ALTERAÇÕES. As mamas aumentam e podem causar dores a região escapular. cardíaco tem o pico nesse período. A respiração fica mais acelerada.

ANATOMIA DO JOELHO. ESTRUTURAS IMPORTANTES - Ossos e articulações - Ligamentos e tendões

APLICABILIDADE DE UM PROTOCOLO FISIOTERÁPICO NO PÓS- OPERATÓRIO DE LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR RESUMO

AVALIAÇÃO ELETROMIOGRÁFICA DOS MUSCULOS DO MEMBRO INFERIOR DE BASE DURANTE O UCHI KOMI RESUMO

JOELHO INTRODUÇÃO ESTRUTURA ÓSSEA ESTRUTURA ÓSSEA ESTRUTURA ÓSSEA ESTRUTURA ÓSSEA 28/08/2015. Mais complexa articulação do corpo

ANÁLISE DAS FORÇAS SOBRE A PATELA DURANTE A EXTENSÃO DO JOELHO EM CADEIA CINÉTICA ABERTA

ANÁLISE DA EFICACIA DO USO DA CINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO PÓS OPERATÓRIO DE LESÃO DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR ESTUDO DE CASO

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício ISSN versão eletrônica

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício ISSN versão eletrônica

GABRIEL MARQUES SILVA BONINI ANÁLISE ELETROMIOGRAFICA DOS MÚSCULOS DO QUADRÍCEPS DURANTE O EXERCÍCIO AGACHAMENTO.

Lesões Traumáticas dos Membros Inferiores

10/17/2011. Conhecimento Técnico. Construir Argumentos

ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DO MÉTODO PILATES LUCIANA DAVID PASSOS

Pós Graduação em. Exercício e lesões do Joelho. Prof. Dr. Rafael Cusatis Neto

TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA TIPOS DE RESISTÊNCIA 4- CADEIAS CINÉTICAS 19/8/2011 PESOS LIVRES:

MIRANNE CARDOSO DA SILVA

Roteiro de Aula Prática Femoropatelar

EXERCÍCIOS PARA MELHORAR SUA DOR NO JOELHO

Luxação do Ombro. Especialista em Cirurgia do Ombro e Cotovelo. Dr. Marcello Castiglia

Universidade do Vale do Paraíba. Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento. Carlos Alberto Kelencz

Curso de Fisioterapia Disciplina de Biofísica Prof. Valnir de Paula Biomecânica

REVISÃO DOS EFEITOS BIOMECÂNICOS DO USO DE BANDA ELÁSTICA NO JOELHO DURANTE O AGACHAMENTO NO LEVANTAMENTO BÁSICO

Formação treinadores AFA

Ligamento Cruzado Posterior

INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA EM PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME FEMOROPATELAR 1

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Escola de Educação Física Programa de Pós-graduação em Ciências do Movimento Humano

TÍTULO: As principais disfunções do joelho: avaliação, tratamento e alta através de reabilitação funcional.

Lesões ortopédicas do posterior em pequenos animais

DEPARTAMENTO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CENTRO DE TRAUMATOLOGIA DE ESPORTE

ESTUDO ELETROMIOGRÁFICO E DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DO ESFORÇO EM EXERCÍCIOS DE EXTENSÃO DO QUADRIL

3º Grau - Estiramento de cerca de 75% das fibras, com presença de hematoma acentuado e perda da estabilidade, com diástese de 10mm.

Análise da simetria em tarefas motoras em sujeitos submetidos à reconstrução do ligamento cruzado anterior

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

Tendinopatia Patelar

Anatomia do joelho. Introdução

CARACTERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO TORQUE MUSCULAR DOS MÚSCULOS ADUTORES E ABDUTORES DO QUADRIL

Codificação Joelho/Ombro. Manuel Gutierres

Bola Suíça. Ao verem as bolas sendo usadas na Suíça, terapeutas norte americanos deram a ela o nome de bola Suíça.

ABSORÇÃO DE IMPACTO NA PREVENÇÃO DE LESÕES JOÃO FERREIRINHO

CINESIOTERAPIA E KINESIO TAPING NO TRATAMENTO DE PACIENTE PÓS- OPERATÓRIO COM LESÃO DE LCA: ESTUDO DE CASO

Atividade eletromiográfica no agachamento nas posições de 40 o, 60 o e 90 o de flexão do joelho

FISIOTERAPIA Prevenção de Lesões

Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício ISSN versão eletrônica

Lesões Meniscais. Anatomia. Tipos de Lesões

Por que devemos avaliar a força muscular?

Otávio Silva da Mata. Thiago Campos Saraiva Araújo Bitencourt

GLÚTEO MÉDIO E ALTERAÇÕES BIOMECÂNICAS DO MEMBRO INFERIOR

Rupturas do menisco. A articulação do joelho é formada pelos ossos: o osso da coxa (fêmur), o osso da perna (tíbia) e a patela.

Revista Brasileira de Fisioterapia ISSN: Associação Brasileira de Pesquisa e Pós- Graduação em Fisioterapia Brasil

ANÁLISE DO CENTRO DE ROTAÇÃO TIBIOFEMORAL EM UM INDIVÍDUO COM RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO POSTERIOR

FISICULTURISMO CINESIOLOGIA - EXERCÍCIOS - LESÕES

Defeitos osteoarticulares

Exame do Joelho. -A maior das junturas sinoviais do corpo humano, bem como uma das mais complexas e discutidas.

AVALIAR A ANATOMIA DE SUPERFÍCIE DO MEMBRO PÉLVICO DO CÃO.

AVALIAÇÃO ISOCINÉTICA DE FLEXORES E EXTENSORES DE JOELHO EM ATLETAS JUVENIS FEMININAS DE FUTEBOL

TESTES FÍSICOS - Resultados Atleta: NICOLAS OLIVEIRA

Por que devemos avaliar a força muscular?

Biomecânica do Movimento Humano: Graus de Liberdade, Potência articular e Modelamento Biomecânico. Prof. Dr. Guanis de Barros Vilela Junior

LESÕES ÓSSEAS POR ESTRESSE NO ATLETA. Daniel Zimmermann Stefani

27/5/2011. Arquitetura Muscular & Envelhecimento. Envelhecimento: Associado à idade cronológica. Evento multideterminado (difícil determinação)

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA EMESCAM MARINA DE PAULA MEDEIROS

PROPOSTA DO MAWASHI GERI DO KARATÊ SHOTOKAN COM PRINCÍPIOS DA BIOMECÂNICA

ESTIMATIVA IN VIVO DA DISTÂNCIA PERPENDICULAR EFETIVA DO TENDÃO DO QUADRÍCEPS NO PLANO SAGITAL.

Alexandre Sabbag da Silva Fisioterapeuta, mestre em Reabilitação pela UNIFESP-EPM, professor das universidades São Marcos e Guarulhos.

ESTIMATIVA DO CENTRO DE ROTAÇÃO TIBIOFEMORAL A PARTIR DE SISTEMAS DE REFERÊNCIA LOCAL NA TÍBIA E NO FÊMUR

PROGRAMA DE ALONGAMENTO PARA CRIANÇAS DE 10 A 12 ANOS ESTUDANTES DE DANÇA CLÁSSICA

Um aliado eficaz na prática desportiva. Nova linha de ortóteses para o desporto

- fibras de colágeno

MODELAGEM DE MARCHA E SIMULAÇÃO DE DESGASTE EM PRÓTESE DE JOELHO

Richard Ulm, Alena Kobesova, Michael Rintale, Matina Jezkova

Transcrição:

Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Agachamento e joelho Elke Oliveira Paulo Gentil O agachamento é um dos exercícios mais completos que podem ser realizados dentro das academias, pois envolve um elevado número de articulações e músculos, consistindo em um excelente meio de fortalecer os músculos da coxa, do quadril e outros inúmeros coadjuvantes que atuam na realização do movimento. Estes e outros fatores levam treinadores e atletas do mundo todo a se referirem a ele como o rei dos exercícios. Além disso, é um exercício extremamente funcional, pois usamos esse tipo de movimento constantemente em nossas atividades diárias como, por exemplo, sentar e levantar de uma cadeira ou pegar um objeto no chão. Mesmo assim ainda há quem o proíba ou restrinja seu uso sem uma explicação plausível, principalmente limitando sua amplitude em 90 de fl exão dos joelhos. Jamais devemos esquecer que nossas estruturas musculares e articulares adaptam-se de forma extremamente específica aos movimentos, por exemplo, uma pessoa que usa movimentos muito curtos pode se lesionar em um movimento cotidiano pelo simples fato de não treinar um determinado ângulo de movimento necessário nesta atividade do dia a dia. Neste sentido a limitação da amplitude do agachamento, além de reduzir a eficiência do exercício, pode reduzir a funcionalidade de uma pessoa em seus movimentos cotidianos como, por exemplo, pegar um objeto pesado no chão. Este artigo trata do verdadeiro agachamento que muitos chamam de agachamento profundo. Joelho Historicamente, a tentativa de condenar agachamentos foi iniciada com um estudo militar dos anos 60, o qual sugeriu danos as estruturas articulares devido a realização deste exercício. Porém o estudo tinha pára-quedistas em sua amostra, uma população exposta a lesões nos joelhos devido à suas atividades diárias, o que não foi levado em consideração. Segundo alguns conceitos, o agachamento profundo é perigoso porque ao flexionar o joelho em ângulos maiores que 90 aumenta-se perigo samente a tensão na patela, de modo que este movimento deveria ser banido. A maioria dos especialistas, porém, analisam o 1

agachamento pensando somente no quadríceps e se esquecem que na fase profunda do agachamento os músculos posteriores da coxa são fortemente ativados ajudando a neutralizar a temida tensão exercida na patela. Já foi afirmado em alguns estudos, que as estimativas de valores altos da tensão em ligamentos e ossos verificados nos agachamentos, eram devidos aos modelos biomecânicos que foram utilizados, desta forma deve-se analisar com cautela todas as pesquisas anteriores a 1998 sobre o tema (ESCAMILA, 1998). Um estudo feito por ISEAR et al em 1997 concluiu que durante o agachamento, os isquiotibiais produzem uma força de vetor direcionado para trás, compensando a atuação do quadríceps, em um processo denominado co-contração, que contribui para estabilizar os joelhos durante o movimento. Estudos de curto e longo prazo não verificaram frouxidões, instabilidades ou lesões nos joelhos após a realização de um treino de agachamentos (NEITZE et al, 2000; MEYERS, 1971; PANARIELLO et al, 1994). Já em 1971, MEYERS conduziu um estudo de 8 semanas, evolvendo agachamentos profundos e paralelos em diferentes velocidades e verificaram que nenhuma das variações afeta a estabilidade dos joelhos. Outro estudo foi realizado por PANARIELLO et al em 1994, onde foram analisados os efeitos de um treino de agachamentos na estabilidade dos joelhos de jogadores de futebol americano. Ao final de 21 semanas, não foi detectado nenhum prejuízo na estabilidade dos joelhos. É importante ressaltar que levantadores de peso, tanto olímpicos quanto basistas, realizam agachamentos com amplitude completa e sobrecargas elevadíssimas e possuem os joelhos mais estáveis que a grande maioria dos indivíduos (CHANDLER et al 1989). Em 1961, KLEIN publicou um estudo onde se afirma que o agachamento profundo afetaria negativamente a estabilidade dos joelhos. Para chegar a esta conclusão o autor analisou diferentes grupos de atletas e depois procurou dar suporte às suas conclusões através de análises cadavéricas, segundo o autor os ligamentos colaterais ficam expostos a tensão excessiva durante o agachamento profundo, além de ocorrer uma rotação natural do fêmur sobre a tíbia que poderia causar compressão dos meniscos, fato que também é usado por RASCH para condenar o agachamento profundo. Porém a significância destes fatos e nem sua ocorrência foram verificadas in vivo. Dentre os fatores analisados na articulação do joelho podemos ressaltar o ligamento cruzado anterior, ligamento cruzado posterior, a patela e as forças compressivas. Ligamento cruzado anterior 2

Em pesquisa realizada por YACK et al 1993 concluiu-se que o agachamento minimiza a tendência de deslocamento anterior da tíbia, sendo mais indicado, em comparação com a mesa extensora diante de lesões no ligamento cruzado anterior. Diversos autores também corroboram com essa afirmação, é o caso de um estudo feito por MORE et al (1993) onde se conclui que os isquiostibiais atuam sinergisticamente com o ligamento cruzado anterior na estabilização anterior do joelho durante a realização do agachamento, o que leva os autores a considerarem esse exercício útil na reabilitação de lesões no ligamento cruzado anterior. De acordo com ESCAMILLA (2001) o agachamento produz menor tensão nesta estrutura que atividades consideradas seguras, como a caminhada. Durante o agachamento, a tensão no ligamento cruzado anterior só é significativa entre 0 e 60 de flexão, sendo que se u pico mal atinge ¼ da capacidade deste ligamento resistir a tensão (+/- 2000 N), mesmo com cargas superiores a 200 quilos (NISSEL & EKHOLM, 1986). Ligamento cruzado posterior Em um estudo feito por MACLEAN et al em 1999, foram analisados dois grupos: um composto por indivíduos sedentários saudáveis e outro por atletas lesionados no ligamento cruzado posterior. O objetivo era verificar se um treino de agachamento era eficaz na melhora da função, ganho de força e sintomatologia (no caso dos indivíduos com lesão). Depois de 12 semanas, observou-se aumento de funcionalidade no grupo lesionado, concluindo que o treinamento de agachamento é viável para reabilitar insuficiências crônicas do ligamento cruzado posterior. Dificilmente será imposta ao ligamento cruzado posterior uma tensão maior que sua capacidade, tendo em vista que mesmo ao realizarmos agachamentos profundos com mais de 380 quilos, não se chega nem a 50% de sua capacidade de suportar tensão (RACE & AMIS, 1994) Patela Em 2000 WITVROUW et al compararam a eficiência dos exercícios de cadeia cinética fechada (agachamento) com os de cadeia cinética aberta (extensora de perna) no tratamento de dores patelofemorais. De acordo com os dados, apesar de ambos os protocolos serem eficientes, os melhores resultados foram proporcionados pelos exercícios de cadeia cinética fechada. 3

A tração do tendão patelar chega a 6000 em 130 de f lexão de joelhos com um agachamento de 250 quilos (NISSEL & EKHOLM, 1986) cerca de 50% do valor máximo estimado para esta estrutura, que varia de 10000 a 15000 N (ESCAMILLA 2001). Forças compressivas As forças compressivas chegam próximas a 8000 N durante o agachamento com cargas elevadas (250 a 382,50 kg), sendo praticamente a mesma nos ângulos entre 60 a 130 de flexão de joelhos (NISSEL & EKHOLM, 1986), porém ainda não foi estudado um valor limite para as estruturas resistirem a forças compressivas. Deve-se lembrar, no entanto, que da mesma forma que a compressão excessiva pode ser lesiva para meniscos e cartilagens, elas tem um papel importante na estabilidade dos joelhos (NISSEL & ELKHOLM, 1986; MARKOLF et al, 1981; SHOEMAKER & MARKOLF, 1985; YACK et al, 1994. ZHENG et al, 1998 verificou um pico de força compressiva patelofemoral no agachamento de cerca de 3134 N, no leg press, 3155 N e na extensão 3285 N, não havendo diferença estatística entre os exercícios. Os autores alertaram que estudos anteriores superestimavam as forças compressivas patelofemorais por não levar em conta a co-ativação dos antagonistas e a curva de comprimento-tensão. Conclusões 1. As forças tensionais e compressivas desse tipo de exercício estão totalmente dentro de nossas capacidades fisiológicas e articulares. Se durante os treinos forem respeitados os fundamentos científicos que norteiam o treinamento de força com ênfase na técnica perfeita de execução, com certeza as estruturas ósseas e articulares estarão sendo preparadas para isso. 2. Não podemos generalizar e deixar que todos os indivíduos realizem a prática indiscriminada de agachamentos. Em casos de lesões o ideal é fazer um tratamento onde, profissionais de ortopedia e educação física trabalhem juntos analisando cada caso. 3. Para realizarmos o movimento completo (agachar mais profundo), é inevitável que se use uma menor quantidade de peso (sobrecarga absoluta), sendo assim, por mais que haja maior tensão em estruturas do joelho e coluna para a mesma carga, deve perguntar até que ponto isto é significativo em relação a sobrecarga utilizada e, principalmente, em relação ao trabalho da musculatura da coxa e quadril? Deve-se ter em mente que quando 4

se agacha com amplitude limitada se usa cargas bem mais altas, o que pode levar a um aumento ainda maior das forças tensionais e compressivas. 4. A amplitude do agachamento é muito importante, pois conforme se aumenta a flexão do joelho ( profundidade ) aumentam-se as ações musculares. O que não pode acontecer, é o individuo durante a fase excêntrica (principalmente quando o ângulo começa a ficar menor que 90 graus) deixe o movimento despencar, pois desta forma as tensões que deveriam estar sobre a musculatura, irão se incidir nas estruturas articulares do joelho (ESCAMILA et al, 2001). 5. Parece que ângulo de 90 graus, sugerido por diversos autores e treinadores, foi criado pela imaginação destas pessoas, uma vez que grande parte dos estudos e recomendações limitando o movimento se referem ao agachamento paralelo, realizado até que as coxas fiquem paralelas ao solo, o que gera amplitudes maiores que 90 graus de flexão dos joelhos. Portanto, não se fixe a este ângulo! 6. Pesquisas mostrando aumento no torque, tensão e força eles não significam que este exercício necessariamente se torna perigoso ao joelho. Mas sim que esses parâmetros aumentaram, e só. As análises feitas, com agachamentos profundos, pelo que consta não mostraram nenhum prejuízo para o joelho. As lesões geralmente são causadas pela combinação de 3 variáveis: excesso de peso, overtraining e técnica inapropriada. Com treinos progressivo e inteligente os agachamentos profundos certamente são seguros e eficientes. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHANDLER TJ, WILSON GD, STONE MH The effect of the squat exercise on knee stability. Med Sci Sports Exerc 1989 Jun;21(3):299-303 ESCAMILLA RF, FLEISIG GS, ZHENG N, BARRENTINE SW, WILK KE, ANDREWS JR Biomechanics of the knee during closed kinetic chain and open kinetic chain exercises. Med Sci Sports Exerc 1998 Apr;30(4):556-69 ESCAMILLA RF. Knee biomechanics of the dynamic squat exercise Med Sci Sports Exerc 2001 Jan; 33(1):127-41 ISEAR JA, ERICKSON JC, WORRELL TW. EMG analysis of lower extremity muscle recruitment patterns during an unloaded squat. Med Sci Sports Exerc 1997Apr;29(4):532-9 5

KLEIN KK. The deep squat exercise as utilizaed in weight training for athletes and its effectos on the ligaments of the knee. JAPMR 15(1):6-11, 1961. MACLEAN CL, TAUNTON JE, CLEMENT DB, REGAN WD, STANISH WD. Eccentric kinetic chain exercise as a conservative means of functionally rehabilitating chronic isolated insufficiency of the posterior cruciate ligament. Clin J Sport Med 1999 Jul;9(3):142-50 MARKOLF KL, BARGAR WL, SHOEMAKER SC, AMSTURZ HC. The role of joint load in knee stability. J bone Joint Surg 63:570-585, 1981. MEYERS EJ. Effect of selected exercise variables on ligament stability o fthe knee Res Q 49:411-422, 1971 MORE RC, KARRAS B, NEIMAN R, FRITSCHY D, WOO S & DANIEL D Hamstrings an anterior cruciate ligament protagonist. An in vitro study. Am J Sports Med 1993 Mar-Apr; 21(2): 231-7 NEITZEL, J.A., & DAVIES, G.J. The Benefits and Controversy of the Parallel Squat in Strength Traing and Rehabilitation. "Strength and Conditioning Journal". Vol 22(3):30-37,2000 NISSEL R, & EKHOLM J. Joint load during the paralel squat in powerlifting and force analysis of in vivo bilateral quadríceps tendon rupture. Scand J Sports Sci, 8(2):63-70, 1986. PANARIELLO RA, BACKUS SI, PARKER JW. The effect of the squat exercise on anteriorposterior knee translation in professional football players. Am J Sports Med 1994 Nov- Dec;22(6):768-73 Sports Medicine, Performance, and Research Center, Hospital for Special Surgery, New York, NY 10021 RACE A & AMIS AA. The mechanical properties of the two bundles of the human posterior cruciate ligament. J Biomech 27:13-24, 1994. RASCH PJ Cinesiologia e Anatomia Aplicada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 1989 SHOEMAKER SC & MARKOLF KL. Effects of joint load on the sriffness and laxity of ligamendeficient knees: an in vitro study of the anterior cruciate and medial collateral ligaments. J Bone Jont Surg 67:136-146, 1985. WITVROUW E, LYSENS R, BELLEMANS J, PEERS K, VANDERSTRAETEN G. Open Versus Closed Kinetic Chain Exercises for Patellofemoral Pain. A Prospective Randomized Study American Journal of sports and Medicine Volume 28, Number 5, September/October 2000 YACK HJ, COLLINS CE, WHIELDON TJ. Comparison of closed and open kinetic chain exercise in the anterior cruciate ligament-deficient knee. Am J Sports Med 1993 Jan-Feb;21(1):49-54 YACK HJ, WASHCO LA, WHIELDON T. Compressive forces as a limiting factor of antgerior tibial translation in the ACL-deficient knee. Clin J Sports Med 4:233-239, 1994. ZHENG N, FLEISIG GS, ESCAMILLA RF, BARRENTINE SW. An analytical model of the knee for estimation of internal forces during exercise. Journal of Biomechanics 31 (1998) 963 967 6

7