COLEÇÕES PRIVADAS: O ACERVO DE EDMUNDO CARDOSO 1



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Transcrição:

COLEÇÕES PRIVADAS: O ACERVO DE EDMUNDO CARDOSO 1 Anderson Gonçalves Gandor e Denise de Fátima Martins Oliveira 2 Roselâine Casanova Corrêa 3 Resumo Este artigo, o objetivo é oferecer melhor entendimento sobre a conservação do patrimônio cultural e o museu como fonte de pesquisa, com um olhar renovado sobre seus objetos. Para tanto, realizou-se um estudo sobre o acervo pertencente a Edmundo Cardoso, grande admirador das artes e que procurou compilar várias coleções de documentos, quadros e fotografias que resgatam e contam a história de Santa Maria e da Escola de Teatro Leopoldo Fróes. O acervo não se constitui ainda um museu, embora esteja sendo preparado e adequado para tal. A idéia é estabelecer no prédio o Museu-Casa de Pesquisa e Exposição das coleções adquiridas por Edmundo Cardoso. Em um constante processo de organização e seleção das coleções, o futuro museu anseia pela preservação da memória e do patrimônio cultural da cidade de Santa Maria. Com acesso à pesquisa se estará fortalecendo sentimentos de identidade e a formação de uma história em construção, na cidade em referência. Palavras-Chave: Museu. Coleções Particulares. Edmundo Cardoso. INTRODUÇÃO Como grande admirador das artes, Edmundo Cardoso, ao longo de sua vida primou pela preservação e valorização tanto da memória, quanto da preservação do passado, através de objetos, fotografias, quadros, jornais, dentre tantos artefatos que contam não somente a história de pessoas como a própria história da cidade de Santa Maria. Na pinacoteca, constam obras de Iberê Camargo, Juan Carlos Amoretti, dentre outros artistas, coleções essas compradas ou presenteadas. A coleção de fotografias retrata o cenário da cidade de Santa Maria no final do século XIX e metade do século XX, com cenas de reuniões, festividades, atividades políticas e econômicas. Também se encontram expostas fotografias de cenas teatrais encenadas por Edmundo Cardoso e fotografias de grandes artistas do cinema como o Gordo e o Magro, Charles Chaplin e outros que se destacam na década de 1940. 1 Trabalho realizado na disciplina de Museologia e Ensino do Curso de História (UNIFRA) 2 Acadêmicos do Curso de História (UNIFRA) 3 Professora da disciplina de Museologia e Ensino do Curso de História (UNIFRA)

2 Edmundo Cardoso nasceu em Santa Maria, em 1917, teve grande prestígio em sua atuação como jornalista, escrivão, cronista, ator e diretor de teatro. Como grande admirador das artes, procurou compilar várias coleções de documentos, quadros e fotografias que reproduzem e contam a história de Santa Maria e da Escola de Teatro Leopoldo Fróes.O acervo não é ainda um museu, embora esteja sendo preparado e sistematizado para tal. Pretende-se estabelecer no prédio o Museu-Casa de Pesquisa e Exposição das coleções adquiridas por Edmundo Cardoso. Neste artigo, com o uso de uma pesquisa de diagnóstico, analisa-se e faz-se um levantamento do estado de conservação e funcionamento do Acervo Edmundo Cardoso, assim como está a preservação das coleções privadas. Do mesmo modo, há uma referência à importância da preservação do patrimônio e da memória que revê a identidade e a história da cidade de Santa Maria. AS COLEÇÕES PRIVADAS E A CONSERVAÇÃO DA HISTORIA O termo museu surgiu na Grécia antiga, sendo a casa das musas, com significado de templo e instituição de pesquisa, para agradar as divindades e guardar a memória absoluta. A partir do século XIV, durante a Idade Média, várias coleções particulares começam a surgir como forma de riqueza e poder. Por um longo período foram restritas ao público, sendo que hoje as coleções buscam a preservação da memória e do patrimônio (SUANO, 1986). As coleções particulares procuram guardar e expor objetos de valor pessoal e também coletivo, preservando-se o patrimônio cultural. Compreende-se, assim, por patrimônio cultural todo e qualquer artefato humano que, tendo um forte componente simbólico, seja de algum modo representativo da coletividade, da região, da época específica, permitindo melhor compreender-se o processo histórico (PELLEGRINI FILHO, 1993, p.96). Nesse mesmo enfoque, percebe-se que uma das formas de preservar o patrimônio portanto o passado é conhecê-lo e fazer com que sua comunidade o conheça e o valorize (CORRÊA & MENDONÇA, 2003, p. 2-3). Por isso, a preservação deve partir de uma conscientização realizada a longo prazo e com o empenho junto à comunidade. No Brasil, a preocupação preservadora por parte do governo é relativamente nova [...] (LEMOS,2000,p.34). Do mesmo modo, o descaso e a falta de uma política que assegure a preservação, são as difíceis questões com que a preservação

3 patrimonial e cultural se depara. Quantos locais públicos e quantas fachadas são tombadas na cidade de Santa Maria? Sabe-se que existem muitos tombamentos que definem Santa Maria como Cidade Cultura. No entanto, o que se percebe são patrimônios abandonados, sem o devido cuidado. As coleções privadas são menos conhecidas e reconhecidas do que as coleções públicas, porém possuem melhor cuidado. Portanto, guardar a memória, preservá-la e compartilhá-la, muitas vezes. só se faz possível, através de acervos particulares, coleções guardadas junto às famílias, que muitas vezes repartem a beleza e o esplendor do conhecimento. criando acervos privados. Para Edmundo Cardoso seus guardados também buscavam apreender o passado, tanto que colecionava desde a adolescência [...] (CORRÊA, 2005, p.14). E quantos de nós gostamos de guardar lembranças, fotografias, cartões, moedas. entre tantos objetos de nosso cotidiano. A conscientização pode partir desses argumentos, que mesmo sem percebermos, colecionamos e conservamos suas particularidades. Edmundo Cardoso formou um acervo que registrava a vida da cidade de Santa Maria e seus personagens. Dessa forma, em um constante processo de organização e seleção das coleções, o futuro Museu Casa Edmundo Cardoso anseia pela preservação da memória e do patrimônio cultural da cidade de Santa Maria. Com acesso à pesquisa se estará fortalecendo sentimentos de identidade e a formação de uma história em construção, na cidade em referência. ACERVO EDMUNDO CARDOSO: LEVANTAMENTO DAS CONDIÇÕES E CONSERVAÇÃO DA EDIFICAÇÃO O prédio onde se encontra o acervo em referência foi construído por volta de 1905, mas como não há registro preciso, nem sua planta original, não se tem certeza desses dados, sendo que, em cartório, registra-se sua edificação em 1912. Um dado interessante é à disposição do terreno que difere do padrão da época, apresentando recuos em relação aos limites das calçadas. Localiza-se no centro de Santa Maria, na Rua Pinheiro Machado, número 2712, quase esquina com a Rua Riachuelo. Com relação à divisão interna, a casa é dotada de um corredor central e quatro peças dispostas. Várias Famílias moraram na casa, pois, em um período, ela foi alugada. Na década

4 de 1940, Edmundo Cardoso a comprou e realizou algumas alterações, como a construção de dependências. Situada em um terreno de esquina, possui uma garagem ao lado. Está rodeada por edifícios e as condições das calçadas e da rua são de fácil acesso e boa conservação. Além de estar recuada da calçada e protegida por muro, há pouca vegetação ao seu redor. O terreno possui um declive que distancia a parte principal da casa das construções anexadas constituindo uma espécie de porão ou subsolo. O prédio passou por uma reforma em 1999, sendo trocado o forro de madeira por PVC com roda-forro de gesso, as placas de madeira que revestem as paredes foram trocadas e conservou-se o assoalho. O motivo foi a infestação de cupim que destruía a madeira. As madeiras que sustentavam o telhado foram trocadas por vigas de ferro. Na garagem, o ambiente foi reformulado para ser uma futura sala de exposição. Com relação à temperatura, Santa Maria é uma região que passa por uma constante mudança de temperaturas, pois possui as quatro estações do ano, com diversas oscilações entre temperaturas negativas até 40ºC. As chuvas são ocasionais, a umidade relativa do ar é moderada e há incidência de ventos bastante fortes, ocorrem também temporais, chuvas de granizo e não há equipamento contra raio no prédio. A ventilação do prédio é feita através das janelas, que são de venezianas em boa conservação, com telas de proteção e gradeadas, os vidros não possuem filtro e há cortinas. As janelas da frente são mantidas fechadas para evitar a entrada de fuligem vinda da rua. As demais janelas são abertas com alternação, uma vez que não há incidência direta do sol sobre o acervo. A iluminação do ambiente é feita através de luz natural e artificial. Devido à troca do telhado original, a nova armação foi colocada com metal, o que ocasionou alteração na temperatura ambiente da casa, obrigando a colocação de uma manta térmica a fim de adequála à conservação das obras. A limpeza e coleta de lixo é regular e diária nas áreas próximas ao prédio, realizada por uma empresa contratada pela prefeitura municipal. A higienização das coleções é realizada por Therezinha de Jesus Pires Santos e uma funcionária da família, uma vez por ano. Os quadros são fotografados e retirados da parede, a limpeza é feita com pano macio, sem umidade ou produtos químicos. Tira-se o pó da parede, revisa-se se há indício de cupim ou traças e o material é reposto novamente. Na biblioteca também se faz a higienização nas estantes dos livros e olha-se obra por obra no período de três em três meses. As coleções não são expostas à luz solar, e quando necessitam de ar, são expostas ao ar moderado do ambiente. Não há vestígios de moscas,

5 baratas, ratos, traças e no assoalho às vezes aparecem cupins que são imediatamente detetizados. Nos fundos do prédio há um jardim afastado alguns metros, com árvores e pássaros como pardais, mas no interior do prédio, não há plantas. Não há rachaduras, calhas entupidas ou infiltrações. Não há indústrias nas proximidades do prédio, porém há incidência de fumaça dos escapamentos dos carros, pois está localizada nos acessos principais da cidade. As redes elétrica e hidráulica foram trocadas e arrumadas na última reforma, estando em plenas condições de uso. O acervo conta com o trabalho de uma bibliotecária (no momento encontra-se afastada), uma arquivista bolsista, aluna da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e uma especialista em museologia, Senhora Therezinha de Jesus Pires Santos, uma das organizadoras responsáveis pelo acervo de Edmundo Cardoso. Quanto aos salários, são pagos segundo as atribuições individuais e compatíveis com as especificidades dos trabalhos realizados. No acervo, desenvolve-se a pesquisa, e historiadores realizam suas pesquisas em meio às coleções. O sistema de segurança conta apenas com as grades que foram instaladas nas janelas e trancas nas portas, não há um sistema de câmeras, nem detector de fumaça. Há extintores de incêndio, distribuídos em cada cômodo do prédio. O acesso dos bombeiros é um tanto restrito, pois apenas pela entrada principal se tem acesso direto. Os funcionários que trabalham na casa entram pela porta da frente e o controle da entrada de pessoas na residência é através de um interfone e para visitação e pesquisa através de agendamento. Na sala, encontra-se uma lista de telefones de emergência, próximo ao livro de controle de visitantes. As condições do acervo são boas, os livros e documentos estão sendo fichados e catalogados para serem postos nas estantes e o prédio ainda não é um monumento tombado. Com relação à Biblioteca, todas as estantes são fechadas com portas de vidro, o que possibilita a conservação dos livros.

6 LEVANTAMENTO E CONDIÇÕES DOS ACERVOS O acervo possui documentação variada, envolvendo fotografias, jornais, pinturas de quadros, uma biblioteca com livros raros, e um vasto material da Escola de Teatro Leopoldo Fróes. Além da documentação adquirida por Edmundo Cardoso, outros materiais foram doados por pessoas que apreciavam seu hábito de guardar objetos variados. Quanto ao manuseio das coleções, é realizado com luvas e máscara para evitar fungo, além do uso de um papel especial com ph neutro. Algumas fotografias encontram-se expostas no hall de entrada do prédio e as demais estão sendo fichadas e catalogadas para serem guardadas em armários de metal, em uma peça construída no subsolo da casa. Algumas fotos, por encontrarem-se um pouco deterioradas ou por medida de preservação são envoltas em papel com ph neutro. Para a organização e disposição do material, são utilizadas pastas-arquivos de PVC. Junto ao acervo fotográfico, estão vários rolos de filmes e slides guardados em caixas de isopor para a melhor conservação. Com relação à pinacoteca, está exposta em uma sala que será um local de exposição, todas as obras possuem molduras e estão ligados a uma parede de madeira que facilita sua sustentação. Também fazem parte das coleções, mesas de máquinas de costura que estão espalhadas pelo prédio, que servirão de suporte para a exposição de objetos no futuro museu. A documentação teatral está guardada em arquivos metálicos, assim como os jornais que estão sendo organizados e distribuídos em arquivos catalogados e fichados. Com relação à biblioteca, o acervo possui muitas obras, em especial aquelas que se referem à história de Santa Maria e a história do Rio Grande do Sul. O material está sendo catalogado, fichado e organizado nas prateleiras, com auxílio de uma bibliotecária e um bolsista da UFSM. Há quadros e fotografias das cenas e ensaios teatrais na sala da biblioteca.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da preservação de nossa história é um fato em plena construção diante da sociedade. O museu não é apenas uma página de nosso passado e sim, uma história em constante construção. A cada objeto observado, temos um registro do tempo e das pessoas que ali viveram, construíram suas vidas e partiram deixando seu registro. Edmundo Cardoso foi um grande admirador das artes e reuniu em sua coleção privada as mais diversificadas obras que contam sua vivência e a história de Santa Maria. O futuro Museu Casa de Pesquisa e Exposição Edmundo Cardoso está em seu processo de organização e aprimoramento do ambiente para mostrar as belíssimas coleções do seu idealizador, que compilou objetos e escritos durante sua vida. A recuperação do passado histórico de Santa Maria depende de nosso interesse e apoio aos pequenos detalhes que revelam maravilhas como o acervo que Edmundo Cardoso nos legou. A partir do museu e das coleções particulares, passamos a observar um passado referido nas transformações do presente, possuindo um olhar renovado sobre os velhos patrimônios que, em uma ação educativa, nos contam muito mais do que um documento escrito. Referências Bibliográficas CORRÊA, Roselâine Casanova. MENDONÇA, Maria Goreti Cortes. Educação Patrimonial e cidadania: a produção do conhecimento no Ensino Fundamental. Anais da X Jornada de Ensino de História e Educação. Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), 2005.. Os Guardados saem das estantes. Jornal Diário de Santa Maria. Santa Maria (RS), 28-29 Out 2005, p.14-15. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Educação Patrimonial. 1999. Disponível em: <www.tevebrasil.com.br>. Acesso em: 01 Ago 2005. LEMOS, Carlos A C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2000. PELLEGRINI FILHO, Américo. Ecologia, Cultura e Turismo. Campinas, SP: Papirus, 1993. SUANO, Marlene. O que é Museu. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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