APROXIMAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMEIROS COM ATUAÇÃO EM SERVIÇOS DE SAÚDE DO SUS-CAMPINAS.

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Transcrição:

APROXIMAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO DE ENFERMEIROS COM ATUAÇÃO EM SERVIÇOS DE SAÚDE DO SUS-CAMPINAS. Aparecida Sílvia Mellin 1 Silvana Chorratt Cavalheri 1 Sueli Fátima Sampaio 1 Introdução- Esta pesquisa, proposta pelo Grupo de Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva da PUC-Campinas, insere-se no campo da saúde coletiva. De acordo com Paim e Almeida Filho (1998) 2 ela pode ser entendida como campo científico em que se produz o saber a partir de conhecimentos sobre o objeto: a saúde. Várias disciplinas operam aí, realizando práticas através de diferentes agentes que atuam nas mais diversas instituições de saúde, ou mesmo fora deste espaço, em áreas e setores sociais em que há clara intervenção destes agentes. De acordo com os autores Assumir a saúde coletiva como um campo científico implica considerar alguns problemas para a reflexão. Tratase, efetivamente, de um campo novo ou de um novo paradigma dentro do campo da saúde pública? Quais os saberes que dão suporte ao campo e, conseqüentemente, às práticas dos seus atores sociais? Quais os "obstáculos epistemológicos" que dificultam o seu desenvolvimento científico? Quais os "obstáculos da práxis" face à reorganização dos processos produtivos, à sociedade da informação, à reforma do Estado e das suas novas relações com a sociedade?. Consideram que as ações de ensino, pesquisa e extensão na área partem de um marco conceitual norteado por pressupostos de que questões sociais e históricas do processo saúde e doença, do caráter social de suas práticas e de que seu objeto se localiza entre o biológico e o social (o que define a interdisciplinaridade do campo). Finalmente, que o conhecimento produzido não deriva do contato com a realidade, mas pela compreensão das leis da ciência e da capacidade de transformar as realidades sociais e de saúde. As pesquisas nesta área têm colaborado para melhor compreensão da saúde e da doença nas sociedades com todas as implicações do adoecer e morrer, individuais e coletivos, e se 1 Enfermeiras, Doutoras em Enfermagem e Saúde Coletiva da Faculdade de Enfermagem do Centro de Ciências da Vida da PUC- Campinas, Avenida Governador Pedro de Toledo, 638/64, Bonfim, Campinas, São Paulo, e-mail: sueli_sampaio@uol.com.br 2 PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. de. Saúde coletiva: uma "nova saúde pública" ou campo aberto a novos paradigmas?. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 4, 1998. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0034-89101998000400001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 23 Sep 2007.

debruçam sobre o entendimento das ações em saúde, dentre elas o processo de trabalho, avaliando sua articulação com outras práticas sociais. Com relação à inserção do profissional de enfermagem no mundo do trabalho, especificamente no setor saúde brasileiro, tem-se observado um aumento da oferta de cargos no setor público, predominantemente após a adoção do SUS como modelo e, em particular, após a criação do Programa de Saúde da Família (PIERANTONI, 2002) 3. Campinas, local de investigação, desde a década de 1970, caracteriza-se como município pioneiro na adoção de modelos de atenção em Saúde Coletiva. A cidade é pólo de região metropolitana industrial composta por 19 municípios e atrai migrantes de várias regiões do país. Na região, vive 6,31% da população do Estado de São Paulo com 2,33 milhões de habitantes. Este fato, aliado à existência de bolsões de pobreza, sobrecarrega sua infra-estrutura urbana e de equipamentos sociais. Tem Gestão Plena dos recursos e financeiros do SUS, sendo, portanto, a Secretaria Municipal de Saúde gestora dos diversos serviços públicos, além de articuladora de serviços complementares. Pode-se situar historicamente a grande inserção de enfermeiros nos serviços municipais a partir do final da década de 1980, fato descrito no trabalho de Nascimento (2002) 4. Em 2001, houve a implantação do Projeto Paidéia de Saúde da Família 5. Para Silva e Peduzzi (2005) 6 o objeto de trabalho da enfermagem é o cuidado, entendido como conjunto de ações de acompanhamento do usuário e grupos sociais na promoção de saúde, prevenção, intervenção em quadros de adoecimento e reabilitação, considerados os processos vitais específicos, agravos à saúde ou situações de doença. Este cuidado deve ser passível de planejamento e gerência por parte do enfermeiro, a quem cabe delegar tarefas à equipe de enfermagem. As autoras consideram também que a historicidade da profissão no país é acompanhada pela divisão técnica do trabalho entre universitários e 3 PIERANTONI, C. R. Recursos Humanos e Gerência no SUS. In In NEGRI, B.; VIANA, A. L. d A. (org.). O Sistema Único de Saúde em dez anos de desafio. São Paulo: Sobravime; Cealag, 2002. (27) 609-30. 4 NASCIMENTO, E. P. L. Inserção e práticas de enfermeiras na rede básica municipal de saúde de Campinas, 1978 a 1989. Campinas, 2002. [Dissertação de Mestrado em Enfermagem - Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas]. 5 CALDAS E. L., ELLER E. P. Programa de Saúde da Família. (on-line). Disponível em: http://inovando.fgvsp.br/conteudo/documentos/20experiencias2003/saopaulo-campinas.pdf. Acesso em março de 2008. 6 SILVA, A. Marques da; PEDUZZI, M. O trabalho de enfermagem em laboratórios de análises clínicas. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 13, n. 1, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s010411692005000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 Set 2007.

os de nível médio, em que aquele que o faz de forma parcial não é capaz de produzir sem auxílio de vários trabalhadores especializados. Toda a discussão do trabalho nesta área aborda a importância da relação profissional-paciente e profissional-equipe como fundamental para a qualidade da assistência, o que sabemos ser muito enfatizado pelos cursos de enfermagem, nos quais a questão do relacionamento interpessoal é abordada em praticamente todas as disciplinas. De acordo com Peduzzi (2006) 7 reportando-se aos estudos sobre o trabalho em saúde no Brasil e na América Latina, em sua maior parte a vertente de análise é marxista. Por esta via, os elementos constituintes do processo de trabalho são: objeto, instrumentos e agentes. Por conseguinte o agente, trabalhador, tem sido estudado em suas relações com o objeto de intervenção saúde e também em sua atuação, ocasião em que se relaciona com os instrumentos e com outros agentes, configurando a divisão do trabalho sobre, ou, para um mesmo objeto. Assim cada agente, ao executar suas atividades, transforma objeto em produto ou prestação de serviço. Neste sentido, a divisão técnica do trabalho pode, ao mesmo tempo, fragmentá-lo ou funcionar de forma complementar, caso das vivências saudáveis de equipes de saúde, a despeito da hierarquia de um tipo de trabalhador sobre outro, ou mesmo maior valor social do trabalhador com título universitário, ou ainda, de uma das profissões de nível superior sobre a outra. Objetivo- Compreender, através da aproximação do processo de trabalho dos enfermeiros, como estes profissionais articulam os saberes relativos ao seu núcleo específico (enfermagem) ao campo da saúde coletiva em Unidades Básicas de Saúde; Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Hospital Universitário, também conveniado ao Sistema Único de Saúde de Campinas-SP e também Caracterizar semelhanças e diferenças entre o trabalho nos vários locais desvelando a determinação das práticas dos enfermeiros. Metodologia- Neste estudo, procuraremos nos aproximar do processo de trabalho dos sujeitos sociais (profissionais de saúde) enfermeiros assistenciais com atividade na totalidade de Unidades Básicas municipais, CAPS e Hospital Universitário da 7 PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n. 1, 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s003489102001000100016&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 Set 2006.

Universidade Confessional. A investigação obedecerá, em uma de suas etapas, no ano de 2008, aos princípios da pesquisa quantitativa em que serão utilizados questionários a serem respondidos por 50% dos enfermeiros com atuação nestes locais, como forma de caracterizar a população e seu processo de trabalho. Em uma segunda etapa, em 2009, como forma de melhor aproximação dos sujeitos e do objeto, a pesquisa será de natureza qualitativa com uso de entrevistas realizadas com enfermeiros sorteados de forma aleatória em cada local independentemente dos serviços em que estiverem atuando, seguindo os princípios da amostragem qualitativa utilizando roteiro semi-estruturado. Para tanto, serão utilizados recursos da fenomenologia interpretativa, que busca desenvolver entendimento dos seres humanos em seus compromissos e práticas. A proposta é compreender o caráter multifacetado das pessoas, sua inserção histórica e o significado de ações, respeitando sua voz. Esta vertente é muito utilizada na área da saúde e da enfermagem, como mostram vários estudos, dentre eles o de Castillo Espitia (2000) 8. Estudos qualitativos elaboram, a partir de pressupostos teóricos sobre as impressões da vivência, o escopo da pesquisa; isto é, as experiências de pessoas são organizadas de forma que seja possível analisar e interpretar determinados segmentos do real. São úteis em estudos que têm por objeto conceitos, lembranças e memórias. Possibilitam várias formas de aproximação e apreensão das representações, embora seja importante ressaltar que a maior expressão delas se dá por meio da palavra obtida também sob forma de realização de entrevistas (QUEIROZ, 1986; MINAYO, 1992) 9. Para Lozano (2001) 10, estudioso da história oral, ela é fonte privilegiada para a antropologia e permite investigar aqueles que, necessariamente, não são parte da chamada história oficial, que privilegia fontes escritas. Seu uso na história pode ser visto como um método investigativo, mais do que como simples técnica de coleta de dados. A análise dos dados quantitativos será feita 8 CASTILLO ESPITIA E. La fenomenología interpretativa como alternativa apropiada para estudiar los fenómenos humanos. Investigación y Educación en Enfermería 2000; XVIII(1): 27-35. 9 MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 3 ed. São Paulo: HUCITEC/ ABRASCO, 1992. QUEIROZ, M.I. Relatos orais: do indizível ao dizível. Ciência e Cultura, v.39, p:272-286, 1986. 10 LOZANO, J. E. A. Prática e estilos de pesquisa na história oral contemporânea. In. FERREIRA, M. de M.; AMADO, J. (org.) Usos & Abusos da história oral. 4 ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. Capítulo 2-15-41.

utilizando o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e a dos dados qualitativos terá por base as narrativas. A compreensão da narrativa depende do entendimento do outro, do diálogo empreendido, visto que as palavras são relativas às coisas em nosso caso, questões sobre vivências profissionais dos sujeitos. A partir do conteúdo de cada questão, serão elaboradas pré-categorias de análise. Já as falas serão agrupadas de acordo com categorias emergentes seguidas da interpretação com base no referencial teórico de análise temática. Resultados Esperados- Com base em trabalhos e vivências anteriores, acreditamos haver certo distanciamento entre as postulações políticas para o SUS e o processo de trabalho depreendido dos enfermeiros. Também um distanciamento do trabalho no núcleo de saber da enfermagem, considerando, além disto, que a forma te atuar este tenha relação com as trajetórias individuais dos profissionais, sua formação e os modos de se organizar dos serviços de saúde. Conclusões- A pesquisa teve início em fevereiro de 2008 e sua apresentação, neste momento, se dá como forma de divulgação de práticas de pesquisa interdisciplinares e também pela importância do debate na busca da construção do conhecimento na área. Palavras Chave- enfermagem; enfermeiros; processo de trabalho; Unidades Básicas de Saúde; CAPS; Hospital.