REEE Resultados abaixo do mediano, números a precisarem de explicação, custos muito caros para empresas

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Transcrição:

REEE Resultados abaixo do mediano, números a precisarem de explicação, custos muito caros para empresas A ANREEE realizou, no passado dia 13 de outubro, em Lisboa, uma Conferência Internacional sobre o tema Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE) - Portugal e os outros. Nesta conferência foi feita uma análise dos números relativos aos resultados da política de gestão de REEE em Portugal e feita a sua comparação com os resultados obtidos em outros países europeus.

A política de gestão de REEE tem como base Diretivas que são transversais a toda a comunidade europeia e que vêm modelando a atuação de todos os Estados Membros desde 2005. Embora as Diretivas forneçam uma base comum de procedimentos e objetivos, a forma como estes são implementados e alcançados difere, todavia, de Estado Membro para Estado Membro, de acordo com o mercado e estratégia seguida por cada legislador nacional. Os números apresentados por Portugal para o período 2010 a 2014 (intervalo de informação disponibilizado pela Agência Portuguesa do Ambiente) revelam uma realidade que deixa interrogações. Durante esse período, que foi afetado por uma profunda crise económica, o mercado de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (EEE) retraiu-se em 27%. Em contrapartida, as recolhas de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE), que em Portugal estão totalmente a cargo de duas entidades gestoras, cresceram 16%. Como existe uma dependência direta entre equipamentos colocados no mercado (EEE) e resíduos recolhidos (REEE), os números apontam claramente para um comportamento em contraciclo. Este comportamento contraciclo poderia, idealmente, ser explicado por uma maior eficácia nas recolhas, mas a interligação entre a informação disponível não permite chegar a essa conclusão. Portugal teve, neste período, como todos os outros Estados Membros, de cumprir um valor de recolha mínimo de 4kg/habitante/ano de REEE provenientes de utilizadores particulares. Linha vermelha no gráfico. Essa responsabilidade foi, em Portugal, passada diretamente para duas entidades gestoras, já que a realidade mostrou ser muito difícil às empresas Portuguesas constituírem sistemas próprios de gestão de resíduos embora previsto em lei. As entidades gestoras constituíram redes de recolha, através de vários canais veja-se gráfico. Analisada a contribuição destes canais, concluiu-se que a maior contribuição de 78% - provém de

Operadores de Gestão de Resíduos (OGR), os quais não estão explicitamente previstos na lei Operadores de Gestão de Resíduos são entidades comerciais que se dedicam à recolha e tratamento de vários tipos de resíduos elétricos e não elétricos provenientes de utilizadores particulares e sobretudo de não particulares. Equipamentos provenientes de utilizadores não particulares (industriais/empresas) são muito mais pesados que os seus equivalentes para utilizadores particulares (domésticos). Contudo os primeiros não contam para a meta de recolha dos 4kg. Analisando a contribuição dos equipamentos provenientes de utilizadores privados, concluiu-se que os grandes eletrodomésticos Categoria 1 nos gráficos - representam 60% do peso total, quer dos EEE quer dos REEE, visto que são maioritariamente equipamentos de substituição. Ora se os grandes eletrodomésticos são colocados via Distribuição, canal este que oferece um serviço de recolha gratuita do equipamento velho, na troca do novo, em casa do cliente, não se compreende como este canal só recolha 14% e os OGR consigam recolher 78%. Há uma intrusão de atividades que não é saudável e deixa lugar a muitas dúvidas. Talvez por isso, foi apontado que a solução das entidades gestoras recorrem a OGRs não seja permitida em vários Estados Membros. Comparando os resultados obtidos com os vários Estados Membros, conclui-se que Portugal, embora conseguindo cumprir a meta mínima dos 4kg/hab/ano e ficando à frente de países como a Estónia, a Grécia, Chipre, Lituânia; Malta, Polónia, Eslovénia e Eslováquia, está bem longe dos valores de recolha médios (6,8kg/hab) obtidos nos restantes países.

É um desempenho suficiente, mas longe de ser bom. Para compreender um pouco melhor estas diferenças de performance, foram apresentados os sistemas de gestão existentes na Irlanda, Dinamarca e Alemanha, através dos representantes das entidades de registo nacionais desses Estados Membros. Foram igualmente apresentadas as conclusões de um estudo comparativo sobre os custos de gestão para as empresas. Isto é, quanto é que custaria às empresas portuguesas a gestão da mesma quantidade de equipamentos que foram colocados em Portugal em 2014 (cerca de 122.000 toneladas), caso estas pudessem hipoteticamente colocar os seus EEE naqueles Estados Membros Os resultados foram penosos para as empresas Portuguesas. A Irlanda, possuindo um sistema semelhante a Portugal, centrado em duas entidades gestoras, apresentaria custos para as empresas da mesma ordem de grandeza - cerca de 9 milhões de euros. Contudo, a recolha de REEE seria sensivelmente o dobro da verificada em Portugal e só realizada junto da Distribuição e Sistemas Municipais. A Dinamarca possui um sistema misto, baseado em cinco entidades gestoras e sistemas individuais. Terá como caraterísticas mais marcantes o facto das entidades gestoras serem entidades comerciais e não sem fins lucrativos, como as existentes em Portugal e Irlanda. O mercado de gestão de REEE na Dinamarca é muito competitivo, e as empresas têm vindo a reduzir os seus custos de gestão, sendo atualmente praticamente nulos. Historicamente recolhem mais do triplo do Portugal. A Alemanha tem um sistema unicamente baseado em sistemas individuais e numa entidade de registo que coordena a responsabilidade de recolha de todas as empresas, verificando o seu cumprimento. O sistema Alemão apresentaria um custo de cerca de 2 milhões de euros para a mesma responsabilidade que em Portugal custou às empresas Portuguesas cerca de 9 milhões de Euros. As recolhas efetuadas seriam também aqui o dobro das verificadas em Portugal. Figura 6- Custos de gestão e resultados de recolha PT, IR, DK e GE

Em resumo, conclui-se que embora o sistema nacional, baseado em unicamente duas entidades gestoras, pareça cumprir metas mínimas de recolha, há sistemas muito mais eficientes do que o nacional. Os números nacionais, coordenados pelo Estado, deixam lugar a dúvidas, dúvidas essas que o próprio Estado tem sido incapaz de identificar e em devido tempo esclarecer. A nova legislação sobre gestão de REEE em Portugal, entretanto saída em 2014 e reproduzindo uma nova Diretiva, vai trazer já no final de 2016 novas metas de recolha. Essas metas deixam de ser estanques de 4kg/hab/ano - e passam a ser calculadas em função do que é colocado no mercado (EEE) nos três últimos anos. A nova legislação (DL 67/2014) atribui a recolha dessa informação de mercado (EEE) às entidades gestoras que são, simultaneamente, as responsáveis pelo cumprimento das metas de recolha. É um jogo pouco claro em que, quem é obrigado a recolher, tem condições para poder escolher quanto recolhe e que terá como única virtude garantir um eterno cumprimento de metas, mas nada trazendo de mudança relativamente à pouca eficácia do sistema existente e aos elevados custos que as empresas nacionais suportam. Portugal precisa de mais concorrência. Mais entidades gestoras, com diferentes modelos de negócio e sistemas individuais. Em 2008 existiam, em Portugal, 6 pedidos de licenciamento de sistemas individuais. Passados oito anos, um deles persiste a aguardar licença, tendo os outros desistido e feito contratos com entidades gestoras. - Oito anos a aguardar licença? O Estado necessita de rever as suas opções e não é uma eventual passagem de mais controlo para o Estado que será solução. Mesmo a introdução de E-GARS, que parece ser a menina dos olhos dos nossos governantes não trará nem clareza nem simplificação basta comparar sistemas de classificação REEE e códigos LER para ver a ineficiência dessa solução. Na gestão de REEE, o Estado não é também a entidade independente que se quer fazer passar, mas antes uma parte interessada - por acaso a mais interessada - já que do não cumprimento das quotas mínimas nacionais este não só ficará mal face a Bruxelas como ainda terá que pagar multas. Necessitamos de, à semelhança dos sistemas existentes nos países atrás mencionados, possuir uma entidade de registo independente de interesses instalados, de cumprimentos de meta e unicamente centrada em servir as empresas. Passar mais controlo para o Estado é perpetuar o sistema que esse Estado ajudou a criar e que é caro e ineficiente.