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Transcrição:

Índice Introdução... 7 Dedicatória... 9 Neil Pendock... 10 Porquê entre 2 e 5 euros?... 13 Porquê entre 5 e 10 euros?... 14 Os três zonamentos do Portugal vinhateiro... 15 Castas à prova... 20 Lista de compras... 27 Seleção nacional... 30 Pistas para uma boa maridagem... 31 Como consultar este guia... 33 vinhos efervescentes... 35 vinhos tranquilos... 43 atlântico de portugal... 43 minho... 44 beiras bairradinas... 56 lisboa... 64 vales de portugal... 77 terras do douro... 78 dão beirão... 97 sul de portugal... 117 tejo... 118 península de setúbal... 126 alentejo... 137 algarve... 160 bag-in-box... 167 vinhos fortificados... 171 os melhores entre os melhores... 177 5

Introdução Um guia de vinhos deve ser prático, fácil de consultar e rico em propostas e comentários úteis para a seleção do vinho adequado à situação de consumo. Errei ao insistir na excessiva valorização que sempre dei à classificação pontuada de um vinho. Mais do que essa informação numérica e falível, o que o consumidor quer saber de um provador é se este provador profissional garante a qualidade de um determinado vinho e se o respetivo preço de compra lhe parece justo ou, melhor ainda, barato. Apesar de classificar todos os vinhos que provo através do método de prova cega certificada, avaliando, cada vinho, numa pontuação máxima atribuível de 100 pontos, resolvi nesta edição do guia, não transmitir a respetiva classificação ao leitor. A classificação servirá apenas para segmentar aqueles vinhos que, pela qualidade que lhes reconheço durante a prova cega, merecem fazer parte da minha recomendação. Todos os vinhos referidos neste Guia Popular são dignos da minha confiança, do meu gosto pessoal e, espero, da sua prova. Aos melhores entre os melhores atribuí, em vez de notas, algo muito mais pessoal e transmissível: um, dois ou três corações. Atribuir uma nota a um vinho não é muito diferente de atribuir uma nota a um quadro. Dá mais pontuação à Mona Lisa de Da Vinci ou à Rapariga com o Brinco de Pérola, de Vermeer? Esta alteração faz parte de um processo de partilha e debate que iniciei com o original e aclamado jornalista e provador sul-africano Neil Pendock, o mais conceituado cronista do vinho na África do Sul, que assina também o Guia Popular de Vinhos, conferindo uma visão e um gosto internacionais a esta seleção de vinhos. Reserve um espaço no carrinho de compras do seu supermercado de eleição e, com a ajuda do Guia Popular, escolha e prove bons vinhos de Norte a Sul de Portugal, país múltiplo de cores, aromas e sabores no estado líquido. Aníbal Coutinho 7

Porquê entre 2 e 5 euros? O vinho é um produto com várias facetas. Em tempos remotos, de guerras, pestes e pouca tecnologia, o vinho era consumido para saciar as necessidades de água. Durante o Estado Novo, serviu de alimento, satisfazendo necessidades energéticas e nutricionais mas provocando um consumo exagerado e criando um consumidor compulsivo e pouco exigente. Hoje o vinho tem nova imagem: é um produto orgulhosamente português, com peso na economia nacional e com uma função aspiracional típica de um artigo de luxo. Esta nova imagem do setor e do produto deve ser acompanhada por uma credibilização do seu preço. Ao selecionar vinhos que se encontram nas prateleiras da moderna distribuição, alvos de uma aquisição continuada, o seu preço de venda mais elevado deve refletir o nível de vida português e a sua inclusão numa dieta alimentar equilibrada. O preço máximo de 5 euros possibilita uma escolha muito ampla e uma qualidade boa, por vezes muito boa. Trata-se de um valor que permite ao produtor entrar em pormenores de produção, quer na vinha como na adega, que podem justificar um mimo na qualidade do produto e a consequente fidelização do consumidor. A justificação da fasquia baixa dos 2 euros prende-se, justamente, com a dignificação do vinho como produto de qualidade e do produtor como empresário. Se pensarmos que são necessários mais de um quilo de uvas (sãs!) por cada garrafa, que é preciso vinificar essas uvas, estabilizar e conservar o vinho novo, filtrá-lo e engarrafá-lo, pagar a garrafa, a rolha, a cápsula, os rótulos e a caixa, a paletização, a distribuição, a comunicação e (algo que temos todos que valorizar) o lucro do produtor, o consumidor não tem a qualidade mínima do produto garantida abaixo de 2 euros. Ajude a dignificar o vinho e a produção nacional: não compre vinho engarrafado abaixo de 2 euros! 13

Porquê entre 5 e 10 euros? Este é o intervalo onde se deveria situar a maioria do vinho nacional. O vinho é um produto alimentar muito especial. Talvez o único que abrange as duas funções pelas quais se rege qualquer sociedade moderna: a utilidade e a aspiração. O consumidor busca o vinho por utilidade quando pretende ingerir um alimento líquido, sentir o bem estar e a evasão que o álcool provoca, pontuar um momento ou uma ação, acompanhar a sua refeição, cozinhar, colaborar preventivamente na melhoria de vários aspetos da sua saúde. De um modo geral, qualquer vinho satisfaz todas as necessidades enumeradas. Quer isto dizer que para as funções de utilidade o perfil de vinho é anónimo, de preço baixo; um vinho corrente, de grande volume, que justifique um alto rendimento das vinhas e, portanto, o recurso dominante a vinhas novas e de alta tecnologia. Não somos um país com estas caraterísticas; não podemos competir em preço com os países enotecnológicos como o Chile, a Argentina ou a Austrália. Infelizmente é nesse negócio ruinoso que estamos metidos, cá dentro e lá fora. O vinho cumpre a função aspiracional quando o consumidor quer ser reconhecido entre os seus pares, quando serve como marca de status, quando se torna um valor de investimento e a sua guarda deve ser segura ou se for reconhecido como um produto exclusivo, disputado e de altíssima qualidade, passível de colecionismo. Neste caso o perfil do vinho remete para uma peça de artesanato, de limitada produção, elaborado com capacidade de guarda, um vinho de ampla estrutura e complexidade, diferente, surpreendente. Busca-se vinhas de muito baixo rendimento e de grande concentração; estamos claramente no domínio de vinhas velhas, da pequena propriedade, em suma, estamos em Portugal. Ao consumir vinhos neste intervalo, contribuirá para a melhoria da qualidade e da estabilidade da fileira do vinho nacional e o seu prazer será redobrado. Por encontrar uma excelente oferta de vinhos a este preço na moderna distribuição, decidi selecionar e propor-lhe as minhas melhores provas. 14

Os três zonamentos do Portugal vinhateiro Continuo a pensar que a melhor e mais nobre forma de retribuir o enorme carinho e o constante apoio que recebo de toda a fileira nacional do vinho é a introdução fundamentada de pistas de reflexão sobre o futuro desta importante atividade económica. Ao longo dos últimos anos, propus algumas medidas de revisão da arquitetura das nossas regiões vinhateiras, em função de algo tão grandioso quanto inegável: a vontade da Natureza e o seu impacto no gosto do vinho que, acredito, em Portugal se resume a três terrunhos: ATLÂNTICO (da frescura e leveza, integrando Minho, Beira Atlântica e Lisboa), VALES (da concentração, integrando Trás-os-Montes, Douro, Dão e Beira Interior) e SUL (da macieza e doçura, integrando Tejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve). Escrevi que os vinhos do Centro de Portugal «cobrem um amplo espetro, desde a frescura atlântica até à concentração da viticultura de montanha infelizmente a tutela ainda não teve o discernimento para desagregar o vinho Regional Beiras que tudo junta e a todos os consumidores confunde devido à disparidade de estilos que a mesma designação regional pode conter». Imagine o leitor como me senti quando fui informado da cisão definitiva nas Beiras: o Conselho Geral da Comissão Vitivinícola do Dão aprovou a criação da nova Indicação Geográfica (Regional) Terras do Dão; os Conselhos da CVR Beira Interior e da CVR Bairrada aprovaram as novas IG Terras da Beira e IG Beira Atlântico, respetivamente. Isto quer dizer que os vinhos certificados por estas CVR passarão a ser designados por Regional (ou IG) Terras do Dão, Terras da Beira ou Beira Atlântico e no patamar cimeiro por DOC (ou DO) Dão, Beira Interior e Bairrada. Ninguém incluiu o meu nome nas comemorações e, por imperativo da cultura lusa, provavelmente a paternidade será atribuída a mais visível e altiva batuta mas os milhões de consumidores de vinho nacional são os únicos ganhadores com esta clarificação da prateleira e do que cada garrafa encerra. Os vinhos de Portugal estão sob a influência de três grandes terrunhos ou terroirs que dividem o país em outras tantas zonas. 15

Atlântico de Portugal Esta zona é regida pelo clima atlântico. As maiores humidade e precipitação, as menores amplitudes térmicas influenciam decisivamente o ano vitícola. Os solos têm a maior percentagem de areia devido aos estuários dos rios e aos sistemas dunares. Estamos na zona de maior fertilidade dos solos, das hortas e da produtividade. É uma região com grande heterogeneidade de variedades (castas) de uva, mas todas elas amadurecem com maior dificuldade. Basta lembrarmo-nos de um vinho minhoto ou da beira litoral: excelentes na acidez natural, difíceis na boca enquanto jovens. A evolução em garrafa destes vinhos é excelente, sendo o «garrafeira» Bairrada Clássico um dos exemplos típicos. Os vinhos do Atlântico têm um enorme espetro de combinação com a nossa gastronomia tradicional devido, justamente, à sua acidez elevada e à juventude dos seus taninos que se combinam com facilidade com as proteínas da comida. Pessoalmente acho que é a zona de eleição para a elaboração de vinhos brancos e rosados, pela sua frescura, longevidade e vocação gastronómica. A região atlântica tem uma barreira montanhosa que delimita o anfiteatro voltado para o oceano. No Minho são as serras da Peneda, Cabreira, Marão; nas Beiras, a influência atlântica, presente na Beira Litoral, esbarra com o Caramulo, o Buçaco e a serra da Lousã; a Estremadura, agora designada por Região de Lisboa é limitada pelo conjunto Aires-Candeeiros e Montejunto. As regiões de vinho do terroir Atlântico são o Minho, a Beira Atlântico (eu designo por Beiras Bairradinas devido à presença estruturante da Denominação de Origem Bairrada) e Lisboa. Também os nossos vinhos das ilhas se englobam no perfil Atlântico. Vales de Portugal Sob influência continental extrema, aqui se registam as maiores amplitudes térmicas do país. Sobre Trás-os-Montes escreveu Miguel Torga: «Terra- -Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve.» Englobada no zonamento dos Vales, designo esta região de vinho por Terras do Douro devido à inclusão da denominação de origem Douro, a mais afamada da nossa terra. Estamos no domínio dos vales profundos com a presença fluvial, do Cávado, do Douro e mais abai- 16

xo, do Coa, do Dão, do Mondego e do Zêzere, porque se inclui toda a Beira Interior (que designo por Dão Beirão, devido à titularidade da prestigiada Denominação de Origem Dão). Aqui o Homem submete-se às penas da viticultura de encosta, tendo sublimado a sua arte nos socalcos do Douro, património mundial desde 2001. Esta é a região da Touriga Nacional, da Tinta Roriz (que no Sul se denomina Aragonez), da Tonta Amarela (ou Trincadeira), do Bastardo e do Rufete. As castas brancas Gouveio, Malvasia, Encruzado, Síria (ou Roupeiro) e Códega de Larinho também são comuns. A encosta dá origem a trabalhos totalmente manuais e a menores produtividades que geram vinhos naturalmente concentrados, de grande profundidade e elegância. Diz-se, com acerto, deste vinhos dos Vales que «primeiro se estranha e depois se entranha». São vinhos originados nos solos pobres de granito e xisto e destinados às mesas nacionais e internacionais mais exigentes. As regiões de vinho do terroir Vales são as Terras do Douro e o Dão Beirão. Sul de Portugal No grande Sul está a preferência de um em cada dois consumidores portugueses quando selecionam uma garrafa de vinho. De facto, o Alentejo (última das grandes regiões portuguesas a despertar para o vinho) é o líder incontestado do mercado interno. Para além do grande «Mar Interior», como lhe chama José Saramago, sob a influência deste terroir mediterrânico continental, seco e solarengo, que amadurece facilmente a uva, com planuras que facilitam a mecanização e a irrigação dos solos argilo-calcários ou arenosos pobres, encontram-se também o Tejo, o Algarve e a Península de Setúbal, região protegida da brisa atlântica pelo maciço da Arrábida. O grande Sul tem a maior homogeneidade de castas, com o domínio de Castelão, Aragonez e Trincadeira, nas castas tintas, e Roupeiro (designada por Síria) e Fernão Pires (designada por Maria Gomes) nas brancas. Também é comum a boa adaptação das castas internacionais, sobretudo Cabernet Sauvignon, Syrah e a branca Chardonnay. Aqui se faz o grande volume frutado e gostoso, os vinhos fáceis e redondos e aromaticamente expressivos, tão ao estilo do novo mundo e do consumidor internacional. O Sul pode e deve competir lá fora com a Austrália nesse segmento de vinhos que já lhe deram a liderança do consumo interno, tendo como vantagem competitiva o facto de ser uma região europeia. 17

Terroirs de Portugal Vales de Portugal Atlântico de Portugal Sul de Portugal 18

Terroirs de Portugal Regiões Vinhateiras Atlântico de Portugal Minho (Vinho Verde) Beiras Bairradinas (Atlântico) Vales de Portugal Terras do Douro (Duriense e Transmontano) Dão Beirão (Terras da Beira e Terras do Dão) Lisboa Sul de Portugal Tejo Alentejo Península de Setúbal Algarve 19

Castas à prova Breve descrição sensorial das castas mais representativas PORTUGUESAS Antão Vaz No final do século XIX, a localização desta casta branca estava limitada aos concelhos de Cuba, Évora, Portel e Vidigueira, de onde será originária. Tem similitude genética com a casta Cayetana da Extremadura espanhola. Segundo o enólogo Paulo Laureano, os vinhos produzidos com a casta Antão Vaz têm cor citrina e um aroma de intensidade média, mas com finesse e complexidade. Destacam-se as cascas cítricas e a fruta tropical madura. Na boca, nota-se a elevada estrutura da casta medianamente ácida. Arinto (Pedernã) Casta branca disseminada por todo o país, conhecida na região dos Vinhos Verdes por Pedernã. De abrolhamento e maturação a meio da época, tem uma acidez natural elevada. Muito afamada em Bucelas, de onde será originária, esta casta é descrita aromaticamente por riqueza cítrica, ligeiro floral e frutos tropicais intensos, sobretudo ananás. Alfrocheiro Os estudos genéticos apontam para o Dão como a origem inicial desta casta tinta, com média disseminação em Portugal. No entanto, o nome de Tinta Francesa, como era designada na região de Viseu, parece localizar-lhe o berço fora do nosso país. Muito floral, com morangos e muitos bagos vermelhos. Tem elevada capacidade corante e é valorizado o bom equilíbrio entre os seus ácidos e o açúcar que dará o álcool. 20

Como consultar este guia Indicação Geográfica e de Qualidade (IG ou DO) Marca do vinho, com atributos Ano de colheita Cor do vinho Terra d Alter, Alicante Bouschet Tinto 2009 IG Alentejano 5-10 w Terras de Alter 14,5% 20 000 Alicante Bouschet. Granada intenso e carmim. Iogurte de frutos vermelhos, nota vegetal refrescante, como hortelã, tosta especiada. Grande, sucroso, texturas aveludadas e firmes. Superior à mesa. Preço Teor alcoólico Produtor Texto descritivo do vinho Produção anual, em garrafas de 75 cl Vinho de emoção. Os autores dedicaram-lhe 1, 2 ou 3 corações. 33

vinhos efervescentes 35

efervescentes Adega de Favaios, Reserva, Bruto Branco 2007 DO Douro 5-10 w Adega Cooperativa de Favaios 11% 10 000 Lote com Moscatel Galego. Amarelo-palha-médio. Bolha fina e efémera. Frutos brancos cristalizados, pastelaria doce, também marmelo. Espuma amigável, boca redonda e de média presença. Excelente para picoteio. Aplauso, Bruto, Bical Branco 2009 DO Bairrada 5-10 w Ampulheta Mágica 12,5% 30 000 Bical. Amarelo claro e citrino. Bolha fina. Mineral, floral, cítrico, pastelaria doce, profundo. Mouse amigável, cremosa, frescura e texturas bem agregadas e muito gastronómicas. Superior. Aplauso, Colheita Selecionada, Bruto Branco 2009 DO Bairrada 2-5 w Ampulheta Mágica 12,5% 30 000 Lote com Maria Gomes. Amarelo claro e citrino. Bolha fina. Floral, cítrico, pastelaria doce. Expressivo. Mousse amigável e agridoce, corpo médio e atempado. Cativante. Cabriz, Bruto Branco 2010 DO Dão 2-5 w Dão Sul 12% 300 000 Lote com Arinto. Amarelo médio, bolha fina e espacial. Brioche, frutos amarelos, mentas. Expressivo. Sucroso, quase adocicado, espuma algo dominante, corpo médio e alongado, bom na mesa. Casa de Saima, Reserva, Bruto Branco 2010 VEQ 5-10 w Graça da Silva Miranda 12,5% 30 000 Lote com Maria Gomes. Amarelo claro e citrino. Bolha fina a média. Pastelaria doce, cítrico, mineral, fino. Mousse dominante em corpo médio e sempre refrescante. 36