MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS 106.391 PERNAMBUCO RELATOR PACTE.(S) IMPTE.(S) COATOR(A/S)(ES) : MIN. MARCO AURÉLIO :MARIA DA CONCEIÇÃO DA SILVA E SÁ :RODRIGO TRINDADE :RELATOR DO HC 187.396 NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA DECISÃO PRISÃO PREVENTIVA PASSAGEM DO TEMPO SENTENÇA DE PRONÚNCIA NEUTRALIDADE EXCESSO DE PRAZO LIMINAR DEFERIDA. 1. A Assessoria prestou as seguintes informações: Vossa Excelência formalizou o seguinte despacho: HABEAS CORPUS ELEMENTOS DILIGÊNCIA. 1. A Assessoria prestou as seguintes informações: Segundo consta da inicial, a paciente, submetida a prisão preventiva, juntamente com dois corréus, em 21 de outubro de 2008, foi denunciada por suposta prática do crime previsto no artigo 121, 2º, inciso I e IV, do Código Penal (homicídio
qualificado). Veio a ser pronunciada, em 29 de julho de 2009, pelo Juízo de Direito da Comarca de Triunfo/PE (Processo-Crime nº 000477-96.2008.8.17.1520). Transitada em julgada a sentença de pronúncia, o Ministério Público estadual ajuizou pedido de desaforamento perante o Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco e requereu, no Juízo Criminal, a suspensão do julgamento pelo Tribunal do Júri, pleito que foi acolhido. A defesa formalizou habeas corpus no Tribunal de Justiça, alegando excesso de prazo de prisão. A ordem foi indeferida, tendo em consideração o Verbete nº 21 do Superior Tribunal de Justiça Pronunciado o réu, fica superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução. Idêntica medida foi impetrada no Superior Tribunal de Justiça de nº 187.396. O Ministro Gilson Dipp, relator, indeferiu a liminar. A inicial deste habeas volta-se contra essa decisão. O impetrante reafirma a tese de excesso de prazo de prisão sem a formação da culpa. Conforme anota, a demora na designação do julgamento pelo Tribunal do Júri decorre do pleito de desaforamento formulado pelo Ministério Público. Diz tratar-se de situação a ensejar a relativização do óbice previsto no Verbete nº 691 da Súmula do Supremo. Pede a concessão de liminar, determinando-se a expedição de alvará de soltura em favor da paciente, assegurando-lhe o direito de permanecer em 2
liberdade até a decisão final do habeas em curso no Superior Tribunal de Justiça. No mérito, pleiteia a confirmação da providência; sucessivamente, requer seja deferida a ordem, caso o Superior Tribunal negue o pedido lá formulado, sem exibir fundamentação idônea, ou, seja declarado o prejuízo desta impetração, se o órgão apontado como coator deferir a ordem. O processo não veio instruído com a cópia do ato atacado. Vossa Excelência, então, determinou a realização de diligência. O Superior Tribunal de Justiça prestou informações mediante ofício expedido em 18 de janeiro de 2011, acompanhado da cópia do pronunciamento impugnado mediante este habeas. Ainda no período de férias forenses, a Secretaria Judiciária encaminhou o processo à Presidência do Supremo. O Ministro Cezar Peluso, em decisão proferida no dia 31 de janeiro de 2011, não vislumbrou situação de urgência a justificar a atuação da Presidência. Instruído o processo com a cópia do ato coator, foram solicitadas informações ao Juízo da Vara Única da Comarca de Triunfo/PE sobre a tramitação da ação ajuizada contra a paciente. O impetrante, antecipando a notícia, reafirmou que a paciente foi pronunciada em 29 de julho de 2009 e aguardava a realização da sessão do Tribunal do Júri, pois o Tribunal de Justiça havia deferido o desaforamento por meio de acórdão proferido em 30 de setembro de 2010. Realçou o fato de a paciente estar sob custódia preventiva há dois anos e cinco meses e o excesso de prazo de prisão sem culpa formada. 3
A manifestação do impetrante, contudo, não se fez acompanhada de documento comprobatório da tramitação do processo-crime nem da cópia do acórdão relacionado ao pedido de desaforamento. Em 16 de março de 2011, o Juízo de Direito da Vara Criminal da Comarca de Triunfo/PE prestou informações e encaminhou cópia da sentença de pronúncia de Carlos Aparecido Martins, Anselmo Pereira Martins e de Maria da Conceição da Silva e Sá, a ora paciente. Na parte final da peça, consta a cláusula obstativa do direito de os agentes recorrerem em liberdade. Ficou consignada a inexistência de qualquer fato novo capaz de justificar a revogação da prisão preventiva. Em 12 de abril de 2011, o impetrante noticiou, por meio de petição eletrônica, que o Superior Tribunal de Justiça, na sessão de 5 de abril, indeferiu o pedido formulado no Habeas Corpus nº 187.396/PE. Reportando-se à inicial deste processo, reiterou o pleito de concessão da ordem, se o STJ denegar o HC 187.396, na hipótese de não exibir fundamentação idônea. Em 23 de maio de 2011, o impetrante informou estar a paciente acometida de câncer renal, necessitando de acompanhamento médico, que, segundo afirma, não estaria sendo adequadamente implementado no presídio. Consoante esclarece, um dos corréus interpôs embargos de declaração contra a decisão mediante a qual foi determinado o desaforamento para a Comarca de Recife Pedido de Desaforamento nº 225.464-4. Presente esse fato, a defesa da paciente buscou o desmembramento do processo-crime, pretensão que ainda estaria 4
pendente de apreciação no Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. Requer, então, o julgamento do habeas. Anoto que o processo não está instruído com cópia das seguintes peças: do ato mediante o qual determinada a prisão preventiva da paciente, do mandado de prisão devidamente cumprido, do acórdão mediante o qual o Superior Tribunal de Justiça apreciou o mérito do habeas lá impetrado e do acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça no pedido de desaforamento. Este processo foi distribuído a Vossa Excelência, por prevenção, ante o Habeas Corpus nº 101.350, impetrado em favor de Carlos Aparecido Martins, corréu da ora paciente, no qual foi indeferida a liminar. Apresentado pedido de reconsideração da decisão, Vossa Excelência, em despacho formalizado em 22 de maio de 2011 e ainda pendente de publicação, deixando de examinar o pleito formulado, consignou encontrar-se o processo aparelhado para julgamento e haver confeccionado relatório e voto. O processo foi incluído em pauta em 26 de maio de 2011. 2. Persiste a deficiência na instrução do habeas corpus. É indispensável ao exame do excesso de prazo que conste do processo o mandado de prisão com a data em que cumprido. Mais do que isso, a esta altura, o habeas formalizado no Superior Tribunal de Justiça já foi julgado. 3. Traga o impetrante não só o documento comprobatório da data em que implementada a preventiva como também o acórdão alusivo ao processo 5
apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça. 4. Publiquem. Brasília residência, 30 de maio de 2011, às 18h55. Por meio da petição transmitida em 14 de junho de 2011, o impetrante afirma que só pode ser um erro da alimentação do processo eletrônico que fez a assessoria de V. Exa. não constatar o Mandado de Prisão devidamente cumprido no dia 21/10/2008 e o respectivo Mandado de Recolhimento. Segundo assevera, reviu o inteiro teor do processo eletrônico e constatou, como Docs. 1 e 2, os respectivos documentos. Após destacar o fato, junta novamente as mencionadas peças, e aponta que a sentença de pronúncia verbera que a paciente está presa preventivamente desde o dia 21 de outubro de 2008. No tocante ao acórdão proferido pelo Superior Tribunal de Justiça no Habeas Corpus nº 187.396/PE, cuja ordem foi indeferida por maioria, assevera não ter como juntá-lo porque simplesmente aquela Corte até hoje não o publicou, o que é um verdadeiro abuso. Prosseguindo, afirma ser abusiva a demora na publicação do acórdão, em face de o referido habeas ter sido julgado há quase três meses e, assim, estaria a Corte Infraconstitucional (...) olvidando (...) uma das Metas Prioritárias estabelecidas em 2010, pelo CNJ, que é lavrar e publicar todos os acórdãos em até 10 (dez) dias após a sessão de julgamento. Destaca ser abuso porque é imprescindível, para V. Exa. examinar a controvérsia, saber os motivos que levaram o STJ, por maioria, a denegar a liberdade da paciente. Anota, portanto, não ser possível atender a todas as reivindicações do despacho transcrito, mas fica a questão a ser analisada por V. Exa.: pode uma pessoa permanecer presa indefinidamente aguardando a boa-vontade de um Tribunal em 6
publicar ou não um acórdão? O impetrante entende que a custódia da paciente é ilegal, razão por que insiste no pedido de liminar. Com a petição vieram ao processo as cópias do mandado de prisão expedido e do mandado de recolhimento da paciente, implementado em 21 de outubro de 2008. Saliento que consultei mais uma vez o link referente à transmissão de processo eletrônico no sistema de informática do Supremo, e pude constatar que as peças mencionadas na diligência determinada por Vossa Excelência somente agora, com a presente manifestação do impetrante, vieram para complementar a instrução do habeas. Não há registro de transmissão das referidas peças em momento anterior. 2. Consta da decisão mediante a qual o Superior Tribunal de Justiça indeferiu a liminar no Habeas Corpus nº 187.396 que a paciente está presa preventivamente desde 21 de outubro de 2008. Ao contrário do que revelado no Verbete nº 21 da Súmula daquele Tribunal, a sentença de pronúncia não é marco interruptivo do excesso de prazo no tocante à custódia provisória. 3. Defiro a medida acauteladora. 4. Expeçam o alvará de soltura, a ser cumprido com os cuidados próprios, vale dizer, caso a paciente não se encontre presa em razão apenas da preventiva formalizada no Processo-Crime nº 000477-96.2008-8.17.1520, em curso no Juízo de Direito da Comarca de Triunfo/PE. 5. Nesta data, prolatei despacho determinando a solicitação de informações ao Superior Tribunal de Justiça quanto ao julgamento 7
definitivo do Habeas Corpus nº 187.396, devendo ser remetida ao Supremo a cópia de eventual acórdão ou, se ainda não confeccionado, das respectivas notas taquigráficas. Após a vinda da peça ao processo, colham o parecer da Procuradoria Geral da República. 6. Publiquem. Brasília residência, 18 de junho de 2011, às 16h50. Ministro MARCO AURÉLIO Relator 8