MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE



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Aqui você vai encontrar esclarecimentos importantes a respeito de seus direitos.

Transcrição:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DE SERGIPE EXCELENTÍSSIMO (a) SENHOR (a) JUIZ (a) FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante assinado, com atuação no Ofício do Consumidor e do Patrimônio Público, vem perante Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 5º, XXXII, 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988, nos artigos 5º, inciso VI, artigo 6º, inciso VII, alínea "c" e 39, inciso III, da Lei Complementar nº 75/93 e artigo 1º da Lei nº 7347/85 e nos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8.078/90, ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA contra CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF), instituição financeira constituída sob a forma de empresa pública, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 4, lotes 13/4, em Brasília DF, CGC/MF 00.360.305/0001-04, representada por seu Escritório de Negócios SERGIPE, com sede na Rua João Pessoa, 357, 4º andar Centro, em Aracaju/SE;

CONSTRUTORA CELI LTDA, empresa de construção civil, inscrita no CNPJ sob nº 13.031.257/0001-52, com sede na Av. General Calazans, nº 862 Bairro Industrial, também nesta Capital; CAIXA SEGURADORA S/A (Caixa Seguros), pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 34.020.354/0010-00, com sede na Rua Dr. José Peroba, nº 349, térreo, Ed. Empresarial Costa Azul, Bairro Stiep, Salvador-BA; COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA, inscrita no CNPJ sob o nº 15.144.017/0001-90, com sede na Rua Pinto Martins, nº 11, Edf. Comendador Pedreira, Comércio, Salvador/BA, pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos: 1. OBJETIVO DA AÇÃO A presente ação busca defender a coletividade de consumidores mutuários da Caixa Econômica Federal (CEF), em especial os moradores do Edifício Pedra Azul, do Condomínio Residencial Parque Diamante, tendo em vista a sua demolição parcial, em decorrência da constatação de perigo de desabamento ocasionado por vício de construção. Na hipótese, a primeira demandada, Caixa Econômica Federal, faltou com o dever de fiscalização e acompanhamento da obra, a Construtora CELI com a obrigação contratual e ética de executar serviços de boa qualidade e a Caixa Seguros, através da Companhia de Seguros Aliança da Bahia, não procedeu à restauração imediata e ressarcimentos devidos, motivos pelos quais os moradores acabaram sendo desrespeitados tanto como consumidores quanto como cidadãos, provocando assim a intervenção do Ministério Público Federal para equilibrar esta desigual relação de consumo. 2

2. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL O Ministério Público, elevado à categoria de Instituição permanente e indispensável à função jurisdicional do Estado, nos termos do art. 127 da Constituição de 1988, tem como funções precípuas a defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Cumpre destacar que a defesa do consumidor é obrigação do Estado, elevado pela Carta Magna ao nível de direito e garantia fundamental, conforme se constata da redação do inciso XXXII, do artigo 5. do Texto Constitucional, abaixo transcrito, in verbis: Art. 5.º (...) XXXII O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (grifou-se) No caso versado nos autos, a defesa do consumidor está sendo efetuada pelo Ministério Público Federal, tanto por dever constitucional como legal, em face das disposições do artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, dos artigos 5º, 6º e 39 da Lei Complementar nº 75/93, do artigo 1º da Lei nº 7347/85 e, também dos artigos 6º e 82, inciso I, da Lei nº 8078/90. Este Órgão do Ministério Público Federal vem perante esse respeitável Juízo defender os interesses dos mutuários da Caixa Econômica Federal em face dessa mesma instituição financeira, que são, por conseguinte, segurados da Caixa Seguradora S/A, como é o caso dos moradores do Edifício Pedra Azul, no Condomínio Residencial Parque Diamante. O liame existente entre os moradores, substituídos na presente lide pelo Ministério Público Federal, e os requeridos, baseia-se na relação de consumo concretizada em face da construção do imóvel pela Construtora CELI LTDA e financiado pela Caixa Econômica Federal. 3

Assim, ao firmar contrato de mútuo com a CEF, o adquirente, por força de normatização dessa instituição financeira, no caso de possíveis danos físicos ao imóvel, é segurado pela Caixa Seguradora S/A, que terceirizou o serviço para a Companhia de Seguros Aliança da Bahia. Com efeito, estabelece o art. 3º da Lei 8078/90, in verbis: Art. 3 Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. 2 Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. A jurisprudência pátria tem firmado entendimento no sentido da legitimidade ativa do Ministério Público para a propositura de ações visando à defesa de interesses individuais homogêneos em relações de consumo, bem como da legitimidade de instituições financeiras para figurarem no pólo passivo como fornecedoras, conforme se extrai do julgado do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, no AC 03007950-9/94, Decisão de 05/12/1995, DJ 31/01/96: ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA, LEGITIMIDADE, MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, REBATE DA COBERTURA DO PROAGRO. 1. O Banco Central do Brasil é Administrador do PROAGRO, sendo que seus recursos são geridos e liberados pela autarquia. 4

Nessa qualidade, o BACEN é parte legítima para figurar no pólo passivo de relação processual. 2. Omissis; 3. O Ministério Público Federal é parte legítima, como substituto processual, para promover a Ação Civil Pública, relativamente a defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, estes últimos restritos a danos decorrentes de relações de consumo (artigo 81, parágrafo único, inciso III e 91 da Lei nº 8078/90). Em casos excepcionais, mesmo na ausência de autorização legal, o Ministério Público Federal pode atuar como substituto processual, na defesa de interesses individuais homogêneos que tenham significação social relevante (art. 127, da Constituição Federal). 4. O Ministério Público Federal tem legitimidade para a propositura da presente Ação Civil Pública, como substituto processual dos produtores, titulares de interesses individual homogêneo, na qualidade de consumidores do Serviço Securitário do PRODAGRO. Compartilha do mesmo entendimento o renomado doutrinador Nelson Nery Júnior, cuja lição segue transcrita: Como é função institucional do Ministério Público a defesa dos interesses sociais (art. 127, caput, CF), essa atribuição dada pelo art. 82 do CDC obedece ao disposto no art. 129, n. IX, da CF, pois a defesa coletiva do consumidor, no que tange a qualquer espécie de seus direitos (difusos, coletivos ou individuais homogêneos) é, ex vi, de interesse social no ajuizamento de ações coletivas. Consulta aos interesses de toda a sociedade, o fato de ajuizar-se uma demanda apenas, cujo objetivo seja solucionar conflitos coletivos (coletivos strictu sensu ou individuais homogêneos) ou difusos. Assim, a simples 5

circunstância de a lei haver criado uma ação coletiva, o seu exercício já é de interesse social, independentemente do direito material nela discutido. (...) Pode o Ministério Público ajuizar qualquer demanda coletiva, na defesa de qualquer direito que possa ser defendido por meio de ação coletiva (difuso, coletivo ou individual homogêneo). ( O Ministério Público e as Ações Coletivas, in MILARÉ, Edis. Ação Civil Pública. Lei 7.347/85 Reminiscências e Reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: RT, 1995). A presente Ação Civil Pública visa a defender os interesses individuais homogêneos dos consumidores, mutuários da Caixa Econômica Federal, que tiveram seus imóveis destruídos e, até a presente data, em decorrência da mora na execução dos serviços de recuperação do prédio, sofrem as conseqüências deste fato. Com isso, resta comprovada a legitimidade ativa do Ministério Público Federal para a propositura da presente Ação Civil Pública, sendo competente a Seção Judiciária da Justiça Federal no Estado de Sergipe para processar e julgar o feito, pois a demanda envolve diretamente a Caixa Econômica Federal, empresa pública federal, cujo foro federal decorre do art. 109, inciso I, da Constituição Federal. 3. DOS FATOS Através de representação perante esta Procuradoria da República em Sergipe que deu origem ao Procedimento Administrativo 1.35.000.000509/2002-51 anexo, as Senhoras Franci de Brito Rangel e Maria de Fátima Carvalho Silva Maia, proprietárias de apartamentos no Condomínio Residencial Parque Diamante, denunciaram a ocorrência problemas de segurança na estrutura física dos seus imóveis, no Edifício Pedra Azul, construído pela empresa Celi Ltda, e que teve como órgão financiador a Caixa Econômica Federal. 6

Relataram a angústia de todos os moradores do Edifício Pedra Azul, bem como de todos os que vivem naquele Condomínio, em vista do total descaso das autoridades, que deixaram as vítimas em situação de total impotência e desamparo, não somente em face de sua condição de inferioridade ante o fornecedor, como também pelos frágeis instrumentos de defesa de que dispõem, situação esta provocada por negligência, imprudência e imperícia dos responsáveis, ora demandados. De fato, constatou-se através das informações coligidas aos autos do procedimento que instrui a presente ação, que as primeiras rachaduras no Edifício Pedra Azul surgiram no ano de 1999, o que fez com que moradores do aludido prédio recorressem à Defesa Civil do Estado para a elaboração de um laudo técnico, a fim de averiguar a real situação do imóvel. Em junho de 1999 a Defesa Civil emitiu relatório de vistoria de análise de salubridade e aspectos de segurança física da edificação, constatando a falha estrutural do prédio, comprometendo a segurança daquele imóvel. Assim, as declarantes se dirigiram à Caixa Econômica Federal, onde expuseram o problema ao gerente do setor de habitação, que prometeu uma vistoria no prédio através da Caixa Seguros, Empresa Seguradora da CEF. Em que pese a urgência e relevância do problema, somente em novembro de 2001 a vistoria foi efetivada pelo departamento de engenharia da CEF, concluindo que o problema tratava-se de vício de construção e também que o prédio estava em situação de risco de desabamento (fls. 14 do procedimento administrativo). Essa constatação foi posteriormente ratificada pela Caixa Seguros através do Laudo de Vistoria Especial - LVE (fls. 24/27). 7

Já em junho de 2002 a Caixa Seguros enviou comunicado aos moradores do prédio avariado para que desocupassem o prédio no período de 30 dias, o que foi atendido imediatamente pelos moradores, procedendo-se à entrega das chaves dos imóveis pelos proprietários/mutuários. Nada obstante, a mora dos responsáveis pela recuperação do prédio persistiu por mais um mês após a entrega das chaves dos imóveis para a Caixa Seguros, que, através da Cia. de Seguros Aliança da Bahia, contratou a empresa CARVAN Engenharia Ltda. para a prestação dos serviços de recuperação. Com a obra já iniciada detectou-se ainda que as fissuras no edifício aumentaram, motivo pelo qual os moradores acionaram mais uma vez a Defesa Civil e, ainda, o CREA, a EMURB, o Corpo de Bombeiros, o Ministério do Trabalho e os veículos de comunicação social, denunciando os fatos e o descaso na condução do problema pelas pessoas responsáveis pela reparação do imóvel. Após nova vistoria, restou constatado o risco de desabamento com conseqüências graves, inclusive para os prédios vizinhos, fazendo com que os órgãos responsáveis procedessem à demolição parcial do edifício. É de ressaltar-se que logo após a demolição, devido à falta de vigilância por parte da empresa contratada CARVAN e pela Caixa Seguros, foram furtados diversos pertences que ainda guarneciam os imóveis dos moradores, conforme se constata do Boletim de Ocorrência de fls. 08/09. Com os apartamentos destruídos, os moradores foram obrigados a pagar aluguéis e despesas com seu deslocamento para outra moradia, a maioria deles sem as mínimas condições financeiras, trazendo transtornos de caráter econômico, emocional e moral. Em resposta a esta Procuradoria, a CEF alegou que poucos imóveis ainda possuíam financiamento, sendo somente estes os apartamentos segurados pela Caixa, complementando que nenhuma das reclamantes tem 8

financiamento ativo, mas que terão os seus imóveis recuperados. Aduziu que só serão indenizáveis os encargos mensais devidos pelo segurado quando for constatada a necessidade de desocupação do imóvel e informou que os imóveis serão devolvidos ao fim da obra com todos os pertences que nele se encontravam no momento da desocupação, devendo a mesma ser finalizada 08 (oito) meses após o seu início. Através de reunião realizada nesta Procuradoria com a Caixa Econômica Federal, a Companhia de Seguros Aliança da Bahia (terceirizada da Caixa Seguros), Carvan Engenharia Ltda. e a Construtora Celi Ltda., em 3 de dezembro de 2002, definiu-se que a entrega do prédio seria até 31/05/2003. Além disso, a Construtora Carvan, sob a responsabilidade da Cia. de Seguros Aliança da Bahia, incumbiu-se no pagamento de R$ 300,00 (trezentos reais) por mês para cada um dos 16 apartamentos, de 1º de fevereiro do corrente até a entrega do prédio, a título de indenização de aluguel, conforme expediente da Caixa Seguros, de 11/12/2002, constante às fls. 207/208. Apesar disso, até a presente data os serviços de restauração do Edifício Pedra Azul não foram concluídos, ocasionando um maior prejuízo aos seus moradores, tendo em vista despesas com novos contratos de locação para um período indeterminado, gerando multas contratuais, sendo desnecessário citar aqui outros prejuízos de ordem material e moral decorrentes da mora causada pelas empresas demandadas. Como se não bastasse, alguns moradores que fazem jus às indenizações dos aluguéis já vieram a esta Procuradoria informar que os pagamentos são feitos com atraso quase todos os meses, inclusive no último mês de junho, informação esta confirmada pelos Ofícios nº s 0241/GITER/AJ e SS/135/2003 (fls. 239 e 241 do procedimento). 4. DO DIREITO 9

4.1. DA RESPONSABILIDADE DA CEF Através da lei 4.380/64 foi instituído o Sistema Financeiro da Habitação, com o objetivo de facilitar e promover a construção e a aquisição da casa própria ou moradia, especialmente pelas classes de menor renda da população (art. 8 da referida lei). Dada a sua pertinência na solução dos fatos trazidos à apreciação desse Juízo, dois aspectos merecem ser enfocados nesse sistema. Primeiramente, há que se ressaltar a congregação de órgãos públicos e privados, todos com um só objetivo macro, que é o de prestar um serviço ao cidadão de menor renda, fornecendolhe habitação. O extinto Banco Nacional de Habitação, através do Decreto-Lei nº 2.291/86 foi incorporado pela Caixa Econômica Federal que, conseqüentemente, incorporou as atribuições daquele, passando a encabeçar o Sistema e competindo-lhe, de acordo com os arts. 17 e 18, da Lei n. 4.380/64 (antes atribuições do extinto BNH), orientar, disciplinar e controlar o sistema financeiro da habitação (art. 17, inciso I, da Lei 4.380/64). Assim, a Caixa Econômica Federal obrigatoriamente deverá realizar controle sobre o sistema financeiro de habitação que, por força do dispositivo legal em destaque, obviamente se estende às pessoas jurídicas de direito privado que incorporam e constroem os imóveis que serão, posteriormente, fornecidos ao consumidor pela própria Caixa Econômica Federal. Além disso, é necessário que se aquilate a relevância social da questão moradia, sendo por isso que o Governo Federal, na sua função de formulador da política de habitação, normatizador, fiscalizador e orientador do Sistema Financeiro Habitacional, não pode se omitir na solução dos problemas daí decorrentes. 1 0

Portanto, existe uma obrigação social do Estado enquanto ordenador de todo esse Sistema, que é financiado por recursos públicos, daí decorrendo duas obrigações fundamentais para os órgãos públicos dele integrantes: o de fiscalizar a correta aplicação dos recursos públicos e o de cumprir com a sua função social. Veda-se, na verdade, o abandono governamental do mutuário-consumidor, relegando-o à própria sorte, seja por ser mutuário, encontrando-se na cadeia final do sistema habitacional, que tem as características acima alinhadas, seja porque ele é verdadeiramente um consumidor, que merece a proteção legal. A Caixa Econômica Federal, por meio das operações relativas ao Sistema Financeiro de Habitação firma contratos inicialmente com as empresas de engenharia, responsáveis pela execução de projetos previamente aprovados pela assessoria de Engenharia daquela empresa pública, transferindo ao patrimônio daquelas o montante necessário à execução da obra. Devido ao próprio instrumento contratual, a CEF é dotada de poderes que, em razão da atividade administrativa desempenhada, transformam-se em deveres pertinentes à fiscalização da execução do projeto previamente aprovado. Esta fiscalização não se restringe apenas às medições feitas no decorrer da obra, mas diz respeito, num mesmo patamar, à constatação da utilização do material acordado e aprovado para a construção, bem como os possíveis vícios de construção apresentados durante sua execução. O Colendo STJ entende que A CEF deve figurar no processo em que se discute defeitos de construção, financiada com recursos do sistema financeiro de habitação, pois lhe compete fiscalizar, apontar as irregularidades e determinar as respectivas correções à empresa encarregada da obra. Decisão esta proferida no AG 96.01.34137-4/PI, Rel. Juiz Jamil Rosa de Jesus, 3 a Turma, Dec. 13.11.1998, DJ 26.02.1999). 1 1

Desse modo, a Caixa Econômica Federal tinha o poder-dever de fiscalizar a obra executada pela CONSTRUTORA CELI LTDA, tendo sido, contudo, negligente, não detectando tal defeito de construção porque simplesmente não cumpriu com a sua obrigação legal e contratual. O art. 186 do Código Civil Brasileiro em vigor dispõe que aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. O mesmo diploma legal obriga o causador do ato ilícito a reparálo, conforme se depreende do artigo 927, pois Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Assim sendo, a CEF tinha o dever de fiscalizar a execução da obra e especificação de materiais, o que não foi feito por pura e estrita negligência, vindo a dar causa aos danos sofridos pelos moradores do Edifício em questão sendo, portanto, obrigada a repará-los, por imposição legal. Ademais, conforme Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil Brasileiro), o ato ilícito que causa prejuízo a outrem cria o dever de reparar a lesão, in verbis: O ato ilícito é o praticado culposamente em desacordo com a norma jurídica destinada a proteger interesses alheios; é o que viola direito subjetivo individual, causando prejuízo a outrem, criando o dever de reparar tal lesão. Para que se configure o ilícito será imprescindível um dano oriundo de atividade culposa (...) É de ordem pública o princípio que obriga o autor do ato ilícito a se responsabilizar pelo prejuízo que causou, indenizando-o ( 7º. Volume, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 1995) 1 2

O CDC, em seu art. 14, impõe a responsabilidade objetiva do fornecedor pelo dano causado por serviços defeituosos, litteris: Art. 14. O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Tendo em vista a natureza jurídica da Caixa Econômica Federal de empresa pública, aliado ao entendimento de que o Sistema Financeiro de Habitação é um serviço público, em face do aspecto social que representa a moradia a milhares de famílias que dele se beneficiam, subsiste ainda mais a responsabilidade objetiva da CEF de ressarcir aos mutuários lesados pela sua prática abusiva, conforme o art. 37, 6º, da Constituição Federal, que estabelece: Art. 37. (...) 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa Por isso, mesmo que não configurada a culpa da Caixa Econômica Federal na atual situação em que se encontra o imóvel e o perigo à vida dos moradores do prédio em tela, ainda assim subsiste o seu dever de indenizar, em face da responsabilidade objetiva do fornecedor de serviços, baseada no Código de Defesa do Consumidor e na responsabilidade objetiva dos prestadores de serviço público, com fundamento Constitucional. 1 3

4.2. DA RESPONSABILIDADE DA CELI Consumidor é todo aquele que no mercado de consumo adquire bens como destinatário final e fornecedor é o responsável pela colocação de produtos à disposição do consumidor. A relação de consumo, no caso dos autos, dá-se pelo binômio fornecedor (Construtora CELI Ltda) - consumidores (destinatário final do serviço prestado proprietários). O art. 4º, II, c do CDC dispõe que os serviços prestados devem prezar pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho, sendo as empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes e seguros (art. 22), sob pena de serem compelidas ao cumprimento e à reparação dos danos causados (art. 22, parágrafo único). Já em seu art. 12, o Código de Defesa do Consumidor obriga a construtora, com responsabilidade objetiva, ao ressarcimento do dano causado pela construção viciada, conforme transcrito abaixo: Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador, respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. 1 4

A vistoria feita pelo departamento de engenharia da CEF, em novembro de 2001, concluiu que o problema do Edifício Pedra Azul tratava-se de vício de construção e o prédio estava com risco de desabamento (fls. 14 do procedimento administrativo). Essa constatação foi ratificada pela Caixa Seguros através do Laudo de Vistoria Especial - LVE (fls. 24/27) que, no seu primeiro item descreve: Ameaça de desmoronamento, caracterizada por fissuras e trincas generalizadas nas paredes da edificação, em disposições horizontais, verticais e diagonais, com profundidades que atravessam o emboço e que se encontram ativas devido as cargas que se transladam as fundações apresentarem-se desiguais e/ou o solo no qual foi construído a edificação ser heterogêneo, configurando, assim, vício de construção como causa do sinistro. (grifou-se) A construtora CELI, em defesa apresentada às fls. 208/211, tenta esquivar-se da responsabilidade, sob a alegação que só responde pela solidez e segurança da obra no prazo prescricional de 05 (cinco) anos, invocando o art. 618 do Código Civil em vigor, correspondente ao art. 1245 do Código de 1916. Todavia, o prazo qüinqüenal previsto não é de prescrição, mas de garantia, sendo o prazo prescricional de 20 (vinte) anos, contado somente a partir do conhecimento do vício. Assim, tem-se o período de cinco anos desde a entrega da obra e mais vinte para a ação, a partir da data do defeito. abaixo transcritos: Este é o entendimento da jurisprudência, conforme julgados EMPREITADA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFICIO EM CONDOMINIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 1.245 DO 1 5

CODIGO CIVIL. GARANTIA QUINQUENAL. PRAZO PRESCRICIONAL VINTENARIO. O art. 1.245 do Código Civil - prazo qüinqüenal de garantia - deve ser interpretado e aplicado tendo em vista as realidades da construção civil nos tempos atuais. Defeitos decorrentes do mau adimplemento do contrato de construção, e prejudiciais a utilização das unidades de moradia, não constituem vícios redibitórios, e sua reparação pode ser exigida no prazo vintenário. Não incidência do art. 178, parágrafo 5., IV, do Código Civil aos casos em que o defeito na coisa imóvel não se caracteriza como vicio redibitório. Recurso especial conhecido pela alínea 'c', mas não provido. (STJ - RESP 32676. Proc.: 199300055712 SP, QUARTA TURMA. 09/08/1993. DJ 16/05/1994 PÁG.:11772, Relator ATHOS CARNEIRO). E ainda: EDIFICIO DE APARTAMENTOS. DEFEITOS. RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR. PRESCRIÇÃO. Não se tratando de vícios redibitórios, a reparação dos danos pode ser reclamada no prazo vintenário. Precedentes do STJ. Não acolhimento das preliminares suscitadas em contestação. Decisão proferida quando do saneamento da causa mantida. recurso especial não conhecido. (STJ - RESP 23672 Proc.: 199200150675 PR, QUARTA TURMA. 13/06/1995 - DJ 23/10/1995 PÁG.: 35674, Relator: BARROS MONTEIRO). Assim, como os defeitos determinados são derivados da má qualidade dos serviços, bem como de vícios dos materiais empregados na construção, não ocorreu a prescrição, já que o problema foi conhecido em 1999, tendo 1 6

sido realizada vistoria em 15 de junho do mesmo ano (fls. 31 do procedimento anexo), cabendo à Construtora CELI a reparação dos danos. 4.3. RESPONSABILIDADE DA CAIXA SEGUROS E DA COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA Dispõe o art. 757 do Código Civil Brasileiro que, quanto ao prejuízo decorrente do sinistro previsto no contrato, a responsabilidade é da sociedade seguradora, conforme dispõe textualmente: Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. A SASSE, Companhia Nacional de Seguros Gerais foi fundada em 1967 e sua denominação, a partir de 1998, foi modificada para SASSE Caixa Seguros. Em 2000, passou a se chamar Caixa Seguradora S/A, que é sua a atual denominação. Com o nome de fantasia de Caixa Seguros, a Caixa Seguradora S/A é a seguradora oficial de todos os financiamentos da Caixa Econômica Federal, atuando em diversos tipos de contratos de seguros. A Caixa Seguros possui uma vasta rede de empresas terceirizadas que recebem a comissão relativa ao seguro que acompanham, dentre as quais encontra-se a Companhia de Seguros Aliança da Bahia, contratada para acompanhamento do Seguro do Edifício Pedra Azul, tendo por obrigação atender aos segurados e executar quaisquer serviços decorrentes do contrato de seguros. Através do Ofício SS/DFI-108/2003 (fls. 231/232), a Companhia de Seguros Aliança da Bahia, em nome da Caixa Seguros, informa que a supervisão, controle e acompanhamento das obras cabe: 1 7

2.1 Na fase de Construção: a) A Engenharia do Estipulante (entidade financiadora da construção) acompanhar as obras de construção do imóvel; b) A Engenharia da Seguradora, nos casos de sinistros cobertos pela Apólice do SFH que se enquadra em Responsabilidade Civil do Construtor RCC. 2.2 Imóveis Construídos: A engenharia da Seguradora até o término da recuperação da obra no imóvel sinistrado. Assim, sendo da Seguradora a responsabilidade de supervisão, controle e acompanhamento, também recai sobre si o ônus de pagamento dos aluguéis dos moradores durante o período de restauração, o que vem ocorrendo, porém de forma irregular, com diversos atrasos nas mensalidades. Além disso, o atraso no término da obra está ocasionando um maior prejuízo aos moradores, tendo em vista despesas com novos contratos locatícios para um período indeterminado, gerando multas contratuais que deverão ser indenizadas. Na ocorrência de sinistro que impossibilite a utilização do imóvel pelos moradores, a jurisprudência pátria tem se posicionado no sentido de que cabe à Seguradora, inclusive, o pagamento dos aluguéis, conforme decisão do TJSC, 2ª CCv, Acv 41.690, j. 27/06/95, rel. Des. Gaspar Rubik, DJSC, 16/05/96, p. 7, in litteris: INDENIZAÇÃO. DANOS CAUSADOS POR ENCHENTE. SEGURO HABITACIONAL. BENEFICIÁRIOS QUE SE OPUSERAM A REPAROS INICIAIS POR CONSIDERÁ- LOS INSUFICIENTES. RECUSA QUE SE JUSTIFICA. 1 8

RESPONSABILIDADE DA SEGURADORA PELA AMPLIAÇÃO POSTERIOR DOS DANOS EM DECORRÊNCIA DE NOVO E IGUAL SINISTRO. Não se dispondo a reparar devidamente os danos causados a imóvel segurado atingido por enchente, é justa a recusa do segurado em impedir a realização de consertos insuficientes ou incompletos para repor aquele em condições de perfeita segurança e habitabilidade. Sua recusa, em tal hipótese, não afasta o dever de indenizar da seguradora que responde, inclusive, pela ampliação dos danos provocados por nova e igual catástrofe. Aluguéis despendidos pelos beneficiários. Ônus da seguradora. Os aluguéis despendidos pelos beneficiários, em virtude de impossibilidade material de utilizarem sua residência, devem ser ressarcidos pela seguradora. A indenização devida pelo descumprimento da cláusula de seguro deve ser a mais ampla possível e abranger todos os danos causados Ademais, o Edifício Pedra Azul passou por uma série de vistorias que constataram a necessidade de sua demolição e, depois de demolido, o início das obras de restauração não foi imediato, causando um maior transtorno que, somado à falta de vigilância e fiscalização dos escombros, deu margem à ocorrência de furtos dos pertences dos moradores, como demonstram os boletins de ocorrências de fls. 08 e 09 do procedimento administrativo, sendo necessária, ainda, indenização dos prejuízos causados por essa falta de fiscalização. 5. DA TUTELA ANTECIPADA O artigo 12 da Lei de Ação Civil Pública Lei nº 7.347/85 estabelece a possibilidade de antecipação de tutela, nos casos de possibilidade de dano irreparável ao direito em conflito, decorrente da natural morosidade na solução da lide. 1 9

O art. 273 do CPC prevê dois pressupostos básicos que legitimam a tutela antecipatória, quais sejam, a verossimilhança da alegação e fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação. No presente caso, a verossimilhança reside na abusividade cometida pelas rés que, faltando com os seus deveres de fiscalização, execução, prestação de serviços de boa qualidade, ressarcimento de prejuízos, restauração do imóvel, cumprimento do prazo determinado etc, estão em total discrepância com o ordenamento jurídico vigente. Restam violados, com essa conduta, consoante fartamente demonstrado, diversos dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, do Código Civil e da Lei 4.380/64 que dispõem sobre as obrigações do fornecedor, da empresa construtora e da seguradora, bem como o dever de fiscalização a entidade que financiou a obra. De outra parte, o receio de dano irreparável justifica-se pela natureza do direito em questão. Tratando-se de interesse público, não podem os consumidores/moradores, por um período de tempo indeterminado, estarem financeiramente à disposição das empresas que têm a obrigação de restaurar o imóvel o mais rápido possível. 6. DOS PEDIDOS Por tudo o quanto acima se expôs o Ministério Público Federal requer, liminarmente e inaudiatur et altera pars seja determinado o pagamento dos aluguéis a todos os moradores do edifício, independentemente de serem ou não mutuários da CEF, em valor estipulado em R$ 300,00 (trezentos reais), valor já aceito anteriormente em acordo firmado neste Ministério Público Federal entre as rés e os 2 0

moradores do prédio, até o último dia útil de cada mês, impondo-se multa diária no caso de descumprimento, no valor de R$ 10.000,00. No mérito, requer o Ministério Público Federal: a) Seja confirmada integralmente a liminar acima requerida; b) Sejam condenadas as rés, solidariamente, a reconstruírem o edifício parcialmente demolido; c) Sejam condenadas as rés a indenizarem todos os moradores, independentemente de serem ou não mutuários da CEF, e, portanto, segurados, por todos os meses em que estiveram privados do uso dos seus respectivos imóveis, ou seja, desde a sua retirada do prédio até a reocupação dos imóveis em condições perfeitas de habitabilidade; d) Sejam condenadas as rés ao ressarcimento de todas as despesas com mudanças dos moradores, uma vez que decorrentes da exigência de saírem do prédio, a serem apuradas em liquidação; e) Sejam condenadas ao ressarcimento das multas e juros pagos pelos moradores em decorrência dos atrasos no pagamento dos aluguéis pelas rés e ao pagamento das custas e despesas processuais. Requer a citação da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, da CONSTRUTORA CELI LTDA, da CAIXA SEGURADORA S/A e da COMPANHIA DE SEGUROS ALIANÇA DA BAHIA nos endereços constantes nesta inicial para, querendo, contestarem a presente ação e acompanharem-na em todos os seus trâmites até o seu julgamento final. 2 1

Estes são os termos em que o Ministério Público Federal, dando à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), protesta pela produção de provas por todos os meios em direito admitidos e pede deferimento, com expresso requerimento de concessão do direito de inversão do ônus da prova a favor do consumidor, nos termos do artigo 6º, inciso VIII do CDC. Aracaju, 10 de julho de 2003. João Bosco Araújo Fontes Júnior Procurador da República 2 2