Da comercialização à produção. A Partilha Agroecológica como instrumento para a reconversão produtiva

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Transcrição:

15228 - Da comercialização à produção. A Partilha Agroecológica como instrumento para a reconversão produtiva From the commercialization to the production. Agroecological Partition as a instrument for productive reconversion FURQUIM, Tatiana Weckeverth 1 ; MATEUS, Billidhol de Oliveira 2 SANTOS, Jhonatan Carlos dos³ 1 UFPR Setor Litoral, sintropiacracia@gmail.com; 2 Motirõ Sociedade Cooperativa, billidhol@motiro.org 3 Motirõ Sociedade Cooperativa, jhonatan@motiro.org Resumo: O presente relato busca sistematizar a experiência de constituição de um grupo de consumo responsável no município de Matinhos/PR. Este grupo surge com intuito de propiciar o consumo de produtos agroecológicos regionais, pautado por um comércio justo e solidário. Com o estabelecimento deste coletivo, outras atividades foram agregadas visando aprimorar a iniciativa, como o acompanhamento na organização e o planejamento da produção dos agricultores familiares para acesso à mercados, mobilização para certificação dos produtos e fortalecimento das feiras da região. Estas atividades conformam o projeto Redes de Comercialização: consolidando vínculos entre agricultores (as) e consumidores (as) do litoral do Paraná, proposto pela Motirõ Sociedade Cooperativa, que atua na assessoria para comercialização e no fomento às práticas agroecológicas. Entre os principais resultados estão a consolidação do Grupo de Consumidores, a certificação da produção de dois grupos de agricultores, etc. Palavras-Chave: Agricultura Familiar; Agroecologia; Coletivo de Consumo Responsável. Abstract: The present report intends to systematize de experience of the constitution of a group of responsible consumption in Matinhos county. This group arises in order to propitiate the consumption of agroecological regional products, guided by a fair and solidary trade. With the estabilishment of this group, another activities were aggregated seeking the improvement of the initiative, as the assistance in the organization and planning of family farmer's production to access markets, mobilization to product's certification and strengthening regional fairs. These activities conforms the project Commercialization Networks: consolidating links between farmers and consumers of Paraná's coastland, proposed by Motirõ Cooperative Society, that operates on commercialization advisement and promoting agroecological practices. Among the main results are the consolidation of the Consumers' Group, production certification of two groups of farmers, etc. Keywords: Family Farming; Agroecology; Collective of Responsible Consumption. Contexto No município de Matinhos, localizado no litoral do estado do Paraná, desde 2008 ocorre semanalmente uma feira da agricultura familiar, esta realiza-se nas quartas-feiras no período da manhã. A Matinfeira, como é denominada pelos feirantes e fregueses, é realizada ao lado do mercado municipal de pescados, no centro da cidade. Por mais que a Matinfeira tenha uma localização central no município, diversos consumidores encontram dificuldades para acessar os produtos ecológicos oriundos da agricultura familiar regional. As dificuldades encontradas vão desde os altos preços praticados em grandes supermercados e a pouca disponibilidade de produtos ecológicos no comercio local, até a ausência de assistência técnica para produção ecológica e infra-estrutura para o escoamento. Como alternativa a esta conjuntura, integrantes da Motirõ Sociedade Cooperativa junto à parceiros ligados às ruralidades (Universidades, Instituições de ATER, Associações de agricultores e consumidores conscientes), criaram em outubro de Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 1

2011 um grupo destinado a realizar compras coletivas agroecológicas, baseando-se em experiências de coletivos de consumo consciente/responsável de outras localidades. O intuito é o de facilitar o acesso destes consumidores aos alimentos agroecológicos e também servir como um canal a mais de comercialização da produção da agricultura familiar da região. Com a intenção de ir além do auxílio na comercialização, criou-se a Partilha Agroecológica 1, que consiste em um momento destinado a propiciar reflexões e interações variadas entre os integrantes do grupo. Ilustração 1: Encontro de Trocas: Partilha Agroecológica e Feira de Trocas A partir de Maio de 2012 a experiência da Partilha Agroecológica dá origem ao projeto Redes de Comercialização: consolidando vínculos entre agricultores(as) e consumidores(as) do litoral do Paraná. O projeto objetiva atuar nos sete municípios do litoral paranaense auxiliando na organização dos produtores para o acesso à mercados, estimulando a criação e organização de grupos de agricultores, artesãos e de consumidores de produtos ecológicos, fortalecendo o relacionamento entre estes atores, bem como direcionando esta produção ao mercado consumidor local, reduzindo os custos com transporte e minimizando a atuação de atravessadores. Para tanto, pretende-se estimular o estabelecimento de redes curtas de comercialização e sistemas produtivos agroecológicos. O Coletivo de Consumo Responsável de Matinhos inicialmente foi formado no meio universitário junto à docentes, discentes e técnicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR Setor Litoral), propulsionado pela equipe da cooperativa Motirõ e que, por meio das Partilhas Agroecológicas, busca integrar a academia à comunidade externa, envolvendo habitantes tanto do meio rural quanto do meio urbano, como agricultores, artesãos, estudantes e servidores públicos. Muitos consumidores desejam acessar alimentos orgânicos, haja vista o aumento de informações em diversos meios referentes às grandes quantidades de agroquímicos aplicados na produção, bem como o uso de sementes e plantas provenientes de modificações genéticas cujas consequências de consumo não são ainda bem 1A Partilha Agroecológica é um encontro mensal onde, além de serem distribuídos os produtos ecológicos encomendados pelos(as) participantes do Grupo de Consumidores, procura-se propiciar um espaço de convivência entre consumidores, agricultores e outros frequentadores do evento, assim como diálogos e práticas diversas com relação às temáticas afins ao projeto: Agroecologia, sistemas produtivos, sazonalidade dos produtos locais, Economia Solidária, consumo consciente, cooperativismo, feira de trocas. 2 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

conhecidas e/ou divulgadas e a consequente perda de qualidade biológica e nutricional decorrente das mesmas. Nas Partilhas Agroecológicas procura-se trabalhar a estreitamento dos vínculos entre agricultores e consumidores, através da valorização dos espaços de compra direta (feiras e grupos de consumidores, cestas agroecológicas) que tornam estes produtos orgânicos tão acessíveis quanto os produtos convencionais comercializados nas redes de supermercados da região, os quais são adquiridos por meio do CEASA de Curitiba, localizado a mais de 100 quilômetros do litoral. Nas rodas de conversas realizadas nos momentos das Partilhas Agroecológicas e nas feiras locais, os consumidores podem compreender o dia-a-dia destes agricultores agroecológicos, suas perspectivas, dificuldades e conquistas, de modo a valorizar seu trabalho e primar por um comércio de caráter justo, solidário e local. Com o desenvolvimento das atividades, este coletivo sentiu a necessidade de criar um Grupo Gestor para o acompanhamento, planejamento e aprimoramento da experiência, visando a co-construção com os envolvidos nesta proposta. O grupo gestor visa propor e organizar as dinâmicas com os consumidores e desenvolver estratégias que contribuam na organização dos produtores; para acompanhar estas ações, o Grupo Gestor mantém um cronograma de trabalho com reuniões realizadas quinzenalmente. Ao longo da realização das Partilhas Agroecológicas, incorporou-se a Feira de Trocas, que estimula a realização de escambos diversificados, tanto materiais como imateriais, como objetos, serviços, ideias e abraços, tendo como ponto central os encontros e as interações que são proporcionadas por estes espaços. Tal iniciativa envolve lógicas alternativas de economia, e em conjunto com a Partilha formou-se o Encontro de Trocas que pretende estimular a reflexão sobre nossa sociedade e cultura, assim como a proposição e a prática de alternativas societárias. Através do registro do projeto de extensão Redes de Comercialização: consolidando vínculos entre agricultores (as) e consumidores (as) do litoral do Paraná, na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná, o projeto vive um momento em que suas atividades se ampliam e intensificam. Além das atividades já realizadas pelo Grupo de Compras Coletivas Agroecológicas, outros trabalhos foram incorporados à proposta, dentre eles estão: o fomento à implantação de Sistemas Agroflorestais, envolvendo agricultores da Gleba Pantanal no Assentamento Nhundiaquara em Morretes, do Acampamento José Lutzenberger, localizado na região do Rio Pequeno em Antonina e agricultores da Colonia Maria Luíza localizada no município de Paranaguá; assessoria no processo de obtenção da Certificação Participativa de produção orgânica através da Rede Ecovida de Agroecologia; fomento à criação de outros coletivos de consumo responsável nos municípios de Guaratuba e Pontal do Paraná, bem como a realização de eventos sobre produtos provenientes da sociobiodiversidade, cooperativismo, soberania alimentar e mercados contra-hegemônicos. Outra iniciativa do projeto tem sido as Cestas Agroecológicas 2, que surgem com o intuito de suprir a demanda semanal por hortifrutícolas dos grupos de consumidores e das pessoas com dificuldades em acessar as feiras. Estas pessoas podem optar por buscar os alimentos na sede da Motirõ ou pelo serviço de entrega.. 2A Partilha Agroecológica ocorre mensalmente e, devido a esta dinâmica, acaba por viabilizar particularmente produtos com menor perecibilidade (cereais, beneficiados, etc.) Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 3

Resultados Ações que buscam o exercício da autonomia e o protagonismo dos participantes, tanto consumidores e produtores, como estudantes e professores universitários, tem sido desenvolvidas nos diversos espaços dos projeto: grupo gestor, reuniões dos grupos de produção e organização dos produtores e nos Encontros de Trocas. Pode-se afirmar que a constituição do Grupo de Consumidores de Matinhos é um dos principais resultados do projeto. Foi a partir do estabelecimento deste coletivo que as principais reflexões foram realizadas entre agricultores, consumidores e outros atores envolvidos no projeto; por ele se toma a decisão de iniciar a cesta semanal de produtos agroecológicos; de estruturar um canal de comunicação entre consumidores e equipe do projeto 3; bem como diversas outras ações que foram pensadas e articuladas neste espaço. Desde o início do ano de 2013 algumas pessoas motivadas pelo funcionamento do grupo de consumidores de Matinhos resolvem iniciar um grupo no município de Pontal do Paraná. Tem-se realizado diversas reuniões entre a equipe do projeto e as pessoas interessadas na constituição do grupo de consumidores com o objetivo de assessorar sua constituição e adaptação da metodologia atualmente utilizada pelo grupo de Matinhos. Como resultado do trabalho e das conversas estabelecidas ocorrerá no mês de Agosto a primeira Partilha Agroecológica do grupo de consumidores de Pontal do Paraná. Se é importante organizar os consumidores para o acesso aos produtos de qualidade é importante também garantir que estes alimentos tenham procedência e não sejam utilizados agroquímicos durante o processo de produção. Com relação à estas questões, até o momento foram realizadas a Certificação Participativa de dois grupos: Pantanal e Rio Pequeno. Motivados pela organização dos ambos as comunidades anteriores, os agricultores do município de Paranaguá, mais especificamente da Colônia Maria Luiza estão em um processo de organização para a aquisição da certificação, bem como para o acesso aos canais de comercialização mobilizados pelo projeto. Em parceria com a Cooperafloresta, a Embrapa, a Universidade Federal do Paraná e a Associação Prosperidade Pantanal, ações de implantação, manejo e acompanhamento de Sistemas Agroflorestais - SAFs tem sido realizadas. Os SAFs na região do litoral do Paraná tem-se constituído como uma alternativa viável para as famílias agricultoras, tanto porque garante a coexistência de um alto índice de diversidade biológica 4 com uma alta capacidade produtiva, e também possibilita soberania alimentar e autonomia produtiva para as unidades familiares. Com a participação dos agricultores agroflorestais da comunidade do Pantanal nas compras mensais, foi possível a comercialização de seus produtos na Matinfeira. Atualmente a Matinfeira tem se constituído como uma importante fonte de renda para as famílias do Assentamento. A partir do contato com os consumidores na Matinfeira os agricultores puderam ganhar visibilidade e divulgar as ações que realizam no seu trabalho com sistemas agroflorestais, fato que proporcionou a participação em diversos eventos locais. 3http://redesdecomercializacao.motiro.org 4Fato importante quando se leva em consideração a grande cobertura geográfica de Unidades de Conservação no litoral do Paraná e a presença da maior área contínua de Mata Atlântica do país. 4 Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

Ilustração 2: "Olhar externo" realizado para a obtenção da Certificação Participativa Durante a realização do projeto outras iniciativas foram criadas com o objetivo de viabilizar o acesso de agricultores familiares ao mercado regional. Dentre estas, as que acreditamos ser as principais são as feiras nos municípios de Morretes e de Antonina. Nestas feiras a totalidade dos produtos comercializados são de produtores litorâneos e a maioria não utiliza agroquímicos na sua produção. Com o avanço do movimento de certificação dos produtos em um curto período de tempo a tendência é de que as feiras envolvidas no presente relato sejam abastecidas apenas com produtos de procedência agroecológica. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 5