DESCOBERTA DA MATEMÁTCA UTILIZADA POR OLEIROS DO MUNICIPIO DE VERA CRUZ Maria Isabel da Costa Pereira, UFRN, bel.bellook.isabel@gmail.com Francisco de Assis Bandeira, UFRN, fabandeira@ccet.ufrn.br RESUMO Este trabalho tem como objetivo desenvolver e mostrar um estudo crítico e reflexivo acerca da produção de tijolos, mostrando a linguagem, códigos, agrupamentos, formas geométricas, tempo e processo de fabricação de tijolos. A partir disto, fazeremos uma comparação entre a escola de oleiros e a escola formal, buscando contribuições na interação entre o conhecimento matemático cultural e o conhecimento matemático acadêmico. Palavras-chave: Matemática cultural, Matemática acadêmica, Produção. ABSTRACT This work aims to develop and show a critical and reflective about the production of bricks, showing the language, codes, groupings, shapes, time and process of making bricks. From this fazeremos a comparison between the school and potters school formal, seeking contributions from the interaction between mathematical knowledge and cultural academic mathematical knowledge. Keywords: Mathematics cultural, Mathematics Education, Production. 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa está sendo realizada numa perspectiva sócio-cultural, no município de Vera Cruz/RN, localizado a 37 Km da capital do Rio Grande do Norte- Natal, mais precisamente, na Olaria Tijolo Forte Indústria e Comércio, conhecida como TJ Freitas, situada na Rua Nova Vera Cruz/RN. Esta olaria dispõe de serviços braçais, possuindo apenas uma máquina, a qual mistura o barro ou argila e a tabatinga 1. A atividade ali desenvolvida é uma das principais atividades econômicas, além do cultivo de mandioca e a produção de farinha. Diante dos pontos mencionados anteriormente, surge alguns questionamentos motivadores à pesquisa: como as pessoas utilizam a matemática, como elas aprendem esse 1 Arguila sedimentar, mole, untuosa, e com certo teor de matéria orgânica. (AURÉLIO, 1988).
conhecimento, além outros conhecimento existentes naquela comunidade. Nesse sentido, buscando compreender e responder a tais questionamentos. Iremos prosseguir com esta pesquisa naquela comunidade dos olheiros, mas salientamos também a importância de construir o saber a partir do saber/fazer de um grupo sociocultural, no nosso caso, a olaria da comunidade em estudo. Ainda destacamos o que diz os documentos oficiais a cerca da formação básica. A formação da cidadania se faz, antes de mais nada, pelo seu exercício: aprende-se a participar, participando. E a escola será um lugar possível para essa aprendizagem se promover a convivência democrática no seu cotidiano. (BRASIL, 1998, p. 38). Tendo em vista que, muitas famílias trabalham em olarias nesta comunidade, buscaremos sondar a realidade a qual vivem sua forma de trabalho, seu conhecimento quanto ao uso da Matemática e ainda os processos de ensino e aprendizagem para tal prática. Na verdade, buscaremos saber que ferramentas matemáticas essa comunidade utiliza na produção e comercialização de tijolos e de outros utensílios produzidos nas olarias e analisá-las à luz das concepções d ambrosianas de Etnomatemática (D AMBROSIO, 2001). 2 PROCEDIMENTOS Iniciamos nossa pesquisa na olaria a partir de um questionário (ver apêndice), o qual serviu como roteiro para nossas entrevistas semiestruturadas com os oleiros. Tal questionário nos mostrou fatos muito importantes, como por exemplo, o do Sr. João Maria Freitas, proprietário da mencionada olaria. Seu trabalho no campo da olaria foi incentivado por seus familiares, que já trabalhavam neste ramo. Inicialmente ele trabalhou como motorista de caminhão para seu pai, depois construiu sua própria olaria, já mencionada acima. Estudou até o 2º grau, porém dedicava-se mais tempo no trabalho da olaria. Pelas nossas observações e conversas informações com os oleiros, verificamos que a maioria dos trabalhadores dessa olaria, não é escolarizada formalmente. Observamos também que mesmo estes trabalhadores não conhecendo a Matemática escolar, eles trabalham o dia inteiro utilizando a matemática como ferramenta na produção de tijolos, um dos principais meios de
sobrevivência para eles naquela região. 3 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA Pelas nossas observações e entrevistas com os oleiros, percebemos que eles utilizam bastante a Matemática na produção de tijolos. Podemos citar, como, por exemplo, o próprio João Maria Freitas que para fazer um milheiro de tijolos, segundo ele, é necessário um metro cúbico de barro, além do mecanismo utilizado para moldar os tijolos e queimá-los. Seu João Maria Freitas ao ser questionado acerca dos tijolos que estariam bons para serem comercializados. Ele nos disse que estavam bons quando o fogo estivesse saindo por cima dos tijolos, pois o fogo já haveria passado por todos eles, o que leva aproximadamente 24 horas. Quanto à arrumação dos tijolos no caminhão, observamos que eles são empilhados uns sobre os outros e a contagem é feita após estes terem sidos empilhados no caminhão. O trabalhador que conta os tijolos não conhece a Matemática acadêmica, pois este nunca foi a escola, para contá-los, ele segue a seguinte estratégia: primeiro conta a quantidade de tijolos existentes no comprimento, depois na largura, em seguida na altura do caminhão, depois multiplica esses valores, não sabe o porque destes cálculos só sabe que funciona. A produção de tijolos semanalmente nessa olaria é em média aproximadamente 45 mil tijolos, os quais são comercializados para depósitos de construção e construtoras em Natal, sendo estes vendidos a R$ 100,00 cada milheiro (1000 tijolos). O gasto para a produção de cada milheiro é em média de R$ 70,00, incluindo todas as despesas (água, energia, trabalhadores, entre outros consumos). CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos inferir pelas nossas observações e relatos dos oleiros que eles utilizam uma Matemática específica, mesmo sem conhecer a Matemática acadêmica, como muito bem ressalta D Ambrosio (2000, p. 249), tudo isso representa medidas usuais, praticadas e comuns no dia a dia do povo, e que respondem a uma estrutura matemática rigorosa, entendido um rigor adequado para aquelas práticas.
Assim, pretendemos futuramente comparar e utilizar a Matemática desenvolvida nas olarias com a Matemática do contexto escolar. REFERÊNCIAS Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 436 p. D AMBROSIO, Ubiratan. A Interface entre História e Matemática: uma visão histórico-pedagógica. In: FOSSA. John A, (Org.) Facetas do diamante. Ensaios sobre educação matemática e história da matemática. Rio Claro: SBHmat, 2000. p. 241-271.. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa [2aed.]. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. APÊNDICE Questionário Pesquisa de Campo Campo de atuação: Olaria Município Vera Cruz - RN Entrevistado (Proprietário): Nome completo: Idade(opcional): Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) P1. Qual sua escolaridade? Fundamental I Completo ( ) Incompleto ( ) Fundamental II Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Médio Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino Técnico Completo ( ) Incompleto ( ) Curso: 1) 2) Ensino Superior Completo ( ) Incompleto ( ) Ano em que terminou: Curso: 1) 2) P2. Como começou a trabalhar na Olaria?
P3. Antes de trabalhar na Olaria trabalhou em outras atividades? Sim ( ) não ( ) Quais? P4. Qual o motivo de trabalhar na olaria? P5. Há quanto tempo trabalha na olaria? ( ) Menos de 2 anos ( ) Entre 2 anos e 5 anos ( ) Superior a 5 anos P6. Qual é sua função na olaria? P7. Como é o processo de produção do tijolo? P8. Qual a quantidade de barro utilizada para fazer um milheiro de tijolo? P9. Como você sabe que o tijolo está bom para ir para o forno? P10. Qual a quantidade de tijolo que cabe em uma caieira? P11. Como é caracterizado um tijolo de primeira e de segunda? E quanto custa cada milheiro? P12. A produção é comercializada para qual região? E o porquê desta região? P13. Quanto custa para produzir um milheiro de tijolo?