Sobrevivência de Espécies Florestais da Caatinga em Plantios Ciliares

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Transcrição:

Sobrevivência de Espécies Florestais da Caatinga em Plantios Ciliares (1) Maria José de Holanda Leite; (2) Maria do Carmo Learth Cunha; (3) Rafael Rodolfo Melo; (4) Maria José Martins Fausto Almeida (1) Pós-graduanda em Ciências Florestais/UFCG, Patos PB, maryholanda@gmail.com; (2) Professora, UFCG/Universidade Federal de Campina Grande, c.learth@uol.com.br; (3) Professor, UFPI/Universidade Federal do Piauí, rrmelo@gmail.com; Engenheira Florestal, mariamartins.ea@gmail.com. RESUMO A vegetação lenhosa característica da caatinga é caducifólia espinhosa, diversificada em tipos florísticos e compreende área aproximada de 734.478 km², o que representa 70% da região Nordeste e 11% do território Nacional. Este trabalho teve por objetivo estabelecer a porcentagem de sobrevivência de espécies arbóreas nativas da caatinga após plantio em áreas ciliares e determinar se espécies pioneiras, secundárias e clímax apresentam diferenças quanto a este aspecto. Os plantios ciliares foram conduzidos em três comunidades rurais nos meses de março a abril, as margens do riacho Trapiá, Rio Espinharas e Rio da Cruz, respectivamente, em três anos. Foram utilizadas 22 espécies nativas, abrangendo seis pioneiras, oito secundárias, cinco clímaxes e três de grupo ecológico indeterminado. Os resultados mostraram que a porcentagem de sobrevivência das espécies variou entre as espécies estudadas entre os anos e locais de plantio, com melhor desempenho em sobrevivência para espécies pioneiras e secundárias nas áreas de implantação dos povoamentos ciliares. Palavras-chave: Revegetação, Semiárido, Nordeste. INTRODUÇÃO A vegetação lenhosa característica da caatinga é caducifólia espinhosa, diversificada em tipos florísticos (Rodal et al., 1992) e compreende área aproximada de 734.478 km² (FERRI, 1980; LEAL et al., 2003) o que representa 70% da região Nordeste e 11% do território Nacional (BUCHER, 1982). Esta vegetação sofre ameaças de perda de riqueza e diversidade na fauna e flora, pelo uso inadequado do solo (LEAL et al., 2005) e práticas de exploração extrativista com efeito direto sobre os recursos naturais renováveis (PERNAMBUCO, 2003; ARAÚJO FILHO et al., 2007), assim como a aceleração nos processos de erosão, declínio da fertilidade do solo, perda da qualidade da água pela sedimentação e eutrofísmo, dentre outros (LIMA, 2004; ARÁUJO et al, 2005; ARAÚJO; CARVALHO, 1997). Este cenário aponta a necessidade de proteção das áreas remanescentes, principalmente quando se considera o uso intensivo de algumas espécies com esparsa distribuição e/ou pequenas populações (ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002). Pouca atenção tem-se dado à conservação da caatinga - Resumo Expandido - [1187] ISSN: 2318-6631-

apesar das paisagens variadas e a rica biota com mais de 2.000 espécies de plantas vasculares (LEAL et al. 2005). A recuperação de áreas degradadas pode ser conseguida pela restauração da fertilidade do solo obtida pelo repovoamento com leguminosas arbustivo-arbóreas (ARAÚJO FILHO et al. 2007) ou pelo plantio de espécies vegetais de crescimento rápido que podem acelerar a sucessão secundária progressiva (FRANCO et al., 1992). Deve ser conduzida considerando a flora local, e abranger o máximo de espécies presentes anteriormente e com abrangência dos diferentes grupos ecológicos, formas de dispersão, dentre outros (ATTANASIO et al., 2006). As matas ciliares, matas ripárias ou matas de galeria, são formações vegetais que acompanham os cursos d água ou lagos, cumprindo funções importantes na manutenção do regime hídrico da bacia hidrográfica, no sustento da fauna e na estabilidade dos ambientes, e vêm sendo devastadas, seja para a retirada da madeira, exploração agropecuária ou por práticas de manejo que comprometem a biodiversidade (BALIEIRO et al., 2005). Neste sentido este trabalho teve por objetivo responder a seguintes questões: Qual a porcentagem de sobrevivência e ritmo de crescimento de espécies arbóreas nativas da caatinga após plantio em áreas ciliares? Espécies pioneiras, secundárias e clímax apresentam diferenças em relação a estes aspectos? MATERIAL E MÉTODOS As áreas de plantio estão inclusas no município de Patos PB, coordenadas 7 1'46"S e 37 20'44"W e altitude de 242m. O clima dominante quente e seco segundo Koppen (BSh) com temperatura média anual de 32ºC, umidade relativa do ar em média anual é de 55%. A precipitação média anual é de 500mm com chuvas concentradas em 3 a 4 meses por ano, irregularmente distribuídas no tempo e espaço com insolação anual que chega a 2.800 horas. Os dados de precipitação mensal foram tomados nos três anos do estudo, 2003, 2004 e 2005. Os plantios ciliares foram conduzidos em três comunidades rurais nos meses de março a abril: Trincheira (2003 e 2004), Trincheira I (2004) e Campo Comprido (2005), as margens do riacho Trapiá, Rio Espinharas e Rio da Cruz, respectivamente. As faixas de plantio nas comunidades tiveram tamanhos variáveis. Em Trincheira a faixa de plantio variou entre 39,0m x 10,5m 16,5m, em Trincheira I entre 33m x 70m em ambos os lados do rio e em Campo Comprido a faixa foi de 45m x 195m, na margem esquerda do Rio da Cruz. As espécies empregadas nos plantios ciliares e seus grupos ecológicos estão contidas na Tabela 1, classificadas segundo proposta contida em APG III (APG III, 2009) e a sinonímia confirmada no checklist da Associação Plantas do Nordeste As sementes foram colhidas de populações nos municípios de Malta, Patos, Santa Terezinha, Imaculada, São José do Bonfim, Maturéia, Teixeira e Catingueira-PB, de no mínimo 12 matrizes, com distância mínima de 50 m entre si. Tabela 1 - Famílias, espécies e grupos ecológicos (GE): Pioneira (P), Secundária (S) e Clímax (C), utilizadas nos plantios ciliares nas comunidades de Trincheira (Trin), Trincheira I (Trin) e Campo Comprido (Camp) no município de Patos PB, nos anos de 2003 e 2004, 2004 e 2005, respectivamente. Nome científico Família GE Nome comum Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan var cebil (Griseb.) Altschul. Fabaceae, Mimoideae (P) Angico Myracrodruon urundeuva M. Allemao Anacardiaceae (C) Aroeira Schinopsis brasiliensis Engl. Anacardiaceae (P) Braúna Triplaris gardneriana Weed. Polygonaceae (S) Cauaçu Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz Fabaceae, Cesalpinoideae (S) Catingueira Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Kook. F. Ex S.Moore. Bignoniaceae (S) Craibeira Poecilanthe falcata. Fabaceae, Faboideae (S) Chorão Amburana caerensis (Allemão) A. C. Sm. Fabaceae, Caesalpinoideae (C) Cumaru - Resumo Expandido - [1188] ISSN: 2318-6631-

Pseudobombax marginataum A. Robyns Malvaceae (S) Embiratanha Lonchocarpus sericeus (Poir) DC. Fabaceae, Papilionoideae - Ingazeira Cnidoscolus quercifolius Pohl Euphorbiaceae (P) Favela Hymenaea coubaril Hayne. Fabaceae, Caesalpinoideae (C) Jatobá Ziziphus joazeiro Mart. Rhamnaceae (C) Juazeiro Libidibia ferrea (Mart. ex Tul) L.P. Queiroz Fabaceae, Caesalpinoideae (S) Pau ferro/jucá Cereus jamacaru DC Cactaceae - Mandacaru Bauhinia cheilantha (Bong.) D. Dietr. Fabaceae, Caessalpinoideae (P) Mororó Erythrina velutina Jacq. Fabaceae, Faboideae (P) Mulungu Handroanthus impetiginosus (Mart. ex. DC) Mattos Bignoniaceae - Pau D arco Luetzelburghia sp. Fabaceae, Faboideae (S) Pau de serrote Aspidosperma pyrifolium Mart. Apocynaceae (S) Pereiro Sapindus saponaria L. Sampindaceae (C) Sabonete Enterolonbium contortissiliquum (Vell.) Morong Fabaceae, Mimosoideae (P) Tamboril Parkinsonia aculeata L. Fabaceae, (P) Turcco Spondias tuberosa Arruda Anacardiaceae - Umbu As mudas foram produzidas no viveiro da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal, UFCG Campus Patos PB, em tubete rígido de volume de 250 cm 3. O substrato consistiu da mistura, em igual proporção, de Plantmax, esterco bovino e terra de subsolo (1:1:1). A adubação do substrato consistiu de 4,395 Kg de Sulfato de Amônia, 10,275 Kg de Sulperfosfato Simples e 6,850 Kg de Cloreto de Potássio, para o volume de 0,7 m 3. A irrigação diária foi conduzida por aspersão controlada eletronicamente. As mudas permaneceram em viveiro até atingir altura entre 25 30 cm. O espaçamento adotado nos plantios foi de 1,5 x 1,5 em Trincheira (2003, 2004) e 3 x 3m em Campo Comprido, plantadas em quincôncio, e covas de dimensões 10 x 30 cm de largura e profundidade, abertas com cavador manual. As covas foram adubadas com superfosfato simples, sulfato de amônia e cloreto de potássio na quantidade de 90g, 90g e 30g, respectivamente. O plantio foi realizado nos meses de março/abril, com replantio em agosto, nos três anos. As mudas foram tutoradas, coroadas, e protegidas com palha de coqueiro triturada na área coroada, em Trincheira (2003). Neste ano e nesta comunidade, as mudas foram irrigadas de agosto até outubro duas vezes por semana (terça e sexta-feira), com mangueira, na área coroada. Foram testados três tratamentos em função da disposição das mudas de acordo com o grupo ecológico: Tratamento 1 - Associação pioneira x secundárias x clímax; Tratamento 2 - só pioneira e Tratamento 3 - associação de secundárias x clímax, nos plantios de 2003 e 2004. Em 2005 foram testados cinco tratamentos: Tratamento 1: Associação pioneiras x secundárias x clímax; Tratamento 2 - só Pioneiras; Tratamento 3 somente pioneiras alternadas; T4 - associação de Secundárias x Clímax e T5 associação de uma única secundária. O número total de mudas para cada grupo ecológico em cada tratamento foi de 30; 21 e 8 pioneiras, secundárias e clímax (T1), 30; 21 e 6 (T2) e 29; 19 e 6 (T3), 30; 26 e 8 (T4) e 29; 25 e 10 (T5) e totalizou 64 mudas para cada tratamento. Três espécies não tiveram grupo ecológico especificado. A avaliação sobrevivência foi realizada no mês de agosto de cada ano, para replantio e em outubro a porcentagem final de sobrevivência das espécies em cada local, ano e tratamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos para sobrevivência das espécies nas áreas e anos, estão apresentados na Tabela 2. Aos seis meses de plantio a sobrevivência das espécies variou de 48,89 a 96,66% e 43,33 a 91,66% em Trincheira 2003 e 2004, respectivamente. Em Trincheira I a variação foi de 10,00 a 86,11% e no Campo Comprido de 42,59 a 91,30%. Independente dos anos e dos locais de plantios, as espécies que apresentaram sobrevivência acima de 80% foram: Tabebuia aurea (P), Handroanthus impetiginosus, Triplaris gardneriana (S), Enterolonbium contortissiliquum (P), Parkinsonia aculeata (P), Schinopsis brasiliensis (P), Cereus jamacaru, Myracrodruon urundeuva (C), Cnidoscolus quercifolius (P), Libidibia ferrea (S), Ziziphus - Resumo Expandido - [1189] ISSN: 2318-6631-

joazeiro (C), Sapindus saponaria (C) e Amburana cearensis (C). As espécies que aprentaram sobrevivência abaixo de 50% foram: Luetzelburghia sp.(s), Hymenaea coubarail (C) e Spondias tuberosa. Observa-se que a maioria pertenciam ao grupo ecologico de pioneira, seguida das clímax e as secundárias. As espécies que apresentaram sobrevivencia abaixo de 50% foram Luetzelburghia sp (S) e a Hymenaea coubarail (C). A sobrevivência das espécies na comunidade de Trincheira no ano 2003, foi superior às demais áreas, provavelmente pela irrigação complementar realizada e o emprego de cobertura morta no local do coroamento, por diminuição da evapotranspiração e maior disponibilidade hídrica às mudas em crescimento. Em mata ciliar em domínio de cerrado em Assis SP, a porcentagem de sobrevivência de 20 espécies arbóreas variou de 67 a 100%, e foi considerada satisfatória, por ser superior a 50% (DURIGAN & SILVEIRA, 1999). Almeida & Sánchez (2005) consideram valores de mortalidade de até 10% em projetos de revegetação, sendo que constataram valores de mortalidade de 38% em plantios de áreas mineradas em São Paulo. Para Piña-Rodrigues et al. (1997) valores de mortalidade de mudas pós plantio de até 20% podem ser consideradas normais em projetos de revegetação de áreas mineradas. Tabela 2 Média de Sobrevivência, por ano e local, das espécie plantadas nas comunidades de Trincheira (Trin), Trincheira I (Trin I) e Campo Comprido (CC)-PB nos anos de 2003, 2004 e 2005, respectivamente. Espécies %Sobrevivência Trin/2003 e 2004 Trin I/2004 CC/ 2005 Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Kook. F. Ex S.Moore. 93,33 79,99 72,69 91,30 Bauhinia cheilantha (Bong.) D. Dietr. 63,73 73,01 60,97 66,12 Aspidosperma pyrifolium Mart. 77,78 71,39 41,67 77,37 Triplaris gardneriana Weed. 95,83 84,44 41,11 91,11 Handroanthus impetiginosus (Mart. ex. DC) Mattos 48,89 50,27 65,27 64,44 Erythrina velutina Jacq. 85,00 43,33 31,44 55,56 Anadenanthera colubrina (Vell) Brenan var cebil (Griseb.) Altschul. 56,11 74,01 15,25 82,04 Enterolonbium contortissiliquum (Vell.) Morong 93,89 51,70 55,16 83,52 Parkinsonia aculeata L. 96,66 89,16 73,81 71,57 Schinopsis brasiliensis Engl. 66,66 91,66 66,67 - Amburana caerensis (Allemão) A. C. Sm. 100,0 91,66 86,11 55,55 Myracrodruon urundeuva M. Allemao 97,21 80,55 83,33 - Cnidoscolus quercifolius Pohl 88,88 81,66 66,67 - Pseudobombax simplicifolium A. Robyns 77,77 75,00 69,69 57,36 Libidibia ferrea (Mart. ex Tul) L.P. Queiroz 93,03 54,54 66,67 78,78 Ziziphus joazeiro Mart. - - 50,00 87,04 Poincianella pyramidalis (Tul.) L. P. Queiroz - - 35,00 55,56 Luetzelburghia sp. - - 11,11 - Hymenaea martiana Hayne - - 10,00 - Sapindus saponaria L. - - 50,00 92,52 Lonchocarpus sericeus (Poir) DC. - - - 66,19 Cereus jamacaru DC - - - 84,63 Poecilanthe sp. - - - 57,41 Spondias tuberosa Arruda - - - 48,15 Myracrodruon urundeuva M. Allemao - - - 42,59 Média 82,32 72,82 52,65 70,44 Média geral de sobrevivência 69,56 A porcentagem de sobrevivência total foi menor na comunidade de Trincheira I (52,65%) em 2004 (Tabela 3). Os dados de precipitação em 2004 mostram que esta foi concentrada nos meses de janeiro e fevereiro, e se manteve em níveis abaixo de 100 mm até o final do ano. Este fato pode ter contribuído para a menor sobrevivência em Trincheira I neste ano, aliado a fatores edáficos, pois os solos desta área eram litólicos, mais rasos e, em uma das margens, com declividade acentuada. Em Tincheira, comunidade com maior sobrevivência (em 2003), verificou-se que no ano de 2003 a distribuição da precipitação foi mais regular, com pico em março, além de condições de solo melhores tanto físicas - Resumo Expandido - [1190] ISSN: 2318-6631-

como na declividade. No entanto, a sobrevivência diminuiu em 2004, provavelmente pelo efeito da precipitação mal distribuída e a ausência de irrigação suplementar. O tratamento que apresentou maior porcentagem de sobrevivência foi tratamento 1 (T1) em todas as comunidades e anos (Tabela 3), composto por espécies pioneiras, secundárias e clímaxes. As porcentagens de sobrevivência foram de 88,44 e 64,74% na comunidade de Trincheira (2003 e 2004), 53,10% em Trincheira I (2004) e de 74,89% no Campo Comprido (2005). Moraes et al. (2005) observou maior crescimento das espécies secundárias e clímax estimulado pelo sombreamento das espécies pioneiras. Para os autores é importante observar que no início de desenvolvimento, as taxas de sobrevivência para as espécies, pois além do sombreamento e combate às invasoras, espécies pioneiras podem contribuir para rápida melhoria na qualidade do sítio, pelo retorno de nitrogênio ao solo, pela deposição de folíolos (BARBOSA, 2000). A literatura cita grande número de interações positivas e negativas de vegetais, animais e microrganismos estabelecidos em um local, que atua sobre plântulas em vias de estabelecimento (GANADE & BROWN, 2002). Competição, parasitismo e predação são algumas dessas relações que parecem contribuir para a o estabelecimento das mudas plantadas, inclusive em áreas de Caatinga. Tabela 3 Sobrevivência das espécies nos diferentes blocos nas comunidades de Trincheira (Trin), Trincheira I (Trin I) e Campo Comprido (CC)-PB nos anos de 2003, 2004 e 2005. Porcentagem de Sobrevivência Tratamentos Trin Trin I CC 2003 2004 2004 2005 T1 88,44 64,74 53,10 74,89 T2 69,95 67,38 44,99 74,20 T3 74,58 73,72 49,51 75,48 T4 - - - 59,35 T5 - - - 67,56 CONCLUSÕES A porcentagem de sobrevivência das espécies variou entre as espécies estudadas entre os anos e locais de plantio. Espécies pioneiras e secundárias tiveram melhor desempenho em sobrevivência nas áreas de implantação dos povoamentos ciliares. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento Botânico Tradicional e Conservação em uma Área de Caatinga no Estado do Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta bot. Bras. 16(3): 273-285, 2002. ALMEIDA, R. O. P. O.; SÁNCHEZ, L. E. Revegetação de áreas de mineração: critérios de monitoramento e avaliação do desempenho. Rev. Árvore, v.29, n.1, p.47-54, 2005. ARAÚJO FILHO, J. A.; SILVA, N. L. Avaliação de leguminosas arbóreas, para recuperação de solos e repovoamento em áreas degradadas, Quixeramobim-CE. Rev. Bras. de Agroecologia/out. 2007, Vol.2 No.2. ARAÚJO FILHO, J. A.; CARVALHO, F. C. Desenvolvimento sustentado da caatinga. Sobral: EMBRAPA-CNPC, 1997. 19p. (EMBRAPA-CNPC. Circular Técnica, 13). - Resumo Expandido - [1191] ISSN: 2318-6631-

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