ALFABETIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR COM A LENDA DO BOTO RESUMO



Documentos relacionados
DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA: REFLEXÕES A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DO PIBID

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA ACERCA DO PROJETO A CONSTRUÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO/ARGUMENTATIVO NO ENSINO MÉDIO: UM OLHAR SOBRE A REDAÇÃO DO ENEM

PROJETO DE LEITURA E ESCRITA LEITURA NA PONTA DA LÍNGUA E ESCRITA NA PONTA DO LÁPIS

UMA EXPERIÊNCIA EM ALFABETIZAÇÃO POR MEIO DO PIBID

A inserção de jogos e tecnologias no ensino da matemática

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

ATUAÇÃO DO PIBID NA ESCOLA: (RE) DESCOBRINDO AS PRÁTICAS LÚDICAS E INTERDISCIPLINARES NO ENSINO FUNDAMENTAL

PROJETO DE LEITURA CESTA LITERÁRIA

ESCOLA, LEITURA E A INTERPRETAÇÃO TEXTUAL- PIBID: LETRAS - PORTUGUÊS

EMENTAS DAS DISCIPLINAS

CONSIDERAÇÕES SOBRE USO DO SOFTWARE EDUCACIONAL FALANDO SOBRE... HISTÓRIA DO BRASIL EM AULA MINISTRADA EM LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA

OS JOGOS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÌNGUA ESTRANGEIRA

BRITO, Jéssika Pereira Universidade Estadual da Paraíba

O PAPEL DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO E DRª. KÁTIA APARECIDA DA SILVA AQUINO. Propor uma abordagem transversal para o ensino de Ciências requer um

USANDO O ALFABETO MÓVEL COMO RECUSO DE RECUPERAÇÃO

LEITURA E ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE APRENDIZAGEM COM LUDICIDADE

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

tido, articula a Cartografia, entendida como linguagem, com outra linguagem, a literatura infantil, que, sem dúvida, auxiliará as crianças a lerem e

Projeto de Redesenho Curricular

APRENDER A LER PROBLEMAS EM MATEMÁTICA

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

PROJETO MEIO AMBIENTE: CONSCIENTIZAR PARA PRESERVAR - RELATO DA EXPERIÊNCIA DESENVOLVIDA COM ALUNOS DO 3ºANO NA EEEF ANTENOR NAVARRO

TEORIA E PRÁTICA: AÇÕES DO PIBID/INGLÊS NA ESCOLA PÚBLICA. Palavras-chave: Ensino; Recomendações; Língua Estrangeira.

A PRÁTICA DE MONITORIA PARA PROFESSORES EM FORMAÇÃO INICIAL DE LÍNGUA INGLESA DO PIBID

Comunicação e Cultura Fortaleza

PLANTANDO NOVAS SEMENTES NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

HISTÓRIA ORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: O REGIME MILITAR NO EX- TERRITÓRIO DE RORAIMA

PRÁTICAS LÚDICAS NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LÍNGUA ESCRITA DO INFANTIL IV E V DA ESCOLA SIMÃO BARBOSA DE MERUOCA-CE

Entusiasmo diante da vida Uma história de fé e dedicação aos jovens

RELATO DE EXPERIÊNCIA: A PERCEPÇÃO DE LUZ E SOMBRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Palavras-chave: Conhecimentos físicos. Luz e sombra. Educação Infantil.

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

DA UNIVERSIDADE AO TRABALHO DOCENTE OU DO MUNDO FICCIONAL AO REAL: EXPECTATIVAS DE FUTUROS PROFISSIONAIS DOCENTES

Reflexões sobre o protagonismo discente na construção de um festival de jogos e brincadeiras nas aulas de Educação Física

PRÓ-MATATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR DIRETORIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PRESENCIAL DEB

CURSO: LICENCIATURA DA MATEMÁTICA DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO 4

TEATRO COMO FERRAMENTA PARA ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESPANHOLA: RELATO DE EXPERIÊNCIA 1

RESUMOS DE PROJETOS RELATOS DE EXPERIÊNCIA ARTIGOS COMPLETOS (RESUMOS)

Narrativa reflexiva sobre planejamento de aulas

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Trabalho em Equipe e Educação Permanente para o SUS: A Experiência do CDG-SUS-MT. Fátima Ticianel CDG-SUS/UFMT/ISC-NDS

SER MONITOR: APRENDER ENSINANDO

TRABALHANDO A CULTURA ALAGOANA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA EXPERIÊNCIA DO PIBID DE PEDAGOGIA

Recomendada. A coleção apresenta eficiência e adequação. Ciências adequados a cada faixa etária, além de

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DA ESCRITA COMO INSTRUMENTO NORTEADOR PARA O ALFABETIZAR LETRANDO NAS AÇÕES DO PIBID DE PEDAGOGIA DA UFC

Cronograma do IV SID

Mostra de Projetos Como ensinar os porquês dos conceitos básicos da Matemática, visando a melhora do processo ensino e aprendizado

LEITURA E ESCRITA: HABILIDADES SOCIAIS DE TRANSCREVER SENTIDOS

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

PREFEITURA DE ESTÂNCIA TURÍSTICA DE SÃO ROQUE - SP DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO PROJETO DE CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES EDUCAÇÃO PARA A PAZ

A MODELAGEM MATEMÁTICA E A INTERNET MÓVEL. Palavras Chave: Modelagem Matemática; Educação de Jovens e Adultos (EJA); Internet Móvel.

A oficina temática Planeta Água? como ferramenta para o ensino de Ciências da Natureza.

Justificativa: Cláudia Queiroz Miranda (SEEDF 1 ) webclaudia33@gmail.com Raimunda de Oliveira (SEEDF) deoliveirarai@hotmail.com

O ENSINO DAS FUNÇÕES ATRAVÉS DO JOGO BINGO DE FUNÇÕES

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

A EXPLORAÇÃO DE SITUAÇÕES -PROBLEMA NA INTRODUÇÃO DO ESTUDO DE FRAÇÕES. GT 01 - Educação Matemática nos Anos Iniciais e Ensino Fundamental

Alfabetizar e promover o ensino da linguagem oral e escrita por meio de textos.

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

ASSESSORIA PEDAGÓGICA PORTFÓLIO DE PALESTRAS E OFICINAS

IV EDIPE Encontro Estadual de Didática e Prática de Ensino 2011 A IMPORTÂNCIA DAS ARTES NA FORMAÇÃO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ana Carolina de Lima Santos (UERJ/EDU) Caroline da Silva Albuquerque (UERJ/EDU) Eixo temático 6: São tantos conteúdos... Resumo

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

JOGOS MATEMÁTICOS: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

JOGO DAS FICHAS COLORIDAS

A PESQUISA NO ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS: RELAÇÃO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA DOCENTE DE ENSINO

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA BÁRBARA DE GOIÁS SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO SANTA BÁRBARA DE GOIÁS. O Mascote da Turma

Caderno do aluno UM POR BIMESTRE: teoria, exercícios de classe, as tarefas de casa atividades complementares.

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID

ESTRATÉGIAS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E FORMAÇÃO DE PROFESSORES. Profa. Me. Michele Costa

A EDUCAÇAO INFANTIL DA MATEMÁTICA COM A LUDICIDADE EM SALA DE AULA

VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA, ORALIDADE E LETRAMENTO EM UMA TURMA DE PRÉ-ESCOLAR (CRECHE), EM TERESINA.

O ESTUDO DE CIÊNCIAS NATURAIS ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA RESUMO

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE SETEMBRO DE 2012 EREM LUIZ DELGADO

A ORALIZAÇÃO COMO MANIFESTAÇÃO LITERÁRIA EM SALA DE AULA

REPRESENTAÇÕES DE AFETIVIDADE DOS PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Deise Vera Ritter 1 ; Sônia Fernandes 2

APRESENTAÇÃO DO PROJETO e-jovem

ATIVIDADES EXPERIMENTAIS PARA O ESTUDO DA ASTRONOMIA: CONSTRUINDO O SISTEMA SOLAR REDUZIDO

BARBOSA, Maria Julia de Araújo. Pedagogia - UEPB/Campus I julia.araujo13@gmail.com

Projeto Ludoteca do Turismo: atuação em escolas de Pelotas

ALFABETIZAÇÃO DE ESTUDANTES SURDOS: UMA ANÁLISE DE ATIVIDADES DO ENSINO REGULAR

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

TÍTULO: Plano de Aula O NOSSO AMBIENTE: CONSERVANDO O AMBIENTE ESCOLAR. Ensino Fundamental / Anos Iniciais. 3º ano.

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

UMA PROPOSTA PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DE INTERVALOS REAIS POR MEIO DE JOGOS

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

JOGOS MATEMÁTICOS NO ENSINO MÉDIO UMA EXPERIÊNCIA NO PIBID/CAPES/IFCE

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

PESQUISA AÇÃO: ACOMPANHANDO OS IMPACTOS DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE

Sequências Didáticas para o ensino de Língua Portuguesa: objetos de aprendizagem na criação de tirinhas

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MUNICIPAL PROJETO DE INCENTIVO A LEITURA BIBLIOTECA ITINERANTE

OS PROJETOS DE TRABALHO E SUA PRODUÇÃO ACADÊMICA NOS GT07 E GT12 DA ANPED ENTRE OS ANOS 2000/2013

INTERVENÇÕES ESPECÍFICAS DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS DO PROEJA: DESCOBRINDO E SE REDESCOBRINDO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Palavras-chave: Ensino Fundamental. Alfabetização Interdisciplinar. Ciências e Linguagens.

RELATÓRIO DA OFICINA: COMO AGIR NA COMUNIDADE E NO DIA A DIA DO SEU TRABALHO. Facilitadoras: Liliane Lott Pires e Maria Inês Castanha de Queiroz

CONSTITUINDO REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS: CONTRIBUIÇÕES DO PIBID PARA O TRABALHO COM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO INTERDISCIPLINAR COM A LENDA DO BOTO RESUMO Cristina Maria da Silva Lima cris86lima@yahoo.com.br Diana Gonçalves dos Santos dianasantos07@gmail.com (IEMCI/UFPA) Este estudo apresenta um relato de experiência executado pelas bolsistas do PIBID em uma escola pública estadual situada na cidade de Belém. A atividade desenvolveu-se durante uma semana de aula, em uma turma do segundo ano do Ensino Fundamental, com ênfase no estudo de Língua Portuguesa e Ciências. Objetivou-se desenvolver uma sequência didática com base em um ensino interdisciplinar com a lenda do boto. Na sequência didática os estudantes assistiram a um vídeo que narrou a história de sedução do boto. A partir deste contexto foram realizadas atividades interdisciplinares, envolvendo a língua portuguesa com atividades de leitura, escrita e análise linguística e o ensino de ciências, com foco na preservação ambiental e conservação da cultura regional. Nestas atividades, buscou-se analisar o desenvolvimento dos estudantes em produções textuais que os direcionassem para histórias criadas pelos mesmos em relação ao habitar onde acontece o conto do boto e de como poderia se preservar a espécie nos rios da Amazônia. Outro procedimento adotado foi trabalhar a oralidade com base na encenação da lenda, que envolveu o contexto da preservação da melhor história feita pelos estudantes. Nestas atividades procurou-se desenvolver trabalhos em grupo, para fomentar o espírito de união e compartilhamento de conhecimentos entre os estudantes, além de esclarecer as dúvidas dos estudantes em relação aos comentários que surgiram sobre o boto, principalmente, no que se refere ao momento em que o boto engravida as mulheres nas festas, oportunamente foi abordada a temática da sexualidade. Espera-se que a atividade realizada sirva de base para promover reflexões para a prática docente e, ainda, o uso de métodos em aula cada vez mais eficazes para que o ensino e aprendizagem sejam positivos para professores e estudantes. E também que este trabalho sirva de referências para outros educadores desenvolverem práticas interdisciplinares que envolvam de forma significativa a aprendizagem dos estudantes. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização interdisciplinar. Lenda do Boto. Ciências e Língua Portuguesa. 1. Introdução Este relato de experiência é fruto de um trabalho realizado na Escola Monsenhor Azevedo, situada na periferia da cidade de Belém, Pará. A atividade foi desenvolvida durante uma semana de aula, em uma turma de alunos do segundo ano do Ensino Fundamental, com autorização da professora. E foi executado por duas professoras estagiárias do curso de Licenciatura Integrada em Ciências, Matemáticas e Linguagens, do IEMCI/UFPA.

2 A motivação para o desenvolvimento da sequência didática surgiu a partir da necessidade de investigar as possibilidades do trabalho com as lendas amazônicas para o aprendizado da leitura e da escrita de estudantes dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Neste sentido, o objetivo das atividades foi desenvolver um plano de aula numa perspectiva interdisciplinar, para contribuir com o processo de alfabetização das crianças. Este trabalho descreve o planejamento, a execução e a avaliação da proposta didática que foi desenvolvida ao longo de uma semana de aulas em uma turma com quinze estudantes do segundo ano do Ensino Fundamental, da referida escola estadual. A sequência didática motivou os estudantes a retextualizarem o conto da lenda do boto, incentivando no processo de leitura, escrita e o ensino de ciências, que passou a fazer parte do trabalho quando surgiram as inquietações dos estudantes a respeito do boto engravidar as jovens. A proposta mostrou-se desafiadora e ao mesmo tempo significativa para o ensino de conhecimentos envolvendo a leitura, a escrita e o ensino de ciências, sendo utilizadas lendas amazônicas, apresentação de curtas metragens sobre a sexualidade na adolescência, bem como atividades que foram realizadas a partir de aulas dialogadas. A experiência vivenciada com o conto lenda amazônica resgata a valorização cultural das regiões que ainda cultivam o imaginário popular e constitui o fazer cidadão dos estudantes que ainda estão desenvolvendo o senso critico de se preservar a nossa natureza e os seres que nela habitam. Desta forma, trabalhar com atividades interdisciplinares fomenta nos estudantes a curiosidade de querer aprender sempre algo mais. Tais práticas incentivam a produção de novos saberes aos docentes que se sentem estimulados a pesquisarem e estudarem sobre novas propostas didáticas a fim de posteriormente proporcionar aos educandos um ensino significativo para seu contexto social e cultural. 2. Aportes teóricos Vários autores buscam desenvolver seus trabalhos em abordagens interdisciplinares, em que se constituem em um ensino pleno nas diversas áreas do conhecimento, dentre eles, Souza (2009) ressalta que o diálogo entre os saberes da ciência, da educação ambiental e da arte favorecem a geração de um processo educativo criativo e reflexivo que pode ser vivenciado pelas crianças na escola favorecendo uma abordagem sobre seu contexto social e cultural.

Desta forma o ensino proporcionado a partir de lendas amazônicas abrange um conhecimento amplo, como o processo de alfabetização, envolvendo leitura, escrita, oralidade e o desenvolvimento cientifico a partir dos diálogos dos estudantes no contexto escolar, cabendo ao educador ser o principal agente deste processo de letramento cientifico. Kleiman (2006) destaca a importância do papel do educador como o agente de letramento para o processo de alfabetização, segundo a autora: Aprender a ler e escrever é um processo de construção identitária para os alunos de grupos dominados, mais pobres, de tradição oral, porque envolve a aprendizagem de práticas sociais de outros grupos que são, em sua maioria, alheios aos seus interesses, modos de ação e modos de falar. Com isso, analisa-se que o educador deve ser o mediador do ensino a todo discurso desenvolvido em sala, para que seus estudantes compreendam a real necessidade de contextualizar as ideias prévias com objetivo didático direcionado no ensino, valorizando as hipóteses dos alunos e esclarecendo as dúvidas que surgirem dos educandos ao longo das atividades. Kleiman (2006, p. 4), ressalta que um agente se engaja em ações autônomas de uma atividade determinada e é responsável por sua ação, em contraposição ao paciente, recipiente ou objeto, ou ao sujeito coagido. Assim, o professor deve ser um agente de letramento, agindo com métodos diferenciados em prol da coletividade, com o objetivo específico de beneficiar e atribuir aos estudantes o sentido da palavra escrita. Uma atividade que envolva o imaginário da criança, incentivado suas habilidades em desenvolver o que se pensa através do ato da leitura e escrita é de grande importância para a aquisição de novos conhecimentos no processo de alfabetização. Delizoicov (2011, p. 153) aponta que tornar a aprendizagem dos conhecimentos científicos em sala de aula num desafio prazeroso é conseguir que seja significativa para todos, tanto para o professor quanto para o conjunto de alunos que compõem a turma. O uso das lendas amazônicas em sala de aula é uma atividade lúdica que envolve o universo imaginativo da criança e ajuda a esboçar seus valores e sua identidade. Este recurso constitui elemento de fundamental importância para a produção contextualizada de conhecimento significativo da disciplina de Ciências Naturais. A intenção de ensinar os conteúdos de Ciências Naturais usando o gênero textual das lendas revelou a possibilidade de associar os conteúdos de Ciências ao tema interdisciplinar de educação sexual, artes e de outras disciplinas. 3

Essas ideias nortearam o planejamento e a execução das atividades didáticas que serão detalhadas a seguir. 4 3. Materiais e métodos A sequência didática foi desenvolvida por duas estagiárias, com o acompanhamento e da professora regente da turma do 2 ano do Ensino Fundamental, que é composta por quinze alunos na faixa etária de 08 a 12 anos de idade. Dando-se prosseguimento na sequência a partir da observação das aulas desenvolvidas pela professora titular, bem como a observação das dificuldades apresentadas pelos estudantes na compreensão dos conteúdos que estavam sendo trabalhados. Neste processo de observação, durante os dois primeiros dias, optou-se pela abordagem qualitativa. Com ele, analisou-se a necessidade do desenvolvimento de uma sequência didática que fosse significativa para o processo de alfabetização e aprendizagem dos alunos. Assim, no terceiro dia, iniciou-se a sequência didática. Optou-se por uma abordagem interdisciplinar trabalhando a lenda do boto que proporcionasse aos estudantes uma compreensão positiva no processo de aquisição de leitura e escrita, além de desenvolver as primeiras práticas do ensino de ciência com o tema sexualidade e representação teatral. Dentre os recursos materiais utilizados, destaca-se o caderno de campo, câmera, vídeos, papel A4, cartolina, lápis de cor, Datashow, etc. A princípio perguntou-se aos estudantes se eles já tinham escutado falar da lenda do boto. Houve um não coletivo dos estudantes. Mostrou-se o vídeo juro que vi o boto que ao mesmo tempo narrava a história para a turma. Em seguida, solicitou-se que eles escrevessem ou representassem os seus entendimentos sobre o contexto narrado. E no final de cada aula se fazia o ensaio da lenda do boto para ser apresentado no festejo junino da escola. Alguns estudantes conseguiram retextualizar a lenda. E, a partir das atividades de retextualizações dos estudantes, houve a necessidade de se falar sobre educação sexual, pelo fato de ter surgido inquietações nos mesmos, de como o boto engravidava as moças nos festejos de sedução, uma vez que a lenda descrevia todo o processo de como o boto seduzia as jovens em noite de luar. Neste contexto, direcionou-se o trabalho com o ensino de ciências, focalizando na educação sexual para possibilitar novos conhecimentos e esclarecimentos aos estudantes, reforçando a aquisição de leitura e escrita em um novo contexto de ensino.

5 No quarto dia, apresentou-se o vídeo Educação sexual para crianças, sendo explicado, a partir de indagações dos estudantes a respeito de como as mulheres engravidam, e como os bebes nascem. Dentre outras indagações que surgiram. Após isso, sugeriu-se a eles que desenvolvessem um pequeno texto em grupos de quatro. Para expor seus entendimentos a respeito do tema, houve estudante que desenvolveu seu texto em forma de desenhos narrando a própria história do nascimento. No quinto dia, foi feito um ensaio geral, da lenda do boto, sendo trabalhado o processo de oralidade e socialização entre os estudantes. Para que no dia do festejo junino na escola as crianças representassem a peça de forma clara e significativa já que sabiam como os bebes nasciam e a importância de se preservar a cultura local. 4. Resultado e discussões Desenvolver a sequência didática com caráter interdisciplinar possibilitou a reflexão sobre novas propostas metodológicas, principalmente por se tratar de um assunto que é de fundamental importância na sociedade, que é fazer com que os estudantes sejam alfabetizados nos primeiros anos iniciais. Com base nesta proposta, optou-se por uma metodologia de ensino que envolveu tipologia de textos, como lendas, e contextos científicos envolvendo o ensino de ciências e língua portuguesa. A atividade passou ser diferenciada e significativa para os estudantes. Observou-se que a sintonia e a socialização de ideias para desenvolver os textos e fazerem os ensaios da peça, foi necessário para despertar o questionamento e estimular as habilidade de compreensão dos estudantes sobre educação sexual e construção das palavras escritas. Observou-se, durante o desenvolvimento das atividades, que os estudantes dos anos iniciais também expressam seu conhecimento através da linguagem pictórica. Para eles, este método pode ser um facilitador na compreensão do assunto ensinado, uma vez que os mesmos estão adquirindo novos conhecimentos da linguagem escrita, e para eles as novas palavras adquiridas precisam ter sentido e forma. Houve também um momento de socialização com ensaio e apresentação da dança do boto, que pode ser visto nos anexos de figuras. Observou-se que os estudantes demonstraram-se bastante motivados com a didática proposta, já que a mesma foi apresentada de maneira diferenciada, pois os alunos participaram com seus entendimentos, suas interpretações e colocações na construção do saber, o que corrobora muito sobre a relevância de que é preciso escutar

6 os estudantes, para assim conhecê-los e valorizá-los, enquanto sujeitos participantes de uma sociedade. Durante a avaliação do trabalho desenvolvido, os estudantes responderam que essa experiência foi de grande motivação para eles usarem a criatividade e descobrirem novos sentidos nas histórias das lendas. Assim, quando os estudantes compartilham conhecimentos e interagem entre si, o aprendizado se torna mais significativo no processo de alfabetização científica e, ao mesmo tempo, contribui com a leitura e escrita. Acredita-se na potencialidade de estratégias que despertem o interesse dos estudantes, fazendo com que eles envolvam-se e participem na construção do saber, expressando-se de diferentes formas, como na fala, escrita ou gestos, dos quais o ser humano utiliza para exprimir suas ideias e sentimentos. Como foi o caso da sequência didática desenvolvida a partir da lenda do boto, que focalizou o ensino em uma linguagem interdisciplinar, valorizando e contribuindo para a autoestima destes estudantes que estão iniciando a busca de conhecimentos.. 4. Conclusões A sequência didática de caráter interdisciplinar serviu de motivação para que a professora titular desenvolvesse atividades diferenciadas, uma vez que a mesma vinha apenas reproduzindo o conhecimento que utilizava dos livros didáticos, não buscando novos métodos que despertasse a atenção e a participação dos estudantes nas atividades propostas. Os alunos tiveram a oportunidade de expressar suas ideias de forma escrita e debater sobre aspectos míticos e científicos relacionados à lenda em questão. Enquanto eram orientados de como fazer isso, revisando textos, reescrevendo palavras ou frases e organizando ideias de forma coerente. Portanto, as atividades desenvolvidas pelas professoras estagiárias mostraram-se significativas ao fazer docente. Esperamos que propostas didáticas deste tipo sirvam de exemplo para que se produzam outras formas de ensino. Desta forma, conclui-se que a proposta de ensino com lendas possibilitou o desenvolvimento de novas práticas de ensino, valorizando o uso da linguagem e resgatando a cultura popular pouco valorizada no mundo pós-moderno, bem como contribuiu com o processo de alfabetização dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental.

7 5. Referências DELIZOICOV, Demétrio. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011. Educação sexual para crianças. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=pwj69kry-bs. Enviado em 24/03/2011. KLEIMAN, Angela. Professores e agentes de letramento: identidade e posicionamento social. Revista Filologia e Linguística Portuguesa, n. 08, p. 409-424, 2006. O Boto (HD) - série juro que vi. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3v2zxwf8poo. Publicado em 16/04/2012 SOUZA, Anervina. As lendas amazônicas em sala de aula. Apropriação da cultura e formação sociocultural das crianças na interpretação do ser sobrenatural, Editora Valer, 2009.

8 6. Anexos Figura 1 Escrita de texto desenvolvido pelo aluno A escrita proporcionou para os alunos um momento de socialização, em que puderam expressar suas criatividades em forma de desenhos e/ou escrita. Figura 2: Apresentação da dança do boto.