Reacção da EAPN Portugal ao Programa do XIX Governo da República Portuguesa

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Transcrição:

Reacção da EAPN Portugal ao Programa do XIX Governo da República Portuguesa Julho 2011 A vem por este meio posicionar-se face ao Programa do XIX Governo Constitucional apresentado no passado dia 30 de Junho de 2011. Entre os vários elementos que a EAPN Portugal destaca positivamente salientamos: A noção de inclusão social aparece, na primeira página, referida como um desígnio para o futuro, a par do crescimento económico, promoção do trabalho, competitividade empresarial. Pretende-se superar a cultura dos paternalismos e das dependências, estimulando, em contrapartida uma cultura da responsabilidade e da abertura. Esta ideia sempre foi defendida pela EAPN. Consideramos que o crescimento do país depende da adopção de uma nova atitude por todos os portugueses; uma atitude de responsabilização e de compromisso perante a sociedade. Todos devem sentir-se implicados na construção de uma sociedade mais justa, na qual as desigualdades sociais, que neste momento são gritantes, possam ser gradualmente esbatidas e corrigidas. O cenário actual, em termos de distribuição de riqueza em Portugal, é muito preocupante, e no presente contexto de crise importa acautelar a situação daqueles que se encontram em situação de pobreza e exclusão social. Importa que as medidas que sejam implementadas no sentido de reduzir o défice e aumentar as receitas do Estado tenham em conta as franjas da população que se encontram já fragilizadas e com pouca ou nenhuma capacidade para enfrentar os sacrifícios que são pedidos a todos os portugueses. Manifesta-se a intenção de reduzir o Estado Paralelo ou seja, entidades, institutos e empresas públicas. No mesmo sentido aponta-se a importância de se despolitizar os processos de recrutamento dos cargos dirigentes. Estas medidas são em si mesmas justas, no entanto, importa saber de que forma estas irão ser aplicadas e se efectivamente se irá verificar uma redução significativa de custos associados a estas estruturas. Relativamente à Economia e Emprego estão definidas algumas medidas que podem minorar os efeitos do desemprego, através do reforço das medidas de protecção social. É uma realidade que os números do desemprego são elevados e que a curto e médio prazo esta situação poderá não ser revertida. Importa assim, apoiar aqueles que se encontram em situação de desemprego e as medidas anunciadas, nomeadamente a redução do tempo necessário no acesso ao subsídio de desemprego e a atribuição do subsídio de desemprego aos trabalhadores independentes, são medidas que nos parecem justas e que podem atenuar os efeitos da pobreza em muitos agregados familiares. 1

No capítulo da Cidadania e Solidariedade e, especificamente, no domínio da justiça salientamos, com agrado, a referência à adopção de um Estatuto da Criança e à importância que é dada aos cidadãos idosos em termos da defesa dos seus direitos. Tal é ainda mais relevante quando estes são precisamente os grupos de cidadãos mais afectados pela pobreza e, por isso, uma prioridade em termos de intervenção. No domínio da Segurança Social e Solidariedade é salientado o papel das instituições da economia social no combate à pobreza e referida como uma das medidas emblemáticas, o Programa de Emergência Social que irá apoiar de forma preferencial as crianças, os idosos e os desempregados. O compromisso escrito de que ninguém será deixado para trás e a determinação de considerar o valor incomensurável da dignidade da pessoa humana deixam antever neste capítulo a intenção de actuar de forma firme e concreta em ordem a corrigir os problemas sociais que persistem na sociedade portuguesa e atenuar os efeitos da actual crise económica naqueles que se encontram em situação de maior vulnerabilidade social. Verificamos com agrado que se pretende envolver ao máximo as entidades da economia social que desempenham, também, um papel importantíssimo na criação de emprego. Salientamos, com agrado, a intenção de se proceder à avaliação do impacto das medidas adoptadas do ponto de vista da família e do apoio à natalidade, embora seja imprescindível estender esta avaliação de impacto a outros grupos e necessidades. Relativamente às prestações dos regimes não contributivos, e mais especificamente em relação ao Rendimento Social de Inserção (RSI) há uma vontade expressa no Programa do Governo em estabelecer uma contrapartida através da prestação do trabalho solidário. O RSI é uma medida de política social que produz efeitos directos em termos da redução da intensidade da pobreza em Portugal. Pressupõe a existência de um contrato de inserção e a análise da situação concreta de cada cidadão. Sabemos, das avaliações que foram já realizadas aos beneficiários desta medida, que grande parte deles não possui as condições necessárias para estarem integrados no mercado de trabalho. Desde logo, as crianças que beneficiam da medida e que não se encontram em situação de empregabilidade. Depois, encontram-se os doentes crónicos e outros dependentes, as pessoas que têm dependentes a cargo que, maioritariamente, são mulheres. Concluir que o RSI constitui um desincentivo ao trabalho é extremamente redutor, na medida em que o valor da prestação por adulto ronda os 180 euros, valor que se afasta em muito do salário mínimo nacional. O RSI ressalta o direito a um patamar mínimo de recursos, mas é também um direito à integração social; trata-se de uma medida de mínimos sociais universais. A intenção de introduzir aquilo que é referido como o tributo solidário merece uma reflexão cuidada, porque exige uma análise muito próxima das situações e recursos humanos afectos a esta medida que neste momento não existem. Saudamos, igualmente com agrado, a referencia à criação de Programas para a Geração Sénior, visto se tratar de um grupo muito desfavorecido e com taxas de pobreza muito elevadas em Portugal. Um último ponto que acolhemos com satisfação prende-se com o realce dado à intenção do Governo em manter os Planos em matéria de Igualdade de género e violência doméstica. 2

As nossas propostas e compromissos: A luta contra a pobreza está no coração da agenda europeia do ponto de vista económico, social e de emprego. Na Estratégia Europeia 2020 os chefes de estado e de governo dos diferentes Estados- membros acordaram uma meta comum: retirar pelo menos 20 milhões de cidadãos europeus da situação de pobreza e exclusão social até 2020. Neste momento cerca de 84 milhões de cidadãos Europeus vivem em risco de pobreza, o que significa que enfrentam sentimentos de insegurança perante o futuro. Esta situação é inaceitável no século XXI e o combate à pobreza e exclusão social, a promoção da justiça social e dos direitos fundamentais são desde sempre objectivos basilares da construção europeia. No entanto, neste momento, é preciso fazer muito mais pelos cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Portugal, no âmbito da Estratégia 2020, estabeleceu a meta de reduzir em cerca de 200 mil o número de pobres até ao ano 2020. Esta meta não é ambiciosa e não nos pode satisfazer já que a única meta admissível é a da erradicação da pobreza. No entanto, e dado o contexto de crise em que vivemos importa desde já assumir compromissos sérios que, por um lado, permitam atingir pelo menos esta meta e, por outro, travem o crescimento dos chamados novos pobres. Neste sentido consideramos que: O Programa de Emergência Social proposto pelo Governo deveria ser inserido num Programa Nacional de Combate à Pobreza, programa este que a EAPN Portugal vem defendendo há muito tempo. Este Programa Nacional permitiria, não só, actuar ao nível das situações de emergência social que decorrem do contexto de crise, mas também, definir medidas de acção ao nível das causas estruturais da pobreza em Portugal. Os números da pobreza em Portugal são elevados e têm-se mantido praticamente inalterados ao longo dos últimos anos. Falamos em cerca de dois milhões de pobres em Portugal e estes números ainda não reflectem as consequências da actual crise. Estes números reflectem a realidade das crianças e dos idosos, das mulheres, dos trabalhadores pobres, dos jovens desempregados e também a realidade de grupos mais vulneráveis como os sem-abrigo, as minorias étnicas e os imigrantes. Um Programa Nacional de Combate à Pobreza deveria englobar medidas com carácter de emergência, como aquelas que estão previstas no Programa do Governo, mas, e ainda mais importante, medidas de carácter preventivo, que actuem nas causas da pobreza em Portugal e que favoreçam uma mais equitativa redistribuição da riqueza e um apoio transversal aqueles grupos sociais que são mais vulneráveis a situações de pobreza e exclusão social. O funcionamento da RENASO (Rede Nacional de Solidariedade) pressupõe o envolvimento das autarquias locais e das entidades do terceiro sector, numa lógica de trabalho em rede que poderá ser potenciada pelo Programa das Redes Sociais Locais que está em marcha e que agora poderá ser rentabilizado. O trabalho desenvolvido pelo sector não governamental em Portugal é de extrema importância quer ao nível da criação e manutenção de postos de trabalho, quer pela sua capacidade de inovação social e adaptação às novas necessidades e exigências que decorrem do momento de crise. A prestação de serviços que é assegurada por estas entidades ultrapassa a mera emergência e imediatismo que são necessários e consolida laços de proximidade com as populações mais desfavorecidas, impulsionado o seu empowerment e motivação para enfrentar as situações mais adversas. Assim, insistimos na 3

necessidade de prosseguir todos os esforços de qualificação destas organizações, nomeadamente recorrendo aos fundos comunitários disponíveis para esse efeito. Pelo papel que desempenham na sociedade e economia portuguesas, as organizações não governamentais deverão assumir um papel mais activo enquanto parceiros sociais. São entidades com experiência comprovada na intervenção de proximidade, desenvolvem um trabalho de qualidade e podem ser um interlocutor privilegiado com o Governo num momento em que as questões da pobreza e exclusão social estão na ordem do dia. A este nível julgamos urgente a promoção de uma Plataforma Nacional de ONG s que possa, precisamente, e sem substituir nenhuma outra estrutura, conduzir, em parceria com o Governo, tais desígnios de concertação social no que ao combate à pobreza diz respeito. No actual momento os recursos existentes deverão ser rentabilizados ao máximo e importa conhecer bem a realidade, avaliar o que existe e os montantes que são gastos em cada área. Na área social esta avaliação deve contar com a parceria das organizações do terceiro sector. As estratégias de racionalização dos recursos são bem-vindas nesta área, como nas outras, mas importa garantir que os cortes que se farão não afectem aqueles que diariamente necessitam de recorrer aos serviços destas entidades. Estas entidades na sua maioria sobrevivem já com orçamentos deficitários e, ainda que procurem desenvolver estratégias de captação de recursos, a contratualização dos serviços/respostas sociais com o Estado é o suporte da sua actividade e principal razão de existir. Importa assim garantir o compromisso de manter esta contratualização, reforçando-a nos casos que se comprovem necessários face ao aumento do número de utentes e à urgência das situações no contexto local salvaguardando, acima de tudo, a qualidade dos serviços. Um novo paradigma cultural: sensibilização e participação. Para criar o clima necessário a uma estruturada mudança cultural, capaz de incorporar os princípios aqui enunciados, é fundamental que, de forma estruturada e permanente sejam promovidas acções de sensibilização que facilitem uma participação informada e activa que combata a pobreza e que ao mesmo tempo crie as condições para a sua permanente prevenção. Para este efeito, julgamos absolutamente crucial que seja promovida uma permanente formação ao nível mais capilar da educação nacional. Ou seja, que esta nova forma de estar, de ser e de agir, capaz de efectivamente alterar comportamentos, seja promovida por uma educação que lhe dê suporte teórico e prático. Por outras palavras, o combate à pobreza e sua prevenção começa nos bancos da escola e uma parte substancial dos nossos esforços colectivos terá que ser para aí orientada. Importa salientar que as verbas decorrentes dos Fundos Estruturais de que Portugal beneficia deverão neste contexto de crise ser também afectadas a acções e medidas que permitam a redução da pobreza e exclusão social e que criem melhores condições para uma economia mais saudável e sustentável que resulte num reforço da coesão social. Devemos ser capazes de utilizar os financiamentos comunitários nos territórios mais desfavorecidos e deprimidos economicamente e, simultaneamente, permitir o acesso a esses fundos por parte de entidades de âmbito local, simplificando os procedimentos e permitindo a acesso a subvenções globais ou mesmo pequenas subvenções. Para isso, uma vez mais, será importante poder contar com uma participação da sociedade civil nas decisões relativas à implementação do actual Quadro Estratégico de Referência Nacional e na preparação do futuro Quadro Comunitário (2013-2020) cujas negociações estão já em curso. 4

Finalmente, julgamos crucial insistir na proposta de sermos capazes de por em marcha uma melhor coordenação, articulação e eficácia das políticas e a criação de legislação à prova de pobreza. É fundamental reconhecer que sem integração e articulação das diferentes políticas e sectores da nossa sociedade será muito difícil combater e erradicar um fenómeno que é multidimensional. No entanto, tal integração e articulação, ainda que com pontuais excepções, continuam por fazer. Assim, e para que tais esforços possam ocorrer e conseguir resultados efectivos propomos que o Parlamento Nacional adopte formalmente uma orientação de promoção de políticas à prova de pobreza. Para tal, seria necessário que o Parlamento propusesse e aprovasse um mecanismo legal que obrigaria que parte substancial da legislação proposta fosse submetida a uma análise sobre qual o impacto que tais decisões sectoriais (de todas as áreas de governação) terão sobre a pobreza. Tal mecanismo deveria contar com uma ampla participação da sociedade civil aprofundando assim a Democracia e a imprescindível implicação cidadã para o sucesso de tais orientações. * * * Julho 2011 5