ALGUMAS CONSIDERAGOES ACERCA DA REELABORAc;AODA ESCRITA NAS REDAGOES DO VESTIBULAR.



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Transcrição:

ALGUMAS CONSIDERAGOES ACERCA DA REELABORAc;AODA ESCRITA NAS REDAGOES DO VESTIBULAR. SHvl. Man no Ilapelll Onlverald.de Eat._dUIIl de Callplna. (UIIIC ). Este trabalho sltua-se dentro de uma concep~~o de l1nguagem como atlvldade constltutlva (FRANCHI, 1977), sendo a lnterlocu~ao deflnlda como 0 espa~o prlvlleglado na constltul~~o de sujeltos e de sua 11nguagem. Esta concep~ao de 11nguagem tem, como centro de seus fundamentos, a no~ao de lntera~~o e a no~~o de trabalho que estes mesmos sujeltos reallzam para se constltuirem e constltuirem sua 11nguagem. (GERALDI,1991). Alem de sltuar a concep~~o de 11nguagem que nortela este trabalho, e de suma lmporu.ncla sltuar 0 lugar de observa~~o, 0 ponto de vlsta, a partlr do qual se enxerga a realldade, ou seja, os seus pressupostos te6rlcos. 0 materlal que aqul se pretende descrever trata-se de um prlmelro trabalho, de carater explorat6rl0, que se lnclue em um projeto lntegrado de pesqulsa. A RelevAncla Te6rlca Dos Dados Slngulares Na Aqulsl~~o Da Escrlta", atualmente desenvolvldo no Instltuto dos Estudos da Llnguagem -UNICAMP, pelas prof.dras. Marla Bernadete Marques Abaurre (coordenadora), Raquel Salek Flad e Marla Laura Mayrlnk-Sablnson. Faze.. parte tambem do projeto quatro bolslstas que, sob orlenta~~o, tlveram como foco de observa~~o estes dados que neste momenta se descreve. Este Projeto Integrado, como 0 pr6prl0 titulo esclarece, vlsa trazer ~ balla, nos estudos 11ngUistlcos, os dados slngulares e ldlosslncratlcos da escrlta como lmportantes lndiclos "d~ processo geral atraves do qual se val contlnuamente constltulndo e modlflcando a complexa rela~ao entre 0 sujelto e a 11nguagem"; sua

relev3.ncia te6rica pauta-se tambem no fato de "que estes dados podem, muitas vezes, levar os estudiosos da linguagem ao ao questionamento dos seus pr6prios pressupostos te6ricos". Neste sentido, 0 Projeto Integrado de Pesquisa tem um horizonte bastante amplo, a medida em que se dispoe a observar desde a escrita inicial de crian~as (na fase de pre-alfabetiza~~o e alfabetiza~~o), ate 0 trabalho de refac~~o de textos por alunos do 1D e ZD graus; isto justifica-se pela preocupa~~o, que permeia todo 0 projeto, com 0 desenvolvimento da escrita de sujeitos, numa vis~o processual desta escrita. Tendo em vista os pressupostos te6ricos apontados acima passa-se,ent~o, ao material trabalhado. No caso especifico deste trabalho de carater explorat6rio, deu-se especial aten~~o a um tipo de escrita muito particular, as reda~oes de vestibulandos, candidatos a vagas nos cursos da UNICAMP, no ana de 1993. Pelo fato de as pr6prias condi~oes de produ~~o 'da escrita permitirem a reflex~o e a opera~ao sobre a linguagem, aquilo que norteou esta pesquisa foi 0 pressuposto te6rico de que as mareas textuais que indicam um trabalho de refac~~o em um texto s~o reveladores indicios de um processo atraves do qual os sujeitos se apropriam do sistema de escrita de sua lingua materna. Observou-se, portanto, na produ~~o escrita dos vestibulandos, as marcas de refac~ao destes textos feitas por seus pr6prios autores. Para tal, 0 material analisado constituiu-se de uma amostra de aproximadamente 300 provas de reda~ao do vestibular da Unicamp do ana de 1993, selecionadas pela Comiss~o Permanente para os Vestibulares. As provas foram divididas em quantidades iguais entre os tr~s tipos de texto: textos dissertativos, narrativos e argumentativos 1 Alem disso essa amostra refere-se aos diferentes cursos oferecidos pela UNICAMP.. Esta divisao por tipo de textos foi metodologicamente

1201 orientada pois uma das perguntas da qual se partia era a de que se existiriam modos diferentes de reelaborac;ao em c;ada" tipo de texto. A segunda pergunta feita era com reiac;ll.o as operac;oes linguisticas efetuadas nos textos.que tipos de operac;oes? As mesmas operac;oes ocorrem nos diferentes tipos de textos? Existem operac;oes que aparecem com maior frequlmcia? Por que? E as de Menor frequ~ncia? Uma outra atitude metodologicamente orientada foi selecionar dentre as 300 redac;oes, aquelas que continham marcas visiveis e detectaveis de possiveis alterac;oes por parte dos seus autores. Tratavam-se de rabiscos, chaves, palavras sobrepostas, etc. que permi tiam visualizar os dois momentos da escri ta: a escrita inicial e a posterior alterac;ao. Frente aos dados, efetuou-se uma categorizac;ll.o. Foram apontadas basicamente quatro operac;oes linguisticas (Fiad, 1991): substituic;ll.o, adic;ll.o, supressll.o e deslocamento. A substituic;ll.o consiste de mudanc;as tanto morfol6gicas, lexicais quanto sintaticas, dentro dos periodos; a adic;ao caracteriza-se pelo acrescimo de novos elementos no interior do periodo; a supressll.o, pela eliminac;ll.o de um ou mais termos; e, por fim, 0 deslocamento, que consiste da aiterac;ll.o da ordem, tanto no nivel das palavras, no interior de orac;oes, quanto no nivel dos paragrafos. Observou-se que, independentemente do tipo de texto analisado (narrativo, dissertativo ou argumentativo), a subsuluic;ll.o ocorreu com maior frequ~ncia que as outras operac;oes linguisticas. A substituic;ll.o foi desmembrada nas sub-categorias: substi tuic;ll.o morfol6gica, substi tuic;ll.o lexical e substituic;ll.o sintatica; dentre estas sub-categorias a mais frequente foi a lexical. Desta forma, uma primeira observac;ll.o a ser feita e que esta amostragem parece apontar para 0 fato de que os vestibulandos, quando refazem seus textos utilizam-se mais da substi tuic;ll.o lexical, ou seja, da troca de uma palavra por outra. Por outro lado, a substituic;ll.o no nivel da sintaxe e mais rara Quase nunca aparecem trocas que afetem diretamente a sintaxe. Abaixo exemplifica-se cada uma das sub-categorias:

-subst. morfo16glca presente pela de passado: horas la.. horas 111.... palavra VovO sublu correndo para 0 sdtao. Ele cost~ passar VovO sublu correndo para 0 sdtao. Ele costumava passar -subst. folhas. amarelas... Esses lexlcal Esses cadernos velhos e com suas folhas amarelas... -substl tulc;lio slnu.tlca - substl tul respectlvamente os elementos coeslvos onde por que e porque par onde. Outros casos III.lltosnot ados em nosso dla a dla e a Inflw!ncla de culturas vlndas de outros paises. e que causa uma grande depend~ncia. e ate um pouco de inferloridade. como e 0 caso recente de Angola. onde se rebelaram. porque aflrmam os perdedores da eleiqao. de que os brasilelros. com grande penetrac;lio e Influtncia em suas culturas. trouxeram Idelas revoluclonarlas de como fazer uma propaganda politica. que Indiretamente atlnglsse a cada Individuo. verbal 1202 de Outros casos muitos notados em nosso dla a dla l! a Influlmcia de culturas vlndas de outros palses. e que causa uma grande depend~ncla. e atl! um pouco de Inferiorldade. como l! 0 caso recente de Angola. que se rebelaram. onde aflrmam os perdedores da elelqao. de que os brasilelros. com grande penetraqao e Influtncla em suas culturas. trouxeram ideias revolucionarlas de como fazer uma propaganda politlca. que Indlretamente atinglsse a cada Individuo. Observa-se neste trecho de uma dlssertac;lio que 0 candldato muda os elementos coeslvos e esta mudanc;a. ao contr~rlo de beneflclar seu texto, prejudlca-o mals alnda, tornando-o mals desconexo do que anterlormente se mostrava. No entanto. l! preclso frlsar que 0 par~grafo lntelro l! problem~tlco, embora seu autor nlio se d~ conta dlsto.

1203 Por outro 1ado, numa esca1a de maior ou menor ocorr"'ncia tem-se 0 deslocamento que, nos tr"'s tipos de texto, aparece raras vezes. E, neste caso, a altera<;lioda ordelllde palavras no interior de um perlodo mostrou-se mais frequente, como 0 exemp10 que segue: rlnha dols pequenos cadernos que anotava tudo. rlnha dols cadernos pequenos que anotava tudo. o exemplo mais significativo de deslocamento de ora<;6es completas no interior de um paragrafo pode ser observado no trecho abaixo: Demore 1 alguns anos para me recuperar desse trauma. (Hoje) Voltel a escrever llvros e sou membro de uma organlzaqao brasllelra que lnvestlga crlmlnosos de guerra. Procuro reparar os erros cometldos pelos meus pals. Lamento apenas a marte de meu av~. Demore1 alguns anos para me recuperar desse trauma. Hoje em dla, sou membro de uma organlzaqao que lnvestlga crimes de guerra. Procuro reparar os erros cometldos pelo meu pal. Voitel a escrever. Agora eu tenho uma hlst6rla para contar. Nota-se a riqueza deste paragrafo no que diz respeito a ocorr"'nc1a de todas as opera<;6es l1ngulsticas del1neadas neste trabalho. Pode-se notar, ainda na primeira escrita, a supresslioda palavra hoje; Na escrita definitiva ocorre a supresslio da ora<;liolamento apenas a marte de meu ava, do adjetivo brasileira e do substantivo livros. Tem-se 0 acrescimo de termos e ora<;6es como hoje em dia e Agora tenho uma hist6ria para contar. Par ultimo, observa-se a ocorr"'ncia ainda, da substitui<;lio.ha a substitui<;liolexical das palavras criminosos por crimes; e a substitui<;liomorfo16gica plural/singular (pelos meus pais / pelo meu pal). Diferentemente dos dois casos extremos tratados acima, a supresslioe a adi<;liocorreram ae forma equil1brada entre s1, No entanto, diferenciaram-se no que diz respeito ao tipo de de texto. Observou-se que tanto no texto dissertativo quanto no texto narrativo os casos em que aparece a supresslio foram em maior numero que nos da adi<;lio.exemplos:

de supressao de elemento gramatlcal. variando somente os t ipos de que sac acusados de anormais a atrapalharem a vida dos "normals"......variando somente os tipos que sac acusados de anormais a atrapalharem a vida dos "normais"... de supressao de elemento lexlcal. Devido ao aumento de desemprego, e 0 grande causador, pois rauba os empregos dlspon1vel au interfere na economia. Devldo ao awoento de desemprego. e 0 grande causador, pois rauba os empregos ou interfere na economia. Ja nos textos argumentativos a adlc;ao aparece mals do que a supressao. Exemplos:...0 que na verdade e desagradavel, e como 0 senhor pede julgar.... 0 que na verdade 0 que e desagradavel, e como 0 senhor pede julgar... participac;ao de conjuntos de "Rock". part icipaqao de grande. conjuntos de "Rock". 01ante deste quadro de ocorr~nclas de reescrlta levantaram-se algumas hlp6teses embora no Interlor de urn trabalho de carater nao quanti tativo e slm descrltlvo. Veja-se a escala abalxo asslm composta: dlssertac;ao - substltulc;ao/ supressao/ adlc;ao/deslocamento narrac;ao - substltulc;ao/ supressao/ adlc;ao/deslocamento carta argo - substltulc;ao/ adlc;ao/supressao/ deslocamento Observando 0 que 0 quadro aclma sugere, poder -se-la levantar algumas hlp6teses. Entretanto, devldo ao carater explorat6rl0 deste trabalho, serla temerarl0 aflrmar algo de concluslvo. Conclusoes s6 serao vlavels ap6s um trabalho mals exaustivo, em que se poderao conflrmar ou nao estas hlp6teses. Tendo a cautela como ponto de refer~ncla, passa-se neste momento,

as hlp6teses levantadas. Observa-se, pelo quadro, que a dlssertac;aoe a narrac;lo tlveram uma semelhanc;a hler~rqulca quanto as operac;oes llngu1stlcas, enquanto a carta argumentatlva apresentou um numero malor de adlc;oes. No entanto, exlste uma certa aproxlmac;ao dos textos argumentativos e dlssertativos em relac;lo a estrutura textual, pols ambos expressam oplnloes e/ou pontos de vlsta, pautando-se, portanto, na argumentac;ao.por que entlo estes textos se dlferlram nessa hlerarqulzac;ao das categorlas e, por outro lado, textos dlstlntos estruturalmente como a narrac;ao e a dlssertac;aoaproxlmaram-se nessa mesma hlerarqula? A prlmelra questao pode ser dlscutida levando-se em em conta 0 fato de que, embora a dlssertac;aoe a carta tenham uma estrutura textual semelhante, estes textos dlferem-se num ponto cruclal: a noc;ao de lnterlocuc;ao. Enquanto no texto dlssertativo 0 In t erlo c utor nao e caracterlzado, ldentlflcado, no texto argumentatlvo a lnterlocuc;ao e dlreclonada a um sujelto espec1flco, um lnterlocutor deflnldo cujas ldelas devem ser refutadas. Ao contr~rl0. a narrac;aoaproxlma-se da dlssertac;aoporque tambem nao possul um lnterlocutor conhecldo. Poder-se-la hlpotetizar que 0 fato de ocorrerem mals supressoes nos textos dlssertatlvos e narratlvos terla algo aver com uma preocupac;aomalor com a llnguagem. em que se ellmlna 0 que parece desnecess~rl0. Parece haver um trabalho de reelaborac;ao malor da l1nguagem quando se suprlmem elementos textuals. J~ na carta argumentativa. observa-se um malor numero de adlc;oes em relac;aoaos outros tlpos de texto. 0 autor, alem de se dlrlglr a um lnterlocutor espec1flco, tem uma tarefa a cumprlr: contra-argumentar as ldelas expl1citadas por este lnterlocutor, tentando convenc~-lo do seu equlvocado ponto de vlsta. Para lsso tenta utlllzar-se de todos os recursos poss1vels, nao podendo perder de vlsta nenhum de seus argumentos. acrescentando elementos para tornar seu texto mals lntel1g1vel e completo. Observa-se tambem que na carta argumentatlva 0 n1vel de llnguagem e mals coloqulal e menos elaborado, nao tendo 0 locutor a

1206 preocupa~ao de suprlmlr termos, pols sua aten~ao volta-se para 0 interlocutor. Percebe-se, pelo que fol aqul levantado, que estas SaG algumas questoes a serem objeto de reflexao e amhlse por um lnvestigador culdadoso que quelra aprofundar algum t6plco deste trabalho. 1. A prova de redac;io do Vestibular d. UNICAMP conatltul-ae de trt. l., au.eja, de tr.. tlpoa de textoa. t dad. 80 candid.to BIBLIOGRAFIA. FIAn, Raquel Salek (1991). "Opera~oes l1nguisticas presentes na reescrltura de textos". In: Revisla Inlernacional de Lingua Porluguesa, 4. Lisboa, AULP,pp. 91-97. FRANCHI, C. (1977). "Linguagem Ativldade Constitutiva". In: Almanaque 6, Sao Paulo, Ed. Braslilense, pp. 09-27. GERALD I, J.W. (1990. Porlos de Passagem. Sao Paulo, Livrarla Martins Fontes Edltora, 1- edl~ao. ABAURRE,H.B.H., HAYRINK-SABINSON, H.L. e FIAn, R.S. (1992). A RelevAncia Te6rica dos Dados Singulares na Aquisic;llo da Linguag_ EHCrila. ProJeto Integrado de Pesqulsa, CNPQ.