Programa de incentivo à formação de professores: a escola básica como espaço de formação de professores Bartolina Ramalho Catanante i -UEMS Giana Amaral Yamin ii - UEMS RESUMO Este texto tem como objeto o Programa Institucional de Bolsa de Incentivo à Docência (Pibid), financiado pelo Ministério da Educação (MEC) por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Visa analisar de que forma a escola se constitui como espaço de formação dos acadêmicos dos cursos de licenciatura, bolsistas do Pibid e futuros professores, num processo que articule a teoria e a prática, de tal modo que a universidade possa contribuir para a melhoria da qualidade da escola pública. O período da análisecompreende os anos de 2010 a 2013 e tem como ponto inicial o desenvolvimento do projeto institucional da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), que oferece cursos de licenciaturas em 11 municípios doestado de Mato Grosso do Sul (MS). O Pibid teve início em 2010 com 98 bolsas e atualmente oferece 696 bolsas de iniciação à docência distribuídas em 60 escolas públicas de educação básica. A análise busca apreender os desafios colocados tanto para a escola de educação básica quanto para a universidade e o Pibid, responsáveis pela articulação e fortalecimento dessa parceria no processo de formação docente. A experiência é confrontada com os referenciais teóricos sobre a função social da escola, a função da escola como espaço de formação e a formação docente. Conclui-se que o diálogo, extremamente necessário à formação do professor iniciante, é uma das estratégias que devem ser estabelecidas na relação universidade e escola, para o fortalecimento da formação docente. Palavras-chave: Formação de professores. Pibid. Licenciaturas e educação básica. Introdução O objetivo aqui é analisar como a escola se constitui como espaço de formação dos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Incentivo à Docência (Pibid), da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), num processo que articule teoria e prática, de tal modo que a universidade possa contribuir para a melhoria da qualidade da escola. O Pibidé financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e desenvolvido pelas instituições de educação superior (IES)em estreita articulação com as escolas públicas deeducação básica.tem por finalidade apoiar a iniciação à docência de estudantes dos cursos de licenciatura plena das IES, aprimorar a formação dos docentes, valorizar o magistério e contribuir para a elevação do padrão de qualidade da educação básica. Para isso, oferece bolsas de iniciação à 05970
2 docência (ID) aos acadêmicos das licenciaturas, aos professores de educação básica, chamados de supervisores, e aos professores da universidade que exercem a função de coordenadores de área, de gestão e institucional. Propicia também recursos financeiros para a manutenção e custeio do programa o que favorece o processo pedagógico e a articulação universidade-escola, contemplando os objetivos dasies e os da educação básica. O Pibid foiinstituído em 2007, embasado nas diretrizes emanadas do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação (BRASIL, DECRETO n. 6.094, 2007, p.5-6), nos princípios da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica (BRASIL, DECRETO n. 6.755, 2009, p. 1-2) e no Decreto n. 7.219/2010 (BRASIL, p.4-5) que dispõe sobre o Programa.A UEMS iniciou o Pibid em 2010 nos cursos de licenciatura plena distribuídos em 11 unidades universitárias no interior de Mato Grosso do Sul. Em 2014,aglutina 875 bolsistas, sendo 696 de ID, 116 supervisores; 58 coordenadores de áreas, cinco de gestão, um institucional e sessenta escolas públicas municipais e estaduais. Política de formação de professor e a escola como espaço de formação A formação inicial e continuada de professores no Brasil, neste momento histórico, requer olhar mais atencioso tanto por parte do Estado quanto da sociedade. É uma pauta que não deve ficar somente no âmbito das tradicionais instituições formadoras, ou seja, das faculdades e universidades. Exige debate mais aprofundado, tanto de planejamento quanto da Políticade Formação Docente. Dourado (2010, p. 924), ao discutir a função da escola, afirma que a escola, entendida como instituição social, tem sua lógica organizativa e suas finalidades demarcadas pelos fins políticopedagógicos que extrapolam o horizonte custo-benefício stricto sensu. Isto tem impacto direto no quese entende por planejamento e desenvolvimento da educação e da escolae, nessa perspectiva, implica aprofundamento sobre a natureza dasinstituições educativas e suas finalidades, bem como as prioridadesinstitucionais, os processos de participação e decisão, em âmbito nacional,nos sistemas de ensino e nas escolas. Respeitando essa concepção, o Decreto n. 6.755 instituiu [...] a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica com a finalidade de organizar, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério 05971
3 para as redes públicas da educação básica (BRASIL, 2009, p.1). Envolve a participação dos entes federados como processo permanente e procura articular as instituições de educação superior e de educação básica. Incentiva a formação de profissionais do magistério e prevê a concessão de bolsas de ID via programa, Pibid, aos estudantes das licenciaturas. A escola é reconhecida como espaço necessário à formação inicial dos profissionais do magistério.concebem-se os profissionais da escola básica como portadores de conhecimentos e experiências que os habilitam a colaborar com as instituições formadoras (GATTI, 2012). A formação dos professores deixa de ser iniciativa individual e passa a ser vista em uma perspectiva coletiva. Entendida como direito, como componente intrínseco à valorização profissional. É direito dos profissionais, dever do Estado. Passa a ser parte da política de valorização do magistério, juntamente com o valor da remuneração e condições de trabalho, que pode resultar na melhoria do processo ensino- aprendizagem (CORBUCCI, 2011). Desafios da formação de professores: universidade e escola de educação básica Ao avaliar o trabalho desenvolvido nesses quatro anos, é possível afirmar que a articulação entre universidade e escola de educação básica não é tarefa fácil. As escolas possuem sua própria dinâmica. Muitas vezes,o planejamento não é executado em decorrência das especificidades de cada escola. Um dos principais pontos que poderíamos elencar como um dos grandes desafios a ser vencido pelos gestores é a falta de compreensão inicial dos objetivos do Pibid em relação à escola. Os objetivos do Programa em relação à escola não são diferenciados. Ao contrário, é uma somatória de ações em prol da educação e da escola pública de qualidade. Assim, entender e vencer o processo de resistência manifestado por algumas escolase professores exige dos coordenadores a imersão e reflexão no desenvolvimento do trabalho dessas instituições, a fim de que essa finalidade seja compreendida (CATANANTE, 1999). Um dos fatores para o sucesso do Pibidna escolaé a presença ativa dos supervisores e coordenadores no apoio às práticas pedagógicas desenvolvidas. O supervisor, que é o professor da escola, corrobora significativamente com o Pibid, pois é quem fica na formação direta dos bolsistas. O seu papel é envolver-se diretamente com a formação, isto é, acompanhar e orientar os acadêmicos em sua prática pedagógica 05972
4 na instituição escolar. Nas escolas ondeo supervisor é ativo, que se coloca numa postura de docente formador, instruindo e orientando a formação, o incentivo à docência se consolida.considera-seque a prática assistida é essencial ao processo de formação (NOSELLA, 2004).Consequentemente há melhora sensível no rendimento escolar. Uma resistência observada consiste no processo de introdução de atividades pedagógicas diferenciadas com o argumento de que essas atividades tomammuito tempo diante do imenso currículo a ser desenvolvido. Oferecer currículo com metodologias e práticas diferenciadas exige dos coordenadores diálogo com a escola e com seus professores nos quais o planejamento e a compreensão dos objetivos da escola são essenciais. As práticas didático-pedagógicas diferenciadas resultam em aprendizagens significativas, ao tempo em que os acadêmicos se apropriam da experiência, reflexão teoria/prática em sua formação. Quando a escola e os gestores percebem os resultados positivos que os alunos tiveram, hámudança na postura. Isso é observado a partir de depoimentos de diretores de escolas, entre quais destacamos este: O Pibid trouxe mudanças significativas para a escola e para o próprio professor. Vejo que hoje a professora x se preocupa muito mais com os alunos e o processo pedagógico. Aliás, não só com isso. A professora mudou de atitude diante dos problemas da escola. Hoje ela se posiciona de outra forma (I Encontro Estadual do Pibid de MS, 03/03/2013). Depoimentos como esse permeiam encontros e reuniões internas do Pibid, nos quais a mudança de postura dos pibidianos fica visível. Estes se empoderam no interior de suas licenciaturas. À guisa de conclusão Notadamente, quando se busca promover a articulação entre educação básica e universidade,imagina-se que esse processo deve ser sedutor e que traga benefícios para todos. O Pibid não se caracteriza como programa intervencionista, passageiro. O objetivo é propiciar a formação inicial dos acadêmicos a partir da reflexão teoria/prática e que, participem das reuniões, discutam os problemas e soluções apontadas para resolver as dificuldades pedagógicas. Ele vem para somar à formação do futuro docente às práticas e aos objetivos da escola básica, ou seja, promover uma educação de qualidade. O resultado dessa interação e troca entre o Pibid e a escola temsido altamente positivo. É possível constatar envolvimento maior, tanto dos professores da educação 05973
5 básica com a escola e com os estudantes quanto no processo de formação inicial dos bolsistas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Decreto n. 6.094, de 24 de abril de 2007.Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com municípios, Distrito Federal, estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da educação básica. In: Diário Oficial da União, Brasília, ano CXLIV, n. 79, p. 5-6, 25 abr. 2007. Seção 1.. Decreto n. 6.755, de 29 de janeiro de 2009.Institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica, disciplina a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) no fomento a programas de formação inicial e continuada e dá outras providências. In: Diário Oficial da União, Brasília, ano CXLVI, n. 21, p.1-2, 30 jan. 2009. Seção 1.. Decreto n. 7.219, de 24 de junho de 2010. Dispõe sobre o Programa Institucional debolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e dá outras providências. In: D.O.U., Brasília, ano CXLVII, n. 120, p.4-5, 25 jun. 2010. Seção 1.. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. In: D.O., Brasília, ano CXXXIV, n. 248, p.27833-27841, 23 dez. 1996. Seção 1. CATANANTE, B. R. A proposta educacional de Mato Grosso do Sul: a formação do cidadão crítico segundo a percepção dos professores do ensino fundamental. São Carlos: UFSCar, 1999. Dissertação (Mestrado em Educação), CECH. Universidade Federal de São Carlos, 1999. CORBUCCI, Paulo Roberto. Dimensões estratégicas e limites do papel da educação para o desenvolvimento brasileiro. In: Revista Brasileira de Educação. Rio de Janeiro, ANPEd, 1995. DOURADO, Luiz Fernando. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil: limites e perspectivas. Educação e Sociedade.Campinasvol. 28, n. 100 Esp. p. 921-946, out. 2007.Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> GATTI, Bernadete A. Políticas e práticas de formação de professores: perspectivas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO: DIDÁTICA E PRÁTICAS DE ENSINO: COMPROMISSO COM A ESCOLA PÚBLICA, LAICA, GRATUITA E DE QUALIDADE, 16, 2012, Campinas. Políticas públicas educacionais contemporâneas e seus impactos no cotidiano das escolas. Campinas, Unicamp: XVI Endipe, 2012. Disponível em:<http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arqu ivos/acervo/docs/0040m.pdf > Acesso em: 19 maio 2014. NOSELLA, Paolo.A escola de Gramsci. 3.ed. rev. e atualizada.são Paulo: Cortez, 2004. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL. Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência Pibid/UEMS. Iniciação à docência: fortalecendo compromisso entre universidade e escolas de educação básica. Dourados: UEMS, 2009. 05974
6 i Professora adjunta da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Email :bartolina@uems.br. ii Professora da UEMS, doutora em Educação. E-mail : giana@uems.br. 05975