SALAS DE INFORMÁTICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE USO

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Transcrição:

SALAS DE INFORMÁTICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS: REFLEXÕES SOBRE AS CONDIÇÕES DE USO José Ricardo R. Zeni Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Campus de Guaratinguetá Departamento de Matemática (DMA) Av. Dr. Ariberto Pereira da Cunha, 333 Guaratinguetá SP Brasil CEP 12.516-540 Email: jrzeni@feg.unesp.br Homepage: http://www.feg.unesp.br/~jrzeni Abstract. The São Paulo state government has taken several actions to support use of computers in school. However, in general, the computer laboratories are closed or not working properly. In this text, we discuss some reasons for that. Our report is based in experiences which we had with elementary and high school teachers in continuing education courses. Resumo. O governo do estado de São Paulo tem promovido diversas ações para apoiar o uso da informática nas escolas. Apesar destes esforços, o que se observa na prática é que em geral, as salas de informática das escolas públicas estão fechadas ou subutilizadas. Neste texto, discutimos algumas razões para isso. A discussão é baseada na vivência que tivemos com professores da rede pública do Ensino Fundamental e Médio, em cursos de formação continuada de professores (Metodologias de Ensino da Matemática) e em projetos de extensão junto as escolas. 1. Introdução Os recursos proporcionados pela Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC's) são atualmente essenciais em seu papel na educação, sendo, portanto, imprescindível que tais recursos sejam utilizados in e extra-classe. Do ponto de vista pedagógico eles configuram-se em potenciais objetos de interesse do docente e do discente, uma vez que a sociedade demanda cada vez mais a capacitação individual com relação à tecnologia. Pode-se pensar em formas de ensinar através das TIC's, visando uma melhora na qualidade da educação e sanando eventuais falhas de alunos que porventura não tenham acesso a esses instrumentos tecnológicos. Segundo os PCN's [BRASIL, 1998, p. 43] As tecnologias, em suas diferentes formas e usos, constituem um dos principais agentes de transformação da sociedade, pelas modificações que exercem nos meios de produção e por suas conseqüências no cotidiano das pessoas. Estudiosos do tema mostram que escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são influenciados, cada vez mais, pelos recursos da informática. Nesse cenário, insere-se mais um desafio para a escola, ou seja, o de como incorporar ao seu trabalho, tradicionalmente apoiado na oralidade e na escrita, novas formas de comunicar e conhecer.

O governo do estado de São Paulo, desde o fim da década de 90, tem promovido diversas ações para levar a informática para dentro das escolas; entre elas destacam-se: (1) aquisição de equipamentos e instalação da sala de informática (SAI) nas escolas; (2) aquisição de softwares educacionais e; (3) capacitação dos professores, tanto em noções básicas de informática quanto no uso da informática como um recurso pedagógico. Apesar destes esforços, o que se observa na prática é que em geral, as salas de informática das escolas públicas estão fechadas, em alguns casos, as salas são utilizadas eventualmente, mas os professores relatam diversas dificuldades para sua utilização, algumas das quais serão discutidas a seguir. Esta situação não é particular do estado de São Paulo. Segundo [Weinberg e Rydlewski, 2007] As experiências brasileiras de levar computadores às escolas públicas, até então, foram um fiasco. Elas esbarraram em dificuldades básicas. A antropóloga americana Juliane Remold dedicou dois anos à observação de trintas escolas brasileiras equipadas com computador e traçou um cenário desolador. A metade das máquinas acumulava pó nos laboratórios porque careciam de manutenção ou eram ignoradas pelos professores, que muitas vezes não sabiam sequer ligar o equipamento. O restante dos computadores, mesmo em uso, servia apenas às burocráticas aulas de informática. 2. Dados e relatos sobre a utilização das SAI s pelos professores Os dados apresentados a seguir servem para balizar nossa discussão. Eles se referem a um dos cursos que coordenamos em 2006 e foram levantados através de questionários respondidos pelos participantes. Apesar destes dados se referirem a uma pequena amostra de professores, observamos os mesmos padrões em outros cursos que lecionamos em anos anteriores e/ou em outras regiões do estado. Tabela 1. Dados levantados juntos a professores da rede pública. Questionários respondidos: 22 Questões Total 1 Tem computador em casa 19 E-mail 19 2 Escola tem sala de informática 16 Utilização da sala de informática para aula 03 3 Utilização de algum recurso computacional para aula 08 Softwares Utilizados (em casa ou na escola) Internet 20 Word 18 Excel 15 Power Point 14

1 Todos utilizam o sistema operacional Windows. 2 Salas com 10 micros: 10 respostas. Salas com 5 micros: 6 respostas. 3 Maior parte, elaboração (redação) de atividades no computador. Da tabela acima, destacam-se alguns pontos: cerca de 90% dos professores tem computador em casa e utilizam a Internet; cerca de 70% utilizam a planilha eletrônica Excel e o Power Point. Esta situação é contrastante com o fato de que apenas cerca de 15% destes professores utilizam a sala de informática para aula. Dos dados acima, podemos inferir que a capacitação dos professores não é o principal obstáculo para a utilização da sala de informática. Tal fato é também referendado observando os professores durante o próprio curso de formação continuada: a participação em aulas de informática é alta e o desempenho deles nessas aulas é, em média, bom. Em seus relatos os professores apontam várias razões que dificultam o uso da sala de informática, entre elas destaca-se: As turmas são numerosas (30, até 40 alunos) e a quantidade de equipamentos é relativamente pequena (a maior parte das salas de informática implantadas pelo estado tem 10 micros, em alguns casos, apenas 5 micros). O acesso à sala de informática é negado ou dificultado pelo diretor da escola. Em alguns casos, a direção da escola é mal capacitada sobre informática, não entendendo e não apoiando propostas de ensino apoiadas pelo computador. Os professores não se sentem seguro de desenvolver atividades na SAI, em muitos casos, não conhecem os recursos da SAI de sua escola. Falta suporte aos professores nas escolas. A aula na sala de informática é um desafio que envolve a superação de vários problemas, além daqueles propostos pela atividade em si. Formalmente, toda escola tem um professor responsável pela sala de informática e praticamente todos eles receberam alguma capacitação. Entretanto, não lhe é atribuída nenhuma carga horária para esta tarefa, o que na prática, inviabiliza que este professor possa se dedicar à sala de informática e auxiliar seus colegas. Algumas escolas também têm se utilizado de monitores, alunos voluntários com algum conhecimento de informática, mas isso não tem contribuído para melhorar a situação das salas de informática. Neste ponto, é conveniente destacar a observação feita por [Weinberg e Rydlewski, 2007]: O primeiro ponto que aproxima os casos de sucesso é o investimento na formação e no treinamento de um time de profissionais capaz de incorporar os computadores à vida escolar. Em países como o Canadá, levase o assunto tão a sério que as universidades oferecem uma especialização para isso. As escolas canadenses contratam pelo menos um desses profissionais, encarregado de organizar a biblioteca de software (sim, no Canadá toda escola pública tem uma do gênero) e orientar os professores sobre o uso do computador em cada disciplina.

3. Conclusão As diferentes esferas de governo (federal, estadual e municipal) têm dirigido esforços para instalar salas de informática nas escolas públicas. Análises estatísticas têm mostrado a evolução ao longo dos últimos anos no número de escolas que dispõem deste recurso. O artigo de BECKER, por exemplo, traz uma análise do processo de informatização para as cidades médias do estado do Rio de Janeiro. Entretanto, a disponibilidade de computadores na escola é apenas o primeiro passo para a sua efetiva utilização. O treinamento e o envolvimento dos professores para trabalhar com esta tecnologia assim como o suporte e o incentivo dado a eles pelas escolas é fundamental para a utilização desta tecnologia como um recurso didático. De outro modo, as salas de informática continuarão fechadas em muitas escolas, ainda que sua simples existência contribua para uma aparente melhora nas estatísticas de alguns governos. Apesar da evolução que se teve (se comparado a uma década atrás, quando praticamente nenhuma escola tinha uma sala de informática), com aquisição de equipamentos e softwares e também a capacitação de técnicos e professores, ainda estamos longe de se ter uma taxa de utilização razoável das SAI como um recurso pedagógico pelos professores. Considerando ainda a recente implantação do tempo integral nas escolas, o que aumenta a necessidade por atividades diferenciadas, e considerando que a SAI oferece várias possibilidades de atuação neste sentido, o governo e os gestores da educação devem olhar com mais atenção aos pontos que dificultam a utilização das SAI s. Muitos dos problemas que tornam inoperantes as salas de informática são comuns em outras áreas da escola pública, algumas dessas áreas existem há muito mais tempo que as salas de informática. Por exemplo, a falta de espaço e/ou de uma pessoa responsável (auxiliar de biblioteca) mantém muitas das bibliotecas (quando existem!) das escolas públicas inoperantes ou em funcionamento precário. Para finalizar com um fato positivo, na experiência recente (ainda em andamento) da implantação das SAI s no estado do Paraná, relatada por Marcos Castilho, coordenador do programa Paraná digital, [Castilho, 2007], podemos ver alguns avanços, em particular, o fato de que cada SAI implantada tem 20 computadores, um número adequado para turmas até 40 alunos. Isto exigiu muita negociação, em particular com os diretores da escola, que cederam o espaço para as SAI s, uma negociação difícil em muitos casos, visto que muitas escolas têm problemas de espaço físico. É um bom começo, eliminando uma das queixas dos professores relatadas acima (que as SAI s são pequenas, com 10 micros ou menos). Será interessante acompanhar este programa e ver qual o nível de utilização das SAI s pelos professores, assim como a avaliação do programa pelos professores.

Referências BECKER, Fernanda R. (2007) A informatização das redes municipais de ensino fundamental das cidades médias fluminenses. Anais do XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, XIII Workshop sobre Informática na Escola, p.199-207. Rio de Janeiro: SBC. Disponível em http://www.sbc.de9.ime.eb.br/br/index.php?view=anais&from=programacao &lang=br&ativo=1 BRASIL (1998). Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. 3o e 4o Ciclos do Ensino Fundamental: Matemática. Brasília: MEC/SEF. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.pdf, acessado em 26.02.2007. CASTILHO, Marcos (2007). Paraná Digital. Projetos governamentais (mesa redonda). XXVII Congresso da Sociedade Brasileira de Computação, Rio de Janeiro. WEINBERG, Mônica e RYDLEWSKI, Carlos (2007). O Computador não educa, ensina. Veja, 16 de maio de 2007, pg. 87-93. ZENI, José Ricardo R. (coordenador, 2006). Metodologias de Ensino de Disciplinas da Área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias do Ensino Médio: Matemática I. Curso de Extensão. Diretoria de Ensino de Guaratinguetá, 2006. Disponível em http://www.feg.unesp.br/extensao/teia/index_teia.php acessado em 20.01.08.