Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 40



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Transcrição:

ISSN 1679-6543 Dezembro, 2010 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Agroindústria Tropical Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 40 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista Contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Edy Sousa de Brito Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo Deborah dos Santos Garruti Alice Castelar de Brito Embrapa Agroindústria Tropical Fortaleza, CE 2010

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Agroindústria Tropical Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici CEP 60511-110 Fortaleza, CE Fone: (85) 3391-7100 Fax: (85) 3391-7109 Home page: www.cnpat.embrapa.br E-mail: vendas@cnpat.embrapa.br Comitê de Publicações da Embrapa Agroindústria Tropical Presidente: Antonio Teixeira Cavalcanti Júnior Secretário-Executivo: Marco Aurélio da Rocha Melo Membros: Diva Correia, Marlon Vagner Valentim Martins, Arthur Cláudio Rodrigues de Souza, Ana Cristina Portugal Pinto de Carvalho, Adriano Lincoln Albuquerque Mattos e Carlos Farley Herbster Moura Supervisor editorial: Marco Aurélio da Rocha Melo Revisão de texto: Lucas Almeida Carneiro Normalização bibliográfica: Rita de Cassia Costa Cid Editoração eletrônica: Arilo Nobre de Oliveira Fotos da capa: Cláudio de Norões Rocha 1 a edição (2010): on line Todos os direitos reservados A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Agroindústria Tropical Avaliação da aceitação de bebida mista contendo cajuína em função das proporções de seus componentes / Edy Sousa de Brito... [et al.]. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical, 2010. 19 p.; on line. (Boletim de pesquisa e desenvolvimento / Embrapa Agroindústria Tropical, ISSN 1679-6543, 40). 1. Néctar de frutas. 2. Bebida mista. 3. Modelagem de mistura. 4. Caju - Goiaba - Maracujá. I. Brito, Edy Sousa de. II Azeredo, Henriette Monteiro C. de. III. Garruti, Deborah dos Santos. IV. Brito, Alice Castelar de. V. Série. CDD 663.6 Embrapa 2010

Sumário Resumo...5 Abstract...7 Introdução...9 Material e Métodos...10 Resultados...11 Conclusões...18 Referências...19

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista Contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Edy Sousa de Brito 1 Henriette Monteiro Cordeiro de Azeredo 2 Deborah dos Santos Garruti 3 Alice Castelar de Brito 4 Resumo O consumo de bebidas mistas à base de frutas tropicais tem se apresentado como uma tendência de mercado. O objetivo deste trabalho foi estimular o consumo de cajuína, por meio do seu uso na formulação de uma bebida mista. As proporções foram baseadas em um delineamento de misturas do tipo centróide simplex. As misturas com maiores proporções de néctar de goiaba foram mais bem aceitas. O néctar de maracujá foi o componente que mais comprometeu a aceitação da mistura, embora todos os tratamentos tenham resultado em valores hedônicos dentro da faixa de aceitação. O tratamento que resultou em melhor aceitação foi aquele cuja mistura consistiu de 70% de néctar de goiaba, 10% de néctar de maracujá e 20% de cajuína. Todos os valores hedônicos referentes a esse tratamento foram superiores a 7 ( gostei moderadamente ), e a acidez foi muito próxima ao ideal. Termos para indexação: caju, gioaba, maracujá, modelagem de mistura, néctar de frutas. 1 Químico Industrial, D. Sc. em Tecnologia de Alimentos, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Rua Dra. Sara Mesquita 2270, Pici, CEP 60511510, Fortaleza, CE. edy@cnpat.embrapa.br. 2 Engenheira de Alimentos, D. Sc. em Tecnologia de Alimentos, pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza,CE. ette@cnpat.embrapa.br. 3 Engenheira de Alimentos, D. Sc. em Tecnologia de Alimentos, pesquisadora da Embrapa Agroindústria, Fortaleza, CE. deborah@cnpat.embrapa.br. 4 Engenheira de Alimentos, Centro Regional Universitário de Espírito Santo de Pinhal, Avenida Hélio Vergueiro Leite 1 CEP 13990-000 Espírito Santo do Pinhal, SP.

Acceptance Evaluation of a Mixed Beverage Containing Cajuina as a Function of its Components Proportions The consumption of mixed tropical fruit beverages has been a market trend. The objective of this work was to improve cajuina comsumption by using it on a mixed beverage. The proportions were based on a simplex-centroid mixture design. The mixtures with higher proportions of guava nectar were most accepted. The component that most impaired the beverage acceptance was passion fruit nectar, although all treatments resulted in hedonic values situated within the acceptance range. The most accepted mixture was that obtained by mixing 70% guava nectar, 10% passion fruit nectar and 20% cajuina. All the hedonic values referreing to this treatment were higher than 7 ( moderately liked ), and the sensory acidity was very near the ideal. Index terms: cashew, guava, passion fruit, misture design, fruit drink.

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes 9 Introdução A crescente demanda por bebidas percebidas pelos consumidores como mais naturais e saudáveis tem motivado a substituição de refrigerantes por bebidas à base de frutas, como sucos e néctares. Uma tendência atual é o consumo de bebidas mistas à base de frutas, especialmente frutas tropicais (BRANCO; GASPARETTO, 2003). As vantagens das bebidas mistas residem principalmente na combinação das propriedades sensoriais, nutricionais e funcionais das diferentes frutas componentes da mistura (FOLEGATTI et al., 2002). Alguns autores relataram alta aceitação de bebidas obtidas a partir da mistura de sucos de frutas tropicais; de mamão e maracujá (SALOMON et al., 1977), de mamão e manga (MOSTAFA et al., 1997), de abacaxi e acerola (MATSUURA; ROLIM, 2002). A cajuína é uma bebida obtida por clarificação, envase e esterilização do suco de caju. As suas principais vantagens, quando comparada ao suco integral de caju, são a alta estabilidade (o produto geralmente é estocado para atender à demanda do longo período de entressafra) e a ausência de adstringência, o que prejudica a aceitação do suco de caju. Entretanto, a cajuína é geralmente processada em pequenas unidades rudimentares, que têm pouco controle do processo. Com isso, o tratamento térmico é frequentemente muito severo, podendo acarretar sabor de queimado e/ou amargo, o que compromete a aceitação do produto, especialmente por consumidores de outras regiões, não familiarizados com essas peculiaridades. O objetivo deste trabalho foi o de incluir o uso da cajuína em formulações de bebidas mistas com três componentes (néctar de goiaba, maracujá e cajuína), para avaliar o impacto de aceitação de cada componente (em especial o da cajuína) e das suas características físico-químicas.

10 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Material e Métodos Foi planejado um delineamento de misturas (centróide simplex) envolvendo, como componentes, três produtos comerciais, a saber: Néctar de goiaba, com 45% de polpa, presente na mistura em proporções na faixa de 40% 70%. Néctar de maracujá, com 15% de polpa, em proporções na faixa de 10% 40%. Cajuína comercial, em proporções variando de 20% a 50%. As dez diferentes formulações obtidas (apresentadas na Tabela 1) foram submetidas a testes sensoriais e físico-químicos. Tabela 1. Condições experimentais dos tratamentos, segundo o delineamento centróide simplex. Tratamento Proporção dos componentes da mistura Néctar de goiaba Néctar de maracujá Cajuína 1 0,70 0,10 0,20 2 0,40 0,40 0,20 3 0,40 0,10 0,50 4 0,55 0,25 0,20 5 0,55 0,10 0,35 6 0,40 0,25 0,35 7 0,50 0,20 0,30 8 0,60 0,15 0,25 9 0,45 0,30 0,25 10 0,45 0,15 0,40

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes 11 A análise sensorial, realizada segundo técnicas descritas por Meilgaard et al. (1987), constituiu de testes de aceitação, em termos globais, de aparência e de sabor, utilizando escala hedônica estruturada de nove pontos (1 desgostei muitíssimo a 9 gostei muitíssimo ), além de um teste de diagnóstico de atributos para acidez, em escala estruturada de sete pontos (-3 muito menos ácido que o ideal a 3 muito mais ácido que o ideal ), e de um teste de intenção de compra, em escala estruturada de cinco pontos (-2 certamente não compraria a 2 certamente compraria ). Houve participação de 30 provadores não treinados, entre estagiários e empregados da Embrapa Agroindústria Tropical. Os atributos físico-químicos avaliados foram: ph, medido por leitura direta em potenciômetro, cor (Hunter Lab) e relação Brix/acidez (B/A), calculado pela razão entre o teor de sólidos solúveis (medido em refratômentro digital) e acidez total titulável (medida em percentagem de ácido cítrico, segundo AOAC, 1995). As análises estatísticas dos resultados foram feitas com o auxílio do programa Statistica (STATSOFT, 1995), por meio do qual foram estabelecidos os modelos e construídos os gráficos (curvas de nível) dos diferentes atributos estudados. Foram calculados os coeficientes de correlação de Pearson (r) entre os atributos físico-químicos e os sensoriais. Para tanto, foram considerados os módulos dos valores de acidez sensorial, ao invés dos valores propriamente ditos, uma vez que foi usada uma escala bipolar (escala do ideal), em que o ponto 0 correspondia à máxima aceitação em relação à acidez. Resultados A Tabela 2 apresenta as respostas experimentais obtidas dos diferentes tratamentos. As respostas físico-químicas consistiram na média de três repetições, e as sensoriais, na média de 30 repetições (30 provadores).

12 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Tabela 2. Respostas experimentais dos tratamentos. Resposta físico-química Resposta sensoriai Trata- Cor ph B/A Aparência Sabor Aceitação Acidez mento L* a* b* global (ideal) 1 4,42 54,5 25,55 4,73 3,23 7,37 7,33 7,57 0,03 2 4,07 40,0 26,07 2,96 4,87 6,13 5,10 4,93 0,37 3 4,22 42,7 27,71 2,93 3,52 6,27 6,73 6,47-0,07 4 4,16 42,7 25,98 3,72 4,60 7,03 5,67 6,17 0,23 5 4,24 48,3 26,9 3,44 3,45 6,87 6,93 6,79-0,07 6 4,19 40,4 27,07 2,71 4,27 6,10 5,80 5,87 0,33 7 4,17 44,8 26,84 3,30 3,55 6,90 6,57 6,50 0,11 8 4,23 47,1 26,49 3,78 3,74 7,17 6,90 6,87 0,25 9 4,15 41,5 26,31 2,82 3,85 6,47 5,40 5,80 0,27 10 4,23 43,8 27,47 3,01 3,49 6,54 5,97 6,03 0,21 B/A: relação Brix/acidez. Aparência, sabor e aceitação global: escala hedônica (1 desgostei extremamente a 9 gostei extremamente ). Acidez: escala do ideal (-3 muito menos ácido que o ideal a 3 muito mais ácido que o ideal ). As equações 1 a 9, a seguir, representam os modelos estatísticos para cada um dos atributos, com seus respectivos coeficientes de determinação (R 2 ). O tipo de modelo foi escolhido com base nos valores de F das regressões. Em alguns casos, o modelo linear foi o único que gerou um valor de F significativo (P<0,05); em outros, o cúbico especial mostrou-se mais adequado para representar as variações do atributo. As variáveis foram: x 1 : proporção de néctar de goiaba na mistura; x 2 : proporção de néctar de maracujá; x 3 : proporção de cajuína. ph = 4,42 x 1 + 1,20 x 2 + 3,09 x 3 + 6,02 x 1 x 2 + 3,21 x 1 x 3 + 19,44 x 2 x 3 48,63 x 1 x 2 x 3 R 2 = 0,9664 (Eq. 1) B/A = 96,72 x 1 + 196,82 x 2 + 72,94 x 3 477,40 x 1 x 2 155,65 x 1 x 3 580,28 x 2 x 3 + 1356,86 x 1 x 2 x 3 R 2 = 0,9890 (Eq. 2)

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes 13 L* = 24,28 x 1 + 25,42 x 2 + 31,38 x 3 R 2 = 0,9328 (Eq. 3) a* = 6,29 x 1 + 0,48 x 2 + 0,32 x 3 R 2 = 0,9283 (Eq. 4) b* = - 7,17 x 1 47,93 x 2 18,16 x 3 + 154,61 x 1 x 2 + 69,98 x 1 x 3 + 262,41 x 2 x 3 651,76 x 1 x 2 x 3 R 2 = 0,9600 (Eq. 5) Aparência = 9,60 x 1 + 14,12 x 2 + 10,83 x 3 24,37 x1x 2 15,93 x 1 x 3 77,37 x 2 x 3 + 181,96 x 1 x 2 x 3 R 2 = 0,9969 (Eq. 6) Sabor = 8,44 x 1 + 35,00 x 2 + 18,56 x 3 R 2 = 0,8828 (Eq. 7) Aceitação global = 9,03 x 1 + 0,95 x 2 + 5,32 x 3 R 2 = 0,9496 (Eq. 8) Acidez (sensorial) = -0,03 x 1 + 1,19 x 2 0,19 x 3 R 2 = 0,6819 (Eq. 9) Os resultados das análises de variância dos diferentes atributos físicoquímicos e sensoriais são apresentados na Tabela 3. Todos os modelos foram significativos (P<0,05).

14 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Tabela 3. Análises de variância para os atributos físico-químicos e sensoriais dos néctares mistos. Atributo Fonte de variação SQ GL MQ F p Modelo 0,0950 6 0,0158 14,36 0,0259 ph Erro 0,0033 3 0,0011 Total 0,0984 9 0,0109 Relação Modelo 172,3321 6 28,7220 44,79 < 0,01 Brix/acidez Erro 1,9239 3 0,6413 Total 174,2560 9 19,3618 Modelo 3,9235 2 1,9617 48,56 < 0,01 L* Erro 0,2828 7 0,0404 Total 4,2063 9 0,4674 Modelo 3,1289 2 1,5644 45,34 < 0,01 a* Erro 0,2415 7 0,0345 Total 3,3704 9 0,3745 Modelo 2,5890 6 0,4315 11,99 0,0334 b* Erro 0,1080 3 0,0360 Total 2,6970 9 0,2997 Modelo 1,7881 6 0,2980 162,51 < 0,01 Aparência Erro 0,0055 3 0,0018 Total 1,7936 9 0,1993 Modelo 4,4542 2 2,2271 26,37 < 0,01 Sabor Erro 0,5912 7 0,0845 Total 5,0454 9 0,5606 Aceitação Modelo 4,4141 2 2,2070 65,93 < 0,01 global Erro 0,2343 7 0,0335 Total 4,6484 9 0,5165 Acidez Modelo 0,1537 2 0,0769 7,50 0,0181 (ideal) Erro 0,0717 7 0,0102 Total 0,2254 9 0,0250

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes 15 Nas Figuras 1 e 2 são mostradas as curvas de nível que representam os modelos referentes aos diferentes atributos físico-químicos e sensoriais, respectivamente. Essas figuras podem ser analisadas em conjunto com a Tabela 4, que apresenta os coeficientes de correlação entre os atributos físico-químicos e os sensoriais. Observa-se que a aceitação do produto, tanto em termos globais quanto de sabor e aparência, foi maior nas misturas com maiores proporções de néctar de goiaba. Em termos de sabor, isso pode ser atribuído aos seguintes fatores: (a) o sabor de goiaba em si, que geralmente é bem aceito; e (b) os maiores valores de ph e de relação B/A, já que estes atributos apresentaram alta correlação (negativa) com a acidez sensorial, indicando que, quanto maiores os valores de ph e B/A, menor o módulo de acidez, ou seja, mais próximo do valor 0 (ideal). Em termos de aparência, a maior aceitação das misturas com maiores proporções de néctar de goiaba pode ser atribuída à maior intensidade da cor vermelha, uma vez que a maior correlação da aparência foi com o atributo de cor a*. Embora todas as amostras tenham se situado na região de aceitação (acima de 5 não gostei nem desgostei ) para todos os atributos hedônicos, o néctar de maracujá foi o componente que mais comprometeu a aceitação da mistura, o que provavelmente se deve à sua alta acidez. O tratamento que resultou em melhor aceitação foi aquele em que a mistura consistiu de 70% de néctar de goiaba, 10% de néctar de maracujá e 20% de cajuína. Todos os valores hedônicos referentes a esse tratamento foram superiores a 7 ( gostei moderadamente ), e a acidez foi muito próxima ao ideal.

16 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Figura 1. Curvas de nível dos modelos referentes aos atributos físico-químicos da bebida mista. (A) ph; (B) relação Brix/acidez; (C) L*; (D) a*; (E) b*.

Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes 17 Figura 2. Curvas de nível dos modelos referentes aos atributos sensoriais da bebida mista. (A) aparência; (B) sabor; (C) aceitação global; (D) acidez. Tabela 4. Coeficientes de correlação de Pearson (r) entre atributos físicoquímicos e sensoriais. Físico-químico Atributo Sensorial Aparência Sabor Aceitação Acidez global (módulo) ph 0,4893 0,8722 0,8637-0,8410 Relação B/A 0,8285 0,8473 0,9012-0,7341 L* -0,5041 0,0809-0,1126-0,1226 Cor a* 0,9012 0,6499 0,7778-0,5326 b* -0,4485-0,8082-0,7788 0,8141

18 Avaliação da Aceitação de Bebida Mista contendo Cajuína em Função das Proporções de seus Componentes Conclusões As bebidas mistas contendo cajuína são bem aceitas, especialmente aquelas contendo altas proporções de néctar de goiaba. O néctar de maracujá é o componente que mais compromete a aceitação da mistura, o que provavelmente se atribui a sua alta acidez. O tratamento que resulta em melhor aceitação é aquele em que a mistura consiste de 70% de néctar de goiaba, 10% de néctar de maracujá e 20% de cajuína.

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