LINGÜÍSTICA I. Rio de Janeiro / 2007 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LINGÜÍSTICA I Rio de Janeiro / 2007 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO Todos os direitos reservados à Universidade Castelo Branco - UCB Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por quaisquer meios - eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização da Universidade Castelo Branco - UCB. U n3p Universidade Castelo Branco. Lingüística I. Rio de Janeiro: UCB, 2007. 32 p. ISBN 978-85-86912-59-7 1. Ensino a Distância. I. Título. CDD 371.39 Universidade Castelo Branco - UCB Avenida Santa Cruz, 1.631 Rio de Janeiro - RJ 21710-250 Tel. (21) 2406-7700 Fax (21) 2401-9696 www.castelobranco.br

Responsáveis Pela Produção do Material Instrucional Coordenadora de Educação a Distância Prof.ª Ziléa Baptista Nespoli Coordenador do Curso de Graduação Antônio Carlos Siqueira de Andrade - Letras Conteudista Antônio Carlos Siqueira de Andrade Supervisor do Centro Editorial CEDI Supervisor do Centro Editorial CEDI Joselmo Botelho

Apresentação Prezado(a) Aluno(a): É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de graduação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, conseqüentemente, propiciando oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente esperam retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua. Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhecimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica. Seja bem-vindo(a)! Paulo Alcantara Gomes Reitor

Orientações para o Auto-Estudo O presente instrucional está dividido em duas unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam atingidos com êxito. Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades complementares. A Unidade 1 corresponde aos conteúdos que serão avaliados em A1. Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das duas unidades. Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o conteúdo de todas as Unidades Programáticas. A carga horária do material instrucional para o auto-estudo que você está recebendo agora, juntamente com os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso. Bons Estudos!

Dicas para o Auto-Estudo 1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo. 2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite interrupções. 3 - Não deixe para estudar na última hora. 4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor. 5 - Não pule etapas. 6 - Faça todas as tarefas propostas. 7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento da disciplina. 8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a auto-avaliação. 9 - Não hesite em começar de novo.

SUMÁRIO Quadro-síntese do conteúdo programático...11 Contextualização da disciplina...12 UNIDADE I ESTRUTURALISMO 1.1 - Antecedentes...13 1.2 - As dicotomias...14 1.3 - Significante x Significado...14 1.4 - Sintagma e paradigma...15 1.5 - Sincronia e diacronia...16 UNIDADE II GERATIVISMO 2.1 - As regras e a formação dos enunciados...19 2.2 - Os conceitos Competência e Desempenho...19 2.3 - Estrutura Profunda e Estrutura de Superfície...20 2.4 - A constituição da frase...20 Glossário...27 Gabarito...28 Referências bibliográficas...30

Quadro-síntese do conteúdo programático 11 UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS 1 ESTRUTURALISMO 1.1 - Antecedentes 1.2 - As dicotomias 1.3 - Significante X Significado 1.4 - Sintagma e paradigma 1.5 - Sincronia e diacronia Ilustrar o contexto em que surge o Estruturalismo; Apresentar as dicotomias que formam os princípios estabelecidos por Saussure; Abordar o método de análise do Estruturalismo; Avaliar o Estruturalismo como doutrina lingüística. II GERATIVISMO 2.1 - As regras e a formação dos enunciados 2.2 - Os conceitos Competência e Desempenho 2.3 - Estrutura Profunda e Estrutura de Superfície 2.4 - A constituição da frase Apresentar os princípios do Gerativismo; Definir as regras de geração de enunciados; Situar as duas estruturas da língua Profunda e de Superfície; Demonstrar os métodos de análise; Avaliar o Gerativismo como doutrina lingüística.

12 Contextualização da Disciplina O Estruturalismo foi o primeiro esforço, aliás coroado de êxito, no sentido de estudar a língua através de princípios científicos. Pode-se dizer que o Estruturalismo foi a base da Lingüística como ciência autônoma. Após um século do seu surgimento, o Estruturalismo ainda está presente na formulação dos estudos de sintaxe, morfologia e fonologia. O Gerativismo, por sua vez, contribuiu para tornar visível as possibilidades de gerar enunciados a partir de regras dominadas pelos falantes de uma língua. É uma doutrina que enfatiza a criatividade da língua, o que proporciona inúmeras ações no ensino-aprendizagem de línguas maternas e estrangeiras. Um dos principais objetivos de qualquer curso de Letras é formar profissionais que saibam lidar com os princípios descritivos da ciência da linguagem, seu funcionamento e sua aplicabilidade. Assim, o conteúdo que apresentamos aqui visa contribuir para que estes objetivos se tornem mais acessíveis.

UNIDADE I 13 ESTRUTURALISMO 1.1 - Antecedentes Para que se entenda os princípios do Estruturalismo, é necessário traçar um panorama do contexto histórico que o antecede. O século XIX experimentou grandes mudanças sociais, políticas e uma forma de ver o mundo totalmente nova. O Determinismo, por exemplo, responsável pela visão segundo a qual os fenômenos se ligam a outros que o precedem, como também aos que o sucedem, criando, assim, uma forma dinâmica de encarar os fatos, influenciou a maneira como os estudiosos da língua a concebiam. Em termos de estudos lingüísticos, o Comparativismo, que consistia em estudar as relações entre línguas próximas, geograficamente, como o Grego e o Latim, assim como comparar estas ao Sânscrito, língua dos hindus, na Índia, confirma tal postura, pois o método de estudo considerava as línguas comparadas num espaço de tempo bem distanciado, para que as semelhanças fossem descobertas e também o percurso de suas transformações. Isso criava uma perspectiva de movimento, dinamicidade, que mais tarde passou a ser chamada de diacronia. O método aplicava-se também às línguas modernas: espanhol, português, italiano, por exemplo. Ainda no século XIX, os neogramáticos se utilizaram dessa visão dinâmica de encarar os fenômenos lingüísticos, isto é, a evolução e a mutação (leis fonéticas). Na passagem do século XIX para o XX, uma nova postura ideológica passou a dominar a Europa o Positivismo, que imprime uma orientação cientificista ao pensamento filosófico. Em outras palavras, o modo de fazer ciência é importante em qualquer área do saber, incluindo aí o modo de se estudar a língua. A língua, para se enquadrar a essa nova realidade, ser um objeto concreto e observável através de técnicas de laboratório, utilizou-se de uma dicotomia: língua e fala (SENNA, 1991: 25). A língua apresenta as propriedades comuns a todos os falantes, mas não pode ser observada diretamente, a não ser através de sua manifestação concreta que é a fala. O Estruturalismo Há quase 30 anos (1979: 162), Robins, em seu livro Pequena história da lingüística, afirmava que a influência do pensamento de Saussure no século XX ainda não tinha sido superada. Podemos dizer que, no início do século XXI, as suas idéias ainda são fundamentais para se entender uma língua nos seus aspectos estruturais e funcionais. Ferdinand de Saussure era suíço, ensinava na Universidade de Genebra entre o final do século XIX e início do século XX, e suas idéias e concepções sobre a língua estão num livro clássico, fundamental para todo aluno de Letras ou estudioso da língua o Curso de Lingüística Geral, não escrito por ele, mas editado por Charles Bally e Albert Sechehaye, que utilizaram anotações de aulas de alguns alunos em cursos ministrados por ele entre 1907 e 1911. O livro aborda temas variados, contudo o que mais chama a atenção e o que contribui para fundar a corrente estruturalista são as dicotomias Pietroforte observa que o Curso de Lingüística Geral não traz o termo dicotomia, mas esclarece que deriva do Grego e quer dizer divisão em partes iguais. No livro, o termo se refere a um par de conceitos que se definem... um em relação ao outro, de modo que um só faz sentido em relação ao outro (SAUSSURE, 1972: 77-78).

14 1.2 - As Dicotomias Língua e Fala A primeira dicotomia, também mais importante para entender as demais, é a que opõe língua (langue) e fala (parole). No capítulo III Objeto da lingüística, Saussure (1972) pondera que o estudo da língua é diferente do estudo de outras Ciências porque sempre apresenta... duas faces que se correspondem e das quais uma não vale senão pela outra (p.15). Essa é a noção de sistema, fundamental para se entender os princípios do Estruturalismo - um elemento só tem um valor na medida em que se opõe aos demais elementos constituintes do sistema. Na tentativa de definir e estabelecer a diferença entre língua e fala (dicotomia), Saussure dá várias pistas, como: A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante ela é uma instituição atual e um produto do passado (p.16). Mais adiante, afirma que um indivíduo assimila a língua passivamente e não tem o poder de modificá-la. Já a fala é... um ato individual de vontade e inteligência... e o falante tem autonomia para escolher dentro dos recursos do código os elementos que vão compor um enunciado para a expressão do seu pensamento (p.22). Podemos esquematizar a dicotomia língua x fala: Língua x Fala Coletivo x Particular Social x Individual Sistemático x Assistemático Estrutura x Uso Registro Passivo x Autonomia de escolha 1.3 - Significante x Significado Para Saussure (1972 : 24), a língua... é um sistema de signos que exprimem idéias. Tais signos se decompõem em signifi cante e signifi cado. O signo lingüístico une um conceito a uma imagem acústica e não uma coisa a uma palavra. Signo é algo que representa um objeto, um conceito ou aquilo que está no lugar de algo. Para entender a importância crucial do signo lingüístico, imagine duas situações. A primeira, duas pessoas que falam línguas diferentes não vão se entender, se cada uma delas usar os signos de sua própria língua. A comunicação deveria ser, então, através de gestos, expressão facial, corporal. Isso prova que cada língua tem o seu próprio conjunto de signos e se eles são diferentes para se referirem aos mesmos fatos, idéias, objetos, é porque o grupo ou sociedade que os utiliza aceita o valor implícito de cada signo, o que os torna convencionais ou arbitrários, no dizer de Saussure. A segunda situação. Se cada vez que um falante ou usuário de uma língua, ao referir-se a um objeto ou conceito ou fato, tivesse que defini-lo, explicá-lo ou narrá-lo, a língua, como meio de comunicação, seria muito complexa e pouco eficiente. Imagine alguém que, ao referir-se ao objeto caneta, tivesse que explicar o que é, como é seu formato, para que serve ou então desenhá-lo. No caso de um conceito beleza ou elegância explicar o que é, fazer uso de pessoas, formas, ou algo que se possa comparar para depois concluir a explicação. No caso de um fato uma discussão de trânsito narrar o fato para que o ouvinte pudesse se situar em relação ao que seja uma discussão. A menção do signo caneta, beleza, discussão, que é compartilhado por todos os falantes de uma dada comunidade lingüística, substitui todo o trabalho de definir, explicar ou narrar. E a língua, com seu conjunto de signos, se torna um meio bem econômico de comunicação. O próprio signo abriga uma dicotomia signifi cante (imagem acústica) x signifi cado (conceito). O significante ou imagem acústica é a parte externa, concreta do signo, aquela que se percebe pela audição; o significado, a idéia, o conceito que o significante evoca. À primeira vista, essa colocação pode nos levar a entender a língua como recurso posterior de nomear as coisas já existentes: as coisas existem e as palavras vão nomear essas coisas. Quando Saussure se utiliza do exemplo da palavra nu para ilustrar que ela pode se associar à sua origem histórica (do latim nudum), como realização sonora ou

como expressão de uma idéia, quer dizer que a palavra é um princípio de classificação e não um recurso de nomear as coisas, pois afirma: Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista, diríamos que é o ponto de vista que cria o objeto (p.15). Então, a língua não é uma nomenclatura em que as palavras são uma lista de termos que nomeiam as coisas, mas uma forma de ver o mundo na sua materialidade. Significado, portanto, é uma idéia, um conceito que se forma e em seguida é expresso pelo significante, e não o contrário, isto é, o conceito (SDO) não se forma antes do significante (STE). Pietroforte (2005: 85), ao comentar essa relação, declara O que signifi ca são os signos em suas relações uns com os outros e não a relação entre as palavras e as coisas do mundo. E mais adiante: Se os signos significam dentro de um sistema lingüístico, esse sistema compreende uma visão de mundo, ou seja, um princípio de classificação que, projetando-se sobre as coisas do mundo, classifica-as de acordo com sua estrutura interna. Um conceito, ou seja, um significado, é uma idéia que modela um determinado modo de compreender as coisas. Esse conceito deve, necessariamente, estar relacionado a um meio de expressá-lo. Mais adiante...é a partir de uma língua que se vêem as coisas do mundo e não o contrário (p.86). Concluindo, o signo une um significante a um significado e não uma palavra a uma coisa. A visão de mundo particularizada de uma sociedade, um povo ou comunidade pode ser exemplificada a partir das seguintes situações e realidades. O carnaval e o futebol têm para nós brasileiros uma importância cultural muito acentuada. E nossa forma de ver o carnaval e o futebol se reflete nos termos mais numerosos e mais específicos de suas respectivas áreas. Termos como concentração, evolução, desfile, atravessar (o samba), destaque, adereços, quesitos, entre outros, provavelmente não existem com essa precisão em outras línguas. O futebol também apresenta um rico vocabulário para expressar seu universo, que seria ocioso apresentar aqui. A comparação entre uma comunidade que habita uma área segura de uma cidade e uma comunidade que sofre os efeitos da violência se revela nos termos, por exemplo, que designam armas de fogo. Na comunidade da área onde a violência não existe, bastam os termos revólver e fuzil para diferenciar dois tipos de arma; na outra comunidade, qualquer membro sabe enumerar os diversos tipos de revólver, os de fuzil, bem como os nomes dos fabricantes, calibre, tipo de munição etc. 15 1.4 - Sintagma e Paradigma As noções de sintagma e de paradigma consideram a língua sob duas perspectivas estruturais. As relações sintagmáticas dizem respeito à possibilidade de os elementos se combinarem para formar uma estrutura maior. E cada elemento, ao se opor aos elementos que o antecedem e aos que o sucedem, estabelece um valor dentro do sistema. Em termos fonológicos, um vocábulo é formado a partir da junção de fonemas em que cada um contrai uma relação com os outros. A substituição de um fonema na palavra /pena/, formada pelos fonemas /p/, /e/, /n/, /a/, altera toda relação entre seus constituintes. Ex.: /peso/ Nos processos de formação de palavras, a junção de um afixo a um radical cria também um sintagma: in + fiel = infiel; casa + eiro = caseiro. Podemos estender essas relações à estruturação de um sujeito + um predicado, que forma uma frase: Os atletas + obedeceram ao técnico ou um período: Os atletas obedeceram ao técnico + e treinaram até tarde. Como essa estrutura se forma seqüencialmente (termo após outro) ou linearmente, não há a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, temos a distribuição temporal dos termos presentes. E como todos eles se manifestam, dizemos que é uma estrutura em presença. As relações paradigmáticas (ou associativas) unem um termo presente a outros ausentes por associação. A relação entre casarão, presente na frase a seguir, demonstra que a associação se estabelece a partir de um sufixo rão; presente, com outros ausentes: - ebre, - inh + - ola; - inha.

16 Ele mora num(a) (casarão). (casebre). (casinhola). (casinha). No caso, os sufixos ausentes podem ocupar a posição do sufixo presente porque possuem a mesma função. É o caso também de substituirmos, na mesma frase, Ele por João, Pedro, Um homem, O rapaz: (PRESENTE) Ele mora num casarão. A U S E N T E S João Pedro Um homem O rapaz Ao selecionar Ele e não João, Pedro, Um homem, O rapaz, cria-se uma relação entre o elemento presente ele e os ausentes João, Pedro... Dizemos, então, que é uma relação paradigmática, pois os elementos que entram nessa relação pertencem a um modelo cujos componentes possuem a mesma função ou podem ocupar a mesma posição na formação, seja de uma palavra, uma expressão ou frase. Portanto, as relações sintagmáticas combinam elementos presentes que se distribuem numa seqüência temporal; as relações paradigmáticas associam o elemento presente a outros ausentes porque estes podem ocupar a mesma posição daquele que está presente (relação espacial). 1.5 - Sincronia e Diacronia Para que a língua fosse descrita como um sistema de componentes gramaticais, fonológicos e lexicais interrelacionados, era preciso separar ou explicitar duas perspectivas fundamentais e indispensáveis do estudo da linguagem a dimensão sincrônica e a dimensão diacrônica (ROBINS, 1979:163). Em passagem anterior, afirmamos que a perspectiva diacrônica imperava quando Saussure iniciou a tarefa de definir os campos de atuação da Lingüística. A perspectiva encarava a língua como um processo, algo que está sujeito a transformações imperativas ao longo do tempo. Essa visão é fundamental para o estudioso entender as mudanças que a língua sofre cronologicamente e até projetar certas mudanças futuras com relativo êxito. O falante de uma língua, ao utilizá-la como meio de expressão do seu pensamento ou como recurso para se relacionar aos outros membros de uma comunidade, não precisa conhecer essas mudanças históricas. Para ele basta conhecer a língua como um sistema que lhe permite a comunicação. O estudo dessa possibilidade, i.e., a língua encarada como sistema, permitiu a Saussure estabelecer os princípios do Estruturalismo (que estão contidos em suas dicotomias). No capítulo que trata da delimitação das duas perspectivas a sincrônica e a diacrônica Saussure ilustra a diferença com um esquema em que duas linhas, uma horizontal e outra vertical se cruzam. A linha horizontal se desloca da esquerda para a direita é o eixo das simultaneidades, o que ocorre ao mesmo tempo, portanto um sistema, portanto, sincronia. A linha vertical se desloca de cima para baixo é o eixo das sucessões em que os fatos devem ser considerados um de cada vez, com suas respectivas transformações portanto, diacronia (p.95.). No final do mesmo capítulo (p.116.), Saussure resume as duas possibilidades de estudo da língua: A Lingüística sincrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistemas tais como são percebidos pela consciência coletiva. A Lingüística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si. O propósito desse texto é apresentar as bases históricas e científicas sob as quais se inicia o Estruturalismo como corrente lingüística. O Estruturalismo teve vários desdobramentos depois de Saussure, na própria Europa e nos Estados Unidos. Nos instrucionais de Língua Portuguesa, principalmente, as idéias resultantes da evolução do Estruturalismo estão presentes em Morfologia, Fonologia e Sintaxe, ainda que indiretamente. O método do Estruturalismo de seccionar uma palavra ou frase, por exemplo, em determinante / determinado:

real irreal i determinante real determinado ou A criança chorou. A criança determinado chorou determinante nos faz entender os desdobramentos, seja de frases, períodos, morfemas ou fonemas, em seus elementos constituintes, o que tem uma aplicação fundamental em Sintaxe, Morfologia e Fonologia. As gramáticas são, na sua maioria, de natureza estruturalista. Se por um lado o Estruturalismo proporcionou avanços na aprendizagem programada de línguas e contribuições para detecção de patologias da linguagem, graças à sincronia, estabelecida como fundamental para o problema de funcionamento da língua, por outro, é alvo de críticas por não admitir a criatividade na linguagem estudando apenas textos acabados, negando-se a considerar as condições de produção. Senna (1991: 27) endossa essas críticas, pois admite que o Estruturalismo, pela taxionomia exacerbada, se instrumentalizava para analisar a língua a partir de sua observação e não para simular o seu funcionamento de forma experimental. 17 Exercícios de Auto-Avaliação 1. A análise estruturalista consiste em seccionar a frase ou a palavra sucessivamente, indicando determinado e determinante (um termo principal e um secundário, respectivamente). Em termos mais específicos, um elemento principal e outro que se refere semântica ou gramaticalmente ao principal. Nos itens abaixo, indique o determinante e o determinado. Note que a análise pode ser de elementos de constituição frasal (sintática) ou de construção de palavras (morfológica). a.1) A língua revela o caráter humano. A língua Revela o caráter humano a.2) A língua A Língua a.3) O caráter humano O Caráter humano a.4) Caráter humano Caráter Humano b.1) Idade Média b.2) Escola-modelo b.3) Mãe- pátria b.4) Passatempo b.5) Roupa nova c.1) gata c.1) pedreira c.1) desfazer c.1) alunos gat- pedr- des- aluno- -a -eira -fazer -s 2. Responda: Quando as noções de SINTAXE, MORFOLOGIA e FONOLOGIA são sintagmas e quando são paradigmas?

18 3. Enquadre e justifique os itens abaixo na noção de sintagma ou de paradigma. Período composto Conjunto de fonemas de uma língua Concordância verbal Afixos 4. Um fonema só é fonema porque possui um significante que o distingue dos outros que compõem o quadro de fonemas de uma língua. Qual noção do Estruturalismo está presente nessa afirmação? 5. Observe: Anuênio, biênio, triênio Anu = ano Ênio = ano Solene o que ocorre uma vez por ano Suicidar-se (sui = se em Latim) Luneta instrumento para observar a lua. E responda: A que dicotomia os exemplos acima estão relacionados? E para quem essas informações são mais úteis: ao profissional de Letras ou ao usuário da língua? Por quê?

UNIDADE II 19 GERATIVISMO 2.1 - As Regras e a Formação dos Enunciados A Teoria Gerativa surge em 1957 com uma obra: Syntactic Structures, de Noam Chomsky. A proposta contida no livro era inovadora para a época e ainda hoje, se lançada agora, causaria impacto. Chomsky era matemático por formação e possuía sólidos conhecimentos filosóficos e talvez por isso tenha elaborado uma teoria lingüística tão diferente em sua formulação das teorias até então conhecidas ele não tinha compromissos ou uma formação estritamente lingüística e gramatical, embora não pudesse fugir aos componentes sintáticos, fonológicos e morfológicos para teorizar sobre língua. A teoria gerativa sofreu várias reformulações pelo próprio Chomsky e teve desdobramentos e reorientações por parte de seus seguidores. Neste trabalho, abordaremos os conceitos que formam a teoria padrão, o método de estudo estabelecido e demais princípios que integram o seu início. Seria impossível, em poucas páginas, traçar um roteiro das reformulações, aprofundamentos e desdobramentos que essa concepção experimentou. O Estruturalismo via a língua como um todo que poderia ser dividido em partes, e valorizava a denominação de cada elemento decomposto. É o que se chama de gramática de listas, na qual os elementos separados se distribuíam em classes ou elementos que se opunham, criando a noção de valor num dado sistema. É uma noção praticamente estática e acabada de língua (o próprio nome Estruturalismo, de estrutura, confirma esse olhar de imobilidade). O Gerativismo teve o grande mérito de encarar a língua sob suas propriedades criativas: a partir do conhecimento de regras internalizadas ou gramática natural, isto é, o conhecimento que um falante tem de sua língua, é possível criar (ou gerar) um número infinito de enunciados. Essas regras têm um limite e podem ser descritas pelos lingüistas, mas as possibilidades ou recursos que um falante tem para criar enunciados, entender enunciados, enfim, utilizar a língua nas mais variadas situações, são ilimitadas. Resumindo o princípio: regras finitas; possibilidades de geração / compreensão de enunciados infinitas. Esse princípio, que, aliás, não foi descoberto pelos gerativistas, mas apenas divulgado e popularizado por eles, dá à língua um caráter dinâmico, vivo, como são vivas as pessoas que se utilizam da língua para se expressarem ou se comunicarem. Para entender as concepções do Gerativismo, distribuímos os tópicos numa seqüência que vai dos conceitos básicos, papel da gramática e/ou tipos de gramáticas envolvidas, métodos de aplicação, tipos de estrutura, regras de expansão, sintagmas, representação arbórea até constituição da frase. 2.2 - Os Conceitos - Competência e Desempenho Dois conceitos são fundamentais na G.G. o de competência e o de desempenho. Competência conjunto de normas internalizadas, ou regras, que nos permitem emitir, receber e julgar enunciados de nossa língua. Esse conhecimento que cada falante tem de sua língua permite que ele se expresse, entenda o que outros falantes expressam e também reconheça se um enunciado está de acordo com as normas de sua língua. Essas normas são princípios de funcionamento da língua, como a ordem dos elementos numa seqüência como os rapazes e não rapazes os. Não têm, portanto, nenhuma relação com as normas prescritivas e as normas proscritivas de uma gramática escolar e, conseqüentemente, a noção de certo e de errado. Nesse sentido, certo seria acionar os princípios de funcionamento da língua de acordo com a gramática internalizada e errado seria ocasionar equivocadamente esses princípios, como rapazes os. Um falante comum, embora domine essas regras, seja um analfabeto ou não, não consegue ou não tem acesso a essa gramática internalizada. Uma pessoa pode saber nadar e nem por isso é capaz de explicar em que consiste esse conhecimento (PERINI, 1985: 27). Desempenho é a aplicação das regras internalizadas, isto é, aquilo que efetivamente realizamos ao falar,

20 ouvir, escrever ou ler. É o uso da língua em situações concretas, resultado de uma série de fatos lingüísticos: conhecimento da língua, limitações de memória, atenção, falta de atenção, estado psicológico, contexto situacional etc. Gramaticalidade refere-se à gramática internalizada pelos falantes ou explicitada pelos lingüistas e que gera certas seqüências, excluindo (não gerando) outras. É uma noção exclusiva da competência. Capacidade de criar nos moldes estritos de uma língua (Ibidem: 32). Aceitabilidade Essa noção pertence ao estudo do desempenho. É um fenômeno essencialmente intuitivo. Na definição de competência, ficou subentendido que competência é uma gramática internalizada pelo falante a que o lingüista não tem acesso direto. Para se conhecê-la, o lingüista se vale de meios indiretos: 1) Através dos enunciados de um falante. 2) Através de intuições e julgamentos do falante. Para a G.G., uma gramática tem os seguintes objetivos: 1) Identificar as frases (gramaticais) de uma língua e, a partir daí, fornecer as regras que a formam. 2) Fornecer uma descrição estrutural para cada frase. 3) Interpretação semântica da frase. 2.3 - Estrutura Profunda e Estrutura de Superfície Para Chomsky, uma língua natural apresenta dois tipos de estrutura: a profunda e a superficial. A estrutura profunda abriga as construções fixas, regulares e constantes, como sujeito + predicado, verbo transitivo direto + objeto direto, determinado + determinante. A estrutura de superfície seria a realização da estrutura profunda (ROCHA, 1998: 31). A passagem da Estrutura Profunda para a Estrutura de Superfície se dá pelas regras de transformação, que podem ser obrigatórias ou facultativas. Essas regras envolvem operações de apagamento, adição, substituição e permuta (mudança de ordem). Nas páginas 69 e 70 de seu livro A Gramática Gerativa, Mário Perini (1985) exemplifica essa passagem da Estrutura Profunda para a Estrutura de Superfície. O exemplo utilizado, duas frases elementares que se transformam numa frase complexa: Antonio querer Antonio sambar com a Portela Como possuem o mesmo sujeito, a regra aplicada é a de supressão do sujeito idêntico (suprimir o sujeito de uma oração subordinada quando for o mesmo da oração principal). A estrutura [Antonio querer [Antonio sambar com a Portela]] se transforma em [Antonio querer [sambar com a Portela]] Em seguida, outras transformações, como a da concordância verbal, número e pessoa e o resultado final: Antonio quer sambar com a Portela. 2.4 - A Constituição da Frase Na gramática tradicional, a frase pode ser entendida como um todo de sentido completo; pode ser nominal, quando não tem verbo e verbal, quando tem verbo. Nesse caso, é chamada também de oração. Costuma-se enfatizar também que uma frase ou oração possui sujeito, predicado e complementos. Ou a distribuição em termos essenciais, acessórios e integrantes. A G.G. considera a frase uma estrutura na qual os seus componentes guardam entre si uma relação de solidariedade e interdependência. Suas características são: 1- Entonação específica. 2- Conexão interna entre os elementos que a constituem. 3- Um propósito claro e definido, isto é, procura atuar sobre um indivíduo com objetivos diversos 1. Utilizando-se os elementos da comunicação, a frase pode se centrar: no emissor frase emotiva: Ah! Que delícia! Que horror! no receptor frase interrogativa: O que você quer? frase imperativa: Saia daqui! 1 (BECHARA: 1972, 11). Essas características não são exclusivas de Gerativismo, pois Bechara em seu livro Lições de Português pela Análise Sintática (1972:11) já reivindicava estas características na conceituação de frase.

na mensagem frase assertiva: A educação formal é importante para o indivíduo. no contexto frase de situação: Cuidado! Casas à venda. Os constituintes de base da frase são: 1- Núcleo ou padrão sintático define as relações entre os elementos constituintes. 2- Modalidade frase declarativa, interrogativa, exclamativa ou imperativa. De acordo com Silva (1983: 55), um mesmo padrão sintático pode expressar modalidades diferentes: A democracia é uma exigência. A democracia é uma exigência? A democracia é uma exigência! As três frases distinguem-se por entoações distintas a primeira é declarativa, a segunda, interrogativa, a terceira, exclamativa. A modalidade é um constituinte obrigatório que vai se combinar a três elementos facultativos: negação, ênfase e passivo. Em Ele estuda, temos um elemento obrigatório (frase declarativa). Em Ele não estuda temos um elemento obrigatório e outro facultativo (negação). Os elementos obrigatórios se combinam livremente com os facultativos, mas só um obrigatório por vez. Os facultativos podem ocorrer simultaneamente. Observe: Os políticos respeitam o povo. (frase declarativa) Os políticos não respeitam o povo. (declarativa + negação) São os políticos que respeitam o povo. (declarativa + ênfase) O povo é respeitado pelos políticos (declarativa + passivo) É o povo que não é respeitado pelos políticos (combinação de um elemento obrigatório (decl.) mais os três facultativos). Regras de Expansão A G.G., como já vimos, tem uma preocupação com as possibilidades da língua em gerar enunciados. Estes elementos se constituem em sintagmas combinação de elementos em torno de um núcleo, que vai determinar a sua função. Em Os trabalhadores apressados dirigiam-se para a fábrica, temos três sintagmas: O primeiro [Os trabalhadores apressados] possui um núcleo nominal (trabalhadores). Assim a função do sintagma é a de nomear. Em [dirigiam-se para a fábrica] o núcleo é o verbo (dirigiam-se). Sua função é expressar um fato, uma ação. O terceiro [para a fábrica] tem uma função adverbial (localização). O sintagma pode apresentar expansões à esquerda ou à direita do elemento nuclear. Expansões à Esquerda Elemento nuclear: cantores 1- Os cantores def. + N (definido + nome). 2- Aqueles cantores dem. + N 3- Quaisquer cantores indef. + N 4- Todos aqueles cantores quant. + dem. + N 5- Todos aqueles nossos cantores quant. + dem. + poss. + N 6- Todos aqueles nossos três cantores quant. + dem. + poss. + cardinal + N 7- Todos aqueles nossos três primeiros cantores quant. + dem. + poss. + card. + ord. + N. Expansões à Direita Elemento nuclear: cantor 1- O cantor popular N + adjetivo 2- O cantor popular de Recife N + adj. + S. prep. 3- O cantor popular de Recife que fez o show N + adj. + S. Prep. + Sintagma oracional. Sintagmas As expansões à esquerda ou à direita constituem, portanto, os sintagmas. 21

22 Os sintagmas podem ser nominais (SN), verbais (SV), adjetivais (S. Adj.), preposicionais (S. Prep.) ou adverbiais (S. A.). Quando se analisa uma frase na gramática tradicional, os elementos componentes são listados um após o outro: Os vizinhos ouviram o barulho Análise: Sujeito Os vizinhos Predicado ouviram o barulho Objeto direto o barulho A G.G. dispõe a análise em árvores ou em arborescência porque se visualiza, de uma só vez, a constituição do padrão sintático, bem como suas articulações. A frase Os vizinhos ouviram o barulho, no diagrama de árvore fica: Com violência o patrão agiu. (Deslocamento antinatural) O patrão chegou às dez horas. S. Prep. Às dez horas, o patrão chegou. (deslocamento natural) O S. Prep. cujo deslocamento é natural pertence à frase. Daí poder ocupar outra posição porque está no mesmo nível sintático do SN (sujeito) e do SV (predicado). Ex: O patrão chegou às dez horas. mesmo nível que Já em O patrão agiu com violência, se o S. Prep. for deslocado, será percebido como antinatural porque pertence ao SV (é seu complemento), não pode sair dali. Representando a estrutura, temos: Observando (de cima para baixo), os elementos vão se desdobrando em elementos menores (F = frase S = sintagma determinante + nome; verbo + det. + nome). Assim, as regras sintagmáticas expandem o símbolo inicial (F) em sucessivas cadeias de elementos até chegar à unidade. Os elementos anteriores se desdobram nos posteriores. Os nódulos (pontos de intersecção) mais acima dominam os que vêm mais abaixo. A G.G. prevê também os deslocamentos, possíveis ou não, nas frases. O sintagma preposicional, por exemplo, pode ser deslocado de uma posição para outra na frase. Esse deslocamento é percebido como natural ou antinatural. O patrão agiu com violência. S. Prep. Essa percepção em natural ou antinatural se deve à intuição do falante, portanto, relaciona-se à aceitabilidade, conseqüentemente ao desempenho. Por outro lado, a possibilidade de fazer parte de um nível estrutural (SN + SV + S. Prep.), isto é, pertencer à frase ou a outro nível (SV = V + S. Prep.), pertence à noção de gramaticalidade, portanto, relaciona-se à competência.

Exercícios de Auto-Avaliação 1) Faça a representação arbórea das frases a seguir: a) A professora informou os alunos. b) Os presos fugiram para o interior. c) Aquele homem apontou a arma para o segurança. 23 2) Identifique o S. Prep. e indique se o seu deslocamento é natural ou antinatural: a) Ele voltou ao parque. b) Iremos ao cinema às 20 horas. c) Eles precisam tomar banho antes da janta. d) Maria sonhou com você. 3) Escolha um nome (N) e faça expansões à direita e depois à esquerda. Atividade Complementar Após a leitura do texto Três visões de língua, faça uma relação das principais contribuições de cada visão. Três visões de língua Antonio Carlos Siqueira de Andrade (UERJ e UCB) As abordagens se complementam, nenhuma delas é suficiente para a descrição ou compreensão da língua. O parágrafo acima poderia ocupar tanto o início quanto o final deste (despretensioso) artigo. Um neologismo surge da necessidade de designar algo que já existe ou que passa a existir em um dado momento. Traz consigo algo de arbitrário porque é uma questão de escolha, traz também uma motivação, endosso de sua nova existência. Assim são as abordagens de uma nova língua, que surgem como tentativa de suprir um vazio ou uma nova necessidade, a partir de um esgotamento conceitual. Refletem igualmente o momento histórico em que se inserem. Nos próximos parágrafos, examino três abordagens lingüísticas, suas contribuições e circunstâncias em que surgiram o Estruturalismo, o Gerativismo e o Funcionalismo. O Estruturalismo surgiu num contexto em que as ciências, de um modo geral, atingem uma precisão, um avanço inimaginável para as épocas anteriores. Foi na transição de século XIX para o XX. Todo o procedimento científico se apoiava na observação como único princípio aceitável de descoberta, na análise, isto é, na decomposição de um todo em suas partes constituintes, e na denominação do que se descobria (a taxionomia). Os críticos do Estruturalismo vêem nessa conduta uma de suas falhas, porque a aceitação do que só tem presença física na oração, ou o que só pode ser observado concretamente, como é o caso da classificação do sujeito, cria contradições como a inclusão da oração sem sujeito: para a filosofia aristotélica o sujeito era essencial, não importando a sua figuração no discurso, porquanto poderia ser psicológico. O conceito de essencialidade se apóia nos dois pilares do discurso o tópico e o comentário para nós de Letras: sujeito e predicado. Os gerativistas, por exemplo, criticavam o fato de partirem de um conceito abstrato, a noção de langue, um estado idealizado de língua, para constituir um objeto concreto de estudo. Outra crítica comum é a de que o princípio de análise estruturalista secciona a frase ou a palavra sucessivamente, indicando determinante e determinado e uma língua vale pela sua integridade, pela sua composição e pelo contexto em que é utilizada.

24 Critica-se, também, a taxionomia, fundamental em qualquer ciência, que acabou sendo um fim em si mesma, quando o seu domínio passou a ser exigência escolar. Um julgamento menos apaixonado mostra que o alvo dessas críticas é o que mantém o espírito do Estruturalismo presente, a sua aplicabilidade no estudo da língua, a quantidade de gramáticas de que dispomos, a maioria de base estruturalista. A própria visão de língua como sistema em que cada elemento assume o seu valor pela individualidade e pela oposição entre si e os outros é um princípio lógico incontestável. A metáfora saussureana do jogo de xadrez é ainda atual e aplicável a outras concepções de estudos de língua (SILVA, 1983: 35). Dubois (1978: 250) entende que o grande mérito do Estruturalismo foi a fixação da lingüística como ciência através das oposições sincronia x diacronia, regras de código x realização individual, traços pertinentes x traços redundantes. Pensar a língua levando em conta a sua constituição, seus componentes é algo tão arraigado como o ato de andar com os pés ou estudar através do texto escrito e esse procedimento não começou com o Estruturalismo. Este fixou apenas um método prático. O Gerativismo, se apresentado nos dias de hoje, ainda causaria impacto, pela sua proposta, pela sua terminologia e tudo que envolve sua concepção de língua. As críticas mais freqüentes condenavam a concepção de língua sob uma ótica irreal, através de um falante/ ouvinte ideal e privilégio que dava à sintaxe. Quando Chomsky, em 1957, lançou Syntatic Structures, ele (matemático do MIT) e outros, na verdade, estavam em busca de linguagens que facilitassem a comunicação entre o homem e a máquina, linguagens capazes de chegar até os cérebros eletrônicos, ou num aspecto mais amplo, que aproximassem a concepção humana à inteligência artificial. O próprio termo gerativo vem da matemática. Houve época em que as máquinas (computadores), além de monstruosos, limitados em sua capacidade de operação, exigiam linguagens complicadas e específicas para cada finalidade, como COBOL, FORTRAM e outras. E todo funcionamento dependia da trindade o analista, o programador e o operador, profissionais com altos salários e um prestígio maior ainda. Hoje as linguagens ou acesso à máquina são infinitamente mais fáceis e o homem atual nem se dá conta de que domina um código seu e da máquina. Um dos maiores méritos do Gerativismo foi a popularização de um conceito já conhecido: a língua, a partir de regras finitas, é capaz de gerar infinitamente enunciados, que Chomsky corporificou na sua noção de competência. Esse conceito, não só capacita o falante/ouvinte a gerar ou entender o que for necessário à sua expressão/compreensão, mas também a exercitar o seu lado criativo da linguagem. A gramática gerativa inovou no aspecto gráfico, ao apresentar a análise do padrão sintático da frase em forma de arborescência, porque em um só lance, visualizam-se os sintagmas, seus desdobramentos em componentes hierarquizados através dos módulos ou pontos de intersecção. O objetivo dos gerativistas era descrever tudo o que constituísse a competência lingüística do falante, valorizando a relação entre descrição e intuição dos falantes. Como a língua não pode ser observada in loco, só há o seu produto que é a linguagem e a partir desta, simula-se o funcionamento daquela. Isso permitiu a integração da pesquisa lingüística à pesquisa sobre o funcionamento da mente (SENNA, 1991: 34). O Funcionalismo surge a partir dos anos 70, quando as abordagens textuais e discursivas vão se popularizando, mas somente a partir dos anos 90 é que toma corpo como doutrina lingüística. Um dado relevante nos estudos de língua é a omissão deliberada da modalidade falada, mesmo com todo o aparato tecnológico que existe para registro da fala, e mesmo depois de quase cem anos do alerta de Saussure sobre a importância (para ele imerecida) da escrita. Segundo ele, a fala precede a escrita e a sua razão de ser é representá-la. Portanto,

conhecer ou estudar a língua através da escrita é como conhecer alguém através da foto (SAUSSURE, 1972: 34). As teorias lingüísticas, de um modo geral, não deram a devida atenção à modalidade falada da língua. Aqui não se consideram as ciências que tomam por base a língua falada, como a Dialectologia e a Sociolingüística. 25 Desde os tempos em que os estudiosos da Grécia, então decadente, perceberam a distância entre a fala e o grego literário, a língua falada é tida como uma forma imperfeita de expressão, preconceito que chega até os nossos dias. Essa mentalidade se modifica no Brasil a partir de iniciativas como o Projeto NURC e outros que têm o Português falado como base. O Funcionalismo não tem essa limitação, porquanto pesquisa tanto a fala quanto a escrita e sua tônica está na inversão do princípio estruturalista de que a forma determina a função. Quando a gramática de base, não só estruturalista, mas de toda a gramática tradicional estabelece categorias como as de nome, verbos, advérbios, dente outras, determina também a imutabilidade dessas classes e conseqüentemente de seus usos (funções). Um substantivo pode ser núcleo de um sujeito, de um objeto direto; o verbo situa a ação no tempo etc. Para o Funcionalismo, a função determina a forma, o que se dá através de dois processos de mudança lingüística: a gramaticalização e a discursivização. Na gramaticalização, itens lexicais e construções sintáticas assumem funções referentes à organização interna do discurso, ou a estratégias comunicativas, que se concretizam em novas funções gramaticais. É um processo unidirecional e envolve os níveis cognitivo, pragmático, semântico e sintático. No final desse processo, o elemento lingüístico tende a se tornar mais regular e mais previsível, pois sai do nível da criatividade e entra nas restrições da gramática. Como exemplos, temos os casos do verbo ir que percorre o trajeto do léxico à gramática, porque de verbo pleno, indicando movimento, passa a designar futuro como auxiliar. De vocábulo a morfema temos os casos de amar + hei > amarei e tranqüila + mente > tranqüilamente. O processo metafórico segue uma trajetória do mais concreto para o mais abstrato, já que há uma escala de abstração crescente: pessoa > objeto > atividade > espaço > tempo > qualidade. Braço (como parte do corpo) passa a designar objeto (braço da poltrona) ou qualificações (braço direito, como principal auxiliar ou ajudante). Mais exemplos desse trajeto concreto abstrato: Peguei a linha do seu raciocínio. Ele levantou uma hipótese interessante (VOTRE, 1996: 50). A discursivização engloba elementos que funcionam em um campo de atuação mais vasto que a gramática e assinala relações entre os participantes ou entre os participantes e seu discurso, sem estabelecer necessariamente relação entre elementos gramaticais. Também é um processo unidirecional, que leva um item a assumir a função de marcador discursivo, preenchedores de pausa, reparos, repetições, sempre como forma de restabelecer o fluxo da fala, ou a sua linearidade (ANDRADE). A língua apresenta variações que decorrem da criatividade; a comunicação pressiona a língua para a regularidade e iconicidade. Portanto, para os funcionalistas, a gramática não é um organismo auto-suficiente gerado por fatores cognitivos inatos, como querem os gerativistas, mas uma conseqüência de padrões que se estabelecem no seu uso. Gramática e discurso não são conceitos separados, mas ao contrário constituem uma simbiose: a gramática molda o discurso e o discurso molda a gramática (VOTRE, 1996: 49). Bibliografia: ANDRADE, Antônio Carlos S. Reparo na fala de adolescentes. Rio de Janeiro: UFRJ, dissertação de Mestrado, 1988. DUBOIS, Jean et al. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1978. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1972. SENNA, Luiz A. G. Pequeno manual de lingüística geral e aplicada. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1991. SILVA, Gustavo Adolfo da. Estruturas sintáticas do português: uma abordagem gerativa. Petrópolis: Vozes, 1983. VOTRE, Sebastião, MARTELOTTA, Mario & CEZARIO, Maria M. Gramaticalização no Português do Brasil: uma abordagem funcional. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.

26 Se você: 1) concluiu o estudo deste guia; 2) participou dos encontros; 3) fez contato com seu tutor; 4) realizou as atividades previstas; Então, você está preparado para as avaliações. Parabéns!

Glossário Dialectologia (ou Dialetologia) estudos de língua voltados para as variações geográficas (léxicas, sintáticas e fonológicas, principalmente) e sociais. O resultado desses estudos costuma ser apresentado em Atlas lingüísticos, que trazem as variações de uma determinada região. No Brasil, temos Atlas lingüísticos da Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Sergipe, entre outros. Dicotomia apresentação de princípios teóricos que se subdividem em dois pólos; oposição de dois elementos que formam um todo. Econômico o termo empregado na parte referente a SIGNO refere-se à praticidade da utilização dos signos, ou seja, torna a língua mais objetiva, mais direta, conseqüentemente, mais eficaz. Funcional aquilo que tem estatuto lingüístico ou valor, pois se opõe a outro elemento do sistema. A 2ª vogal /o/ de vovô não é a mesma de vovó. Então concluímos que ô se opõe a ó, portanto são fonemas diferentes. É uma oposição funcional. In loco localmente. Pragmática refere-se às características de utilização da linguagem (contexto em que ocorre). Semântico relativo ao significado das palavras. Sociolingüística ramo da lingüística que surgiu na década de 60 do século anterior e estuda as relações da língua com a sociedade, por exemplo, os papéis dos falantes, levando-se em conta sua idade, sexo, posição social, escolaridade. Taxionomia princípio de classificação das palavras em classes, em partes ou funções. 27

28 Gabarito Unidade I 1. a.1) A língua determinado Revela o caráter humano - determinante a.2) A determinante Língua - determinado a.3) O determinante Caráter humano - determinado a.4) Caráter determinado Humano determinante b.1) Idade determinado Média determinante b.2) Escola determinado Modelo determinante b.3) Mãe determinante Pátria determinado b.4) Passa determinante Tempo determinado b.5) Roupa determinado Nova determinante c.1) Gat determinado - a determinante c.2) Pedreir determinado - eira Determinante c.3) Des determinante - fazer determinado c.4) Aluno determinado - s - determinante 2. SINTAXE quando se refere à constituição dos elementos em estruturas como sujeito predicado, período composto, são sintagmas; quando se associam a elementos que possuem a mesma função, embora não estejam presentes na estrutura formada, são paradigmas. Ex.: O livro está velho. O (elemento presente) (Aquele) Aquele (elemento ausente) (Este) Este (elemento ausente) (Meu) Meu (elemento ausente) MORFOLOGIA os processos de formação de palavras quando já realizados, (prefixação, sufixação, parassíntese, entre outros) são sintagmas; as relações de elementos que podem integrar estes processos: afixos, radicais, desinências são paradigmas. FONOLOGIA fonemas que integram uma palavra - sintagma; - conjunto de fonemas de uma língua paradigma. 3. Período composto sintagma Conjunto de fonemas de uma língua paradigma Concordância verbal sintagma Afixos paradigma OBS.: As justificativas devem levar em conta o caráter combinatório e de inclusão para sintagmas e de associação ou função equivalente para sintagma e paradigma.