MATEMÁTICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO: O QUE PENSAM PROFESSORES, ALUNOS E REPRESENTANTES DO COMÉRCIO DO MUNICÍPIO DE BOA VISTA ESTADO DE RORAIMA José Roberto da silva Almeida, Arno Bayer jrsa12@hotmail.com, arnob@ulbra.br Universidade Luterana do Brasil, Brasil Comunicação Breve Médio Investigação Didática Palavras-chave: Educação Matemática. Currículo. Matemática financeira no Ensino Médio RESUMO Este artigo mostra os resultados parciais de uma pesquisa que Investigou que conhecimentos de matemática financeira o mercado de trabalho do Município de Boa Vista Estado de Roraima espera dos alunos egressos do Ensino Médio que estão iniciando as atividades funcionais no mercado de trabalho ou seus estudos em um curso superior na Universidade Federal de Roraima. Analisa também a importância de ensinar esses conteúdos para as atividades do comércio local, por entender a escola como um local onde devemos fornecer as ferramentas necessárias para a construção de sua consciência cidadã, comprometidos com os direitos e deveres na sociedade, buscando uma aplicação do que se aprende na escola dentro do contexto de suas participações sociais. INTRODUÇÃO Vários são os obstáculos enfrentados pelos alunos vindos das escolas públicas ao concluírem o Ensino Médio em Boa Vista no Estado de Roraima, tendo em vista que os mesmos devem enfrentar o mercado de trabalho ou o vestibular, o ingresso é sempre uma barreira, uma dificuldades para o nosso aluno. Esta dificuldade tem na raiz o número elevado de alunos por turmas, jovens com dificuldades de relacionamento na escola ou porque a escola não tem conseguido dar a preparação conforme preconizam as diretrizes da educação, por impor um currículo que está praticamente desconectado do mundo real, do cotidiano do aluno. Esses prévios indicadores nos fazem desenvolver essa investigação referente ao ensino da matemática financeira no Ensino Médio. 450
A MATEMATICA FINANCEIRA NO ENSINO MÉDIO EM BOA VISTA ESTADO DE RORAIMA E O CURRÍCULO Qualquer atividade do currículo escolar da educação básica deve ter um propósito de retorno social para a vida do aluno que lhe dará oportunidade de continuar aprendendo. Segundo os PCNs (2000):... cabe a Matemática do Ensino Médio apresentar ao aluno o conhecimento de novas informações e instrumentos necessários para que seja possível a ele continuar aprendendo (PCNs p. 41). A escola deve oferecer ao educando o conhecimento necessário para que os mesmos superem dificuldades encontradas em suas experiências no mundo das relações sociais e culturais. Isso é, a formação básica para a cidadania, que é um dos princípios básicos da Constituição Federal. Vincular a educação escolar com o trabalho e as práticas sociais, está posto no artigo 205 da Constituição Federal de 1988: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". As das possibilidades de acesso ao Ensino Superior é viabilizada com a criação do Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, que é uma nova forma de ingresso que oferece bolsas aos estudantes das classes desfavorecidas. O vestibular, que também é conhecido como uma barreira de acesso ao Ensino Superior, principalmente para as camadas mais populares da sociedade. O vestibular deve privilegiar o conhecimento que de fato se adquiriu ao longo do Ensino Médio, inegável que o currículo escolar deve atender esta necessidade da sociedade. Mas também o conhecimento e vivência adquirida no Ensino Médio deve mostrar-se como um parceiro do ambiente familiar e de aperfeiçoamento das atividades de consumo, da cultura e dos relacionamentos sociais, onde as atenções estarão sempre no aprender a conviver e participar procurando assimilar e vencer as dificuldades e necessidades do cotidiano. A escola é um lugar que proporciona a socialização do indivíduo confirmando o fato de que a sociedade atual coloca na mesma uma expectativa muito grande (FOLBERG 1986 P.18). A escola deve transmitir o mundo real com suas diversidades locais e não somente o abstrato, onde se trabalham assuntos que não fazem sentido para a sociedade onde o sujeito está inserido, portanto a prática docente deve contribuir com um modelo de ensino voltado para 451
inserir o jovem na sociedade como um ser participante e ativo que vive em suas experiências aquilo que lhe foi ensinado na escola, criando novos caminhos e adentrando novos espaços, onde os mesmos percebam as contribuições que as disciplinas do currículo do Ensino Médio deve trazer para o crescimento das pessoas e para a construção de uma sociedade mais justa, mais preparada para enfrentar seus desafios. Nossa tarefa como educadores é gerar condições que alicercem o crescimento de indivíduos aptos a viver de forma plena; de modo que possam ser capazes de se integrar no convívio social, não simplesmente como coexistentes de um mesmo espaço, mas com capacidade de agir e reagir em benefício próprio e coletivo. (MATURANA, 1999 apud LIMA; SAUER), Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Exame Nacional do Ensino Médio apontam claramente para essa direção, portanto a escola não pode estar desconectada da realidade do mundo que a rodeia, mediante esse pensamento torna-se urgente a necessidade de relacionarmos de maneira organizada, os conteúdos desenvolvidos no Ensino Médio, as relações de consumo, o comércio e as atividades da rede bancária, bem como as informações da mídia local. METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida nas escolas públicas de Boa Vista Estado de Roraima, na Universidade Federal de Roraima, no comércio local e junto à rede bancária, e envolveu o ensino de matemática financeira nas escolas públicas, a necessidade desse conhecimento para a sociedade local, a presença desse conteúdo nas provas do ENEM, vestibular da Universidade Federal e a opinião dos professores e alunos com relação a esse conhecimento. Investigamos os currículos da secretaria estadual de educação e das escolas que atuam com o Ensino Médio. fizemos contato com a Secretaria de Educação do Estado a fim de conhecer a proposta do trabalho, obtivemos autorização para a pesquisa e a listagem de conteúdos de matemática do Ensino Médio das escolas que fazem parte do município de Boa Vista. Saber o número de escolas de Ensino Médio e também o número de professores que atuam com a disciplina de Matemática nesse nível. A pesquisa na seguinte etapa envolveu questionários a serem respondidos por uma amostra de representantes do comércio local e rede bancária, por estudantes do Ensino Médio e por 452
professores que atuam com a disciplina de Matemática. Analisaremos também as 5 (cinco) ultimas edições do ENEM e as 5 (cinco) ultimas provas do vestibular da Universidade federal de Roraima, sendo os últimos exames seguidos de 2006 a 2010 para investigar que conhecimentos de matemática financeira a instituição espera dos seus candidatos. Com os professores de Matemática os dados foram coletados mediante questionários, onde fizemos uma investigação junto a secretaria de Educação do Estado para saber o número de professores que estão atuando com matemática no Ensino Médio. Procurando saber dos mesmos como os conteúdos de matemática financeira estão sendo trabalhados e como eles vêem esse assunto para os alunos enfrentarem o mercado de trabalho, o vestibular e o ENEM, caso tenham interesse em continuar seus estudos. Investigamos alunos do Ensino Médio mediante questionários para saber dos mesmos quais os conhecimentos de matemática financeira acreditam serem necessários para estarem aptos a desenvolver atividades profissionais no seu contexto social e para responder com facilidades questões abordadas nas provas do ENEM e nas provas do vestibular da Universidade Federal de Roraima, tendo em vista que na analisamos esses exames. Investigamos o comércio local mediante questionário, buscando de seus representantes opinião sobre os conteúdos de matemática financeira que as escolas públicas deveriam desenvolver e quais os conhecimentos de matemática financeira seriam necessários para assumir um cargo que se envolvam com os objetos finais das empresas. RESULTADOS PARCIAIS As questões foram divididas em três grupos onde foram respondidas uma série de questões que serviram para viabilizar uma série de informações que permitiram descrever e analisar o Ensino de Matemática financeira nas Escolas públicas de Ensino Médio no Município de Boa Vista. O questionário destinado aos professores continha perguntas fechadas e perguntas abertas. Para o questionário a ser preenchido pelos alunos tivemos a preocupação de torná-lo de fácil entendimento por isso fizemos com um maior número de perguntas fechadas e menos perguntas abertas. Para os representantes do comércio, mesclamos as questões de forma a facilitar o entendimento para uma melhor compreensão dos mesmos. Descrevemos o 453
resultado parcial de uma questão que foi aplicada às três categorias e que os resultados obtidos chamaram a nossa atenção. Observe a tabela abaixo onde fizemos o cruzamento entre as repostas dos professores, dos alunos, e dos representantes do comércio, enfatizando os assuntos que são contemplados pela matriz curricular desenvolvida no Estado de Roraima. TABELA Opinião sobre os conteúdos de Matemática Financeira que deveria ser ensinado no Ensino Médio Freqüências Conteúdos Alunos Professores Representantes do Comércio Matriz curricular Porcentagem 87,79% 68,75% 71,15% Contempla Juro simples 55,84% 75,0% 60,37% Contempla Juro composto 36,62% 75,0% 60,37% Contempla Taxa de juro 39,22% 6,25% 53,84% Contempla Lucro 57,66% 15,62% 30,76% Contempla Descontos 74,54% 18,75% 50,0% Contempla Fonte: Pesquisa Os assuntos mais citados pelas três categorias de entrevistados foram realmente os que são contemplados pela matriz curricular, são os assuntos mais populares na Matemática financeira: porcentagem, juro simples, juro composto, taxa de juro, lucro e descontos. Quando questionamos sobre esses assuntos, percebemos que há uma conexão entre o que a matriz curricular propõe o que os professores dizem ser necessários ensinar, o que os alunos dizem conhecer e o que os representantes do comércio cobram de seus funcionários. Quanto às freqüências em relação à taxa de juro, verificam-se neste questionamento que a maioria dos professores que responderam, não citaram a taxa de juros, porém foi bastante 454
citada pelos alunos e pelos representantes do comércio. Há uma desconexão, os alunos afirmaram conhecer e os comerciantes afirmaram que cobram dos seus funcionários e os professores não citaram como um assunto importante para ser ensinado no Ensino Médio. Outro assunto bastante conhecido na Matemática financeira que apresentou uma desconexão nos resultados obtidos foi lucro, 57,66% dos alunos afirmaram conhecer, 15,62% dos professores afirmaram ser relevante ensinar e 30,76% dos representantes de comércio afirmaram que cobram de seus funcionários. Quanto às afirmações a respeito de desconto nos surpreendeu o fato de ser um assunto do cotidiano dos estudantes da prática das atividades relacionadas ao comércio e mesmo assim não foi muito citado pelos professores mostrando que os professores entrevistados não estão muito preocupados se devem ensinar aquilo que certamente vai ser usado em atividades de comércio, seja de consumo, ou de quaisquer atividades de trabalho no comércio, pois esse assunto é contemplado na matriz curricular do ensino Médio de Boa Vista Estado de Roraima. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi detalhado neste estudo, há uma preocupação de que os conteúdos de matemática financeira devem ser desenvolvidos no Ensino Médio como uma fonte em que pese suas necessidades básicas no cotidiano, alem de contribuir com sua preparação para o ingresso no Ensino Superior, seja pelo PROUNI, ou pelo vestibular da Universidade Federal de Roraima, devem prepará-los para as diversas atividades comercias e do mercado de trabalho. O que podemos afirmar após este estudo é que todas as categorias entrevistadas concordam que o Ensino de Matemática Financeira é útil necessária para a formação dos alunos do Ensino Médio em Boa Vista Estado de Roraima REFERENCIAS BRASIL. Secretaria de Ensino Médio. Parâmetros curriculares Nacionais de Ciências da Natureza e suas tecnologias. Brasília: SEMTEC/MEC, PCN 2000. FIORENTINI, Dário; NACARTO, Adair M.Cultura, formação e desenvolvimento profissional de professores que ensinam matemática.ed. Musa. 2005. Campinas-SP, 2005. 455
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