Revista Eletrônica Nutritime, Artigo 140 v. 8, n 04 p Julho/Agosto 2011

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Transcrição:

Revista Eletrônica Nutritime, Artigo 140 v. 8, n 04 p.1540-1545 Julho/Agosto 2011 1529

Artigo Número 140 Juliano Pelição Molino 2 ; Rita da Trindade Ribeiro Nobre Soares 1 ¹ DSc., Professora Associada da Universidade estadual Norte Fluminense 2 Doutorando em Ciência Animal, UENF julianomolino@yahoo.com.br 1530

INTRODUÇÃO A castração cirúrgica de suínos é uma técnica utilizada e obrigatória no Brasil, consistindo na retirada completa dos testículos dos animais em qualquer idade que este se encontre. É empregada corriqueiramente em leitões, normalmente realizada até os dez dias de idade, e eventualmente em suínos adultos, quando implica em uma intervenção mais traumática. A recomendação técnica é de que a castração cirúrgica seja realizada em animais jovens, pois nessa idade há à algumas vantagens em relação castração tardia: Os leitões (menores) estão confinados e são mais acessíveis; Pouca mão de obra: uma pessoa para conter o leitão e outra para realiz ar a castração; Facilidade da operação; Ocorrência de hemorragia é rara; Cicatrização rápida; Baixo risco de complicação na operação; Menor chance de ocorrer infecção e, sobretudo, perdas totais por morte; O estresse para o leitão é menor; Em caso de insucesso, a perda econômica é menor (em comparação com o animal adulto) O motivo pelo qual se procede à cirurgia para retirada dos testículos dos animais é a ocorrência do odor característico da carne de animais machos adultos, que a torna inaceitável para consumo humano, exceto quando empregada em baixa proporção na fabricação de embutidos. No entanto, nas últimas décadas, têm surgido em vários países, alguns movimentos de combate ao emprego de práticas que resultem em maus tratos realizados contra os animais. São organizações como a WSPA (World Society for the Protection of Animals) e a UIPA (União Internacional Protetora dos Animais). Entre as práticas empregadas na produção de suínos, no que diz respeito ao bem-estar animal, algumas ainda necessitam de mais atenção, como por exemplo, as instalações inadequadas juntamente com as altas densidades de estocagem de animais, a utilização de gaiolas de gestação/lactação, ao manejo de transporte e abate, à antecipação da idade de desmame e, entre estes, a castração cirúrgica. Neste contexto, da necessidade de suprimir o estresse originado na castração com cirurgia surge a demanda pelo desenvolvimento de novas técnicas que resultem na eliminação por completo do inconveniente odor característico de animais chamados machos inteiros. AS CAUSAS DO ODOR DA CARNE DE ANIMAIS MACHOS Dois compostos endógenos são considerados os responsáveis por proporcionar o odor na carne de suínos machos: a androstenona um hormônio sexual; e o escatol, um produto do metabolismo do aminoácido triptofano. O amadurecimento sexual de mamíferos machos, de modo geral, vem acompanhado de uma elevação nos níveis de testosterona, produzida nos testículos (Davidson et al. 1999). O eixo hipotálamo-hipófise produz os hormônios responsáveis pelo desenvolvimento das gônadas. O aumento do nível de testosterona, por sua vez, exerce diversas funções nos animais machos, como o engrossamento da voz, crescimento ósseo e de pelos, estimulo do anabolismo protéico, espermatogênese, expressão da libido e comportamento sexual, bem como a inibição da atividade hipotalâmica por feedback negativo. A androstenona é também produzida nos testículos para 1540

a produção de testosterona e seu nível fase de terminação, Pauly et al. 2008 no organismo podem ser avaliaram o efeito a inclusão de amido influenciados, por fatores genéticos, de batata crua nas rações sobre a pela idade e/ou pelo peso dos animais produção de escatol, e confirmaram a (Bonneau, 2006). hipótese de que o controle da De acordo com Xue e Dial, fermentação microbiana intestinal (1997), a androstenona produzida nos pode reduzir os teores de escatol no testículos dos suínos é depositada no organismo. Entretanto, os autores tecido adiposo, mas circula na relataram que o teor de androstenona corrente sanguínea e chega às não é diretamente afetado pela dieta, glândulas salivares, onde é excretada como feromônio sexual, assim como sua excreção via urina. sendo influenciado por outros fatores. Outros trabalhos estão apresentados na Tabela 1, segundo Lundström & O outro composto responsável Zamaratskaia (2006). pelo odor da carne de suínos machos, Outras técnicas recentes como a o escatol, é um produto do utilização de uma solução com metabolismo do triptofano no papaína associada a ácido lático, intestino, pela ação microbiana. De denominada castração biológica tem acordo com Xue & Dial, (1997), o sido estudada em diversas espécies escatol está presente em 13% nas (Vivácqua, 2011). Entretanto, para fezes dos suínos, sendo que os 87% consolidação na produção de suínos, restantes atravessam a parede mais estudos científicos são intestinal para serem metabolizados no fígado. O escatol é rapidamente degradado no sangue (60min), mas necessários. Entre as técnicas utilizadas em substituição à castração cirúrgica, a possui uma meia vida relativamente imunocastração tem proporcionado longa no músculo, podendo chegar a resultados interessantes, pois, além até 11 horas, o que determina sua de prevenir a produção de atuação na depreciação da qualidade androstenona e escatol, existe a da carne na ocasião do abate. possibilidade de aproveitamento dos Lundström & Zamaratskaia (2006) hormônios sexuais, que são relatam ainda a ocorrência de efeito naturalmente anabólicos. sinérgico entre os dois compostos responsáveis pelo odor da carne machos inteiros, como consta na IMUNOCASTRAÇÃO Figura 1. Além disso, os mesmos A imunocastração ou vacina anti- via autores revelam que entre os fatores GnRH consiste na aplicação que regulam a atividade de intramuscular de um análogo do androstenona e escatol em suínos hormônio liberador de gonadotropina machos intactos, alguns podem atuar (GnRH). Este análogo é reconhecido concomitantemente sobre a produção pelo organismo que passa então a dos dois compostos, como os combatê-lo, como a um antígeno. Isto ingredientes que compõem a dieta ou ocorre porque o composto análogo ao o status hormonal do animal, GnRH não possui a porção terminal do enquanto outros fatores tais como o hormônio original, não havendo então, fotoperíodo e o ambiente atuam sobre receptores para completar a ligação apenas um dos compostos. com a hipófise e bloqueando a Alguns estudos têm buscado produção de testosterona pelo amenizar o efeito destes compostos. indivíduo. Na Nova Zelândia e Austrália, optouse pelo abate de suínos machos antes A aplicação da vacina é realizada em duas dosagens, sendo que a da completa maturidade sexual, em primeira pode ser aplicada em torno dos 90 dias de idade (Dunshea qualquer momento após oito semanas et al. 2001), o que pode comprometer de idade. Após um intervalo de quatro em perdas econômicas. Em trabalho semanas, procede-se a segunda voltado para a nutrição dos suínos na 1541

aplicação, podendo o abate ser realizado em até cinco semanas após a segunda aplicação. A observação visual dos animais permite a constatação de uma nítida atrofia no tamanho dos testículos, que se aderem na porção superior da cavidade testicular. Em teste sensorial, a vacina anti-gnrh se mostrou eficaz na redução tanto do teor de escatol quanto do teor de androstenona, permanecendo os níveis dos dois compostos abaixo do limiar sensorial para odor da carne. Uma das possíveis vantagens da imunocastração em relação às outras técnicas para eliminação do odor d a carne de animais machos é a possibilidade de aproveitamento dos efeitos anabólicos dos hormônios sexuais durante o período de crescimento dos animais, já que a castração cirúrgica utilizada convencionalmente é realizada nos leitões na fase anterior à puberdade, ocasião em que é interrompida a produção de testosterona pela retirada das gônadas. São inúmeros os trabalhos que mostraram a superioridade de animais machos intactos comparados aos castrados cirurgicamente com relação ao desempenho. A Tabela 2 consta em estudo de Fávero et al. (2000) e apresenta o percentual de ganho em desempenho de inteiros e m comparação aos castrados. Consolidando os relatos de Fávero et al. (2000), em ampla revisão sobre o tema, Xue et al. (1997) compararam pesquisas de 1965 até 1995, com suínos machos inteiros e castrados abatidos dos 80 aos 140 kg de peso vivo e concluíram pela consistente melhora da conversão alimentar e redução da espessura de toucinho dos animais em função da não castração. A melhora global do desempenho dos suínos inteiros tem sido atribuída ao efeito anabólico dos hormônios sexuais sobre a partição dos nutrientes da dieta e sobre a deposição muscular. As Tabelas Brasileiras... (Rostagno et al. 2005) de exigências nutricionais trazem dados apenas referentes a machos castrados e fêmeas. No entanto, suspeita-se que machos inteiros submetidos à imunocastração semanas antes do abate possam ter seu desempenho subestimado quando alimentados com rações para machos castrados, embora mais trabalhos científicos sejam necessários para comprovação desta hipótese. CONSIDERAÇÕES FINAIS Qualquer técnica ou tecnologia que se proponha para evitarmos agressões e/ou maus tratos em animais será bem recebida pelo setor produtivo e pela sociedade. Entretanto, em tempo, é preciso que seja cientificamente verificada sua eficácia. Ainda assim, a imunocastração pode vir a ser uma ferramenta importante no manejo da produção de suínos, dado o interesse mundial pela extirpação de qualquer estresse que possa acometer os animais e a necessidade de eliminação do odor característico da carne de mamíferos machos adultos. 1542

Figura 1 - Regulação da produção de androstenona e escatol em suínos, Lundström & Zamaratskaia (2006). Tabel a 1 Vantagens e desvantagens de algumas técnicas para atenuação do odor da carne de suínos machos. Técnica Vantagem Desvantagem Autor Motensen & Mensuração de Sorensen, 1984; escatol e Simples e Pouco eficiente Squires, 1990; androstenona na rápido Annor-Frempong et linha do abate al. 1998. Reduz odor e Variação nas Bonneau et al, 1994; Imunocastração comportamento respostas em Dunshea et al. 2001. agressivo estudos diferentes Bonneau et al. 1987; Reduz o risco Perdas econômicas; Redução do peso Aldal et al. 2005; de odor na não totalmente de abate Zamaratskaia et al. carne eficiente 2005 Não interfere na Jensen et al. 1995; Dietas ricas em Reduz o teor de produção de Rideout et al. 2004; carboidratos escatol androstenona Zamaratskaia, 2005 Efeitos deletérios Willeck e Pirchner, Reduz teor de Seleção genética sobre o desempenho 1989; androntenona e precocidade sexual Sellier et al. 2000. Fonte: Adaptado de Lundström & Zamaratskaia, 2006. 1543

Tabela 2 Superioridade do desempenho de suínos inteiros em relação aos castrados. Lange & Squires (1995) Faucitano (1996) Xue et al. (1997) CRD (%) - 12 - - GPD (%) 0 + 3,9 + 0,7 CA (%) - 12-4,6-8,1 ET (%) - - 14,9-18 2 CM (%) + 6,5 + 4,6 + 12,1 CRD = Consumo de ração diário, GPD = Ganho de peso diário, CA = Conversão alimentar; ET = Espessura de toucinho; CM = Rendimento de carne magra. Fonte: Fávero et al. (2000). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONNEAU, M. Factors affecting the level of androstenon. Acta Veterinaria Scandinavica, 48(Suppl 1): S7, 2006. DAVIDSON, A.P.; STABENFELDT, G.H.; BRINSKO, S.P. Reprodução e Lactação. In: CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária, 2ª edição, Editora Guanabara/Koogan, p.527, 1999. DUNSHEA, F.R.; COLANTONI, C.; HOWARD, K.; MCCAULEY, I.; JACKSON, P.; LONG, K.A.; LOPATICKI, S.; NUGENT, E.A.; SIMONS, J.; WALKER A.J.; HENNESSY, D.P. Vaccination of boars with a GnRH vaccine (Improvac) eliminates boar taint andincreases growth performance. J Anim Sci, 79:2524-2535, 2001. FAVERO, J. A. Abate de suínos machos inteiros visão Brasileira. 1a Conferência Internacional Virtual sobre Qualidade de Carne Suína, 16 de novembro a 16 de dezembro de 2000 Concórdia, SC, 2000. http://www.improvac.com/sites/improvac/en-nz/pages/references.a spx http://www.uipa.org.br/portal/ 1544

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