Procº de insolvência n.º 3.048/10.3 TBMAI 3º Juízo Cível Insolventes: JOÃO MANUEL REBELO MARTINS E MARIA DA GRAÇA ASCENSÃO MOREIRA Tribunal Judicial da Maia RELATÓRIO O presente RELATÓRIO é elaborado nos termos do disposto no artigo 155º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas CIRE. A Nota Introdutória: Para a elaboração do presente relatório foram efectuados trabalhos de pesquisa informativa nos serviços públicos: finanças, segurança social e conservatórias, tendo sido efectuada deslocação à Rua Doutor Fernando Araújo de Barros, n.º 297, 5º andar, apartamento 5.1, Urbanização Real do Castelo, freguesia e concelho da Maia, morada fixada aos insolventes e local onde estes têm a sua residência efectiva. Pela parte dos insolventes, nomeadamente do insolvente marido que acompanhou, juntamente com o seu ilustre mandatário, Dr. Pedro Araújo, o arrolamento de bens, foi prestada a colaboração solicitada e necessária à elaboração do presente Relatório, sendo certo que grande parte dessa informação constava já dos autos. Foram inventariados os elementos patrimoniais conhecidos e já constantes dos autos e ali devidamente documentados, tudo de acordo com as disposições legais na matéria. Estes elementos estão devidamente identificados no anexo 1 do presente Relatório. - 1 -
Importa destacar que, previamente à deslocação, foram efectuadas pesquisas de bens sujeitos a registo, tendo-se apurado a existência de um veículo automóvel, mais concretamente um trator agrícola. Todavia, segundo os insolventes, o veículo de matrícula 77-79-HR foi vendido no âmbito de uma execução, pelo que, o insolvente marido e o seu Ilustre mandatário, ficaram de confirmar a situação actual do veículo, já que o mesmo continua registado em nome do insolvente marido. Ora, O presente processo teve início com a apresentação de requerimento por parte do credor BPN BANCO PORTUGUÊS DE NEGÓCIOS, S.A., tendo sido proferida douta sentença de declaração de insolvência em 04 de Janeiro de 2013, ainda não transitada em julgado. Acresce que, e atenta a informação detida pela signatária, essencial para a elaboração do presente relatório, correm contra os insolventes duas acções de impugnação pauliana, intentadas pelo credor MONTE DE PIEDADE Y CAJA GENERAL DE AHORROS DE BADAJOZ, sendo que, as referidas acções têm como fundamento o negócio jurídico celebrado entre os insolventes e a sua filha, PATRICIA ARMANDA MOREIRA MARTINS, em Dezembro de 2008 e Fevereiro de 2009, pela doação feita pelos insolventes de dois imóveis. O objectivo do presente Relatório, segundo o disposto no artigo 155º do CIRE, é apenas o de servir de ponto de partida para uma apreciação do estado económicofinanceiro dos insolventes. In casu, os dados obtidos permitem-nos cumprir o desiderato legal, com algumas restrições. Os insolventes são casados entre si, sob o regime de comunhão geral de bens e não têm filhos menores. - 2 -
Os insolventes vivem na residência fixada nos autos, que é arrendada a Verónica Bastos Schmitter Sampaio Versos, pela renda mensal de 350,00. Por outro lado, têm a seu cargo a mãe da insolvente mulher, que está num lar da Santa Casa da Misericórdia de Vieira de Carvalho (Via Norte), pagando 1.100,00 mensais, sendo que a idosa apenas recebe de pensão a quantia mensal de 366,00. Actualmente o insolvente marido trabalha na empresa DIVISTOP e aufere a quantia mensal líquida de 1.450,00 ; por outro lado, a insolvente mulher é professora do ensino secundário e aufere a quantia mensal média ilíquida de 2.500,00. Pelo que nos é dado a conhecer, os insolventes não têm PPR s, nem saldos bancários, nem participações sociais, nem veículos automóveis ou outros activos, que não os já inventariados no âmbito do presente processo. Ponto um Análise dos elementos incluídos no documento referido na alínea c) do nº 1, do artigo 24º do CIRE: Os documentos conhecidos são os que se encontram nos autos, e os recebidos do Serviço de Finanças da Maia, a que acrescem as reclamações de créditos recepcionadas e respectiva documentação de suporte, os quais reflectem o montante das obrigações vencidas e a situação de incumprimento generalizado com que se deparam os insolventes. Não se encontram juntos aos autos quaisquer elementos fiscais, com excepção dos fornecidos pelo serviço de finanças da Maia, pelo que sai prejudicada a análise deste item, nomeadamente no que respeita aos três últimos anos. Verificamos que o insolvente marido foi já alvo de processos de execução fiscal, referentes à falta de pagamento de IRS e IVA, na qualidade de revertido. - 3 -
As obrigações conhecidas mais relevantes provêm essencialmente de avais e fianças prestados pelos insolventes, especialmente pelo insolvente marido, na qualidade de gerente nas sociedades MACRU HUMANU NUTRIÇÃO E ESTÉTICA, LDA. e TURÍSTICA CENTRAL DE LAMEGO, LDA., junto de diversas instituições bancárias. De referir que as sociedades supra identificadas foram já declaradas insolventes, por sentenças de 28-01-2010 e 17-12-2010, no âmbito dos processos n.ºs. 379/09.9 TYVNG e 593/10.4 TYVNG, ambos a correrem os seus termos pelo 2.º Juízo do Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia. Ora, no exercício da actividade profissional exercida, os insolventes avalizaram diversos empréstimos junto da Banca, de forma a dar capacidade e fundo de maneio na intervenção das empresas junto do mercado nacional. Com a declaração de insolvência das ditas empresas, os insolventes viram-se confrontados com o enorme passivo decorrente das obrigações então estabelecidas junto dos diversos credores (principalmente da banca), as quais se venceram, incapacitando e impossibilitando a sustentabilidade económica dia-para-dia, o que gerou o incumprimento das obrigações contratuais que avalizaram, e a situação de insolvência com que hoje se deparam. Por conseguinte, Existem dívidas reclamadas e provisoriamente reconhecidas no montante total de 2.053.841,86. No que respeita a credores públicos, foram reclamadas pela FAZENDA NACIONAL dívidas tributárias (por reversão) no montante global de 8.285,16, referentes à falta de pagamento de IRS, IVA, Coimas e Custas. Por outro lado, até ao momento, desconhecem-se quaisquer dívidas à Segurança Social. - 4 -
Ora, analisado o auto de arrolamento de bens, é mister concluir que o passivo acima referido é manifestamente superior ao activo, pelo que a situação de insolvência é, em nossa opinião, irreversível. No momento, segundo as informações prestadas pelos insolventes: O insolvente marido trabalha na empresa DIVISTOP e aufere a quantia mensal líquida de 1.450,00 ; A insolvente mulher é professora do ensino secundário e aufere a quantia média mensal ilíquida de 2.500,00. Ponto dois Análise do estado da contabilidade dos devedores e opinião sobre os documentos de prestação de contas dos insolventes: Trata-se da insolvência de pessoas singulares, que não estavam obrigadas a prestação de contas de acordo com o exigido para as sociedades comerciais, pelo que parte do disposto no presente artigo não é aplicável. Até ao momento, apesar de solicitadas, não nos foram entregues as declarações de IRS dos últimos 3 anos, pelo que a análise do presente item não pode aqui ser concretizada. Requeridos elementos complementares ao Serviço de Finanças respectivo, foram recebidas as informações solicitadas, que confirmam os dados já existentes no processo, no que respeita aos bens existentes e ao incumprimento no pagamento das dívidas fiscais. Do mesmo modo, requeridos elementos complementares ao ISS, I.P. - Centro Distrital do Porto, até ao presente não foram recebidas as informações solicitadas. - 5 -
Ponto três Indicação das perspectivas de manutenção da empresa devedora, no todo ou em parte, e da conveniência de se aprovar um plano de insolvência: De acordo com o acima exposto, não é de aplicar a primeira parte deste normativo, pois inexiste qualquer estabelecimento comercial ou industrial. Por outro lado, não é de propor qualquer plano de insolvência, já que os insolventes não apresentam rendimentos actuais que permitam a elaboração de Plano e o nível de endividamento existente não se compadece com um qualquer Plano de Insolvência, pelo que, a proposta de Plano de Insolvência é desajustada à realidade e inviável. A única solução que nos parece adequada será a venda dos activos existentes - in casu, o imóvel e os bens móveis arrolados sob as verbas n.ºs. 1 e 2 - pelos valores de avaliação que vierem a ser obtidos; por outro lado, é opinião da signatária que os autos de insolvência devem aguardar o prosseguimento das acções de impugnação pauliana a correr contra os insolventes, uma vez que os imóveis podem, eventualmente, reverter para a massa insolvente. Tudo sem prejuizo de, face à informação prestada pelo mandatário dos insolventes de que foi interposto recurso da sentença insolvencial, a liquidação ficar suspensa até à decisão final pelo Tribunal da Relação respectivo. - 6 -
B Solução proposta: Face ao exposto, propõe-se: Não haver lugar à proposta ou apresentação de qualquer plano de insolvência; Aguardarem os autos o desfecho das acções de impugnação pauliana a correr contra os insolventes, uma vez que os imóveis em causa podem, eventualmente, reverter a favor da massa insolvente; Apenas após o conhecimento das decisões nas acções supra referidas, e a decisão do eventual recurso da decisão insolvencial, pode a signatária pronunciar-se sobre a prossecução dos autos para a liquidação, ou sobre o seu encerramento nos termos do disposto nos artigos 39º e 232º do CIRE, atento o valor reduzido dos activos já inventariados. C Anexos juntos: Um Inventário; Dois Lista provisória de créditos. P.D. A Administradora da Insolvência, - 7 -