APRENDENDO TÉCNICAS PARA MINIMIZAR A CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS POR DEFENSIVOS AGRÍCOLAS Introdução O presente trabalho O emprego da monocultura tem sido uma prática bastante difundida em nosso país, criando condições de proliferação de algumas espécies, principalmente na Classe Insecta. Para sanar as superpopulações de insetos, denominadas de pragas que são insetos nocivos a agricultura (Lhoste e Normand, 1987), são aplicadas substâncias químicas chamadas de defensivos agrícolas ou agrotóxicos. A aplicação dos defensivos agrícolas não controla apenas as pragas, mas contaminam todo o meio ambiente inclusive as culturas que são utilizadas como alimentos. A contaminação ocorre durante a aplicação do defensivo agrícola no plantio (Cordeiro, 2003). Por serem na maioria solúveis em água, há absorção das substâncias químicas pelas plantas e frutos, ficando uma determinada quantidade acumulada nos tecidos dos vegetais. Considerando que essas substâncias são causadores de enfermidades e tem tempo de vida longo na natureza, torne-se preocupante à saúde coletiva (Mariconi, 1983). O objetivo deste trabalho foi demonstrar através de uma revisão bibliográfica a contaminação e métodos para minimizar a presença dessas substancias químicos nos alimentos. Referencial Teórico Os defensivos agrícolas são compostos químicos destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos (Lei Federal 7.802 de 11.07.89). Podem ser classificados de acordo com sua composição química, sendo os principais os organoclorados, organofosforados, carbamatos e piretróides (Matsumura, 1976). Sua ação se refere a uma determinada função, podendo ser: acaricidas, bactericidas, fungicidas, herbicidas, inseticidas, moluscicidas, nematicidas e rodenticidas (Matsumura, 1976). A contaminação pode
ocorrer durante a aplicação do defensivo agrícola nas arvores frutíferas e seus frutos; nas folhas das hortaliças como a acelga, o agrião, a alface, o almeirão, a cebolinha, o couve, a escarola, o repolho, a serralha, a rucula e a salsinha; na flor das hortaliças como a alcachofra, a couve-flor e o brócolis; nas hortaliças de caule como o aipo, o alho-poro, o aspargo, a erva doce e o salsão, nas hortaliças de fruto como a abóbora, a abobrinha, a berinjela, o chuchu, a ervilha, o jiló, a maxixe, o pepino, o quiabo, a vagem, o tomate, o pimentão; nas hortaliças subterrâneas de bulbo como o alho e a cebola; nas hortaliças de raízes como a bata doce, a beterraba, o cara, a cenoura, a mandioca, a mandioquinha, o nabo e o rabanete; nas hortaliças de rizoma como o gengibre e o inhame, e na hortaliça de tubérculo como a batata inglesa (Kader, 2002). Com o objetivo de detectar os limites de resíduos de defensivos agrícolas aceitáveis ou a utilização de defensivos agrícolas não autorizados em determinada cultura, a ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, implantou em 2001 um programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos (PARA). A Codex Alimentarius, órgão de controle de alimentos da Organização das Nações Unidas para a Agricultura, orienta que a coleta da amostra do alimento deve ser feita no último ponto antes do consumo, o que retrata a realidade do alimento que chega à mesa do consumidor (Codex Alimentarius, 1995). Na tabela do PARA de 2010 verificamos os alimentos de largo consumo e o percentual de contaminação dessas amostras. Tabela 1: Resultados do PARA 2010 Resultados Total de Nº de NA > LMR > LMR e NA PARA de Insatisfatórios amostras 2010 (1) (2) (3) (1+2+3) analisadas Produto Nº % Nº % Nº % Nº % Abacaxi 122 20 16,4% 10 8,2% 10 8,2% 40 32,8% Alface 131 68 51,9% 0 0,0% 3 2,3% 71 54,2% Arroz 148 11 7,4% 0 0,0% 0 0,0% 11 7,4% Batata 145 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% Beterraba 144 44 30,6% 2 1,4% 1 0,7% 47 32,6% Cebola 131 4 3,1% 0 0,0% 0 0,0% 4 3,1%
Cenoura 141 69 48,9% 0 0,0% 1 0,7% 70 49,6% Couve 144 35 24,3% 4 2,8% 7 4,9% 46 31,9% Feijão 153 8 5,2% 2 1,3% 0 0,0% 10 6,5% Laranja 148 15 10,1% 3 2,0% 0 0,0% 18 12,2% Maça 146 8 5,5% 5 3,4% 0 0,0% 13 8,9% Mamão 148 32 21,6% 10 6,8% 3 2,0% 45 30,4% Manga 125 5 4,0% 0 0,0% 0 0,0% 5 4,0% Morango 112 58 51,8% 3 2,7% 10 8,9% 71 63,4% Pepino 136 76 55,9% 2 1,5% 0 0,0% 78 57,4% Pimentão 146 124 84,9% 0 0,0% 10 6,8% 134 91,8% Repolho 127 8 6,3% 0 0,0% 0 0,0% 8 6,3% Tomate 141 20 14,2% 1 0,7% 2 1,4% 23 16,3% Total 2488 605 24,3% 42 1,7% 47 1,9% 694 27,9% (1) amostras que apresentaram somente IA não autorizados (NA); (2) amostras somente com IA autorizados, mas acima dos limites máximos autorizados (> LMR); (3) amostras com as duas irregularidades (NA e > LMR); (1+2+3) soma de todos os tipos de irregularidades. A pesquisa revela a grande concentração de defensivos agrícolas no pimentão (91.8%), morango (63.4%), pepino (57,4%), alface (54,2%), cenoura (49,6%) e tomate (16,3%), sendo estes produtos de largo consumo diário pela população (Anvisa, resultados PARA, 2010). Alguns procedimentos podem minimizar as concentrações por defensivos agrícolas como: lavar bem as hortaliças, frutas e legumes com água corrente de boa qualidade para eliminar resíduos de defensivos na superfície dos alimentos; descascar os alimentos com casca para remover completamente resíduos de defensivos que tenha na superfície das frutas, legumes ou hortaliças; preferir produtos orgânicos que provenha de produtores certificados são livres de agrotóxicos na sua produção, de acordo com a legislação em vigor; adquirir produtos regionais e de pequenos produtores, pois, geralmente não contem ou contem uma fração menor de agrotóxico comparado aos produtos produzidos em regiões longínquas ou no exterior, pois esses alimentos precisam estar em bom estado durante o transporte, bem como serem usados agrotóxicos que não são autorizados no Brasil, no caso dos importados;
variar os produtos consumidos, pois, mesmo sendo aplicados em quase todas as culturas, alguns alimentos retêm mais resíduos dos defensivos agrícolas do que outras, logo a variação de consumo ajuda diminuir a ingestão de alimentos com altas taxas residuais de agrotóxicos em períodos prolongados; deixar os alimentos de molho em água com vinagre (acido acético) pode degradar algumas substâncias instáveis dos defensivos agrícolas além de eliminar outros contaminantes como os microorganismos; produzir seus próprios alimentos quando possível, algumas culturas podem ser produzidas em pequenos vasos sem o uso de defensivos agrícolas, preservando a saúde humana e o meio ambiente; desconfiar de produtos com aparência perfeita, pois, os defensivos agrícolas não são utilizados apenas para controle de pragas, mas também para prover alimentos de alta qualidade como: visual, tamanho, brilho, etc. com isso aumentar o valor de mercado dos produtos; exercer a cidadania, informando-se, verificando e acompanhando o segmento da legislação em vigor no pais cobrando das autoridades competentes a regulamentação, fiscalização e punição daqueles que não produzam alimentos respeitando as leis vigentes no uso dos defensivos agrícolas (Cordeiro, 2003). Metodologia Utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica que consiste na procura de referências teóricas para análise do problema de pesquisa e a partir das referências publicadas fazer as contribuições cientificas ao assunto em questão. Considerações Finais As técnicas verificadas neste trabalho não eliminam os contaminantes químicos dos alimentos, portanto o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo como a agricultura orgânica, meios biológicos de controle de pragas ou melhoramento genético das plantas para que elas sejam resistentes às pragas e doenças, reduzido a necessidade de controle químico, devem ser empregadas como forma de eliminar ou reduzir a aplicação dos defensivos agrícolas. Enquanto há incertezas sobre o qualitativo e quantitativo de substâncias administradas nas cultivares, uma mudança de hábito referente a
higienização, preparo e consumo se torna fundamental para a ingestão de alimentos com o menor potencial possível de risco à saúde. Referências ANVISA, Nota Técnica resultados PARA 2010. Brasília, Brasil. PARA 2010. www.portalanvisa.gov.br CODEX ALIMENTARIUS. Report of the twenty-seventh session of the Codex Committee on pesticide residues. The Hague, The Netherlands. Codex Circular Letter 1995/13-PR 24. www.codexalimentarius.org. CORDEIRO, Zilton José Maciel, Sistema de Produção, EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Cruz das Almas, Brasil. Revista EMBRAPA de Janeiro de 2003. Diário Oficial da União, Lei Federal N 7.802. Brasília, 11 de Julho de 1989. www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7802.htm KADER A. A. Postharvest technology of horticultural crops. University of California, Agriculture and Natural Resources. Oackland, CA Publication 3311, 3rd edition, 2002. LHOSTE, Jean et NORMAND, M. L., La Lutte contre les Insectes Nuisible a l`agriculture et son Influense sur l`environnement, Volume 21 Morieres-les- Avignon, France. Ed. Rulliere-Libeccio, 1987 MARICONI, Francisco Assis Menezes, Inseticidas e seu Emprego no Combate as Pragas, 6ª Edição, São Paulo, Brasil. Ed. Nobel, 1983 MATSUMURA, Fumio, Toxicology of Insecticides, 2 nd Edition New York, USA. Ed. Plenum Press, 1976.