REFLEXO DO ORGASMO A CAMINHO DA POTÊNCIA ORGÁSTICA

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Transcrição:

1 REFLEXO DO ORGASMO A CAMINHO DA POTÊNCIA ORGÁSTICA Antônio Roberto de Sousa Henriques Alessandra da Silva Eisenreich RESUMO Segundo Reich, a auto-regulação do organismo seria o caminho para a genitalidade, uma fórmula de diminuir os processos neuróticos na transformação do indivíduo. Seu trabalho clínico visava restabelecer a Potência Orgástica e o Reflexo do Orgasmo. Através dessa nova perspectiva teóricoclínica ele passa a aprofundar suas pesquisas no campo da relação entre o psiquismo e as correntes vegetativas biológicas. O objetivo deste artigo é situar na história de suas pesquisas um novo caminho no processo terapêutico. Partindo da análise do caráter passando pela potência orgástica e o reflexo do orgasmo em direção à vegetoterapia. Palavras-chave: Caráter. Couraça Muscular do Caráter. Orgasmo. Potência Orgástica. Reflexo do Orgasmo. Em janeiro de 1919, no segundo ano do curso de medicina, Wilhelm Reich foi convidado a participar da organização de um seminário sobre sexologia. A partir daí começou a participar de reuniões, no inicio de forma não tão ativa nas discussões, a partir desse fato concluiu que a sexualidade é o centro em torno do qual gira a vida da sociedade como um todo e também o mundo intelectual interior do indivíduo. (REICH, 1975, p. 28). Nessa época tomou conhecimento das obras de Freud e outros autores e foi compilando seus conhecimentos sobre os instintos sexuais. No ano de 1921 está em franca discussão pela Sociedade Psicanalítica o problema da tensão e do prazer. Segundo a linguagem freudiana a estrutura psíquica é formada pelo id, ego e superego. Os desejos estão no id e a repressão no superego. O id relaciona-se com a satisfação das necessidades básicas da criança e busca satisfazer seus impulsos, através do prazer, mas não suporta frustrações. Deve, no entanto, se adaptar às exigências e condições impostas pelo meio usando para isso o ego, que situa-se no meio, entre os desejos do id e o mundo externo. Ego, superego e id formam a estrutura psíquica sempre em interação e interdependentes. Possuem um substrato energético que segundo Freud pode

2 ser usado em dois sentidos: construtivo e destrutivo. Em sentido construtivo, de auto-preservação e perpetuação das espécies, foi denominada de Libido. Ainda segundo Freud, a libido encontra-se nas zonas erógenas (boca, ânus e genitais) que são usadas para proporcionar, mediante sua estimulação apropriada, um certo aumento de prazer, e quando a satisfação não ocorre, gera-se uma tensão e um desprazer. No caso da sexualidade a tensão estava ligada ao prazer e isso era muito intrigante para Reich. Em 1922, enquanto desenvolvia um trabalho com pacientes atendidos na Clínica Psicanalítica observou cada vez mais a importância da sexualidade na psicogênese das neuroses. Em setembro deste ano após o Congresso Psicanalítico Internacional em Berlim, Reich propôs a organização de um seminário técnico onde se poderia discutir e ampliar os estudos de casos para especializar-se neste assunto. Neste ano Reich escreveu um artigo partindo da sexualidade infantil e da repressão da libido na primeira infância, Reich afirmou que quanto maior for o impedimento da libido, maior e mais complicado será o sintoma apresentado (VOLPI, 2000). Em 1923 Reich discutia sobre a afirmação que dizia que pacientes neuróticos podiam ter uma vida sexual normal. Discordando dessa afirmação depois de três anos de investigação sobre o assunto, em novembro deste ano Reich leu a comunicação Sobre a Genitalidade do Ponto de Vista do Prognóstico e da Terapia onde afirmou: A gravidade de todas as formas de enfermidade psíquica está diretamente relacionada com a gravidade da perturbação genital. (REICH, 1975, p. 90). Reich questionou a vida genital saudável dos pacientes neuróticos, pois, em sua opinião, nenhuma pessoa neurótica poderia ser orgasticamente potente, sendo que a neurose aprisiona as pessoas em suas tensões não deixando fluir a energia biológica. Poderiam ser potentes eretivamente, mas não orgasticamente, não havia uma entrega num organismo preso, teriam orgasmos, porém, vazios ou com descarga insuficiente. Em um artigo apresentado em 1924, Reich enfatizou que a neurose é a manifestação de uma perturbação genital e não apenas sexual em geral, e

3 ainda, que uma recaída em uma neurose após o tratamento analítico pode evitar-se na medida em que a satisfação orgástica no ato sexual houver sido assegurada. (REICH, 1975, pg.117) No ano de 1925, Reich observou que o meio sócio-cultural era um fator preponderante na formação das neuroses. Segundo Reich, o trabalho analítico tornava-se mais completo quando o caráter do paciente era analisado como um todo e não apenas a análise do sintoma isolado, como era proposto pela psicanálise. De acordo com Volpi (2000), Reich dizia que a angústia era uma excitação sexual não descarregada e sua localização se dava na região cardíaca, que pode em determinado momento se manifestar em forma de excitação sexual e, num outro momento, quando essa excitação é bloqueada, se manifestar em forma de angústia. [...] Nessa época ainda não se tinha conhecimentos profundos sobre as reações neurovegetativas simpáticas e parassimpáticas. Para Reich a psicanálise encontrava dificuldades em obter melhora em alguns tratamentos por erros na interpretação. Em 1927 Reich falou sobre a Couraça Muscular do Caráter, definindo-a como uma armadura que envolve o paciente como um todo e o impede de progredir analiticamente. Nessa época Reich passou a ter um papel mais ativo na análise dos processos patológicos de seus pacientes. Distanciou-se da análise dos sintomas e começou a análise do caráter e suas expressões psíquicas e corporais. Publicou, neste ano, A função da genitalidade na terapia das neuroses demarcando uma nova fronteira radical no pensamento psicanalítico, valorizando ainda mais o conceito de genitalidade. A proposta da análise do caráter inclui a noção do desenvolvimento da couraça caracteriológica. No momento em que surge uma pulsão e esta é reprimida pelo Ego, vai criando uma tensão e a repressão. Logo, onde houver uma brecha esta pulsão volta a se expor e, novamente é gerada mais energia no sentido de contê-la, formando um circulo vicioso: pulsão-repressão-tensãoescape-pulsão-repressão-tensão-escape, indefinidamente. Desta maneira, o indivíduo encouraçado tem pouco contato e este é fixo e restrito, sem a

4 mobilidade necessária para a real adaptação às exigências internas e externas. Com a liberação parcial da libido, a energia presa nas couraças aumenta, gerando assim a cronicidade e rigidez da couraça, comprometendo a capacidade de descarga de excitação e a diminuição do prazer sexual. Esta ausência de prazer gera mais angústia e em contraponto cria frustração dos desejos que leva a uma reação agressiva, como esta também tem que ser reprimida, aumenta ainda mais a angústia. Logo, apesar do individuo se conter para ser socialmente aceito em suas atitudes, internamente ele está explodindo. Caráter Genital X Caráter Neurótico Segundo Reich, quem possuía o caráter genital eram aquelas pessoas que, no ato sexual, se entregasse completamente para o fluxo energético sem restrições até chegar ao orgasmo, em contrapartida, o caráter neurótico eram aqueles que não conseguem descarregar completamente a carga de excitação no ato sexual, seriam impedidos de chegar ao orgasmo devido aos bloqueios (neuroses ou couraças musculares do caráter). Partindo dessas conclusões, Reich começou a trabalhar clinicamente com o objetivo de dissolver estas couraças, desenvolvendo assim o conceito de potência orgástica: a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo. A auto-regulação é o processo de transformação do indivíduo para restabelecer a potência orgástica e o reflexo do orgasmo. É o movimento espontâneo e natural de todo o organismo que, quando é interrompido, dá origem à couraça muscular. Reich chamou este sistema de tensões de couraça muscular, que funciona em unidade, portanto, com a couraça carateriológica (caráter). O espasmo muscular, ao mesmo tempo, é o correspondente do processo de

5 repressão e concorre para sua manutenção. Desta forma, um processo terapêutico terá êxito se: a) Possibilitar a conscientização do conflito inconsciente (Freud); b) Concorrer para uma dissolução dos extratos sucessivos dos traços reativos do caráter (couraça caraterológica); c) Liberar, assim, os afetos reprimidos, através da eliminação da energia concentrada nas tensões musculares (dissolução da couraça muscular); d) Eliminar a fonte de energia estática, ou seja, restabelecer a primazia genital e a plena descarga da potência orgástica. O restabelecimento do caráter genital não significa a dissolução de toda a couraça, mas, sim, da cronicidade e rigidez da mesma. A adaptação ao meio exige a inibição de impulsos e sua sublimação, em determinados contextos, e a realização, em outros pontos. Assim, é necessária uma mobilidade da couraça, o que só é possível pela eliminação das repressões e das formações reativas crônicas. Com a inclusão do biológico, Reich separa-se gradativamente da psicanálise, no que chama de vegetoterapia carátero-analítica dentro da Economia Sexual, com alterações técnicas visando à inclusão da análise do caráter e dissolução da couraça muscular na terapia. Através da vegetoterapia Reich define um postulado que se torna central na evolução posterior da Economia Sexual: a energia biológica flui, no organismo, durante o orgasmo, do centro vegetativo para a periferia; na angústia, pelo contrário, flui desta para o cerne biológico. A sexualidade nada mais é do que a função biológica de expansão, antitética à angústia. A energia bioelétrica flui através do sistema vasovegetativo para fora e para dentro, em direções opostas dentro de um mesmo processo de excitação somática. O processo psíquico seria o correspondente funcional qualitativo desse processo quantitativo biológico de excitação. A hipertensão muscular crônica, ou couraça muscular e sua correspondente funcional que é a couraça caraterológica, nada mais é, portanto, senão um obstáculo ao fluxo e refluxo da energia: constitui uma

6 inibição biológica do movimento para a periferia (excitação: sexualidade, agressividade), e de movimento em direção ao centro (retração: angústia). (REIS, 1984, p. 96,97). Para Reich, a vegetoterapia tinha como objetivo restabelecer, no decorrer do seu processo, o Reflexo do Orgasmo. Os princípios básicos da libertação do reflexo do orgasmo são: 1. Descobrir as inibições e os pontos onde a fragmentação obstrui a unificação do reflexo do orgasmo; 2. Intensificar os mecanismos e os impulsos inibidores involuntários, por exemplo, o movimento pra frente da pélvis, capazes de liberar completamente o impulso vegetativo. (REICH, 1975) Segundo Lowen, (1975), Reich empregava o termo orgasmo em sentido muito especial, para fazer referência à entrega completa à excitação sexual, com o desenvolvimento completo do corpo nos movimentos convulsivos da descarga. O orgasmo, conforme a descrição reichiana, acontece às vezes e é uma experiência de êxtase. Mas isto também é outra raridade, como o próprio Reich reconhecia. Uma resposta total a uma situação qualquer é incomum na nossa sociedade, pois estamos envolvidos em uma carga muito grande de conflitos para nos entregar de modo completo a qualquer sentimento que seja. O problema enfrentado pela maioria das pessoas é que as tensões em seu corpo estão tão profundamente estruturadas que é raro acontecer a liberação orgástica. Os movimentos convulsivos de prazer são muito ameaçadores e a rendição é por demais assustadoras. Independente do que diz, a maioria das pessoas tem medo e é incapaz de dar-se aos poderosos sentimentos sexuais. E, contudo, muitos pacientes afirmam, no início de sua terapia, que sua vida sexual é satisfatória e que não têm problemas de ordem sexual. Em alguns casos, esses indivíduos não conhecem nada melhor e o pouco prazer de que desfrutam é o que assumem ser atividade sexual. Em outros casos, funciona o auto-engano. O ego do homem, em particular, erigirá

7 defesas contra quaisquer sentimentos de inadequação sexual. À medida que a terapia avança, os dois tipos de pessoas tomam consciência da inadequação de seu funcionamento sexual. Esta percepção vem à tona quando tais pessoas experimentam uma descarga sexual mais completa e satisfatória. Em todos os casos, o corpo da pessoa demonstra o verdadeiro estado de seu funcionamento sexual. A pessoa cujo corpo é relativamente livre de grandes tensões manifestará o reflexo do orgasmo enquanto está deitada na cama respirando. Descrevi esta resposta corporal, enquanto discutia minha terapia pessoal com Reich. A pessoa está deitada, com os joelhos fletidos, de modo que os pés estão em contato com a cama. A cabeça está jogada para trás, para tirá-la do caminho, por assim dizer. Os braços repousam ao lado do corpo. Quando a respiração é fácil e profunda, sem tensões musculares bloqueando as ondas respiratórias que atravessam o corpo, a pelve se move espontaneamente com cada respiração. O corpo subirá com a expiração e cairá na inspiração. A cabeça move-se em sentido oposto, para cima na inspiração e, para trás, na expiração. No entanto, a garganta se movimenta para frente com a expiração. Isto é mos trado nas figuras seguintes. Reich descrevia o reflexo do orgasmo como um movimento no qual as duas extremidades do corpo se aproximam. A cabeça, contudo, não toma parte nesse movimento de aproximação, pendendo para trás.

8 Fonte: Lowen, 1975 p. 217 Olhando-se a figura e imaginando-se que os braços também se estendem à frente e para o alto, o movimento poderia ser descrito como uma ação de fechamento num círculo. Lembra a ação de uma ameba que flui ao redor de uma partícula de alimento para englobá-la. O movimento é muito mais primitivo do que o da sucção, no qual a cabeça desempenha o papel principal. A sucção esta relacionada à inspiração. Quando ocorre a inalação, a cabeça se adianta à frente e a garganta e a pelve movem-se para trás. Este movimento é chamado de reflexo do orgasmo porque ocorre sempre que o orgasmo é completo. Num orgasmo parcial, também se verificam alguns movimentos involuntários da pelve, mas o corpo como um todo não cede completamente a estes movimentos. Uma coisa tem de ficar clara: o reflexo do orgasmo não é um orgasmo. O reflexo do orgasmo ocorre num nível de excitação baixo e é um movimento de pequena amplitude. Experiencia-se o reflexo do orgasmo como um sentimento de prazer com liberdade interna e leveza e denota a ausência de tensão no corpo. O desenvolvimento do reflexo do orgasmo na situação terapêutica não é garantia de que o paciente terá um orgasmo completo durante a atividade sexual. As duas situações são radicalmente diferentes. Na atividade sexual, o nível de excitação é muito alto e isto dificulta o ato de ceder. Tem-se que conquistar a capacidade de tolerar este alto nível de excitação sem tornar-se tenso ou ansioso. Outra diferença é que a situação terapêutica é engendrada para fornecer apoio ao paciente, e o terapeuta está lá à sua disposição. No relacionamento sexual é diferente, pois o parceiro tem um interesse pessoal na relação e faz exigências. Não obstante, é verdade que se a pessoa não

9 consegue entregar-se ao reflexo na atmosfera de apoio da situação terapêutica é pouco provável que o consiga na atmosfera muito mais carregada do encontro sexual. Acreditamos que a auto-regulação seja a chave principal para uma melhor qualidade de vida e que os processos terapêuticos que se utilizarem das teorias de Reich da Potência Orgástica e do Reflexo do Orgasmo estarão na vanguarda com relação a outros segmentos da saúde. O amor, o trabalho e o conhecimento são as fontes de nossa vida, Deveriam também governá-la. Wilhelm Reich REFERÊNCIAS BOADELLA D., Nos caminhos de Reich. São Paulo: Summus, 1985. LOWEN, A. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982. REICH, W., Análise do caráter. São Paulo: Martins Fontes, 1995. REICH, W., A função do orgasmo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1975. REIS, A. O. A., Teorias da personalidade em Freud, Reich e Jung. São Paulo: EPU, 1984. VOLPI, J. H. Psicoterapia corporal - um trajeto histórico de Wilhelm Reich. Curitiba: Centro Reichiano, 2000. AUTORES Antônio Roberto de Sousa Henriques/RS - Terapeuta Corporal há mais de dezesseis anos, professor de terapias alternativas. Formado em Psicoterapia Somática pelo Instituto Sul Americano de Psicoterapia e Educação Somática. Atualmente cursando: Psicologia na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Acupuntura na Escola Neijing e Especialização em Psicologia Corporal, no Centro Reichiano, Curitiba/PR. Diretor do Centro de Treinamento Holístico Porto Alegre/RS E-mail: antonioterapeuta@yahoo.com.br Alessandra da Silva Eisenreich/RS - Vice-presidente da ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), Técnica em Segurança do Trabalho, cursanda em Gestão de Recursos Humanos na UCB/RJ, Massoterapeuta, Terapeuta de Vidas Passadas e facilitadora de trabalhos corporais em grupos empresariais. Diretora do Centro de Treinamento Holístico Porto Alegre/RS E-mail: nani0212@yahoo.com.br