Características socioeconômicas e estado nutricional de gestantes atendidas na Unidade Básica de Saúde da 108 sul. Lorenna Martins da Silva 1 ; José Gerley Díaz Castro 2 ; Renata Junqueira Pereira 2 1 Aluna do Curso de Nutrição; Campus de Palmas; e-mail: lora_martins92@hotmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador do Curso de Nutrição; Campus de Palmas; e-mail: diazcastro@mail.uft.edu.br 2 Orientador do Curso de Nutrição; Campus de Palmas; e-mail: renatajunqueita@mail.uft.edu.br RESUMO A qualidade da dieta, o estado nutricional antropométrico da mulher, antes e durante a gravidez, precárias condições socioeconômicas e dificuldade de acesso a serviços de saúde de qualidade podem ser indicativos do comprometimento da saúde do binômio mãe-filho. O presente trabalho tem por objetivo verificar as condições socioeconômicas e o estado nutricional das gestantes atendidas em uma Unidade Básica de Saúde da região central do município de Palmas - Tocantins, visando analisar a relação com os desfechos gestacionais. A coleta dos dados se fez com 22 gestantes, mediante de visitas à Unidade de Saúde e aplicação de um questionário socioeconômico. O estado nutricional pré-gestacional foi avaliado conforme as faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) para mulheres adultas, sendo o estado nutricional materno avaliado conforme a metodologia preconizada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SISVAN. Não houve associação significativa entre o estado nutricional pré-gestacional e o estado atual das mesmas (χ 2 = 3,31; p = 0,34), sendo o ganho ponderal das participantes até o momento da gestação em média 13,17±6,27kg. As características socioeconômicas associadas ao atual estado nutricional das entrevistadas, não apresentaram associação considerável. Observou-se que a presença do profissional nutricionista foi fator relevante para a menor incidência das variáveis sobrepeso e obesidade devido à assistência nutricional durante o pré-natal. Palavras-chave: gestação; estado nutricional; determinantes socioeconômicos. INTRODUÇÃO A alimentação, reconhecidamente, tem grande importância para a saúde dos indivíduos, principalmente nas etapas da vida caracterizadas pelo aumento da demanda energética e de nutrientes, como ocorre na gestação e no puerpério (WERUTSKY et al., 2008). Aliada à nutrição, ambas constituem requisitos básicos para a promoção da saúde, pois possibilitam a afirmação plena do potencial de crescimento e desenvolvimento humano. O estado nutricional, caracterizado pelo equilíbrio entre o consumo de nutrientes e o gasto energético do organismo para suprir as necessidades metabólicas, assim como o adequado ganho de peso materno, são fatores importantes para o desfecho gestacional, além de prever a manutenção da saúde, a longo prazo, da mãe e da criança (NOMURA et al., 2012). A qualidade da dieta e o estado nutricional antropométrico da mulher, antes e durante a gravidez, estão relacionados ao crescimento e o desenvolvimento fetal, assim como a
evolução da gestação (FAZIO et al., 2011). As deficiências de micronutrientes em cada fase da gestação podem causar danos associados ao estágio de desenvolvimento do feto, sendo que no primeiro trimestre as carências podem levar ao aborto espontâneo, no segundo e terceiro trimestres podem comprometer o crescimento fetal e neurológico (LOWE et al., 2011). Precárias condições socioeconômicas, baixo grau de informação e escolaridade, violência familiar e dificuldade de acesso a serviços de saúde de qualidade são indicativos de elevadas taxas de mortalidade materna (PARADA, 2008). Assim, o potencial de crescimento normal do feto depende de variáveis biológicas, patológicas e socioeconômicas. Logo, os cuidados com a alimentação, uso da suplementação vitamínico-mineral, saúde materna, além de outros fatores importantes para o bem-estar do binômio mãe-filho, devem ser trabalhados durante o pré-natal, por uma equipe multiprofissional, afim de garantir que as mães sejam bem orientadas e assistidas, proporcionando uma gestação tranquila e segura (BARBOSA et al, 2011). Diante disto, o presente trabalho tem por objetivo verificar as condições socioeconômicas e o estado nutricional das gestantes atendidas em uma Unidade Básica de Saúde da região central do município de Palmas - Tocantins, visando analisar a relação com os desfechos gestacionais. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa descritiva (LIMA e BARRETO, 2003), a qual foi submetida ao comitê de Ética da Universidade Federal do Tocantins, contendo a apresentação do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os sujeitos do presente estudo foram 22 gestantes, sendo a coleta dos dados feita através da aplicação de um questionário o qual compreendia questões sobre as condições socioeconômicas, hábitos de vida, patologias associadas, sinais e sitomas e consumo alimentar. Foram realizadas visitas à Unidade de Saúde nos dias das consultas de pré-natal, sendo as participantes escolhidas ao acaso e por ordem de chegada. O estado nutricional materno foi avaliado conforme a metodologia proposta por Atalah et al. (1997) e preconizada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional SISVAN (Fagundes et al., 2004). O estado nutricional pré-gestacional foi avaliado conforme as faixas de Índice de Massa Corporal (IMC) para mulheres adultas (OMS, 1995). Procedeu-se uma análise descritiva (VIEIRA, 1980) dos dados coletados, com o uso de medidas de tendência central e de variabilidade, bem como gráfico e tabela para melhor resumir e apresentar as informações. Foi utilizado o teste de χ 2 (ZAR, 1996) para verificar a
associação estatística entre o Estado Nutricional antes e depois da gestação. O nível de significância adotado para este estudo foi de 5%. As análises foram feitas com o auxílio do programa estatístico de distribuição livre Epi Info, versão 3.5.1. RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo, de um total de 22 gestantes entrevistadas, verificou-se que 10 delas tinham idade entre 18 e 29 anos, 9 possuíam de 30 a 35 anos e 3 delas apresentavam idade maior que 35 anos. Quando investigadas sobre a ocorrência de gestações anteriores, um total de 12 gestantes declarou já possuir outros filhos, com uma amplitude de 0 a 3, ao passo que as outras 10 mulheres estão na primeira gravidez. Observa-se um número significativo de gestantes com idade superior aos 30 anos, fato o qual pode ser relacionado ao modelo de vida da sociedade atual em conexão com os processos sociais e à globalização econômica que contribuem para acelerar a difusão de novos padrões de comportamento e consumo (SCAVONE, 2001). A respeito dos aspectos sociais, foi revelado que a maior parte das entrevistadas reside com marido e filhos. Em relação ao apoio familiar no período da gestação, 77% tiveram pleno apoio até o momento da gestação, sendo que 23% declaram apoio razoável dos demais membros familiares. Segundo Pacheco et al. (2009) a transição para a parentalidade envolve medidas específicas no que diz respeito aos relacionamentos significativos da mulher gestante, principalmente com o companheiro e com a família. Quanto à situação conjugal, 64% declararam ser casada. Konradt (2011) afirma a importância do envolvimento do companheiro, da família e dos amigos para propiciar a percepção de suporte social à gestante, que se torna um possível protetor para depressão pósparto. Em relação às condições de moradia, a maior parte das gestantes possui móvel alugado (Tabela 1), sendo que todas as 22 participantes relataram possuir serviço de água encanada, luz e coleta de lixo, ao passo que quanto à rede de esgoto apenas 1 delas afirmou não possuir tal serviço onde reside. Para Vettore et al (2010), mulheres as quais vivem em condições inadequadas de moradia têm grandes chances de ter um filho com baixo peso ao nascer se comparadas às mulheres que vivem em condições de moradia adequadas. Em se tratando do grau de escolaridade das referidas gestantes, 59% estudaram de 11 a 14 anos (Tabela1). Quando perguntado se as participantes exerciam atividade profissional durante o período gravídico, 73% afirmaram trabalhar até o momento da gestação. Sobre os ingressos financeiros, 32% relataram ter renda mensal de 3 a 5 salários mínimos (Tabela 1), de modo que em relação a satisfação com os recursos a maioria declarou estar satisfeita. Para Silveira et al (2010) o baixo nível socioeconômico está intimamente relacionado com o perfil
Frequencia absoluta de risco tanto para as mães quanto para as crianças. Em concordância, Griz et al (2010) confirma que o nível de escolaridade, a ocupação, a renda pessoal e familiar, e os bens familiares são fatores socioeconômicos que influenciam na saúde das mães. Tabela 1. Características socioeconômicas das gestantes atendidas na Unidade Básica de Saúde da 108 sul em Palmas, TO. n =22 % Estado civil Casada 14 64 União estável 6 27 Solteira 2 9 Moradia Alugada 15 68 Própria 6 27 Cedida 1 5 Escolaridade Ensino Fundamental 1 5 Ensino médio 13 59 Ensino Superior 8 36 Renda Familiar 1/2 a 2 SM* 3 14 2 a 3 SM 6 27 3 a 5 SM 7 32 5 a 10 SM 4 18 10 a 20 SM 2 9 *SM = salários mínimos Investigadas sobre a saúde materna e os principais sintomas presentes na gravidez, a maior parte afirmou apresentar edema, isto é retenção de líquido nos membros superiores e inferiores, como também anemia e infecção urinária. Quanto aos sintomas foram mencionados com maior freqüência azia, náusea, vômito e constipação. Tais intercorrências são comuns durante o período gravídico, de modo que a alimentação e um modelo de vida saudável influenciam para o prognóstico positivo. Quanto ao estado nutricional das participantes (Figura 1) não houve associação significativa entre o estado nutricional pré-gestacional e o estado atual das mesmas (χ 2 = 3,31; p = 0,34). O ganho ponderal das participantes até o momento da gestação teve como mínimo 4kg e máximo 26 kg, sendo em média 13,17±6,27kg. 16 14 12 10 8 6 4 2 0 15 9 7 4 4 2 2 1 Baixo Peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade Estado Nutricional IMC-PréG IMC-Atual
Figura 1. Classificação do estado nutricional através do Índice de massa corporal prégestacional e atual das gestantes da Unidade Básica de Saúde da 108 sul, Palmas-TO. Em estudo equivalente da mesma autora, realizado com 30 gestantes na região periférica do município de Palmas, observou-se que para o IMC pré-gestacional 69% das participantes estavam com peso adequado, 24% sobrepeso e 7% apresentaram-se como obesas. Quando analisado o IMC atual, constatou-se que 63% tiveram ganho de peso adequado, 17% estavam com sobrepeso e 17% com obesidade, revelando que houve diferença estatisticamente significativa entre o índice de massa corporal pré e pós gestação. Na atual pesquisa, na região central, verificou-se que das 22 gestantes, 16 delas permaneciam trabalhando durante a gestação, o que sugere a menor mudança no perfil do estado nutricional quando comparado à região periférica. Observou-se maior conhecimento sobre os hábitos de vida saudáveis, sendo que 100% da amostra declarou não fumar e nem fazer uso de bebida alcoólica. Silva et al (2011) cita que além do abuso de álcool na gravidez, outros fatores podem estar relacionados ao baixo peso ao nascer, como a idade materna, a não realização de consultas pré-natal, a condição socioeconômica baixa e o fumo durante a gestação LITERATURA CITADA ATALAH, E. S. et al. Propuesta de un nuevo estándar de evaluación nutricional em embarazadas. Revista Medica de Chile, v. 125, n. 12, p. 1429-1436, 1997. BARBOSA, L. et al. Fatores associados ao uso de suplemento de ácido fólico durante a gestação. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 33, n. 9, pp. 246-51, 2011. FAGUNDES, A. A. et al. Vigilância alimentar e nutricional - SISVAN: orientações básicas para a coleta, processamento, análise de dados e informação em serviços de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde, p. 120, 2004. FAZIO, E. S. et al. Consumo dietético de gestantes e ganho ponderal materno após aconselhamento nutricional. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 33, n. 2, pp. 87-92, 2011. GRIZ, S. M. S. et al. Aspectos demográficos e socioeconômicos de mães atendidas em um programa de triagem auditiva neonatal. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v. 15, n. 2, p. 179-183, 2010. KONRADT, C. E. et al. Depressão pós-parto e percepção de suporte social durante a gestação. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 33, n. 2, p. 76-79, 2011. LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiologia. Serv. Saúde, v.12, n.4, p. 189-201, 2003.
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