Os Custos da Inflação. Os custos da inflação TEORIA MACROECONÔMICA II [A] 3/3/2009 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 1

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Transcrição:

Os Custos da Inflação Prof. Giácomo Balbinotto Neto UFRGS Os custos da inflação - Shoeleather costs [custos de sola de sapatos]; - Menu Costs; - Aumento da variabilidade dos preços relativos; - mudanças não desejadas nas obrigações fiscais; - Confusão e inconveniência; - arbitrariedade na distribuição de renda. 2 os custos de menu - durante o período inflacionário, é necessário atualizar as listas de preço e outros preços fixados por meio de listas; Isto constitui-se num processo de consome recursos de outras atividades produtivas 3 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 1

Os Custos da Inflação: Shoeleather Costs " Shoeleather Costs são custos que surgem devido ao aumento na incerteza econômica durante o processo inflacionários. Isto ococre através de um aumento na velocidade de circulação da moeda, visto que as pessoas buscam evitar sofrer perdas do valor da moeda. Quando inflação for elevada, a busca por informações torna-se um négócio lucrativo, pois vale a pena comparar preços e gastar mais tempo [search] e recursos em procura antes de realizar uma compra. 4 Os Custos da Inflação: Shoeleather Costs Os custos Shoe-leather costs são custos referentes, também a maiores idas aos bancos decorrentes da preseça da inflação. Eles refletem um aumento no custo de oportunidade de se manter moeda [saldos reais de caixa]. 5 aumento da variabilidade dos preços relativos Durante os períodos inflacionários, há uma defasagem entre os aumentos de preços. Enquanto que alguns preços são constantes, outros estão subindo. Assim, torna-se mais díficil saber quais são os preços relativos relavantes para a tomada de decisão econômica, pois os preços se modificam de um modo irregular. 6 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 2

aumento nos impostos em termos reais Com a inflação, rendas não ajustadas são tratadas como ganhos reais. Consequentemente, com uma taxação progressiva, aumentos nas rendas nomimais são taxadas mais pesadamente. 7 aumento nos impostos em termos reais Quando a quantidade de moeda aumenta, o Banco Central aumenta seus lucros, pois a base monetária é utilizada para aquirir dívida pública, a qual paga uma taxa de juros positiva. Os lucros do Banco Central são transferidos para o governo que, assim obtém mais receita o chamado imposto inflacionário. 8 Senhoriagem e Inflação dm / dt dm / dt M S = = = σm P M P Imposto Inflacionário M dp / dt d ( M / P) 1 dm M dp / dt = P P dt P dt P P Quando d( M / P) = 0 senhoriagem será igual ao imposto dt inflacionário 1 dm P dt = M dp P P 9 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 3

Usando a demanda de moeda como m chegamos: Em equilíbrio estacionário: A condição de maximização é:: e ασ Max ασe S = σ m ασ π = σ Logo: = 0 1 ασ = 0 S = σ e ασ A elasticidade da demanda de moeda em relação a inflação: dπ / dt dm / m dm / m = α = απ = ασ π dπ / π * S = σ e απ A condição de máximo corresponde a condição de lucro máximo de Monopólio e o imposto inflacionário que maximiza a senhoriagem é aquele em que a elasticidade da base em relação ao imposto é -1 10 11 confusão e inconveniência Com a inflação, é necessário fazer-se correções constantes a fim de comparar as rendas reais, custos e lucros ao longo do tempo. O tempo gasto na realização de tais ajustamentos poderia ser utilizado para a produção de bens e serviços. 12 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 4

distribuição arbitrária da riqueza Com uma inflação não antecipada ou incorretamente antecipada, a riqueza é distribuida entre os devedores líquidos e credores. Isto pode resultar em transferências de renda que não seriam, de outro modo, aceitáveis. 13 distribuição arbitrária da riqueza Quando um país enfrenta uma inflação como a existente no Brasil [na década de 1960], o principal determinante das taxas nominais de juros passa a ser o ritmo esperado da taxa da alta geral de preços. As previsões quanto a taxa de inflação, todavia, são inevitavelmente precárias e arriscadas, sobretudo quando se estendem a prazos não muito curtos. Esse problema conduz à redução dos prazos de operação do mercado de crédito, criando impasse de difícil solução para as operações de longo prazo. [cf. Simonsen (1970, p.135-136)] 14 a instabilidade e a desordem salarial Segundo Simonsen (1970) a inflação provoca uma instabilidade nos salários reais, visto que eles se tornam oscilantes pela conjugação de altas de preços contínuas com revisões intermitentes das remunerações nominais. Some-se a isto o fato de que as hierarquias de remuneração são distorcidas pelo processo inflacionário. 15 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 5

Os Custos da Inflação Quais os reais custos da inflação? Os custos da inflação dependem do nível de sua taxa e de sua previsibilidade; Quanto maior a taxa de inflação, maior será o custo, e quanto mais imprevisível a taxa, maior será o custo. 16 Estabilização aumenta a eficiência econômica Capital real D C E Razão da distorção de preços Distorção da inflação F Razão de preços não distorcidos Equilíbrio inicial G Produto em t1 O H 45 A B Produto em to Capital financeiro 17 Efeitos sobre o crescimento econômico per capita de um aumento da inflação de 5% para 50% ao ano. Autores Número de países Período Tipo de dado Efeito sobre o crescimento (%) Heitger (1985) 115 1950-80 Panel data -0,9 a -4,5 Barro (1990) 117 1960-1985 Cross section insignificante e fraca Fischer (1991) 73 1970-1985 cross section -2,1 Grimes (1991) 21 1960-19871987 panel data -5,0 Roubini e Sala-i-Martin 98 1960-1985 Cross section -2,2 (1992) Montley (1994) 78 1960-1990 Cross section -1,3 a -4,5 Sarel (1996) 87 1970-1990 Panel data -5,8 Taylor (1996) EUA 1952-1993 Times series -11,2 Gylfason (1999) 105 1985-1994 Cross section -2,3 Rousseau e Wachtel (2001) 84 1960-1995 Panel data -0,14 18 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 6

Autores Efeitos sobre o crescimento econômico per capita de um aumento da inflação de 5% para 50% ao ano. Número de países Período Tipo de dado Efeito sobre o crescimento (%) Fischer (1991) 73 1970-85 Cross-section -2,1 Gylfason (1991) 37 1980-85 Cross-section -2,0 Roubini & Sala-i-Matin (1992) 98 1960-1985 Cross-section -2,2 De Gregorio (1993) 12 1950-1985 Cross-section -0,7 Fisher (1993) 80 1960-89 Cross-section -1,8 Barro (1995) 100 1960-92 Cross-section -1,0-1,5 Gylfason & Herbertsson (1996) 145-170 1960-92 Panel data -0,6 ; 1,3 Barro (1997) 80-87 1960-90 Panel data 1,3-1,81,2 Bruno & Easterly (1998) 97 1961-92 Panel data -1,2 Gylfason (1991) 160 1985-94 Cross-section -2,4 Gylfason (2001) 170 1960-92 Panel data -0,6 a -1,3 19 Mais inflação e menos crescimento? 95 (USD) GNP per capita in 199 100000 10000 1000 100 Austria Spain Burundi Barbados Mexico Ecuador Zambia Latvia Sierra Leone Israel Uruguay Argentina Brazil 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Inflation distortion 1970-1995 Nicaragua 20 Finalizando... Por certo a estabilidade de preços não é condição suficiente para que um país cresça. Mas a teoria e o bom senso também deixam claro que a inflação dificilmente será ingrediente de uma trajetória ótima de desenvolvimento. O processo inflacionário, afinal, resulta apenas da tentativa de se implantar um conjunto de aspirações incompatíveis da sociedade, do desejo de dividir o bolo em fatias de soma superior ao todo. E a revolta contra a aritmética jamais constituiu arma eficiente para a construção do progresso de qualquer país. Mário Henrique Simonsen (1970) 21 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 7

Sites Recomendados http://www.rep.org.br/pdf/55-9.pdf - imposto inflacionário no Brasil 22 PROF. GIACOMO BALBINOTTO NETO 8