MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS



Documentos relacionados
Dúvidas e Esclarecimentos sobre a Proposta de Criação da RDS do Mato Verdinho/MT

Estratégia Nacional de Biodiversidade BRASIL. Braulio Dias DCBio/MMA

Projeto de Fortalecimento e Intercâmbio de Mosaicos de Áreas Protegidas na Mata Atlântica

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Experiência em Gestão Territorial

Política Ambiental das Empresas Eletrobras

Unidades de Conservação da Natureza

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - SNUC

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA REDAÇÃO FINAL PROJETO DE LEI Nº D, DE O CONGRESSO NACIONAL decreta:

SEMIPRESENCIAL DISCIPLINA: MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA MATERIAL COMPLEMENTAR UNIDADE I PROFESSOR: EDUARDO PACHECO

Convenção sobre Diversidade Biológica: O Plano de Ação de São Paulo 2011/2020. São Paulo, 06 de março de GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

TEXTO BASE PARA UM POLÍTICA NACIONAL NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Experiências e Aspectos Conceituais. Clayton F. Lino - Maio/ 2009

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

CHAMADA DE PROPOSTAS Nº 1/2015

Líderes da Conservação - Instituto de Desenvolvimento Sustentável

Política de Sustentabilidade das empresas Eletrobras

ANEXO XI Saúde Indígena Introdução

Conselho Gestor APA DA VÁRZEA RIO TIETÊ GTPM

O programa brasileiro de unidades de conservação

(Publicada no D.O.U em 30/07/2009)

POLÍTICAS DE GESTÃO PROCESSO DE SUSTENTABILIDADE

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Art. 6 o O SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições:

MINISTÉRIO DAS CIDADES CONSELHO DAS CIDADES RESOLUÇÃO RECOMENDADA N 75, DE 02 DE JULHO DE 2009

Promover um ambiente de trabalho inclusivo que ofereça igualdade de oportunidades;

PORTARIA MMA Nº 43, DE 31 DE JANEIRO DE 2014

Política Nacional de Meio Ambiente

Política Estadual de Governança Climática e Gestão da Produção Ecossistêmica

ICKBio MMA MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Mosaicos de áreas protegidas. Gestão integrada - o desafio da articulação interinstitucional

Legislação Pesqueira e Ambiental. Prof.: Thiago Pereira Alves

Curso de Especialização de Gestão Pública e Meio Ambiente. Disciplina de Legislação Ambiental. Professora Cibele Rosa Gracioli

GUIA DE ARGUMENTOS DE VENDAS

Capacitação para o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Política de Sustentabilidade das Empresas Eletrobras

Bioindicadores Ambientais (BAM36AM) Sistema Nacional de Unidades de Conservação

Padrão de Príncipes, Critérios e Indicadores para Florestas Modelo. Rede Ibero-Americana de Florestas Modelo 2012

Cooperação científica e técnica e o mecanismo de intermediação de informações

Monitoramento de Biodiversidade. Por Paulo Henrique Bonavigo

ACORDO-QUADRO SOBRE MEIO AMBIENTE DO MERCOSUL

Proposta de 20 Metas Brasileiras de Biodiversidade para 2020

Plataforma Ambiental para o Brasil

PLANO DE AÇÃO NACIONAL DO PATO MERGULHÃO

14/05/2010. Sistema Integrado de Gestão Ambiental SIGA-RS. Sistema Integrado de Gestão Ambiental SIGA-RS. Niro Afonso Pieper. Diretor Geral - SEMA

PROJETO DE LEI Nº...

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO lei 9.985/ Conceitos Básicos

Política Nacional de Participação Social

Política Ambiental janeiro 2010

Fotografias PauloHSilva//siaram. Saber Mais... Ambiente Açores

Prefeitura Municipal de Jaboticabal

a Resolução CONAMA nº 422/2010 de 23 de março de 2010, que estabelece diretrizes para as campanhas, ações e projetos de educação ambiental;

Consultoria para avaliar a atividade de monitoramento e implementação do Programa Brasil Quilombola

OBJETO DA CONTRATAÇÃO

DESENVOLVIMENTO DA MINERAÇÃO

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE

Ministério da Cultura

Termo de Referência nº Antecedentes

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

SINAPIR: SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL

EDITAL Nº 001/2014 CADASTRO DE INSTITUIÇÕES INTERESSADAS EM PARTICIPAR DO CONSELHO CONSULTIVO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL FAZENDA ATALAIA

MMX - Controladas e Coligadas

Criação de uma Unidade de Conservação na ZPA-6. Morro do Careca e sistema dunar Dunar contínuo

Termo de Referência nº Antecedentes

gestão das Instâncias de Governança nas regiões turísticas prioritárias do país.

Governo do Estado do Rio Grande do Sul Secretaria da Educação Secretaria do Meio Ambiente Órgão Gestor da Política Estadual de Educação Ambiental

RESERVA DA BIOSFERA DO CINTURÃO VERDE DA CIDADE DE SÃO PAULO

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS ELETROBRAS. Política de Responsabilidade Social das Empresas Eletrobras

PROGRAMA PETROBRAS SOCIOAMBIENTAL: Desenvolvimento Sustentável e Promoção de Direitos

GESTÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

1ª Conferência Livre da Juventude em Meio Ambiente Foco em Recursos Hídricos

Proposta de Plano de Desenvolvimento Local para a região do AHE Jirau

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2006

DIRETRIZES DE FUNCIONAMENTO DO MOVIMENTO NACIONAL PELA CIDADANIA E SOLIDARIEDADE/ NÓS PODEMOS

PROPOSTA DE PROGRAMAS E AÇÕES PARA O PNRH

Grupo Temático: Áreas de Proteção. Ambiental Natural. Coordenador: Walter Koch. Facilitador: Karla. Relator:Eloísa

EMENDA AO PLDO/ PL Nº 009/2002-CN ANEXO DE METAS E PRIORIDADES

MOSAICOS DE UNIDADES DE CONSERVACÃO E ÄREAS PROTEGIDAS- INTRODUÇÃO

NOTA TÉCNICA: ICMS VERDE Por: Denys Pereira 1, Maíra Começanha 2, Felipe Lopes 3 e Justiniano Netto 4. Introdução

O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) e o uso das ferramentas de geotecnologias como suporte à decisão

Povos tradicionais e locais; Acesso a conhecimento tradicional; Panorama legal nacional e internacional; Repartição de benefícios;

As Questões Ambientais do Brasil

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

Profª.. MSc. Silvana Pimentel de Oliveira Manaus/2009

Etapa 01 Proposta Metodológica

Agenda Regional de Desenvolvimento Sustentável Eixo 4: Gestão Regional Integrada

SUAS e Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SISAN: Desafios e Perspectivas para a Intersetorialiade

Desafios para consolidação de políticas públicas p instrumentos legais para acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios no Brasil

FICHA PROJETO - nº 172 MA

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

Introdução. Gestão Ambiental Prof. Carlos Henrique A. de Oliveira. Introdução à Legislação Ambiental e Política Nacional de Meio Ambiente - PNMA

POLÍTICA NACIONAL DE GESTÃO TERRITORIAL E AMBIENTAL DE TERRAS INDÍGENAS - PNGATI

LEI N , DE 17 DE JANEIRO DE INSTITUI A POLÍTICA ESTADUAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR.

Anexo PROPOSTA DOCUMENTO BASE. Versão Consulta Pública SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL - SINAPIR

Art. 1º - Criar o Estatuto dos Núcleos de Pesquisa Aplicada a Pesca e Aqüicultura.

Reserva da Biosfera da Amazônia Central

VAMOS CUIDAR DO BRASIL COM AS ESCOLAS FORMANDO COM-VIDA CONSTRUINDO AGENDA 21AMBIENTAL NA ESCOLA

PROJETO DE RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição:

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS DIRETORIA DE ÁREAS PROTEGIDAS Brasília 2006

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS República Federativa do Brasil Presidente: Luiz Inácio Lula da Silva Vice-Presidente: José Alencar da Silva Ministério do Meio Ambiente Ministra: Marina Silva Secretário-Executivo: Claudio Roberto Bertoldo Langone Secretaria de Biodiversidade e Florestas Secretário: João Paulo Ribeiro Capobianco Diretoria do Programa Nacional de Áreas Protegidas Diretor: Maurício Mercadante Gerente de Articulação Institucional: Iara Vasco Ferreira Gerente de Implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação: Fábio França

SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO 02 2. MARCO LEGAL 05 3. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E PREMISSAS 16 4. EIXOS TEMÁTICOS 22 4.1. OBJETIVOS, METAS E ESTRATÉGIAS NACIONAIS 23 PARA O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ÁREAS TERRESTRES 23 ÁREAS MARINHAS 46 4.2. OBJETIVOS, METAS E ESTRATÉGIAS NACIONAIS 64 PARA AS DEMAIS ÁREAS PROTEGIDAS 5. ANEXOS 65 5.1. GLOSSÁRIO 65 5.2. SIGLÁRIO 68 5.3. PARTICIPANTES DA ELABORAÇÃO DA 72 PROPOSTA 5.4. QUADRO: FASES DE IMPLEMENTAÇÃO DO 83 PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS: OBJETIVOS E METAS PARA O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 1. APRESENTAÇÃO O Plano Nacional de Áreas Protegidas - PNAP adotou um conceito de áreas protegidas que abrange áreas naturais definidas geograficamente, regulamentadas, administradas e/ou manejadas com objetivos de conservação e uso sustentável da biodiversidade. Por sua abrangência, o plano enfoca prioritariamente o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SNUC, as terras indígenas e os territórios quilombolas. Sendo que as demais áreas protegidas, como as áreas de preservação permanente e as reservas legais são tratadas no planejamento da paisagem, no âmbito da abordagem ecossistêmica, com uma função estratégica de conectividade entre fragmentos naturais e as próprias áreas protegidas. O plano define objetivos, metas e estratégias para o Brasil estabelecer um sistema abrangente de áreas protegidas, ecologicamente representativo e efetivamente manejado, integrado a paisagens terrestres e marinhas mais amplas, até 2015. A principal estratégia para alcançar tal objetivo é a implementação do SNUC e a gestão integrada das unidades de conservação com demais áreas protegidas, publicas ou privadas, conforme dispõe o art. 26 da Lei 9.985, de 18 de julho de 2000. O plano está dividido em três fases consecutivas que expressam os desafios para o estabelecimento dessa política integrada para um conjunto abrangente de áreas protegidas, além de contribuir para a transversalidade das ações no âmbito do governo. Sua origem está no compromisso do Ministério do Meio Ambiente MMA em dar conseqüência às deliberações da Conferencia Nacional de Meio Ambiente (2003 e 2005) e aos acordos internacionais, como a adoção do programa de trabalho sobre áreas protegidas da Convenção da Diversidade Biológica CDB (Decisão VII/28, 2004), entre outros. Reconhecendo as especificidades dos ambientes costeiros e marinhos, e levando em conta que o Programa de Trabalho de Áreas Protegidas da CDB estabelece metas diferenciadas para os ambientes terrestres - até 2010, e para os ambientes marinhos - até 2012, o plano apresenta uma estratégia específica para as áreas protegidas costeiras e marinhas. A presente proposta de plano nacional é resultado de um processo de construção que teve inicio em 2004, com a assinatura de um protocolo de intenções entre o Ministério do Meio Ambiente e um conjunto de organizações não governamentais e movimentos sociais de âmbito nacional e internacional. O propósito da cooperação firmada entre o governo e a sociedade civil era o estabelecimento de uma política abrangente para as áreas protegidas no Brasil e deu origem ao Fórum 2

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Nacional de Áreas Protegidas instituído em 2004 como um espaço de participação, colaboração e controle social sobre essa política. Nesse contexto, foi criado em fevereiro de 2005 o Grupo de Trabalho Ministerial para elaboração do Plano Nacional de Áreas Protegidas e um grupo técnico especializado para elaborar as metas e estratégias específicas para a zona costeira e marinha. O Grupo Ministerial trabalhou durante o ano de 2005 numa dinâmica de reuniões e oficinas que contaram com a contribuição de especialistas, gestores de unidades de conservação e lideranças de organizações e movimentos sociais, totalizando até o momento a participação de mais de 400 pessoas nesse processo. Foram realizadas aproximadamente 15 reuniões e oficinas participativas, totalizando um investimento aproximado de R$ 422 mil para elaboração da presente proposta. No planejamento específico para as terras indígenas, que abrangem 12% do território nacional e são reconhecidas pelo seu importante papel na conservação da biodiversidade, o desenvolvimento da estratégia para essas áreas ocorreu simultaneamente ao Grupo de Trabalho do Plano Nacional de Áreas Protegidas. Foi, então, instituído no âmbito do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Justiça um grupo de trabalho interministerial, composto paritariamente por representantes do governo e de povos indígenas das cinco regiões do Brasil. O resultado desse grupo de trabalho foi um projeto de proteção, conservação, recuperação e uso sustentável da biodiversidade em terras indígenas, que foi encaminhado ao Fundo Global de Meio Ambiente (GEF) em 14 de outubro de 2005, no valor de US$ 130 milhões. O projeto tem como objetivo imediato a consolidação dos territórios indígenas como áreas protegidas, através do apoio às iniciativas indígenas de conservação e recuperação ambiental, valorização dos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas, suas inovações e práticas, e promoção da etnogestão da biodiversidade das terras indígenas. A implementação da 1ª fase do Plano Nacional de Áreas Protegidas contempla o estabelecimento de um programa nacional de conservação da biodiversidade em terras indígenas, com o detalhamento das metas e estratégias específicas para essas áreas. No caso dos territórios quilombolas foi criado um Sub-grupo no âmbito do Grupo de Trabalho do Plano Nacional de Áreas Protegidas. Após a I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial ocasião em que o MMA realizou uma pesquisa com os delegados indígenas e quilombolas sobre a conservação da biodiversidade em seus territórios em parceria com a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República SEPPIR foram realizadas duas oficinas com o movimento nacional quilombola. Nessas oficinas teve inicio o diálogo entre o governo e as lideranças quilombolas para a construção de uma política de apoio e fortalecimento de práticas tradicionais de conservação e uso sustentável da biodiversidade nesses territórios. O resultado das oficinas permitiu que se estabelecesse uma agenda de trabalho para o 3

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS detalhamento das metas e estratégias para os territórios quilombolas, que será objeto de trabalho na 1ª fase de implementação do Plano Nacional de Áreas Protegidas, em 2006. Assim sendo, considerando o Plano Nacional um instrumento de planejamento e gestão, dinâmico e flexível, de uma política para conservação da biodiversidade em áreas naturais protegidas, o documento ora submetido à consulta pública propõe nesta primeira versão os objetivos, metas e estratégias detalhados para as áreas terrestre e marinhas do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, indicando as estratégias para, nas suas fases subseqüentes, integrar demais áreas protegidas ao estabelecimento de um sistema ecologicamente representativo e efetivamente manejado até 2015. O documento apresenta ainda os princípios, diretrizes, premissas e marco legal que orientam o desenvolvimento das ações previstas no plano. Finalizando, embora o planejamento das metas devesse estar baseado numa análise da situação atual das áreas protegidas, optou-se pelo esforço simultâneo de produzir esse conhecimento e traçar uma política em fases que permitam o ajuste das metas nos períodos de avaliação do Plano Nacional. A dificuldade na obtenção e sistematização dos dados referentes a essas áreas demandou em 2005 esforços que mobilizaram, sobretudo, o IBAMA e os Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, numa ação coordenada do MMA no âmbito do Sistema Nacional de Informações de Meio Ambiente SINIMA, e que resultaram na implementação do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação, previsto no art. 50 da Lei 9.985 de 18 de julho de 2000, lançado no final de 2005 e agora disponibilizado à sociedade (www.mma.gov.br/cadastro_uc). Uma série de levantamentos também foram realizados junto à FUNAI e SEPPIR e estão sendo incorporados ao documento Panorama das áreas protegidas no Brasil, em elaboração, que integrará a versão final do Plano. 4

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 2. MARCO LEGAL A busca pela conservação da biodiversidade e proteção dos recursos naturais faz parte da história do Brasil e vem sendo construída em diferentes momentos e de diferentes maneiras. O Plano Nacional de Áreas Protegidas-PNAP parte do reconhecimento da necessidade de se estabelecer uma política intersetorial para as áreas protegidas que possa contribuir para implementação de ações que assegurem a conservação e o uso sustentável da biodiversidade no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza- SNUC, nas terras indígenas, nos territórios quilombolas, e nos demais espaços especialmente protegidos como as Áreas de Preservação Permanente-APPs e as reservas legais, numa abordagem ecossistêmica. O documento harmoniza-se com pressupostos e diretrizes de instrumentos normativos orientadores para implementação de um sistema abrangente de áreas protegidas. Partindo da Constituição Federal, a legislação brasileira dá suporte à manutenção das áreas protegidas, que constitui o objeto imediato do PNAP. A Constituição Federal de 1988 Promulgada em 1988, a Constituição Federal assegurou no art. 225, 1º, III, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e incumbiu ao Poder Público definir, em todas as unidades da federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos. Esses espaços estão sendo discutidos e sua definição sendo pactuada com a sociedade civil no processo de construção do PNAP. Convenção sobre Diversidade Biológica- CDB A CDB foi assinada pelo Presidente da República durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento -CNUMAD, em junho de 1992; ratificada pelo Congresso Nacional, pelo Decreto Legislativo nº 2/94, em 8 de fevereiro de 1994, e promulgada através do Decreto nº 2.519, em 17 de março de 1998. A Convenção sobre Diversidade Biológica é um tratado internacional do qual o Brasil é signatário, tendo portanto acatado seus princípios e determinações, devendo segui-los e implementá-los. Seu art. 8º, que versa sobre a conservação in situ, estabelece que cada uma das Partes Contratantes deve, na medida do possível e conforme o caso: a) estabelecer um sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica; 5

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS b) desenvolver, se necessário, diretrizes para a seleção, estabelecimento e administração de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas para conservar a diversidade biológica; c) regulamentar ou administrar recursos biológicos importantes para a conservação da diversidade biológica, dentro ou fora de áreas protegidas, a fim de assegurar sua conservação e utilização sustentável; d) promover a proteção de ecossistemas, habitats naturais e manutenção de populações viáveis de espécies em seu meio natural; e) promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente sadio em áreas adjacentes às áreas protegidas a fim de reforçar a proteção dessas áreas; f) [...] g) [...] h) [...] i) [...] j) em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a repartição eqüitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas; k) [...] A CDB também sugere que dentre as medidas para a conservação e utilização sustentável da biodiversidade (art. 6º), as Partes devem: a) desenvolver estratégias, planos ou programas para a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica ou adaptar para esse fim estratégias, planos ou programas existentes que devem refletir, entre outros aspectos, as medidas estabelecidas nesta Convenção concernentes à Parte interessada; e b) integrar, na medida do possível e conforme o caso, a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica em planos, programas e políticas setoriais ou intersetoriais pertinentes. Assim, o Plano Nacional de Áreas Protegidas PNAP - atende aos compromissos assumidos pelo Brasil na CDB, e em especial àqueles advindos da 7ª Conferência das Partes (COP-7), Decisão VII/28, que adotou o Programa de Trabalho para Áreas Protegidas. Esse Programa de Trabalho representa o mais amplo e específico acordo sobre conservação in situ já realizado pela comunidade internacional. A elaboração do PNAP também segue as recomendações do Programa de Trabalho sobre Biodiversidade Costeira e Marinha, aprovado na COP-4 e revisado na COP-7, produto da Decisão VII/5. 6

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 Através dessa lei foi criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SNUC. O estabelecimento e a gestão das unidades de conservação- UCs, bem como seus conceitos, objetivos, diretrizes e estrutura estão previstos nessa norma. Pelo SNUC, as UCs são divididas em dois grupos de proteção compostos por diferentes categorias de manejo: Unidades de Proteção Integral (tais como Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre) e Unidades de Uso Sustentável (tais como: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural). A gestão das diferentes unidades está descrita a partir do art. 15 do SNUC, conforme as especificações de cada categoria de manejo. No art. 26 há previsão de que a gestão de um conjunto de UCs e outras áreas protegidas que formam um mosaico deverá ser feita de forma integrada e participativa, considerando-se os seus distintos objetivos de conservação, de forma a compatibilizar a presença da biodiversidade, a valorização da sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional (art. 26). Ademais, o art. 30 possibilita a gestão compartilhada das unidades de conservação, mediante instrumento a ser firmado entre o órgão gestor e organizações da sociedade civil de interesse público OSCIPs - com objetivos afins aos da unidade. Estão previstas também as Reservas da Biosfera (art. 41) como um modelo, adotado internacionalmente, de gestão integrada, participativa e sustentável dos recursos naturais, com os objetivos básicos de preservação da diversidade biológica, o desenvolvimento de atividades de pesquisa, o monitoramento ambiental, a educação ambiental, o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das populações. Em relação à responsabilidade dos órgãos ambientais federais, responsáveis pelas políticas ambientalista e indigenista, o SNUC prevê a instituição de grupos de trabalho para propor diretrizes a serem adotadas com vistas à regularização de superposições entre áreas indígenas e unidades de conservação (art. 57). O art. 42 prevê o reassentamento das populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais seja incompatível sua permanência. Avança no sentido de garantir a priorização do reassentamento dessas populações e a compatibilização de sua eventual permanência com os objetivos da unidade, assegurando-se sua participação na elaboração das normas de permanência e ações permitidas. O SNUC é gerido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA, enquanto órgão consultivo e deliberativo; pelo Ministério do Meio Ambiente, como órgão central coordenador do Sistema; e pelos órgãos executores, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, e os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o Sistema, subsidiando as propostas de criação e administração das unidades de conservação (art. 6). 7

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Os arts. 34 e 35 da Lei sinalizam as formas de sustentabilidade econômica e arrecadação de recursos nas unidades de conservação. Os arts. 47 e 48 asseguram a contribuição financeira para a proteção e implementação de unidades de conservação onde se utilizem recursos hídricos para abastecimento público ou geração de energia elétrica. A Lei 9.985/00 dá sustentação ao PNAP na medida em que estrutura o SNUC e dá diretrizes para a gestão das demais áreas protegidas. Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002 A Lei 9.985, de 18 de julho de 2000 foi regulamentada por este decreto, que resultou de um amplo processo participativo, envolvendo diversos segmentos da sociedade e consolidou avanços proporcionados pela lei do SNUC. Esse decreto estabeleceu que o mosaico de unidades de conservação será reconhecido em ato do Ministério do Meio Ambiente (art.8). Previu a existência de um Conselho de Mosaico, com caráter consultivo e com função de implementar a gestão integrada das unidades que o compõem (art. 9), e também de propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e otimizar as atividades desenvolvidas em cada UC; as relações com a população residente na área do mosaico; e manifestar-se sobre propostas de solução para a sobreposição de unidades (art. 10). Para fins de gestão, os corredores ecológicos, reconhecidos em ato do Ministério do Meio Ambiente, integram os mosaicos (art.11). A composição e a representatividade nos conselhos da unidades de conservação, bem como a suas atribuições e a gestão compartilhada com OSCIPs, foi explicitado nessa norma. Ao conselho de unidade de conservação cumpre buscar a integração da unidade de conservação com as demais unidades e espaços territoriais especialmente protegidos e com seu entorno (arts. 17 a 20). Ainda, o Decreto regulamentador do SNUC detalhou a gestão das Reservas de Biosfera reconhecidas no Brasil (arts. 42 a 45). Esse Decreto também regulamenta os mecanismos de compensação por significativo impacto ambiental previstos na Lei do SNUC, prevendo a licença de operação corretiva ou retificadora, para empreendimentos implantados antes de sua edição. Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002 Instituiu os princípios e as diretrizes para implementação da Política Nacional da Biodiversidade, considerando os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção da Diversidade Biológica, as demais normas vigentes relativas à biodiversidade e o 8

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS desenvolvimento de estratégias, políticas, planos e programas nacionais de biodiversidade enquanto um dos principais compromissos assumidos pelo país enquanto membro da CDB. Esse Decreto abriga em documento anexo o texto integral da Política Nacional da Biodiversidade, explicitando seus princípios, diretrizes e objetivos, além de dispor sobre seus 7 componentes e respectivos objetivos específicos. Os componentes versam sobre os seguintes temas: 1- Conhecimento da Biodiversidade; 2- Conservação da Biodiversidade; 3- Utilização Sustentável dos Componentes da Biodiversidade; 4- Monitoramento, Avaliação, Prevenção e Mitigação de Impactos sobre a Biodiversidade; 5- Acesso aos Recursos Genéticos e aos Conhecimentos Tradicionais Associados e Repartição de Benefícios; 6- Educação, Sensibilização Pública, Informação e Divulgação sobre Biodiversidade; 7- Fortalecimento Jurídico e Institucional para a Gestão da Biodiversidade. O Componente 2 da Política Nacional da Biodiversidade especifica as diretrizes e objetivos específicos para conservação das áreas protegidas (item nº 11 do Anexo). Seu objetivo geral é promover a conservação, in situ e ex situ, dos componentes da biodiversidade, incluindo variabilidade genética, de espécies e de ecossistemas, bem como dos serviços ambientais mantidos pela biodiversidade. A primeira diretriz é a conservação de ecossistemas, através da promoção de ações de conservação in situ da biodiversidade e dos ecossistemas em áreas não estabelecidas como unidades de conservação, mantendo os processos ecológicos e evolutivos e a oferta sustentável dos serviços ambientais. Nessa perspectiva são objetivos específicos dessa diretriz, dentre outros: - 11.1.3 Planejar, promover, implantar e consolidar corredores ecológicos e outras formas de conectividade de paisagens, como forma de planejamento e gerenciamento regional da biodiversidade, incluindo compatibilização e integração das reservas legais, áreas de preservação permanentes e outras áreas protegidas. - 11.1.5 Promover e apoiar estudos de melhoria dos sistemas de uso e de ocupação da terra, assegurando a conservação da biodiversidade e sua utilização sustentável, em áreas fora de unidades de conservação de proteção integral e inclusive em terras indígenas, quilombolas e de outras comunidades locais, com especial atenção às zonas de amortecimento de unidades de conservação. - 11.1.6-11.1.7 Promover e apoiar a conservação da biodiversidade no interior e no entorno de terras indígenas, de quilombolas e de outras comunidades locais, respeitando o uso etnoambiental do ecossistema pelos seus ocupantes. - 11.1.11 Estabelecer uma iniciativa nacional para conservação e recuperação da biodiversidade de águas interiores, da zona costeira e da zona marinha. A segunda diretriz engloba a conservação de ecossistemas em unidades de conservação, por meio da promoção de ações de conservação in situ da biodiversidade dos ecossistemas nas unidades de conservação, mantendo os processos ecológicos e evolutivos, a oferta sustentável dos serviços ambientais e a integridade dos ecossistemas. Os objetivos específicos da segunda diretriz envolvem: - 11.2.6 Promover a criação de unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável, levando-se em consideração a representatividade, conectividade e 9

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS complementaridade da unidade para o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. - 11.2.8 Promover o desenvolvimento e a implementação de um plano de ação para solucionar os conflitos devidos à sobreposição de unidades de conservação, terras indígenas e de quilombolas. - 11.2.9 incentivar e apoiar a criação de unidades de conservação marinhas com diversos graus de restrição e de exploração. Baseado nesses preceitos o Plano Nacional de Áreas Protegidas tem sido construído e discutido com diversos atores envolvidos na questão. A Política Nacional da Biodiversidade direciona o PNAP, abrangendo todos os principais componentes para conservação da diversidade biológica. Decreto nº 4.703, de 21 de maio de 2003 e alterações Dispõe sobre o Programa Nacional da Diversidade Biológica PRONABIO e a Comissão Nacional da Biodiversidade CONABIO. O PRONABIO possui o objetivo principal de promover parceria entre o Poder Público e a sociedade civil na conservação da biodiversidade, na utilização sustentável dos seus componentes e na repartição justa e eqüitativa dos benefícios decorrentes dessa utilização. É um importante instrumento na implementação da CDB. A CONABIO tem um relevante papel na discussão com a sociedade civil, através de debates e consultas públicas visando alcançar o principal objetivo da Política Nacional de Biodiversidade, que é a promoção da efetiva conservação da diversidade biológica brasileira. Decreto nº 5.092, de 21 de maio de 2004 Define regras para identificação de áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade, no âmbito das atribuições do Ministério do Meio Ambiente. Estabelece que essas áreas serão definidas por portaria ministerial, considerando-se os seguintes conjuntos de biomas: Amazônia; Cerrado e Pantanal; Caatinga; Mata Atlântica e Campos Sulinos; e Zona Costeira e Marinha. Ainda segundo esse Decreto, as áreas prioritárias devem fundamentar-se nas áreas identificadas no "Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira PROBIO" e serem discriminadas em mapa das áreas prioritárias para conservação e utilização sustentável da diversidade biológica brasileira. Essas áreas prioritárias devem ser consideradas para o estabelecimento de unidades de conservação. 10

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Portaria MMA nº 126 do MMA, de 27 de maio de 2004 Reconhece como áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira as áreas referenciadas, denominadas de Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira ou Áreas Prioritárias para a Biodiversidade, para efeito da formulação e implementação de políticas públicas, programas, projetos e atividades sob a responsabilidade do governo federal voltados a conservação in situ, a utilização sustentável, a repartição de benefícios derivados do acesso a recursos genéticos e ao conhecimento tradicional associado, a pesquisa e inventários sobre a biodiversidade, a recuperação de áreas degradadas e valorização econômica da biodiversidade. Portaria MMA nº 134, de 7 de junho de 2004 Institui o Fórum Nacional de Áreas Protegidas, que se constitui em um espaço de diálogo e articulação permanente aberto à sociedade, devendo agregar contribuições importantes para a formulação do Plano Nacional de Áreas Protegidas, cujas propostas buscam integrar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC - Lei 9.985/2000) às demais áreas protegidas. Código Florestal A Lei nº 4771, de 15 de setembro de 1965, e alterações posteriores (Inclusive MP nº 2.166-67 de 24 de agosto de 2001) institui o Código Florestal, que define conceitos de Areas de Preservação Permanente-APP e Reserva Legal, abrangidos pelo Plano Nacional de Áreas Protegidas levando-se em conta abordagem ecossistêmica. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 Essa lei instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente PNMA - e estabeleceu como princípio a ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo (art. 2º, I). Também previu que a PNMA deve visar à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios (art. 4º, II). E ainda, advertiu que será instrumento da PNMA a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal (...) (art. 9º, VI). A Lei nº 6938/81 dá as diretrizes da PNMA, da qual o PNAP é conseqüência direta. 11

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990 Esse decreto regulamenta a lei da PNMA explicitando que sua execução será efetivada quando o Poder Público, nos diferentes níveis de governo, proteger a áreas representativas de ecossistemas mediante a implementação de unidades de conservação (...) (art. 1º, II). As unidades de conservação são áreas protegidas em sentido estrito e um dos objetos do PNAP. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar O PNAP, visando estabelecer e administrar áreas protegidas em zonas marinhas que ultrapassem os limites da jurisdição nacional, também atende aos preceitos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, cujo texto foi concluído em Montego Bay, Jamaica, em 10 de dezembro de 1982. Esse tratado foi aprovado pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo nº 5 de 9 de novembro de 1987, e entrou em vigor internacional e para o Brasil em 16 de novembro de 1994, pelo Decreto nº 1.530, de 22 de junho de 1995. Decreto-Lei nº 221, de 28 de fevereiro de 1967 Levando-se em conta que o PNAP possui metas e estratégias específicas para as áreas costeiras e marinhas, que devem ser criadas e geridas visando não só a conservação da biodiversidade, mas também a recuperação dos estoques pesqueiros, o documento segue os comandos do Decreto-Lei 221/67, a Lei de Pesca. Convenção de Ramsar A Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat de Aves Aquáticas, conhecida como Convenção de Ramsar foi assinada no Irã em 2 de fevereiro de 1971. Aprovada no país pelo Decreto Legislativo nº 33 de 16 de junho de 1992, foi promulgada pelo Presidente da República pelo Decreto nº 1.905 de 16 de maio de 1996. O PNAP, baseado nos compromissos desse diploma, vem atender à demanda por proteção das zonas úmidas de importância internacional localizadas em território brasileiro. Tratado de Cooperação Amazônica O Tratado de Cooperação Amazônica-TCA é um relevante instrumento multilateral para promover a cooperação entre os países amazônicos - Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela - em favor do desenvolvimento sustentável da região. Esse documento, firmado em Brasília em 3 de julho de 1978, foi internalizado através do Decreto Legislativo nº 69, de 18 de outubro de 1978 e promulgado pelo Decreto nº 85.050, 12

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS de 18 de agosto de 1980. No Eixo Temático 1, o PNAP contempla os compromissos assumidos pelo País no TCA quando prevê o estabelecimento e o fortalecimento de redes de colaboração, através das fronteiras nacionais, entre unidades de conservação e demais áreas protegidas contíguas ou próximas (Objetivo 1.2). Lei nº 6.634 de 2 de maio de 1979, Decreto nº 85.064 de 26 de agosto de 1980 Respaldadas na Constituição Federal de 1988, art. 91, 1º, III e art. 20, 2º, essas normas dão as diretrizes para a definição de áreas protegidas na faixa de fronteira. O Eixo temático 1 do Plano Nacional de Áreas Protegidas-PNAP visa implementar ações diretas de planejamento, seleção, estabelecimento, fortalecimento e gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Aí inserido está o Objetivo 1.2 que busca estabelecer e fortalecer redes de colaboração, através das fronteiras nacionais, entre UCs e demais áreas protegidas contíguas ou próximas. Convenção relativa à Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural Oficializada pela UNESCO em 1972, a Convenção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural foi aprovada pelo Decreto Legislativo nº 74, de 30 de junho de 1977 e promulgada através do Decreto nº 80.978, de 12 de dezembro de 1977. Esse documento internacional tem a finalidade de garantir a proteção de obras e áreas de grande interesse cultural e natural para a humanidade. Cada país que passa a integrar essa Convenção deve buscar proteger esses Sítios, e também colaborar com outros países para que também o façam da melhor maneira e com a técnica mais adequada possível. A seleção das áreas deve ser feita pelas nações signatárias, garantida a soberania sobre esses bens. Os Sítios do Patrimônio Mundial Natural são títulos atribuídos a áreas protegidas que atendam aos critérios estabelecidos pela Convenção. As metas previstas PNAP contemplam o compromisso assumido internacionalmente pelo Brasil de identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às futuras gerações seu patrimônio natural. Convenção OIT- Organização Internacional do Trabalho nº 169, de 7 de junho de 1969 Esse tratado internacional sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes, foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 143 de 20 de junho de 2002, e promulgado através do Decreto nº 5.051 de 20 de abril de 2004. Seu artigo 7º, 1, garante que os povos interessados deverão ter o direito de escolher suas próprias prioridades no que diz respeito ao processo de desenvolvimento, na medida em que ele afete as suas vidas, crenças, instituições e bem-estar espiritual, bem como as terras que ocupam ou utilizam de alguma forma, e de controlar, na medida do possível, o seu próprio desenvolvimento econômico, social e cultural. Além disso, esses povos deverão participar da formulação, aplicação e avaliação dos planos e programas de desenvolvimento nacional e regional suscetíveis de afetá-los diretamente. Nesse diapasão, assegura que os governos 13

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS deverão adotar medidas em cooperação com os povos interessados para proteger e preservar o meio ambiente dos territórios que eles habitam (art. 7º, 4). Com relação às terras ocupadas por indígenas, a Convenção dispõe que os governos deverão respeitar a importância especial que para as culturas e valores espirituais dos povos interessados possui a sua relação com as terras ou territórios, ou com ambos, segundo os casos, que eles ocupam ou utilizam de alguma maneira e, particularmente, os aspectos coletivos dessa relação.(art. 13, 1). Ainda, esclarece que a utilização do termo "terras" deve incluir o conceito de territórios, o que abrange a totalidade do habitat das regiões que os povos interessados ocupam ou utilizam de alguma outra forma (art.13, 2). O art. 15, 1, garante que os direitos dos povos interessados aos recursos naturais existentes nas suas terras deverão ser especialmente protegidos. Esses direitos abrangem o direito desses povos a participarem da utilização, administração e conservação dos recursos mencionados. Esse componente da Convenção reflete o esforço do PNAP de incluir as terras indígenas no conceito de áreas protegidas. Quanto a contatos e cooperação internacional a Convenção estabelece que os governos deverão adotar medidas apropriadas, inclusive mediante acordos internacionais, para facilitar os contatos e a cooperação entre povos indígenas e tribais através das fronteiras, inclusive as atividades nas áreas econômica, social, cultural, espiritual e do meio ambiente (art. 32). Esse dispositivo é atendido, no que toca a aspectos ambientais, pela adoção da CDB Convenção sobre Diversidade Biológica, da qual o PNAP é conseqüência direta. Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973 Essa lei regula a situação jurídica dos índios e das comunidades indígenas, criando o Estatuto do Índio. Segundo seu art. 22, pertence aos índios a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes. Considerando essa norma, o PNAP reconhece a importância dos povos indígenas e seu papel no esforço de conservação da biodiversidade. Decreto nº 1.141 de 19 de maio de 1994 (com alterações efetuadas pelo Decreto nº 3.799, de 19 de abril de 2001) Esse instrumento dispõe sobre as ações de proteção ambiental, saúde e apoio às atividades produtivas para os povos indígenas. Essas ações são encargos da União (art. 1º). Além disso, frisa que as ações voltadas à proteção ambiental das terras indígenas e seu entorno destinam-se a garantir a manutenção do equilíbrio necessário à sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas (art. 9º). 14

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS Decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003 Esse Decreto regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombolas de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. É um marco no reconhecimento dos territórios quilombolas, viabilizando sua demarcação. Em seu art. 11, é assegurado o envolvimento de órgãos ambientais nos seguintes termos: quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos estiverem sobrepostas às unidades de conservação constituídas, às áreas de segurança nacional, à faixa de fronteira e às terras indígenas, o INCRA, o IBAMA, a Secretaria-Executiva do Conselho de Defesa Nacional, a FUNAI e a Fundação Cultural Palmares tomarão as medidas cabíveis visando garantir a sustentabilidade destas comunidades, conciliando o interesse do Estado (art. 11). A tentativa de incluir os territórios quilombolas no PNAP, reflete o reconhecimento da função ambiental de seus territórios contribuindo para o esforço de conservação da biodiversidade. 15

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 3. PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E PREMISSAS 3.1.PRINCÍPIOS 1. Respeito à diversidade da vida e ao processo evolutivo, considerando o seu valor intrínseco. 2. Reconhecimento das áreas protegidas como o melhor instrumento para a conservação da biodiversidade. 3. Reconhecimento da necessidade de estratégias complementares às áreas protegidas para a conservação da biodiversidade. 4. Participação como processo de inclusão social e exercício da cidadania, tendo como parâmetro a busca permanente da legitimidade e da eqüidade social. 5. Consideração do equilíbrio de gênero, geração, cultura e etnia na gestão das áreas protegidas. 6. Garantia de disponibilidade das informações e facilitação de seu acesso à sociedade. 7. Priorização dos interesses coletivos e difusos sobre os interesses individuais. 8. Sustentabilidade ambiental como premissa do desenvolvimento socioeconômico. 9. As ações de estabelecimento e gestão de áreas protegidas devem ser articuladas com as diferentes políticas públicas e com diferentes segmentos da sociedade. 10. Fortalecimento do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente - SISNAMA em termos de sua estruturação, consolidação, difusão e construção de capacidade institucional para implementação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC e apoio as outras áreas protegidas. 11. Avaliação e ajuste permanentes das metas e resultados, efeitos e impactos, assegurando a funcionalidade e eficiência das ações. 12. Valorização da Lei nº 9.985/00 - SNUC como marco legal. 13. Valorização dos aspectos éticos, étnicos, culturais, estéticos e simbólicos da conservação da natureza. 14. Respeito e reconhecimento das diferentes formas de conhecimentos e práticas de manejo de recursos naturais. 16

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 15. Valorização da noção de patrimônio natural e bem público, no sentido de garantir os direitos das gerações presentes e futuras. 16. Prevalência dos interesses coletivos sobre outros interesses, pressões políticas e econômicas. 17. Considerar os princípios de precaução. 3.2. DIRETRIZES 1. Implementar mecanismos que assegurem os processos de geração e manutenção da biodiversidade. 2. Promover o acesso e repartição justa e eqüitativa aos benefícios advindos da conservação da natureza. 3. Assegurar o engajamento dos diferentes atores sociais no processo de tomada de decisão na criação e gestão das áreas protegidas com o compromisso de fortalecimento e qualificação dos povos indígenas, comunidades quilombolas e locais. 4. Criar mecanismos e instrumentos para promover o processo participativo e a repartição de benefícios, com a perspectiva da melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas. 5. Criar mecanismos para a difusão e apropriação da informação pela sociedade. 6. Fomentar a participação social em todas as etapas da implementação e avaliação do Plano. 7. Utilizar o Fórum Nacional de Áreas Protegidas - FNAP como instância de participação em todas as ações desse Plano. 8. Divulgar para a sociedade a importância das áreas protegidas inclusive como forma de promover a cidadania. 9. Criar e implementar mecanismos e instrumentos para remuneração de serviços ambientais. 10. Criar mecanismos para transformar as áreas protegidas em pólos de desenvolvimento regional. 11. Promover o fluxo gênico entre as unidades de conservação, outras áreas protegidas e suas áreas de interstício. 12. Assegurar a representatividade dos diversos ecossistemas. 17

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 13. Promover a incorporação das áreas protegidas na formulação e implementação das diversas políticas de ordenamento territorial. 14. Promover a articulação dos diferentes segmentos da sociedade para viabilizar e potencializar as ações de conservação da biodiversidade. 15. Implementar e consolidar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, considerando as diferenças regionais. 16. Manter o Cadastro Nacional de Unidade de Conservação atualizado e acessível. 17. Promover ações para a descentralização efetiva do SISNAMA, bem como fomentar a interlocução qualificada entre seus órgãos e a sociedade. 18. Fomentar a abordagem ecossistêmica no planejamento das ações do Plano Nacional de Áreas Protegidas. 19. Reconhecer os conflitos e promover suas soluções como estratégia de planejamento do PNAP. 20. Implementar o Plano Nacional de Áreas Protegidas dentro de uma visão estratégica considerando a projeção de cenários futuros. 3.3. PREMISSAS 1. Para efeito desse Plano, áreas protegidas abrange as áreas naturais definidas geograficamente, regulamentadas, administradas e/ou manejadas com objetivos de conservação e uso sustentável da biodiversidade, enfocando prioritariamente o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza SNUC, as terras indígenas e os territórios quilombolas. 2. O desenho do sistema de áreas protegidas deve contemplar a diversidade ecossistêmica, étnica e sociocultural associada a esses ambientes. 3. As potencialidades de uso sustentável dessas áreas devem ser desenvolvidas e fortalecidas, visando o acesso e a repartição de benefícios que podem e devem ser gerados pelas áreas. 4. As ações desse Plano deverão visar o fortalecimento dos gestores das áreas protegidas, dos povos indígenas, das comunidades quilombolas e locais. 5. Garantia de continuidade administrativa e gerencial. 6. Garantia de recursos técnicos e financeiros. 18

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 7. As atribuições e competências dos órgãos públicos devem ser efetivamente desempenhadas e asseguradas politicamente. 3.3.1. Premissas para o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 1. Os resultados dos estudos sobre os remanescentes florestais dos biomas brasileiros e as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade devem constituir a base de conhecimento, sobre a qual devem ser identificadas as lacunas para o estabelecimento do sistema ecologicamente representativo. 2. O percentual final de cada ecossistema a ser protegido deverá ser definido após a realização de estudos de representatividade, considerando-se o mínimo de 10% de áreas de proteção integral. 3. Às unidades de conservação devem ser integrados e fortalecidos os esforços e as práticas culturais de conservação realizados em terras indígenas, territórios quilombolas, reservas legais, áreas de preservação permanentes e outras áreas protegidas. 4. A interface da diversidade biológica com a sócio-cultural deve orientar o planejamento para o estabelecimento de novas unidades de conservação, bem como para a sua gestão. 5. O desenvolvimento e a implementação dos sistemas estaduais e municipais de unidades de conservação devem ser estimulados. 6. As reservas legais e as áreas de preservação permanente serão consideradas no âmbito do Plano como elementos integradores da paisagem, visando o estabelecimento da conectividade necessária ao fluxo genético. 7. A regularização fundiária das unidades de conservação deve ser considerada como prioridade pelos órgãos gestores. 8. Todas as categorias de unidade de conservação devem ser consideradas de igual importância no processo de conservação da biodiversidade. 9. Os instrumentos de planejamento e participação são os pilares para a boa governança das unidades de conservação. 19

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 3.3.2. Premissas específicas para as Unidades de Conservação Costeiras e Marinhas 1. As áreas costeiras e marinhas protegidas devem ser criadas e geridas visando não só a conservação da biodiversidade, mas também a recuperação dos estoques pesqueiros. 2. O sistema representativo de áreas costeiras e marinhas protegidas deve ser formado por uma rede primária de áreas altamente protegidas (como as unidades de conservação de proteção integral e/ou áreas de exclusão de pescas no-take zones dentro dos limites de unidades de uso sustentável), abrangendo no mínimo de 20 a 30 % de cada ecossistema costeiro-marinho. Estas áreas devem: (i) ser replicadas e distribuídas de acordo com critérios biogeográficos e, devem ser apoiadas por uma rede secundária auxiliar de áreas de uso múltiplo (unidades de conservação de uso sustentável) aonde os impactos são minimizados 1 ; (ii) atuar como uma rede de apoio às terras indígenas, aos territórios quilombolas e às áreas de exclusão de pesca que estejam fora dos limites de uma UC (áreas de exclusão de pesca planejadas para esse fim). 3. As redes devem ser apoiadas em um sistema de práticas de manejo sustentáveis na zona costeira e marinha integrado com as bacias hidrográficas. 4. O porcentual final de cada ecossistema costeiro e marinho a ser protegido deverá ser definido após a realização de estudos de representatividade. 5. Ao pensar no desenho das redes, deve-se observar um gradiente das pressões, ameaças e conflitos da costa até a Zona Econômica Exclusiva, com um mapeamento de prioridades. 1 Sobre as dimensões que a rede primária altamente protegida deve alcançar, no âmbito deste Plano Nacional foram adotados os percentuais recomendados pelo Acordo de Durban - V Congresso Mundial Parques IUCN/2003, e nas recomendações do Technical Advice on the Establishment and Management of a National System of Marine and Coastal Protected Áreas - Ad Hoc Technical Expert Group on Marine and Coastal Protected Áreas (CDB Technical Series N. 13) que são embasados em trabalhos científicos e num consenso entre as metas de conservação e desenvolvimento sustentável, bem como manutenção da qualidade de vida para gerações futuras. No entanto, o tamanho alcançado por esta rede, ou a proporção atingida no caso de cada ecossistema costeiro e marinho, dependerá dos objetivos de conservação e manejo que se deseja alcançar para cada um dos ambientes. Por exemplo, para recifes de coral, de acordo com vários estudos, um mínimo de 20-30% de proteção integral é necessário para proteger o ecossistema. Para outros ambientes degradados, como Manguezais e Restingas, para que os percentuais entre 20-30 % de áreas altamente protegidas seja atingido, provavelmente serão necessárias medidas de recuperação de cobertura vegetal de seus remanescentes. No caso da sustentabilidade pesqueira, uma revisão recente de vários estudos sugere que de 35-75% de uma determinada área deve ser protegida para otimizar os rendimentos da pesca fora das reservas. A decisão tomada neste intervalo dependerá do estado atual dos estoques por exemplo: estoques muito sobrexplotados podem requerer o fechamento de grandes áreas em curto prazo. 20

Documento para Consulta: Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 6. Estabelecer áreas protegidas menores e mais restritivas em regiões mais costeiras, e áreas protegidas maiores e menos restritivas em áreas oceânicas (como zonas de exclusão de pesca). 7. As redes deverão estar inseridas num sistema de práticas de manejo sustentável da zona costeira, como os Planos Estaduais de Gerenciamento Costeiro implementados ou os Zoneamentos Costeiros e Marinhos já realizados por alguns estados. 21

Documento para Consulta Proposta do PLANO NACIONAL DE ÁREAS PROTEGIDAS 4. EIXOS TEMÁTICOS Os quatro Eixos Temáticos do Plano Nacional de Áreas Protegidas, de forma semelhante ao Programa de Trabalho sobre Áreas Protegidas da Convenção da Diversidade Biológica (Decisão IIV/28), são interligados e relacionam-se mutuamente na sua implementação: Eixo Temático 1 - AÇÕES DIRETAS DE PLANEJAMENTO, SELEÇÃO, ESTABELECIMENTO, FORTALECIMENTO E GESTÃO DO SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇAO O Eixo prevê ações relacionadas ao fortalecimento do Sistema Nacional de Unidades de Conservação não só buscando sua ampliação no âmbito da abordagem ecossistêmica mas também a efetividade da gestão destas áreas e sua contribuição para a redução da perda de biodiversidade. É detalhado em 4 objetivos para as áreas terrestres e 5 para as marinhas, que espelham resultados a serem alcançados até 2015. Eixo Temático 2 GOVERNANÇA, PARTICIPAÇÃO, EQÜIDADE E REPARTIÇÃO DE BENEFÍCIOS Prevê ações relacionadas: (i) a participação dos povos indígenas, comunidades quilombolas e locais na gestão das unidades de conservação e outras áreas protegidas, (ii) ao estabelecimento de sistemas de governança, (iii) a repartição eqüitativa dos custos e benefícios, bem como a integração entre unidades de conservação, áreas protegidas, redução da taxa de perda de biodiversidade e redução da pobreza. O eixo também é apresenta 5 objetivos para as áreas terrestres e 2 para as marinhas, e o horizonte de suas ações estendem-se até 2010. Eixo Temático 3: CAPACIDADE INSTITUCIONAL Ações relacionadas ao fortalecimento da capacidade institucional do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, considerando as ações políticas, recursos necessários e responsáveis para que as unidades de conservação possam ser implementadas de forma efetiva; prevê, ainda, ao estabelecimento de uma estratégia nacional de educação e de comunicação para as unidades de conservação. Este eixo também é detalhado em 5 objetivos e estes possuem com horizonte para concretização das ações propostas até 2012. 22