Elementos para uma possível relação entre pedagogia do teatro e processos colaborativos de criação teatral.

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Transcrição:

Elementos para uma possível relação entre pedagogia do teatro e processos colaborativos de criação teatral. Vicente Concilio Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC Mestre Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas - ECA/USP Professor, ator Resumo: A presente comunicação pretende esboçar possíveis eixos estruturantes para uma abordagem da relação existente entre processos de criação teatral contemporâneos que se propõem colaborativos e a pedagogia do teatro. O modelo de criação teatral colaborativo é compreendido aqui a partir das reflexões de Araújo (2008). Trata-se de uma cena que não nasce a partir de um texto pré-definido, uma vez que o dramaturgo participa do processo de criação junto aos atores e diretor. Os artistas partem de um tema de pesquisa e, por meio da condução do diretor e da colaboração artística dos demais integrantes, emerge uma criação cênica que relativiza a noção de autoria e oferece a todos os criadores a possibilidade de participar das diversas instâncias da criação. A idéia da criação colaborativa, ou seja, um processo estruturado no qual as trocas de referência e de saberes estão constantemente sendo estabelecidas pelo coletivo de artistas criadores, já exibe características que a entrelaçam a um pensamento pedagógico de viés construtivista e ligado a uma concepção que dialoga com a gestão democrática do conhecimento. Dessa forma, é possível estabelecer conexões entre as características dos processos colaborativos e a pedagogia de projetos, proposta metodológica de ensino-aprendizagem cuja maior referência são as reflexões construídas pelo professor Fernando Hérnandez, da Universidade de Belas Artes de Barcelona. Na pedagogia de projetos, a construção de conhecimento se dá a partir de perguntas elaboradas pelo grupo de estudantes, que passam a desenvolver sua pesquisa em busca de respostas à questão geradora da pesquisa. Dentro desta perspectiva, o educando constrói seu próprio percurso de construção de conhecimento, em um processo oriundo de curiosidade genuína e que consolida uma pedagogia que lança perguntas, ao invés de impor pontos de vista e professar respostas. Assim como a pedagogia de projetos propõe uma metodologia na qual uma pergunta gera respostas construídas na busca dos estudantes, entendemos que um processo colaborativo é também um projeto construído por um grupo de artistas que também se aventuram a responder, de forma cênica, a perguntas que estimulam sua pesquisa artística. Nossa questão central aqui é entender, ao analisar o modelo colaborativo de criação, de que forma a pedagogia do teatro pode se aproximar de políticas de criação da cena teatral pertinentes às artes cênicas hoje. Palavras-chave: Pedagogia do Teatro, Processo Colaborativo, Pedagogia de Projetos A presente comunicação pretende esboçar possíveis eixos estruturantes para uma abordagem da relação existente entre processos de criação teatral contemporâneos que se propõem colaborativos e a pedagogia do teatro.

O modelo de criação teatral colaborativo é compreendido aqui a partir das reflexões de Antônio Araújo (2008). Trata-se de uma cena que não nasce a partir de um texto pré-definido, uma vez que o dramaturgo participa do processo de criação junto aos atores e diretor. Os artistas partem de um tema de pesquisa e, através da condução do diretor e da colaboração artística dos demais integrantes, emerge uma criação cênica que relativiza a noção de autoria e oferece a todos os criadores a possibilidade de participar das diversas instâncias da criação, ao mesmo tempo em que está definida a responsabilidade por cada área específica da criação cênica. Ou seja, há uma assinatura para a direção, para a autoria dramatúrgica, para a concepção de cenários e figurinos, mas ao mesmo tempo está assumido que estas e outras áreas chegaram a um denominador comum por meio de debates, construções de consensos ou votações e foram sendo definidas a partir de um processo largamente elaborado junto a todos os integrantes envolvidos no processo. A idéia da criação colaborativa, ou seja, um processo estruturado no qual as trocas de referência e de saberes estão constantemente sendo estabelecidas pelo coletivo de artistas criadores, já exibe características que a entrelaçam a um pensamento pedagógico de viés construtivista e ligado a uma concepção que dialoga com a gestão democrática do conhecimento. Dessa forma, é possível estabelecer conexões entre as características dos processos colaborativos e a pedagogia de projetos, proposta metodológica de ensino-aprendizagem cuja maior referência são as reflexões construídas pelo professor Fernando Hérnandez, da Universidade de Belas Artes de Barcelona. Na pedagogia de projetos, a construção de conhecimento se dá a partir de perguntas elaboradas pelo grupo de estudantes, que passam a desenvolver sua pesquisa em busca de respostas à questão geradora da pesquisa. Dentro dessa perspectiva, o educando constrói seu próprio percurso de elaboração de conhecimento, em um processo oriundo de curiosidade genuína e que consolida uma pedagogia que lança perguntas, ao invés de impor pontos de vista e professar respostas. Assim como a pedagogia de projetos propõe uma metodologia na qual uma pergunta gera respostas construídas na busca dos estudantes, entendemos que um processo colaborativo é também um projeto construído por um grupo de artistas que também se aventuram a responder, de forma cênica, a perguntas que estimulam sua pesquisa artística. Nossa questão aqui é

entender, ao analisar o modelo colaborativo de criação, de que forma a pedagogia do teatro pode se aproximar de políticas de criação da cena teatral pertinentes à atualidade. Os Projetos de Trabalho Discussões sobre uma concepção curricular que aproxime os espaços e tempos pedagógicos da escola aos interesses dos alunos da Educação Básica levam, necessariamente, a propostas que ou visam redimensionar a estrutura disciplinar mantendo-a tal qual ela já está estabelecida (em disciplinas distintas distribuídas em aulas de 50 minutos), ou a propostas que reformulam essa organização, buscando ampliar as pontes entre os interesses dos educandos e os saberes reconhecidos pelo âmbito escolar. Uma proposta situada neste segundo âmbito é a que chega até nós em fins dos anos noventa através da obra de Hernández (1998), em livros nos quais ele expõe as propostas dos projetos de trabalho. Esses projetos visam questionar o modelo curricular tradicional, redefinindo também o papel comumente associado ao professor e ao educando no processo de ensino-aprendizagem tradicional. Dessa forma, o professor deixa de ser o responsável pela estruturação de aulas expositivas e passa a ser um auxiliador na organização de uma pesquisa estruturada cujo desenvolvimento será por ele acompanhada e orientada. Partindo de uma questão norteadora e de objetivos que auxiliam a pesquisa a atingir o resultado almejado, um projeto deve resultar em uma exposição pública de suas conquistas: a realização de um debate, de uma exposição, de um seminário, a construção de um portifólio, entre outras possibilidades. A descrição acima exibe a vinculação a uma concepção transdisciplinar da construção do conhecimento e um foco não só na aquisição de conteúdos, mas também à conquista de habilidades procedimentais, como o desenvolvimento de uma atitude pesquisadora, estimuladora do trabalho em grupo e interessada na construção de metas e na construção de um conhecimento crítico e significativo. Nas palavras de Hernández: A transdisciplinaridade representa uma concepção da pesquisa baseada num marco de compreensão novo e compartilhado por várias disciplinas, que vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinares. A cooperação, nesse caso, dirige-se para a resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo modelo de aproximação da realidade do fenômeno que é objeto de estudo. (...). A atenção é voltada para a área do problema, para o tema alvo do objeto de estudo, dando preferência à atuação colaborativa no lugar da individual (grifo nosso). A qualidade se avalia pela habilidade dos indivíduos em realizar uma contribuição substantiva a um campo de estudos a partir de organizações flexíveis e abertas (HERNÁNDEZ, 1998:46).

Conforme visto, a noção de interdisciplinaridade questiona a divisão disciplinar do currículo, abrindo espaço para o diálogo entre as áreas do saber. Ao valorizar esforços coletivos na elaboração de sentidos para um questionamento, um projeto de trabalho propõe um esforço, aos sujeitos nele envolvidos, de estabelecimento de metas e publicação de resultados. Dessa forma, a avaliação está contextualizada em seu aspecto formativo, sendo também propulsora de novos questionamentos. Teatro e Pedagogia de Projetos Reconhecer a natureza coletiva da arte teatral não é algo novo. Uma das justificativas para a presença do teatro em espaços educacionais sempre repousa na sua possibilidade em oferecer um espaço de criação artística em grupo, que apreende a linguagem artística ao mesmo tempo em que explora as habilidades úteis ao trabalho em parceria, tomando decisões pelo bem comum e aprendendo a viver junto. O teatro ofereceria assim uma possibilidade de explorar a organização de espaços de gestão participativa, nas quais o desenvolvimento da autonomia dos educandos aconteceria paralelamente à sua formação artística. Ao mesmo tempo, é cada vez mais forte a reflexão sobre o papel do professor-artista, que em nosso âmbito pode ser compreendido como a fusão do papel do professor de teatro ao encenador. Os trabalhos de Koudela (2008), Pupo (2001), Cabral (2008), Martins (2004), Vidor (2008), entre outros, apontam para isso. Em sua tese de doutorado, Antônio Araújo (2008) reflete sobre o papel do encenador em processos colaborativos e insiste na construção de um novo território de atuação para ele, que não estaria mais ligado à autoria da obra cênica em sua totalidade, mas sim como um grande coordenador de núcleos criativos interligados pelo projeto de construção cênica almejado pelos integrantes de um processo. Esse novo papel do diretor resulta, portanto, na possibilidade de um novo tipo de relação entre processo e resultado e entre professor e educandos, quando se pensa em processos formativos em pedagogia teatral. A relação entre processos colaborativos e pedagogia do teatro fica, portanto, evidenciada, e o tipo de condução de processo estabelecido pelo professor-artista é determinante. Evidentemente, é necessário explicitar que, a despeito dos diversos pontos em comum, muitas vezes processos artístico-pedagógicos devem dar conta de demandas nem

sempre presentes em práticas, digamos, profissionais de criação teatral. No entanto, uma parcela de artistas responsáveis pela produção teatral contemporânea, sobretudo aquela ligada a núcleos artísticos que trabalham em longo prazo, refletem sobre sua própria formação e sobre os sentidos que desejam construir a partir de suas obras. Para esses artistas, a reflexão pedagógica está imbricada à própria pertinência do trabalho teatral que eles desenvolvem. Assim, compreender um processo de criação teatral, no âmbito pedagógico, a partir dos pontos expostos anteriormente e que embasam os projetos de trabalho ampliaria os sentidos para a presença do teatro nesses lugares, promovendo novas possibilidades de articulação entre o teatro produzido nos âmbitos profissional e não-profissional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CABRAL, B. A. V. O professor-artista: perspectivas teóricas e deslocamentos históricos. In: Urdimento Revista do PPGT em Teatro da UDESC, n.10. Florianópolis, 2008. HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 1998. KOUDELA, I.D. A Encenação Teatral Contemporânea como Prática Pedagógica. In: Urdimento Revista do PPGT em Teatro da UDESC, n.10. Florianópolis, 2008. MARTINS, M. B. Encenação em Jogo. São Paulo: Hucitec, 2004. PUPO, M.L.S.B. Além das Dicotomias. In: Anais do Seminário Nacional de Arte e Educação, 2001, Montenegro, RS : Fundação Municipal das Artes de Montenegro, 2001. pp 31-34. SILVA, A.C.A. A Encenação no Coletivo: desterritorializações da função do diretor no processo colaborativo. Tese (doutorado) ECA-USP, SP, 2008. VIDOR, H. B. Drama e teatralidade: experiências com o professor no papel e o professorpersonagem e suas possibilidades para o ensino do teatro na escola. Dissertação (mestrado) - UDESC, Florianópolis, 2008.