TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA: DESAFIOS À EDUCAÇÃO

Documentos relacionados
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO CAMPO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA: DESAFIOS À EDUCAÇÃO

DEGRADAÇÃO DO TRABALHO NO CAMPO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

Trabalho e Educação 68 horas. Universidade Estadual de Ponta Grossa Curso de Pedagogia 4º ano Professora Gisele Masson

O CARACOL E SUA CONCHA: ENSAIOS SOBRE A NOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO

Fiscal Sociologia do Trabalho Material de Apoio 2 Haroldo Guimarães Copyright. Curso Agora Eu Passo - Todos os direitos reservados ao autor.

1 O documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva considera

Agronegócio é uma palavra nova, da década de 1990, e é também uma construção ideológica para tentar mudar a imagem latifundista da agricultura

PLANO DE ENSINO ETIM DADOS DA DISCIPLINA

APONTAMENTOS PARA O ENTENDIMENTO DA HEGEMONIA DO CONCEITO DE AGRICULTURA FAMILIAR NO CONTEXTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO

GRUPO DE TRABALHO- GT 21 / SINDICATO E AÇÕE COLETIVAS (COORD. José Ricardo Ramalho /UFRJ e Marco Aurélio Santana/UNIRIO)

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

Carga Horária Créditos Curso Atendido Pré-Requisitos Teórica Prática - - ENGENHARIA. NÃO REQUER Total ELÉTRICA

AS NOVAS FACES DO SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS DO SÉCULO XXI: MUDANÇAS NAS FORMAS DE CONTRATAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E REQUISIÇÕES PROFISSIONAIS.

Eixo Temático: Temas Transversais

Ricardo Antunes Giovanni Alves(1999, 2004) Lúcia Bruno (1996) Frigotto (2001) Sujeitos da EJA/Goiânia-GO (2008)

Reestruturação Produtiva no setor de fumo: Uma análise sobre o PRONAF na agricultura familiar do fumo e um estudo de caso em Santa Cruz do Sul RS

EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM CRÍTICA

PROGRAMA DE DISCIPLINA. Carga Horária Créditos Curso(s) Atendido(s) Pré-Requisitos Teórica 60 04

MATERIALISMO HISTÓRICO (Marx e Engels)

Gislane Barbosa Fernandes 1 Thais Chaves Freires 2 Suzane Tosta Souza 3 INTRODUÇÃO

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO FEMININO NA MODERNIZAÇÃO DO SUDESTE GOIANO: O CASO DE TRABALHADORAS CATALANAS.

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DO PROFESSOR DE EDUCAÇAO FÍSICA: NECESSIDADES PARA ALÉM DA SOCIEDADE DO CAPITAL

Homem Trabalho Processo de Hominização. Transformação da Natureza. Produz. Produz o próprio homem

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE ENSINO CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL ANEXO I.

1 Introdução 1.1. Problema de pesquisa

Abordagem Sobre o Agrário

O TRABALHO NA DIALÉTICA MARXISTA: UMA PERSPECTIVA ONTOLÓGICA.

AS NOVAS FACES DO CAPITALISMO NO SÉCULO XXI E O MOVIMENTO SINDICAL NO BRASIL

A NECESSIDADE DO ESTUDO DO MARXISMO E DA COMPREENSÃO DA SOCIEDADE

RELATO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE COMPARATIVA DA DISSERTAÇÃO MARX E FREIRE: A EXPLORAÇÃO E A OPRESSÃO NOS PROCESSOS DE FORMAÇÃO HUMANA. 1.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS/CAMPUS JATAÍ MESTRADO EM EDUCAÇÃO

REFLEXÕES SOBRE O DISCURSO DA AGRICULTURA FAMILIAR COMO FORMA DE IDEOLOGIA DOMINANTE. Aline Farias Fialho 1 José Rubens Mascarenhas de Almeida 2

III Curso de Introdução ao Marxismo

VIII Semana de Ciências Sociais EFLCH/UNIFESP PÁTRIA EDUCADORA? DIÁLOGOS ENTRE AS CIÊNCIAS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E O COMBATE ÀS OPRESSÕES

Work and workers in the Third Ring in the Metropolitan Region of Curitiba: partialization, low qualification and educational challenges

TRABALHO. Gaudêncio Frigotto

PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR E AS ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE (SP)

Leonardo Martins 1ª SÉRIE E.M. Geografia. Competência Objeto de aprendizagem Habilidade

LEMARX CURSO DE ECONOMIA POLÍTICA

João Genaro Finamor Neto UFRGS

Jeferson Oliveira Gomes 1 Lidiane Sousa Trindade 2 Aline Farias Fialho 3

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS/CAMPUS JATAÍ MESTRADO EM EDUCAÇÃO

Participação dos Empregados por faixa etária e sexo em Josenópolis - MG

Teorias socialistas. Capítulo 26. Socialismo aparece como uma reação às péssimas condições dos trabalhadores SOCIALISMO UTÓPICO ROBERT OWEN

RELAÇÕES ENTRE EJA E O MUNDO DO TRABALHO

editorial Cadernos de Pesquisa: Pensamento educacional, Curitiba, número especial, P.11-16, 2016.

COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS NO PERÍODO ENTRE 2010 E 2015.

MERCADO DE TRABALHO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A sociologia de Marx. A sociologia de Marx Monitor: Pedro Ribeiro 24/05/2014. Material de apoio para Monitoria

A DINÂMICA DO TRABALHO INFORMAL NAS RUAS DE CAMPINA GRANDE Pb 1

Exercícios Revolução Verde

Teoria de Karl Marx ( )

A CRISE DO CAPITAL E A PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO

Desenvolvimento e Sindicalismo Rural no Brasl

e-issn Vol 8 Nº ª edição

O TRABALHO E AS RELAÇÕES COM A CONSTRUÇÃO DO SER SOCIAL

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Modo de produção capitalista

Teoria da História. Prof. Dr. Celso Ramos Figueiredo Filho

OLÍTICAS PÚBLICAS INCLUSIVAS, FORMAÇÃO DOCENTE E EDUCAÇÃO INFANTIL: NA REDE MUNICIPAL DE MARINGÁ

XVII Fórum Presença ANAMT 2018

ESPAÇO RURAL E MODERNIZAÇÃO DO CAMPO

BRASIL: CAMPO E CIDADE

Mercado de Trabalho Brasileiro: evolução recente e desafios

Sandro Silva Economista do Dieese-PR. Curitiba-PR 22/05/2013

Precarização do trabalho feminino: a realidade das mulheres no mundo do trabalho

RESENHA. ANTUNES, Ricardo. O Continente do Labor. São Paulo: Boitempo, pp..

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

ASSISTENTE SOCIAL E SUAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

TRABALHO E PRECARIZAÇÃO NUMA ORDEM NEOLIBERAL.

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA RESUMO

O desmonte de direitos trabalhistas e sociais em tempo de neoliberalismo. José Dari Krein Cesit/IE/UNICAMP

Desenvolvimento Capitalista e Questão Social. Profa. Roseli Albuquerque

SAÚDE E TRABALHO IMPACTOS NAS CONDIÇÕES DOS ASSISTENTES SOCIAIS

Texto para discussão nº 19/2005 O EMPREGO E A RENDA COMO ALICERCES PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO

Ficha de catalogação de monografia de graduação

SITUANDO O TRABALHO DO PROFESSOR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES ECONÔMICAS DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

KARL MARX E A EDUCAÇÃO. Ana Amélia, Fernando, Letícia, Mauro, Vinícius Prof. Neusa Chaves Sociologia da Educação-2016/2

A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO CARIRI PARAIBANO: INTERFACES DO PROJETO UNICAMPO E DA POLÍTICA TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO 1

I. Teorias da Transição do Feudalismo para o Capitalismo 1. O que é capitalismo? Tendência humana e natural à troca Economia neoclássica Economia mone

Trabalho e socialismo Trabalho vivo e trabalho objetivado. Para esclarecer uma confusão de conceito que teve consequências trágicas.

UMA ANÁLISE DA PRECARIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E LUTAS SOCIAIS NA PRODUÇÃO DE SOJA NUM CONTEXTO DE CRISE DO SOCIOMETABOLISMO

O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO NO MEIO RURAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA O CAMPESINATO[1]

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA

1.4 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICO-FILOSÓFICOS E A NOVA PAUTA HERMENTÊNTICA DO DIREITO DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO. A

TRABALHO ASSALARIADO NA AGRICULTURA NORDESTINA NO PERÍODO

MUNDO DO TRABALHO E PROCESSO SAÚDE-DOENÇA. Profª Maria Dionísia do Amaral Dias Deptº Saúde Pública Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E OS AGRAVOS À SAÚDE EM MATO GROSSO DO SUL INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO LONDON, J. Ao sul da fenda. In: LONDON, J. Contos. São Paulo: Expressão Popular, (p )

Palavras-chave: Projeto Político-Pedagógico. Escolas localizadas no campo. Trabalho coletivo.

Aula Ao Vivo(18/04/2013) - Geografia Agrária do Brasil

POSSIBILIDADES E LIMITES DA ESCOLA ITINERANTE CONTRIBUIR PARA A EMANCIPAÇÃO HUMANA: A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA ITINERANTE NO MST PARANÁ.

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Decanato Acadêmico

Marx e as Relações de Trabalho

Terceirização e cadeias produtivas: o caso do setor de confecções de Londrina-PR

AS TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO NA SOCIEDADE INFORMACIONAL

POLÍTICAS PÚBLICAS DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E A JUVENTUDE BRASILEIRA

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

ORELHA DE FRANCISCO DE OLIVEIRA PARA RIQUEZA E MISÉRIA DO TRABALHO NO BRASIL

Transcrição:

TRABALHO NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA: DESAFIOS À EDUCAÇÃO MARCOCCIA, Patrícia Correia de Paula Marcoccia UEPG pa.tyleo12@gmailcom PEREIRA, Maria de Fátima Rodrigues UTP maria.pereira@utp.br RESUMO: Introdução O objetivo do texto é apresentar estudo da morfologia do trabalho no campo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), com ênfase no Terceiro Anel e estabelecer relação com os desafios que se colocam à Educação. Utilizou-se documentos disponíveis publicamente no Sistema Público de Emprego e Renda (ISPER), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). Orienta-se pela teoria social e abordagem marxista do conhecimento. Discussão Teórica O trabalho é relação social que se trava historicamente entre os homens, para a produção da existência. Para trabalharem os homens necessitam educarem-se e ao trabalharem se educam. Nesse sentido, o trabalho e a educação são duas práticas sociais que constituem o ser humano, por isso são ontológicas e históricas. Esse fundamento se ampara nas teses da Teoria Social e do conhecimento de Marx e Engels. O debate no interior do marxismo tem como centralidade o modo de produção da existência e, a educação nesta perspectiva, passa a ser pensada no movimento real, concreto, principalmente numa outra forma de produzir a vida, tendo em vista os processos de expropriação dos trabalhadores pelo capital. As modificações no processo produtivo a partir da década de 1970 geraram uma ampla reestruturação produtiva: o trabalho passou a ser flexibilizado, impactando a vida dos trabalhadores, com múltiplas formas de 1

precarização, terceirização, intensificação da exploração dos trabalhadores, contando para tal com mudanças tecnológicas que aceleraram as comunicações e intensificaram as cadeias de produção de mercadorias. Este processo afetou e continua afetando profundamente a vida dos trabalhadores, os quais estão sob formas mais diversas de exploração do trabalho, anulação de direitos e expropriação da vida humana. As marcas do capital estão presentes sobremaneira no campo, mas também na cidade, enquanto no urbano o capital avança sob o discurso do desenvolvimento, de outro lado, produz o desemprego e a miséria, no campo, o capital trabalha sob a mesma lógica, se apropriando das terras da agricultura de larga escala, com alta tecnologia, para atender o setor de commodities, e com isso, expropria o trabalhador de sua terra e do seu trabalho, produzindo a miserabilidade deste trabalhador. Outra forma de subordinação é incorporar o trabalhador familiar ao grande capital, o qual tem o controle do conhecimento técnico e se utiliza da terra e da força de trabalho dele. A agricultura familiar é parte do agronegócio, do projeto de desenvolvimento para o campo no sistema capitalista, inviabilizando outras formas de organização do trabalho no campo, pois os trabalhadores familiares que não se associarem a esse processo estarão sob formas primitivas do capitalismo, sob relações de trocas de produtos e a subsistência. Nesse cenário, apresenta-se a situação do trabalhador, as relações de trabalho que estão postas nos municípios da RMC, com ênfase no Terceiro Anel que são os municípios considerados rurais. Nas últimas décadas, apesar de tantas teses sobre o fim do trabalho como prática ontológica do homem que lhe possibilita criar valores de uso e troca, afirmam-se estudos que caracterizam também o trabalho como criador de valor e seus sentidos (ANTUNES, 2011). Além disso, sua complexa divisão, ao mesmo tempo simplificação, desqualificação, parcialidade, intensidade, precarização do trabalhador por conta da perda dos seus meios de produção e da relação exploratória que preside a essa prática social e decorrências na formação da sua subjetividade e na maneira de conhecer a realidade. Antunes (2011) aponta que há uma nova morfologia da classe trabalhadora, que se expressa de forma heterogênea, polissêmica e multifacetada, sob diversos processos de fragmentação, que são intensificados para atender os interesses do capital internacional. Considerações Finais Os fundamentos apontados possibilitam apontar, à guisa de considerações finais, que: 1. Essa nova morfologia do trabalho mencionada está presente na RMC, sob diversas formas de trabalho precário, terceirizado, parcelado, principalmente no setor de serviços, os quais assumem funções simplificadas que impõem controle rígido; 2. Entretanto, a classe trabalhadora na RMC 2

não se restringe aos trabalhadores que vendem a sua força de trabalho, há os trabalhadores familiares, cujo trabalho e seus frutos contribuem com o grande capital (que não se utilizam de um controle rígido e, há aqueles que não conseguiram permanecer no campo e foram expropriados da sua terra e do seu trabalho, isto sobra); 3. A empiria deste estudo revela que os municípios mais afastados dos centros urbanos possuem baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), a maioria apresentou um nível alto de desigualdade e um índice baixo quanto à conclusão do Ensino Médio aos 17 anos; 4. Quanto às formas de trabalho no campo, na RMC, no Terceiro Anel, há predomínio do trabalho temporário, por outro lado, nesta Região, concentra-se o maior número de trabalhadores familiares. Entretanto, nos últimos anos houve redução destes trabalhadores. A realidade deste trabalhador familiar no Terceiro Anel revela os mecanismos utilizados pelo capital para degradar o trabalho na agricultura familiar, a saber: a) os membros da família não se dedicam totalmente a produção, a predominância conforme aponta a empiria deste estudo é de 2 a 3 membros da família. Esse dado revela que o trabalho com agricultura familiar não está garantindo as condições para manter a produção da vida de toda a família e/ou essa produção é para o consumo próprio (ZANCHET, 2008); b) a maioria dos produtores familiares e não familiares não estão associados a cooperativas e/ou entidades de classe, representando uma individualização do trabalho ou um sindicalismo que está submetido aos interesses do capital (ANTUNES, 2008); 5. As entidades sindicais na RMC são subsidiadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) que é mantido por entidades patronais; 6. O nível de instrução predominante entre os produtores familiares e não familiares e pessoas de 10 anos e mais ocupadas em atividades agrícolas é o Ensino Fundamental Incompleto. Esse dado elucida que no campo o acesso ao conhecimento e à escola pública de qualidade foram negados, sistematicamente com mais agudeza que na cidade, aos trabalhadores do campo; 7. Embora as condições do trabalhador assalariado (permanente e temporário) e familiar sejam predominantemente de degradação e intensificação, considera-se que o trabalho e a educação por serem práticas sociais podem ser modificadas, no sentido de superação da existência. Nesse sentido, a partir dos dados apontados na morfologia do trabalho no Terceiro Anel, são apontados os desafios que se colocam à Educação: a) incorporar com radicalidade posicionamentos de transformações nas relações de produção frente à degradação do trabalho no campo; relacionar a produção da vida ao debate da educação, ou seja, relação entre trabalho e educação; b) perseguir a luta para o acesso, ampliação e permanência da escolarização em todos os níveis de ensino; c) luta pela manutenção das escolas localizadas no campo; luta por um projeto emancipatório; d) articulação com os movimentos sociais de trabalhadores rurais, especialmente o MST; e) 3

fortalecimento das relações entre a universidade, as escolas localizadas no campo e as entidades sindicais; f) construir uma visão ampla de concepção de educação no sentido de que não se limita aos espaços escolares; g) democratização do conhecimento historicamente acumulado e sistematizado; h) organização do trabalho didático sobre outras bases e a defesa de uma escola pública de qualidade. Os dados apresentados revelam que a situação dos trabalhadores do campo é de degradação, porque o capital expropriou os meios de produzir a existência desses trabalhadores de tal forma que só tem acesso apenas ao necessário para garantir a sua sobrevivência e se manter enquanto força de trabalho assalariada. Ora, a degradação do trabalho que se apresenta na RMC, no Terceiro Anel, se expressa também em outras regiões rurais e nas cidades, enquanto expressão do trabalho precário, do assalariamento e do desemprego. Se as relações de trabalho no campo têm degradado a vida dos trabalhadores rurais na RMC e, a educação historicamente ofertada a eles foi mais escassa e incipiente, revelando ausência de escola pública e de um conhecimento que possibilite estabelecer relações com o processo de trabalho que estão vivendo, isto revela que estes trabalhadores estão numa condição mais acirrada de exploração, opressão e alienação. Nesse sentido, considera-se fundamental o debate dos desafios que se colocam à educação do trabalhador do campo no Terceiro Anel na RMC. Pois, entende-se que esses desafios emergiram da relação entre a morfologia do trabalho e a educação. Ao estabelecer esta relação caminha-se em direção à perspectiva de romper com vertentes teóricas que mascaram e fragmentam a relação ontológica e histórica entre trabalho e educação, bem como situar a necessidade de se posicionar com radicalidade sobre a produção da existência dos trabalhadores do campo e ao mesmo tempo pensar alternativas contrahegemônicas à ordem existente, junto a isso, articular educação escolar escola pública de qualidade e os processos educativos nos movimentos sociais de trabalhadores rurais, cuja finalidade seja o trabalho de produtores associados com os conhecimentos sistematizados na relação com a produção da vida. Palavras chave: trabalho; educação; escola pública. REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo LuisColtro. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2008. ANTUNES, Ricardo LuisColtro. O continente do labor. São Paulo: Boitempo, 2011. 4

ZANCHET, Maria Salete. Características das ocupações na agropecuária paranaense. Primeira Versão. nº 7, IPARDES, Curitiba, p. 3-35, 2008. 5