III Tema: Imunoglobulinas em dermatomiosite e polimiosite

Documentos relacionados
Medicina Evidências. Federação Rio

I Data: 24/05/05. II Grupo de Estudo: III Tema: IV Especialidade(s) envolvida(s):

Existe benefício com utilização da técnica endoscópica para liberação do túnel do carpo quando comparada a cirurgia convencional (cirurgia aberta)?

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

Ciclosporina Oral para tratamento

Vacinas para prevenção de influenza em adultos saudáveis

Fases da pe squi qu s i a c a lín í i n c i a na i a i dú dú tr t ia far f mac êut u i t c i a

III Tema: Exames de imuno-histoquimica em doenças de mama

Número do processo: ( ) Reu: Município de Ritápolis e Estado de Minas Gerais

Efetividade do uso de ozonioterapia em pacientes portadores de lombalgia

VISITA DOMICILIAR À PORTADORA DE MIASTENIA GRAVIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA

DESENVOLVIMENTO. P&D de medicamentos. P&D de medicamentos. farmacêutico. IBM1031 Bioestatística e Ensaios Clínicos. Prof. Edson Zangiacomi Martinez 1

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Orientações para Profissionais de Saúde sobre a Vacinação de Febre Amarela para pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (DII)

Monitor de Índice Bispectral (BIS) na Unidade de Terapia Intensiva


MIOPATIAS E DOENÇAS DA JUNÇÃO NEUROMUSCULAR

O desenho de um protocolo clínico

BRONQUIECTASIAS: O NOVO, O VELHO E O FEIO. Palestrante James Chalmers, Universidade de Dundee

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

Departamento De Pediatria

Artículo Especial: Evaluación de la evidencia científica Albert J. Jovell Y Maria D. Navarro-Rubio Med Clin (Barc) 1995;105:

Consensus Statement on Management of Steroid Sensitive Nephrotic Syndrome

Revisão sistemática: o que é? Como fazer?

Nota de esclarecimento sobre a vacinação de Pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais

câncer de esôfago e estômago Quais os melhores esquemas?

Formação APFH com o apoio de

Centro de Infusão do H9J. Nilton Salles Rosa Neto

Formação APFH com o apoio de:

DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA SERVIÇO DE BALCÃO JOURNAL CLUB

Vigilância Epidemiológica, Sanitária e Ambiental

Comparação de insuflação com dióxido de carbono e ar em endoscopia e colonoscopia: ensaio clínico prospectivo, duplo cego, randomizado - julho 2017

Gustavo Nader Marta, Rachel Riera, Cristiane Rufino Macedo, Gilberto de Castro Junior, André Lopes Carvalho, Luiz Paulo Kowalski

Atualização do tratamento das vasculites ANCA associadas

Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) Participantes: Ozelo M, de Paula E, Villaca P, Bernardo WM.

Hipertensão Arterial e a Prevenção Quaternária

Elaboração de Parecer Técnico- Científico (PTC)

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

Tema: Informações técnicas sobre o CINACALCET (Mimpara ) para pacientes em tratamento dialítico

18/03/2015 Os medicamentos utilizados para tratamento de depressão ajudam os fumantes que estão tentando parar de fumar? Cochrane

ICAP Journal Club. Artigo. Resumo do estudo

Comitês de Monitoramento de Dados e de Segurança

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Epidemiologia HEP Cassia Maria Buchalla

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC)

ESTADO DA BAHIA PREFEITURA MUNICIPAL DE MADRE DE DEUS SECRETARIA MUNICIPAL DE SAUDE. PORTARIA SESAU Nº 002/2019 DE 10 de maio de 2019.

Efetividade do uso do plasma rico em plaquetas no tratamento de feridas agudas ou crônicas

Dermatopolimiosite juvenil: relato de caso Juvenile Dermatopolymyositis: case report

PSORÍASE PALESTRANTE: DR LUIZ ALBERTO BOMJARDIM PORTO MÉDICO DERMATOLOGISTA CRM-MG / RQE Nº 37982

Desenhos de estudos científicos. Heitor Carvalho Gomes

Ampliação de uso do naproxeno para osteoartrite de joelho e quadril

BENEFIT e CHAGASICS TRIAL

04/03/2008. Identificar o desenho do estudo. Opinião de especialista Exemplo: Revisão Narrativa. Identificando Principais Tipos de Estudos

PIROXICAM. Anti-Inflamatório, Analgésico e Antipirético. Descrição

A análise da evidência para esta diretriz se baseia em dois processos. detalhados de revisão anteriores. O primeiro foi a conferência de consenso dos

Vasculite sistémica primária juvenil rara

PESQUISA CLÍNICA (PESQUISA EM SERES HUMANOS) CNS/Res 196/1996

Tratamento da. o á e

História Natural das Doenças

Revisão Sistemática e Metaanálise. Aula

medicamentos para uso na prática

Data: 18/06/2013. NTRR 100/2013 a. Medicamento x Material Procedimento Cobertura. Solicitante: Juiza de Direito Dra. Herilene de Oliveira Andrade

Ponteira de Radiofrequência para hemostasia em Artroscopias

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

Etanercepte para o tratamento da espondilite anquilosante: revisão sistemática e metanálise

Questão clínica: Tratamento/prevenção. Estudos de intervenção (experimentais) Ensaios clínicos randomizados Aula 1

Avaliação Científica das Alegações

I Data: 14/01/2005. II Grupo de Estudo:

Conceito de evidência e Busca bibliográfica. 1º semestre de

Stent coronariano híbrido revestido com sirolimus ORSIRO

Tratamento Não Invasivo para dor lombar aguda, subaguda e crônica na. prática clínica

PORTARIA Nº 1.692, DE 22 DE NOVEMBRO DE Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Dermatomiosite e Polimiosite.

Os recursos serão sempre limitados e

PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DERMATOMIOSITE E POLIMIOSITE Diário Oficial da União Nº 77 - Seção 1, 26 de abril de 2010

Análise Crítica de Diretrizes para PTI

A AMAMENTAÇÃO COMO FATOR DE PROTEÇÃO DO CÂNCER DE MAMA. Evidências em Saúde Pública HSM 0122 Novembro/2015

Ensaios clínicos. Definições. Estudos de intervenção. Conceitos e desenhos

Fisiopatogenia da bronquectasias

Tipos de Estudos Clínicos: Classificação da Epidemiologia. Profa. Dra. Maria Meimei Brevidelli

Parecer do Grupo Técnico de Auditoria em Saúde 023/05 Tema: Parafuso de interferência bioabsorvível GTAS

Porto Alegre/RS

Estudo Compara Efeitos da Morfina Oral e do Ibuprofeno no Manejo da Dor Pós- Operatória

ENSAIOS CLÍNICOS CLÍNICO CLÍNICOS. Introdução. Definições

Visão geral do estudo e lições aprendidas

Avaliar a acurácia da termometria cutânea como método propedêutico.

aula 6: quantificação de eventos em saúde

Curativo com pressão negativa no tratamento de feridas (VACUUM ASSISTED WOUND CLOSURE VAC)

Epidemiologia Analítica. AULA 1 1º semestre de 2016

Cirurgia da cabeça e pescoço, Terapia Intensiva, Cirurgia torácica.

Delineamentos de estudos. FACIMED Investigação científica II 5º período Professora Gracian Li Pereira

O Brasil é considerado o segundo país do mundo em número de cirurgias. As mulheres representam 76% dos pacientes.

Uso de Estimulação Neurológica Transcutânea (tens) no Tratamento da Dor Lombar Crônica

FORMULÁRIO DE APRESENTAÇÃO DE ENSAIO CLÍNICO (FAEC) Versão 3 CNPJ. País

TERAPIA IMUNOPROFILÁTICA COM PALIVIZUMABE

Instituição baseada em Evidências

Hidroxizina é Nova Potencial Opção Terapêutica para Tratamento do Bruxismo do Sono Infantil. Segurança e Eficácia Comprovadas em

Ministério da Saúde Secretaria de Atenção à Saúde PORTARIA Nº 206, DE 23 DE ABRIL DE 2010

Debates prós e contras

Dermatomiosite juvenil (DMJ)

10/04/2012 ETAPAS NO DELINEAMENTO DO ESTUDO EXPERIMENTAL:

Prémio Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa MSD em Epidemiologia Clínica

Transcrição:

Parecer do Grupo Técnico de Auditoria em Saúde 013/06 Tema: Imunoglobulinas em Dermatomiosite e polimiosite

I Data: 02/05/2006 II Grupo de Estudo: Dra. Silvana Márcia Bruschi Kelles Dra. Lélia Maria de Almeida Carvalho Dra. Célia Maria da Silva Dr. Lucas Barbosa Silva Bibliotecária Mariza Cristina Torres Talim III Tema: Imunoglobulinas em dermatomiosite e polimiosite IV Especialidade(s) envolvida(s): Hematologia, Infectologia, Clínica Médica, Neurologia, Reumatologia. V Questão Clínica / Mérito: Avaliar as indicações terapêuticas das imunoglobulinas em dermatomiosites e polimiosites. Avaliar o custo-efetividade do tratamento com imunoglobulina. VI Enfoque: Tratamento VII Introdução: As miopatias inflamatórias idiopáticas são doenças crônicas com mortalidade e morbidade significativas apesar do tratamento

com corticóides. São doenças nas quais a inflamação muscular ocorre sem causa infecciosa reconhecida resultando em dermatomiosite ou polimiosite. Aceita-se que sejam produzidas por processo auto-imune. A dermatomiosite pode estar associada a alterações na pele e a disfunção gastrointestinal, cardíaca e pulmonar enquanto a poliomiosite pode apresentar acometimento pulmonar em alguns casos. A prevalência é de 11 para 100.000 habitantes. Os corticóides são o tratamento de escolha. São utilizadas posologias tanto com altas como baixas doses. Alguns pacientes necessitam de altas doses de corticóides, por longo período e sérios efeitos colaterais, e alguns são refratários ao tratamento com esteróides. Daí a necessidade, algumas vezes, de associação ou substituição do tratamento com corticóides por outros tanto para melhorar a resposta como para diminuir os efeitos adversos das altas doses de corticóides. Agentes imunossupressores, especialmente azatioprina, metotrexate e ciclosporina são utilizados como terapia de segunda linha em pacientes refratários ao tratamento com corticóides. Podem também ser utilizados como adjuvantes na tentativa de diminuir a dose de corticóides necessária ao controle da doença. Uma outra abordagem possível é a utilização de imunomoduladores, como interferon, imunoglobulina e plasmaaférese. Apesar do uso desses agentes o tratamento ideal permanece desconhecido.

VIII Metodologia: 1. Bases de dados pesquisadas Lista Bireme Lilacs /OPAS/OMS,The Cochrane Library, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 2. Palavras-chave utilizadas Immunoglobulins, Immunotherapy, Immunoprophylaxis, Gamma Globulin, myositis, dermatomyositis. 3. Desenhos dos estudos Artigos de revisão, Estudos prospectivos randomizados, duplo cegos, comparando a utilização da imunoglobulina e outras terapias utilizadas para cada doença analisada. Grau de recomendação (A) e nível de evidência (1 A) 4. População incluída e excluída Pacientes com dermatomiosite e polimiosite. 5. Resultados Revisão sistemática e dois ensaios clínicos. IX Revisão Bibliográfica: O tratamento de primeira linha para as dermatomiosites é o corticóide em baixas ou altas doses. Alguns pacientes vão

necessitar de tratamento prolongado com altas doses de corticóides para controlar a doença, em outros, a doença pode ser refratária a qualquer tratamento com esteróides. Alguns pacientes podem ter o tratamento com corticosteróides suspenso devido a seus efeitos colaterais. A morbidade e mortalidade das miosites permanecem altas apesar do tratamento com corticóides. Por isso, muitas vezes, é necessária a associação de outras drogas para melhorar a resposta ao tratamento com corticóides e diminuir seus efeitos colaterais. Agentes imunossupressores como azatioprina, metotrexate e ciclosporina são utilizados em doenças auto-imunes e doenças inflamatórias crônicas, como terapia de segunda linha para pacientes refratários ao tratamento com esteróides ou como adjuvantes no tratamento com corticóides. Essa estratégia permite a redução da dose do esteróide e do risco das complicações advindas de seu uso prolongado. O tratamento ideal, entretanto, ainda não foi identificado. Uma alternativa para conseguir melhores resultados no tratamento da dermatomiosite é o uso de imunomoduladores. Nesse grupo estão incluídos interferon, imunoglobulina intravenosa e plasmaférese, todos com efeitos benéficos nas doenças autoimunes. O pequeno número de ensaios clínicos randomizados com o uso de imunossupressores e imunomoduladores dificulta a avaliação de seu benefício no tratamento da dermatomiosite e polimiosite.

Artigo de revisão da Colaboração Cochrane incluiu trabalhos randomizados ou quase randomizados com pacientes com dermatomiosite ou polimiosite definida ou provável, segundo os critérios de Bohan e Peter ou pelos critérios de Dalakas. Todos os tratamentos com corticóides, azatioprina, metotrexate, ciclosporina, clorambucil, ciclofosfamida, imunuglobulina intravenosa, interferon e plasma-aférese foram avaliados. O desfecho primário analisado foi a força muscular após, pelo menos, seis meses do tratamento. Outros desfechos foram a mudança no grau de incapacidade, tempo de remissões, número de pacientes em remissão, dose cumulativa de corticóides e seus efeitos adversos graves. Foram identificados sete ensaios randomizados e controlados. Três estudos compararam imunossupressores com placebo, um comparou um imunossupressor (metotrexate) com outro (azatioprina), outro estudo comparou ciclosporina com metotrexate e outro comparou imunoglobulina intravenosa com placebo e concluiu que a imunoglobulina é superior. Dois estudos avaliaram plasma-aférese, leuco-aférese e azatioprina com resultados negativos. Um quarto estudo comparando azatioprina com metotrexate mostrou que ambos têm a mesma efetividade, mas o metotrexate tem menos efeitos colaterais. Um estudo comparou ciclosporina com metotrexate e estudo comparou metotrexate intramuscular e oral mais azatioprina, sem que fosse evidenciada qualquer diferença estatisticamente significativa entre os grupos tratados. Os imunossupressores estão associados com efeitos colaterais importantes.

Os revisores concluem que faltam trabalhos de boa qualidade, randomizados e controlados, para avaliar a eficácia e toxicidade dos imunossupressores em miosites inflamatórias. O fato de não existir boa evidência, entretanto, não significa que não exista evidência. Por serem doenças raras, a formatação de estudos randomizados e controlados é muito prejudicada. Os trabalhos são insuficientes para decidir se esses agentes são benéficos no tratamento da dermatomiosite e polimiosite. O pequeno número de ensaios clínicos randomizados avaliando imunossupressores e imunomoduladores tornam difícil a comprovação de seu benefício no tratamento da dermatomiosite e polimiosite. Somente um pequeno ensaio clínico randomizado sugere que a imunoglobulina intravenosa pode seja benéfica na dermatomiosite.(1) Como segunda linha, a imunoglobulina está indicada na dose de 2g/kg, uma vez ao mês, durante 3 meses, em dermatomiosite, stiffperson síndrome, miastenia gravis, Síndrome miastênica Lambert- Eaton.(2,3) X Análise de Impacto Financeiro: Custo de imunoglobulinas: Imunoglobulina 500 mg R$ 121,97 Imunoglobulina 2,5 g R$ 579,40 Imunoglobulina 5g R$ 1135,29 Imunoglobulina 10 g R$ 1945,97

XI Parecer do GTAS A indicação do uso de imunoglobulinas no tratamento das dermatomiosites não tem forte respaldo na literatura. Entretanto, considerando que alguns pacientes não poderão utilizar altas doses de corticóides, ou por refratariedade ou por não tolerarem seus efeitos colaterais, essa é uma escolha aceitável, embora mais trabalhos sejam necessários para comprovar, de forma definitiva seu benefício. XII Referências Bibliográficas: Choy E H S, Hoogendijk JE, Lecky B, Winer J B. Immunosuppressant and immunomodulatory treatment for dermatomyositis and polymyositis (Cochrane Review) In: The Cochrane Library, Issue 1, 2006. Oxford. Dalakas M C. Intravenous immunoglobulin in autoimmune neuromuscular diseases. Comment in. JAMA, 2004, 291(19): 2367-75. Dalakas M C, Illa I, Dambrosia JM, Soueidan S A, Stein D P, Otero C et al. A controlled trial of high-dose intravenous immune globulin infusions as treatment for dermatomyositis. New England Journal of Medicine 1993; 329(27): 1993-2000.