O mercado de trabalho dos treinadores paranaenses de tênis. The job market for Parana State tennis coaches



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Faculdades Integradas de Itararé FAFIT-FACIC Itararé SP Brasil v. 04, n. 02, jul./dez. 2013, p. 13-25. REVISTA ELETRÔNICA FAFIT/FACIC O mercado de trabalho dos treinadores paranaenses de tênis The job market for Parana State tennis coaches Caio Correa Cortela Federação Paranaense de Tênis FPT Curitiba Brasil caio.tenis@yahoo.com.br Layla Maria Campos Aburachid Universidade Federal do Mato Grosso UFMT Cuiabá Brasil lagusmar@ig.com.br Débora Navarro Rocha Cortela Instituto Federal do Paraná IFPR Foz do Iguaçu Brasil debora.cortela@ifpr.edu.br Luiz Gustavo Nascimento Haas Federação Paranaense de Tênis FPT Curitiba Brasil luizhaas@yahoo.com.br Resumo O presente estudo objetivou conhecer qual é e como os treinadores paranaenses de tênis vêm o mercado de trabalho. Para coletar essas informações, primeiramente foi construído e validado um questionário especificamente desenhado para essa finalidade. Participaram da amostra 58 treinadores com idade média de 32,5±9,9 anos, de sete cidades distintas. Para análise dos dados utilizou-se o software SPSS 20.0. Foram produzidas estatísticas descritivas de tendência central e dispersão e cálculos de frequências e percentagens para as variáveis observadas. Para comparação entre os grupos: Capital e Interior utilizou-se o teste Mann-Whitney, com o nível de significância estabelecido em p 0,05. Atentando-se ao mercado de trabalho verifica-se que esses treinadores trabalham em média 37,5±13,2 horas por semana, recebendo mensalmente R$ 3.512,00±2.308,00 por essa atividade. O principal local de trabalho desses profissionais são as academias e os clubes, verificando-se que o registro em carteira assinada e os contratos de locação de quadra respectivamente nessa ordem são as situações mais comuns de trabalho. A atividade mais realizada por esses profissionais paralelamente as aulas e aos treinos é o acompanhamento técnico nas competições. Os treinadores do interior relataram trabalhar com maior frequência na realização de eventos e no comércio de materiais esportivos ligados a modalidade. A maior expectativa de crescimento para o mercado do trabalho é a iniciação esportiva para crianças e jovens. Para diversas áreas do mercado os treinadores do interior mostraram-se mais otimistas para as perspectivas de crescimento dos que os da capital. Palavras-chave: Mercado de trabalho. Treinadores paranaenses. Tênis.

Abstract This studied aimed to know what the job market is for coaches and how they see it. In order to collect this information, at first a survey was made and validated, and it was made specifically for this purpose. Took part in this sample 58 coaches age 32,5±9,9 years old, from seven different cities. For the data analyses was used the software SPSS 20.0. Descriptive statistics of central tendency and dispersion and frequencies and percentages calculus have been produced for the variables observed. For the comparison among groups: Capital and countryside was used the test Mann-Whitney, with significance level established in p 0,05. Taking the job market into account, it s possible to check that these coaches work an average of 37,5±13,2 hours per week, making R$ 3.512,00±2.308,00 a month for this activity. The main workplaces of these professionals are the gyms and the clubs, and it can be verified that the record in the working papers and the leases of the courts respectively are the most common working situations. The activity most performed by these professionals in parallel to the classes and the trainings is the technical monitoring during the competitions. The countryside coaches reported to be working more frequently making events and in the trade of sports material linked to the sport. The greatest expectation of job market growth is the sports initiation for children and young people. For several areas in the market the countryside coaches seems more optimistic for the growth perspectives than those from the capital. Keywords: Job market. Parana State Coaches. Tennis. 1. Introdução A função desempenhada pelos treinadores enquanto agentes responsáveis pela formação e educação esportiva tem se mostrado determinante ao longo das etapas da preparação esportiva a longo prazo (MARQUES, 2000; LUGUETTI; MASSA; BÖHME, 2012; PACHARONI; MASSA, 2012). Após uma ampla revisão de literatura sobre o papel exercido por esses profissionais no desenvolvimento de talentos esportivos, Luguetti, Massa e Böhme (2012) constataram que os mesmos foram fundamentais para o sucesso da carreira dos atletas nacionais, sendo citados como um elemento de motivação extrínseca durante a iniciação esportiva e corresponsáveis pela educação e formação ética (educação) desses indivíduos. Gibbons et al. em seu estudo com 816 atletas americanos que participaram dos jogos olímpicos entre os anos de 1984 e 1998 destacou a importância dos treinadores nas distintas fases de do treinamento esportivo a longo prazo, realçando as habilidades de ensinar e de motivar como as capacidades mais apreciadas pelos atletas. O trabalho desenvolvido por Pacharoni e Massa (2012) especificamente com tenistas brasileiros considerados talentosos demonstrou a importância dos treinadores tanto na iniciação esportiva como nos treinamentos. De acordo com os atletas nas primeiras etapas da preparação esportiva a longo prazo os reforços positivos e afetivos propiciado pelos treinadores foram essenciais para despertar e manter o gosto pela prática da modalidade. Em um segundo momento, após os atletas iniciarem o treinamento sistematizado, a capacidade dos treinadores de promover melhorias técnicas, táticas e físicas e de facilitar a transição do circuito juvenil para o profissional foram considerados determinantes para a o sucesso da carreira desses atletas. 14

Sabe-se, no entanto, que a função do treinador não se limita ao desenvolvimento de atletas de alto rendimento. De acordo com Tubino (2010) para se contemplar todas as possibilidades de práticas esportivas o Esporte deve abranger três grandes dimensões: esporte educação, esporte lazer, e o esporte de desempenho. Nessa mesma direção, Gaya e Torres (2004) e Gaya (2006) destacam quatro vertentes onde os praticantes se enquadram: o esporte de alto rendimento ou excelência, esporte escolar ou como meio para educação, esporte de lazer ou de participação, e esporte e saúde ou de reabilitação e reeducação. Nesse cenário, o ofício que anteriormente era desempenhado por voluntários ou, restrito como profissão ao esporte de alto rendimento, teve de se adequar para atender ao mercado e a crescente demanda pela prática esportiva (MARQUES, 2000) Considerando a escassez de trabalhos nesta área documentada por Gomes et al. (2011), Ramos et al. (2011) e Rufino e Dario (2011), pretendeu-se com este estudo conhecer qual é o mercado de trabalho dos treinadores paranaenses de tênis e quais são as perspectivas de crescimento segundo esses profissionais. Os dados em apreciação poderão fundamentar as futuras decisões da Federação Paranaense de Tênis (FPT), contribuindo para o desenvolvimento do esporte, para a melhoria das ações de formação e de oportunidades trabalho para os treinadores paranaenses. 2. Metodologia Amostra A seleção da amostra ocorreu por conveniência. Dessa forma, de uma população inicial de 180 treinadores estimada junto aos 40 clubes filiados a FPT, 65 participaram do presente estudo. Os 65 treinadores em questão foram escolhidos por terem participado das reuniões técnicas realizadas pela FPT no primeiro semestre de 2012. Em virtude de falhas no preenchimento, sete questionários foram retirados da amostra totalizando para a análise dos dados 58 professores. Para efeito de análise, o grupo de treinadores denominado de Capital (n=37) foi composto exclusivamente pelos treinadores de Curitiba, enquanto o grupo Interior (n=21) constitui-se de treinadores de Arapongas, Londrina, Imbituva, Marechal Candido Rondon, Maringá e Ponta Grossa. Os participantes apresentaram idade média de 32,5±9,9 anos, tendo o treinador mais jovem da amostra 19 anos e o mais velho 63 anos de idade. Recolha dos dados e instrumento de coleta Para a recolha dos dados foi desenhado e aplicado um questionário. As coletas de dados foram realizadas presencialmente nas reuniões da FPT ocorridas no primeiro semestre de 2012. A escolha por esta forma de coleta de dados (questionário com questões semiestruturadas, sem identificação) resultou da ponderação entre as vantagens e desvantagens dessa técnica de coleta em detrimento de outras técnicas de pesquisa descritiva como a entrevista, por exemplo. De acordo com Thomas, 15

Nelson e Silverman (2012) a utilização do questionário se justifica quando se tem como necessidade obter respostas, com frequência, em uma ampla área geografia. Tendo em vista o teor pessoal de algumas questões presentes no instrumento, o anonimato favorece a sinceridade nas respostas. Inicialmente, para elaboração do instrumento de coleta criou-se uma equipe de investigação composta por cinco colaboradores de distintas áreas, na qual se inclui os investigadores. Os membros desta equipe apresentaram formação inicial e percursos profissionais distintos no intuito de atender às particularidades apresentadas pelos treinadores. Fizeram parte dela: - Professor Doutor e com formação federativa, responsável pela disciplina Tênis de Campo em uma universidade espanhola, docente dos cursos de capacitação de professores da Real Federação Espanhola de Tênis (RFET) e com grande experiência em pesquisas voltadas a formação de treinadores; - Professor Mestre e com formação federativa, proprietário de uma empresa prestadora de serviços na área do tênis e diretor da FPT; - Professor Mestre, com formação acadêmica direcionada à gestão esportiva e proprietário de uma empresa especializada em assessoria esportiva; - Professor Especialista e com formação federativa, responsável pela regulamentação e torneios da FPT; - Professor com formação acadêmica superior em outra área de concentração com mais de 20 anos de experiência, proprietário de uma das mais tradicionais escolas de tênis e promotora de eventos do Estado do Paraná. Após quatro reuniões estabeleceu-se um questionário base a ser submetido à análise piloto para validação. Para o processo de validação, utilizaram-se as recomendações propostas por Arias e Fernández (1998, p. 46-47, adaptado de Robson, 1993), por Hoinville e Jowell (1978; citados por Cohen e Manion, 1990, p.146-151) e por Manzano e González (1998, p.100-101). Nesse sentido, os treinadores que participaram da coleta piloto utilizaram uma tabela de verificação e validação do conteúdo de 15 itens, onde se avaliou: estrutura, terminologia e tempo médio de preenchimento do instrumento. Esses mesmos critérios foram utilizados por Fuentes e Villar (2004) em um estudo que é referência nessa linha de investigação. Participaram do projeto piloto de validação do questionário base 10 treinadores com no mínimo cinco anos de experiência profissional. Após preencherem a tabela de verificação e validação do conteúdo, obteve-se uma média 4,32 ±0,68 em uma escala de likert que variava de 1 (completamente em desacordo) e 5 ( totalmente de acordo), o que demonstra uma avaliação positiva dos treinadores com relação ao instrumento. Nenhum dos itens avaliados apresentou valor inferior a três nesta escala. O tempo médio despendido para preenchimento do questionário foi de 16,1 ± 4,3 minutos. Conhecidos os resultados e acatando as sugestões relevantes apresentadas pelos treinadores, procedeu-se em comum acordo com os membros da equipe de investigação, a versão três do instrumento que foi aplicada aos treinadores paranaenses. Análise de dados Para análise estatística dos dados, utilizou-se o software SPSS 20.0. Foram realizadas estatísticas descritivas de tendência central e dispersão e 16

cálculos de frequências e percentagens para as variáveis observadas. Após a aplicação do teste Kolmogorov-Smirnov com p 0,05 verificou-se que a amostra não apresentou uma distribuição normal. Dessa forma, optou-se pela utilização do teste não paramétrico Mann-Whitney, com o nível de significância estabelecido em p 0,05 para a comparação entre os dados apresentados pelos treinadores dos grupos: Capital e Interior. 3. Resultados A Tabela 1 apresenta o perfil técnico dos alunos que praticam a modalidade com os profissionais inquiridos. De um modo geral verifica-se que os treinadores paranaenses de tênis trabalham com alunos considerados iniciantes ou de nível técnico intermediário, não havendo diferenças significativas no perfil técnico dos alunos dos treinadores da capital e do interior. Tabela1 Perfil técnico dos alunos relatado pelos treinadores. Número regular de Nenhum aluno Poucos alunos alunos 1 2 3 Amostra Capital total Muitos alunos 4 A maior parte dos alunos 5 Interior p ᵪ σ Md ᵪ σ Md ᵪ σ Iniciação esportiva crianças e jovens 2,7 1,2 2 2,7 1,3 3 2,8 1,1 0,511 Iniciação esportiva adultos 2,8 1,1 3 2,6 1,1 3 3 1,1 0,216 Aperfeiçoamento crianças e jovens 3,2 1,2 3 3,1 1,3 3 3,3 1,2 0,695 Aperfeiçoamento adultos 3,6 1,1 4 3,7 0,9 3 3,5 1,3 0,553 Competição infanto-juvenil 2,9 1,5 3 3,1 1,6 3 2,7 1,4 0,302 Competição adultos 2,5 1,2 3 2,7 1,3 2 2,1 1,1 0,100 Competição sênior 1,6 1 1 1,8 1,1 1 1,4 0,8 0,277 Alta competição juniores 1,2 0,6 1 1,2 0,6 1 1,2 0,5 0,815 Alta competição profissional 1,1 0,3 1 1,1 0,5 1 1,1 0,2 0,619 Tênis escolar 1,8 1,2 1 1,9 1,1 1 1,7 1,2 0,354 Projetos sociais 1,7 1,2 1 1,8 1,3 1 1,7 1 0,831 * ( p 0,05); ** (p 0,01) Verifica-se na Tabela 2 que os treinadores do estado trabalham em média 37,5±13,2 horas por semana, obtendo como remuneração o valor de R$ 3512,00±2308,00. Apesar das diferenças observadas na renda média recebida pelos treinadores da capital e do interior, constata-se no presente estudo que as mesmas não são estatisticamente significativas. Tabela 2 Estatística descritiva e comparação entre os grupos de treinadores relativamente a carga horária de trabalho semanal e a renda mensal expressa em reais (R$). Amostra Capital Interior total p ᵪ σ Md ᵪ σ Md ᵪ σ Carga horária de trabalho 37,5 13,2 40 36,6 11,8 40 39,4 15,5 0,528 Renda mensal (R$) 3512 2308 3000 3674 2410 2500 3247 2169 0,400 * ( p 0,05); ** (p 0,01) As academias e os clubes, respectivamente nessa ordem, continuam sendo os principais locais de trabalho para os profissionais que atuam com o 17

tênis. Apesar do grande aumento no número de condomínios e empresas com quadras particulares observa-se que esses locais ainda apresentam pouca representatividade no mercado de trabalho dos treinadores do Estado. Gráfico 1 Principal local de trabalho dos treinadores paranaenses de tênis. 2%3% Clube 52% 43% Academia Condomínios ou quadras particulares Empresas privadas No Gráfico 2 é possível verificar que o trabalho com registro em carteira assinada e o contrato de locação de quadras, respectivamente com 38% e 27% das frequências de respostas, apresentam-se como as situações de trabalho mais comuns entre os treinadores paranaenses de tênis. O contrato de prestação de serviço também aparece como uma alternativa viável, sendo a condição de trabalho relatada por 21% da amostra. Gráfico 2 Situação de trabalho dos treinadores paranaenses de tênis. 27% 14% 21% 38% Informal Carteira de Trabalho Locatário de quadra Prestador de serviços Quando comparados aos treinadores da capital, os profissionais que trabalham com o tênis no interior do Paraná relataram organizar eventos e comercializar materiais esportivos ligados a modalidade com frequência estatisticamente superior. Para ambos os grupos (capital e interior), o acompanhamento técnico as competições é considerado a principal atividade realizada paralelamente as aulas de tênis. Tabela 3 Frequência com que os treinadores relataram realizar outras atividades profissionais ligadas ao tênis. Nunca realizo 1 Poucas vezes 2 Regularmente 3 Muitas vezes 4 Sempre realizo 5 Amostra Capital Interior total p ᵪ σ Md ᵪ σ Md ᵪ σ Arbitragem 2,1 1,3 2 2,1 1,2 2 2,1 1,4 0,384 Organização de eventos 2,6 1,4 2 2,3 1,3 3 3,2 1,5 0,021 * Preparação física 2,7 1,1 2 2 1 2 2,2 1,3 0,754 Clínicas de Tênis 2,4 1,1 2 2 1 2 2,1 1,2 0,708 18

Acompanhamento técnico 3,2 1,5 3 3 1,5 3 3,4 1,5 0,316 Docência em cursos de capacitação 1,7 1,2 1 1,7 1,1 1 1,9 1,3 0,457 Comercio de materiais esportivos 1,9 1,2 1 1,6 0,9 2 2,4 1,5 0,042 * Aulas de Educação Física 1,5 0,9 1 1,5 1 1 1,4 0,8 0,837 Docência no ensino superior 1,4 0,9 1 1,4 1 1 1,4 0,9 0,843 Outras atividades 1,4 1,2 1 1,5 1,3 1 1,3 1,1 0,622 * ( p 0,05); ** (p 0,01) Quanto às perspectivas de crescimento do mercado, os treinadores do interior apresentaram-se mais otimistas. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas relativas às seguintes opções de trabalho: aperfeiçoamento técnico de crianças e jovens; terceirizações de condomínios e clubes; proprietário de academia de tênis; arbitragem; organização de eventos; clínicas de tênis; docência em cursos de capacitação; docência em tênis no ensino superior; comércio de artigos esportivos. A iniciação esportiva foi considerada por ambos os grupos com o campo com maior probabilidade de crescimento. Apesar do grande número de clubes a academias os treinadores da capital relataram que ser proprietário de academia e terceirizar clubes são as atividades com menor expectativa de crescimento. Por sua vez, os treinadores do interior demonstraram poucas perspectivas de desenvolvimento do mercado de trabalho relativamente ao treinamento de tenistas de alta competição profissional e de competição sênior. Tabela 4 Perspectivas de crescimento do mercado de trabalho segundo os treinadores paranaenses de tênis. Pouquíssima Muitíssima Pouca perspectiva Perspectiva regular Muita perspectiva perspectiva perspectiva 2 3 4 1 5 Amostra Capital Interior total p ᵪ σ Md ᵪ σ Md ᵪ σ Iniciação esportiva crianças e jovens 4 1,1 4 3,8 1,2 4,5 4,3 1 0,105 Iniciação esportiva adultos 3,5 1,2 3 3,4 1,1 4 3,7 1,3 0,329 Aperfeiçoamento crianças e jovens 3,9 0,8 4 3,8 0,8 4 4,2 0,7 0,037 * Aperfeiçoamento adultos 3,7 0,9 4 3,8 0,8 3,5 3,7 1 0,614 Competição infanto-juvenil 3,7 1,2 4 3,6 1,1 4 3,8 1,3 0,498 Competição adultos 3,3 1,2 3 3,4 1,2 3 3,2 1,2 0,341 Competição sênior 2,6 1,2 3 2,7 1,3 2 2,4 1 0,486 Alta competição juniores 2,7 1,4 3 2,8 1,4 2 2,5 1,4 0,321 Alta competição profissional 2,5 1,3 3 2,7 1,3 2 2,2 1,2 0,159 Tênis escolar 3,2 1,3 3 3,2 1,2 3 3,2 1,6 0,925 Terceirizações de condomínios 3,1 1,5 3 2,8 1,3 4,5 3,6 1,7 0,049 * Terceirizações de clubes 2,8 1,5 2 2,4 1,5 4 3,4 1,4 0,022 * Proprietário de academia 2,6 1,3 2 2,3 1,2 3 3,2 1,3 0,011 ** Arbitragem 3 1,3 3 2,5 1,2 4 3,7 1,3 0,001 ** Organização de eventos 3,4 1,4 3 2,9 1,3 4,5 4,3 1 0,000 ** Preparação física específica para o Tênis 3,3 1,4 3 3,1 1,4 3 3,6 1,1 0,170 Clínicas de Tênis 3,6 1,2 3 3,2 1,2 4,5 4,3 1 0,001 ** Projetos através de leis de incentivo ao esporte 3,4 1,3 3 3,3 1,3 4 3,7 1,3 0,253 Docência em cursos de capacitação 3,4 1,2 3 3,1 1,2 4 4 1,1 0,013 ** 19

Docência em Tênis no ensino superior 3 1,4 2 2,7 1,4 4 3,6 1,3 0,015 * Comércio de artigos esportivos 2,9 1,4 3 2,5 1,3 4 3,7 1,3 0,001 ** * ( p 0,05); ** (p 0,01) 4. Análise e discussão dos dados A análise do perfil técnico dos alunos orientados pelos treinadores paranaenses de tênis (Tabela 1) permite afirmar que esses profissionais trabalham principalmente com tenistas iniciantes ou intermediários, atuando na maior parte das vezes nas vertentes do esporte lazer, como meio para a obtenção de níveis satisfatórios de saúde ou de cunho educacional, descritas por Gaya e Torres (2004) e Gaya (2006). Esses resultados encontram-se em concordância com os dados publicados pela ITF sobre o tênis brasileiro, no estudo intitulado de Tennis Beyond 2000 publicado pela entidade em 2007. Segundo ele, o Brasil ainda se encontra como um mercado em desenvolvimento, observando-se uma taxa de penetração da modalidade de apenas 0,8% da população, contrastando com valores de 9,5%, 6,4% e 4,9% para países onde o tênis é consolidado, tais como Austrália, Estados Unidos e França respectivamente (ITF, 2007). Como característica marcante, os mercados em desenvolvimento possuem a maior parte dos seus praticantes com nível técnico iniciante ou intermediário (ITF 2007). Do ponto de vista comercial esse atributo é visto com bons olhos, pois movimenta a venda de materiais esportivos e aumenta a procura por aulas e informações especializadas. Atentando-se para a Tabela 2 é possível verificar que os treinadores paranaenses trabalham, em média, aproximadamente 38 horas por semana, não havendo diferenças estatisticamente significativas entre os treinadores da capital e interior para essa variável. Esses valores encontram-se abaixo das 44 horas de trabalho considerada como uma jornada normal pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Apesar de os treinadores da capital apresentarem renda mensal superior as dos profissionais que trabalham no interior, as diferenças encontradas não foram estatisticamente significativas. De um modo geral, verifica-se que a remuneração recebida pelos profissionais que trabalham com o ensino do tênis no Estado é mais elevada que os valores médios relatados pelos sites Guia do Estudante (2012) e da Secretaria de Emprego e Relação do Trabalho do Estado de São Paulo (2012) para profissionais que atuam com Educação Física e Esporte no país. Essa remuneração associada ao vasto campo de atuação do profissional que trabalha com o tênis poderia ser apresentada pela FPT aos estudantes e às diversas instituições de ensino superior do Estado que possuam os cursos de Educação Física ou Esporte, no intuito de atrair um número maior de pessoas para atuarem com a modalidade e assim fortalecer a demanda de profissionais capacitados no mercado paranaense. De acordo com os dados do presente estudo, os clubes e as academias apresentam-se como os principais locais de trabalho dos treinadores paranaenses (Gráfico1). Se, por um lado, nas grandes cidades o crescimento no número de empreendimentos imobiliários tem alterado a rotina das academias de tênis, por outro, o alto custo para se associar a um bom clube garantem as academias no mercado. 20

A constatação de que 41% dos profissionais inquiridos trabalham como locatários de quadra ou prestador de serviços demonstra uma nova organização na forma de gerenciar a modalidade no Estado (Gráfico 2). Até meados da década de 90, era comum os treinadores de tênis trabalharem com registro em carteira assinada recebendo muitas vezes, além do salário fixo, as remunerações referentes às aulas ministradas. Na tentativa de reduzir os custos inerentes ao registro e de se adequar a nova realidade do mercado nacional, muitas academias e clubes têm optado pelos contratos de locação de quadra ou pela contratação de empresas especializadas, terceirizando assim, a prestação de serviços nesse setor. A firmação do contrato de locação de quadra tem se mostrado uma alternativa viável para essas instituições, pois além de receberem um valor préestabelecido pela locação do espaço, os clubes e academias ainda se eximem dos encargos e de ações trabalhistas. Por outro lado, essa condição de trabalho permite aos treinadores maior autonomia e flexibilidade de horários para desenvolverem suas atividades, o que pode gerar alguns inconvenientes para os estabelecimentos onde a prestação de serviço ocorre, uma vez que nessas condições são os treinadores os responsáveis por estabelecer o regime de trabalho, bem como a sua participação nas atividades internas ocorridas ao longo do ano. Nesse sentido, algumas instituições têm optado pela contratação de empresas especializadas para o gerenciamento das atividades relacionadas à modalidade. Apesar do custo de contratação, essa opção também isenta os estabelecimentos dos encargos e ações trabalhistas garantindo ainda, maior participação no planejamento e na execução do cronograma de atividades ligados ao tênis. Particularmente na capital, verifica-se que os clubes e academias têm priorizado o registro em carteira assinada (43% contra 29% do interior). Embora nessa situação de trabalho possa aumentar os custos fixos com as despesas dos funcionários, o pagamento de valores pré-fixados permite que essas instituições retenham toda a renda extra obtida através do tênis, possibilitando um aumento direto na receita. Apesar do valor relativamente menor da hora aula, os treinadores registrados nessa situação de trabalho possuem outros benefícios como férias remuneradas, 13º salário, entre outros. Os treinadores paranaenses relataram não realizar com grande frequência outras atividades profissionais relacionadas ao tênis. Como observado na Tabela 3, verifica-se que a ocupação paralela desempenhada com maior frequência por esses profissionais é o acompanhamento técnico em torneios. O crescimento vivenciado pelo tênis paranaense nos últimos anos traduzido no aumento contínuo do número de tenistas filiados, de torneios realizados no Estado e do número de inscritos nos mesmo têm contribuído positivamente para que os treinadores possam exercer continuamente esse tipo de atividade nos finais de semana. Só em 2012 foram realizados mais de 100 eventos no Estado superando a casa dos 12.000 atletas inscritos nessas competições. Esses valores colocam o Paraná como a segunda principal federação do país, ficando atrás apenas de São Paulo nesses quesitos. Os treinadores do interior relataram organizar significativamente mais eventos e comercializar com maior frequência artigos esportivos destinados à prática do tênis. Com relação à organização de eventos no interior, os treinadores são os maiores responsáveis pela realização dessa atividade, ao 21

passo que na capital, os grandes clubes e as promotoras de eventos exercem essa função. Por sua vez, a maior atividade comercial dos treinadores do interior pode estar associada à menor oferta de produtos nas cidades de menor porte. Em muitos desses locais, não existem lojas especificas que trabalhem com produtos da modalidade. Dessa forma, os treinadores muitas vezes para além das aulas acabam utilizando o comércio de raquetes, encordoamentos, bolas, entre outros, como uma alternativa para complementar a renda e oportunizar aos seus alunos os acessórios necessários à prática cotidiana do tênis. No que diz repeito a perspectiva de crescimento do mercado de trabalho, os treinadores do interior apresentam-se mais otimistas do que os da capital, acreditando haver significativamente maiores possibilidades de crescimento no sentido de: o aperfeiçoamento de crianças e jovens, terceirização de condomínios e clubes, proprietário de academia, arbitragem, organização de eventos, clínicas de tênis, docências em cursos de capacitação de professores e no ensino superior, e comércio de artigos esportivos (Tabela 4). Considerando que a renda apresentada pelos treinadores da capital e do interior não apresentaram diferenças estatisticamente significativas e que as perspectivas de crescimento no interior apontam para um leque maior de possibilidades, a opção de trabalhar nessas cidades aparece como uma alternativa extremamente interessante para os treinadores paranaenses. A iniciação esportiva para crianças e jovens foi a variável que apresentou o maior valor médio de perspectiva de crescimento. Essa convicção por parte dos treinadores parece estar associada ao novo panorama da iniciação esportiva ao tênis de campo. Com as modificações na metodologia de ensino, jogar tênis ficou mais fácil e divertido (FUENTES; GUSI, 1996; UNIERZYSKI; CRESPO, 2007; MILLEY, 2010). As alterações propostas para o desenvolvimento da aula possibilitam a presença simultânea de um maior número de alunos em uma mesma sessão de treino o que, em tese, poderá reduzir o valor individual pago pela aula e contribuirá para o aumento no número de praticantes (CORTELA et al., 2012). 5. Considerações finais O presente estudo encontrou uma série de informações relevantes para as futuras decisões da FPT. Com relação ao objetivo proposto por esse estudo, conhecer como os treinadores vêem e qual é o mercado de trabalho dos treinadores paranaenses, verifica-se que as academias e os clubes continuam sendo o principal local de trabalho desses indivíduos. Em média os treinadores trabalham 37,5±13,2 horas por semana recebendo uma remuneração superior aos valores médios apresentados pelos profissionais da área de Educação Física de Esporte R$ 3.512,00±2.308,00. O registro em carteira assinada e os contratos de locação de quadra são as situações mais comuns de trabalho. O perfil técnico dos alunos é composto, em sua maioria, por tenistas iniciantes ou intermediários, demonstrando que os treinadores atuam prioritariamente nas vertentes de esporte lazer como meio para a obtenção de níveis satisfatórios de saúde ou de cunho educacional. 22

Paralelamente as aulas, os treinadores declararam realizar com pouca frequência outras atividades relacionadas à modalidade, destacando-se o acompanhamento técnico em torneios como a principal. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na frequência com que os treinadores do interior relataram organizar eventos e comercializar materiais esportivos ligados à modalidade. Na opinião dos profissionais que atuam com tênis no Estado a maior perspectiva de crescimento para o mercado de trabalho é a iniciação esportiva para crianças e jovens. De um modo geral os treinadores do interior mostraram-se mais otimistas quanto às perspectivas de crescimento do mercado, observando-se diferenças significativas relativamente as seguintes opções de trabalho: aperfeiçoamento técnico de crianças e jovens; terceirizações de condomínios e clubes; proprietário de academia de tênis; arbitragem; organização de eventos; clínicas de tênis; docência em cursos de capacitação; docência em tênis no ensino superior; comércio de artigos esportivos. Tendo em vista que não foram encontradas diferenças significativas entre a renda obtida por esses treinadores comparativamente aos da capital, o interior do Estado demonstra ser uma melhor opção para os treinadores que quiserem fazer carreira nessa profissão. Referências ARIAS, A.; FERNÁNDEZ, B. La encuesta como técnica de investigación social. In: A ROJAS, A.; FERNÁNDEZ, J.; PÉREZ, C. (eds.), Investigar mediante encuestas. Fundamentos teóricos y aspectos prácticos. Madrid: Síntesis (Psicologia), pp. 31-49, 1998. COHEN, L.; MANION, L. Métodos de investigación educativa. Madrid: La Muralla (Colecção aula aberta). 1990. CORTELA, C. C et al. Iniciação esportiva ao Tênis de Campo: um retrato do programa Play and Stay à luz da pedagogia do esporte. Conexões, v. 10, n. 2, p. 214-234, 2012. FUENTES, J. P.; GUSI, N. Iniciación jugada a la técnica y a la táctica en el tenis: espacios reducidos y poco material. Cáceres: Copegrafm, 1996. FUENTES, J. P. G.; VILLAR, F. A. El entrenador de tenis de alto rendimento un estudio sobre su formación inicial y permanente. Badajoz: APROSUBA -3, 2004. GAYA, A. Corpos esportivos: O esporte como campo de investigação científica. In TANI, G.; BENTO, J. O.; PETERSEN, R. D. S. Pedagogia do desporto. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2006. p. 101-112. GAYA, A.; TORRES, L. O esporte na infância e adolescência: alguns pontos polêmicos. In GAYA, A.; MARQUES, A.; TANI, G. Desporto para crianças e jovens, razões e finalidades. Porto Alegre. UFRGS, 2004. p. 57-74. 23

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