COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Textos para Leitura e Exploração Jogos 3º ano - Ensino Médio 1º Bimestre / 2016. Página 1
ÍNDICE Jogos Culturais... 3 Lúdico e o Jogo... 3 Lazer como prática lúdica: conceitos e reflexões... 5 Jogos Cooperativos... 9 Bibliografia... 10 Página 2
Jogos Culturais O Jogo é toda e qualquer competição em que as regras são feitas ou criadas num ambiente restrito ou até mesmo de imediato, em contrapartida ao desporto (esporte no Brasil), em que as regras são universais. Geralmente, os jogos têm poucas regras e estas são simples. Pode envolver um jogador sozinho ou dois ou mais jogando cooperativamente. A maioria dos jogos são disputados como uma forma de lazer, sem que os participantes enfoquem na competição a vitória como ponto essencial. O filósofo Huizinga, em 1938, escreveu seu livro Homo Ludens, no qual argumenta que o jogo é uma categoria absolutamente primária da vida, tão essencial quando o raciocínio (Homo sapiens) e a fabricação de objetos (Homo faber), então a denominação Homo ludens, quer dizer que o elemento lúdico está na base do surgimento e desenvolvimento da civilização. Huizinga define jogo como: uma atividade voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida cotidiana. Lúdico e Jogo O principal cuidado, assim, é de não reduzir o lúdico ao jogo, porém, focá-lo a partir do jogo, já que é extensa a gama de possibilidades de sua manifestação. Nesta constelação de pesquisas e análises, um dos mais significativos estudos sobre o tema foi realizado pelo sociólogo francês Roger Caillois. Contrapondo Huizinga (2001) que defende que o jogo se aproxima do sagrado porque ocorre em tempos e locais apropriados para os seus rituais, que se assemelham em muito aos cultos sagrados, Caillois (1990) demonstra que há mais características profanas do que sagradas no jogo. Página 3
O autor argumenta que o sagrado demanda sacrifício e temor. Assim como o jogo, acontece em tempos e espaços distintos da vida cotidiana, entendida como real. Ao abandonar esta dimensão transcendente, sagrada, o homem retorna à vida comum. Desta forma, aliviado das tensões e preocupações do sagrado, a vida profana se imbui, principalmente, por um espírito de alívio e liberdade. Então, o lúdico enquanto atividade livre por excelência, é o profano puro; ele não tem conteúdo, não arrasta para outros planos efeito algum que não tivesse sido fácil evitar (p.159). Em outro trabalho, Caillois (1990) aprofunda seus estudos e apresenta uma teoria do jogo, combinando atributos, elementos subjetivos de seus praticantes e diversas características. Por exemplo, inclui a modalidade jogos de azar, com as devidas ressalvas, categoria banida pelo modelo de Huizinga, quando se baseou no desinteresse material. O autor formulou uma classificação em quatro categorias principais do jogo de acordo com suas características: agon (competição), alea (sorte), ilinx (vertigem), mimicry (simulação), oscilando entre dois extremos paidia (diversão) e ludus (jogo regrado). Para o Caillois (1990), jogo é atividade livre (diversão não obrigatória), delimitada (com limites de espaço e tempo estabelecidos), incerta (sem previsão de resultados), improdutiva (não gera bens), regulamentada (sujeita às regras), fictícia (acompanhada de irrealidade perante a vida). Apesar de Caillois afirmar que Huizinga se preocupa com as estruturas externas do jogo, enquanto elemento lúdico, ele mesmo oferece, contudo, importante contribuição na ordem de classificação do jogo, o que parece ainda uma ação de categorizar a partir de atributos e características mais exteriores. Esta escala de categorias permite a compreensão da lógica do jogo, favorecendo na formulação e planejamento de atividades e programas. Por exemplo, a vertigem tem sido buscada como elemento fundamental em diversas formas de jogos, dos radicais aos eletrônicos. Página 4
Lazer como prática lúdica: conceitos e reflexões À primeira vista, a preocupação com o lazer passa pela antítese do trabalho. Lazer tem íntima ligação com o tempo que sobra depois das obrigações realizadas, o que Marcellino (1983) caracteriza como tempo disponível. O lazer acontece, então, no tempo das não obrigações, que nas reflexões a respeito do tema eram inicialmente alavancadas sob a epígrafe do tempo livre. Na língua alemã isto se caracteriza muito bem a partir da etimologia da palavra: Freizeit. Este substantivo é formado por duas palavras justapostas: frei= livre e Zeit = tempo. Da mesma forma, o lazer é entendido na língua espanhola como tiempo libre. Portanto, a idéia não passa pelo reducionismo conceitual do tempo livre. O lazer aqui é entendido sob a trilogia tempo, atitude e atividade. Nesta perspectiva, os valores em questão, vão do objetivo ao subjetivo, do quantitativo ao qualitativo, do concreto ao abstrato. Muitos estudiosos têm se orientado para o aspecto atitude, levando em consideração a subjetividade do indivíduo na escolha e prática de seu lazer. Página 5
Um dos primeiros e mais importantes conceitos de lazer vem do francês Joffre Dumazedier (1974, p. 21) que determina que Lazer é o Conjunto de ocupações às quais o indivíduo se pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se ou entreter-se ou ainda desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária, ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. Esta concepção traz algumas relevantes observações sobre o assunto. O autor destaca além da noção do tempo livre, ele estabelece que o lazer depende da livre escolha do praticante. Esta visão propõe ainda que o lazer tem três principais funções, as quais são conhecidas como os 3 Ds, numa alusão à primeira letra das palavras: diversão, descanso e desenvolvimento. A primeira tem relação forte com a ludicidade e o prazer. A segunda lembra que o lazer auxilia no repouso e reposição de energia físicas e mentais necessárias paras as demais atividades da vida. E a última função salienta o aspecto formativo, mesmo que desinteressado do lazer, predispondo- o como um excelente ferramenta pedagógica uma vez que contribui na formação intelectual, profissional, afetiva, dentre outras. Vale, também, a contribuição de Marcellino (1983, p. 31) entendendo lazer como a cultura vivenciada compreendida em seu sentido mais amplo vivenciada (praticada ou fruída no tempo disponível. A presença das palavras liberdade, prazer, motivação, fruição corroboram com a concepção de que estas vivências dizem respeito a uma ação individual, a partir de valores e crenças pessoais, gravitando em torno de uma atitude. Neste tocante, cabe a lembrança de que à despeito de ser eminentemente subjetivo, o individual recebe influência do coletivo, a qual se dá por meio da convivência em sociedade, sendo importante ter sempre em mente, a íntima relação entre a atitude individual e atitude coletiva. É exatamente a atitude diante do lazer que promove a interface com o lúdico. Desta forma, vale lembrar Bramante (1998) quando chama o lazer de Página 6
fenômeno pessoal, destacando o prazer e a criatividade como atributos básicos. Ainda sobre o tema, o autor considera mais pertinente a utilização da idéia de experiência ao invés de atividade de lazer, já que experiência inspira mais qualidade da ação realizada, enquanto que atividade pode sugerir um cardápio de ações, algo mais quantitativo. Para melhor compreensão do sentido de lazer que foi assumido neste estudo, vale tomar emprestado do conceito de Bramante (1998, p. 9): O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma experiência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no tempo/espaço, cujo eixo principal é a ludicidade. Ela é enriquecida pelo seu potencial socializador e determinada, predominantemente, por uma grande motivação intrínseca e realizada dentro de um contexto marcado pela percepção de liberdade. É feita por amor, pode transcender a existência, e muitas vezes, chega a aproximar-se de um ato de fé. Sua vivência está relacionada a oportunidades de acesso aos bens culturais, os quais são determinados, via de regra, por fatores sócio-político-econômico e influenciados por fatores ambientais. O autor enfatiza a força simbólica do elemento lúdico, estabelecendo relações espirituais e, portanto, sagradas ao comparar esta vivência individual de lazer a um ato de fé. Por todas estas evidências acima mencionadas, na dimensão do senso comum é incompreensível dissociar a lazer de lúdico, como se fossem sinônimos. Entretanto, na esfera do estudo científico, isto seria um erro, e para se evitar confusões desta natureza, trabalhos e mais trabalhos sustentam classificações, categorizações e criações de vasta terminologia que permita dar conta destas diferenças. Lazer, então, deve ser entendido como um campo de estudo, que nos olhares de Dumazedier (1974) e Camargo (1986) que identificaram seus Página 7
interesses culturais, justificados a partir de uma diversidade cultural inerente da experiência de lazer. Na medida em que as pessoas são diferentes elas tem práticas e interesses de lazer igualmente distintos. Assim, o auto propõe a clássica categorização que subdivide os interesses do lazer, também chamados por Marcelino de conteúdos do lazer. São eles: sociais (encontros sociais festivos), físicos (atividades corporais e esportivas), artísticos (atividades envolvendo as artes), práticos (atividades manuais), intelectuais, enriquecida pelo segundo autor, com a inclusão do interesse turístico. É muito importante ressaltar, que estas subdivisões existem com a intenção de se compreender melhor o tema. Porém, na realidade, não é possível sustentar rigidamente tais categorias. Em verdade, os interesses se fundem em diversas situações, pois seria imprudente e improvável defender que assistir a uma leitura dramática de uma peça teatral não seja uma atividade intelectual, ou, que fazer uma casinha de madeira para o cão não tenha uma forte influência artística, aliada à uma habilidade manual de bricolagem. Quando, então, o lazer não tem efetiva relação com o lúdico? Parece mais uma pergunta simples para qual proporei mais uma reflexão singela. Sobra pouco espaço para a vivência lúdica no momento em que se decide empregar o tempo disponível (o tempo das não obrigações) em atividades, que por ventura, se tem que fazer. Partindo do pressuposto que a motivação original não seja necessariamente prazerosa, bom exemplo, são os cuidados com a saúde corporal, quando as pessoas são obrigadas a fazer ginástica (caminhadas, musculação...), com a mesma necessidade que têm de ir ao médico ou fazer regimes alimentares. Outra situação, pode-se identificar quando pessoas se matriculam em cursos de línguas, por que têm que dominar um outro idioma como instrumento e o pior, é se detestam a tal língua escolhida. Outros exemplos típicos são aquelas festinhas do trabalho ou os jogos de tênis com o Página 8
chefe, eventos nos quais se comparece para marcar presença ou não seria aconselhável se esquivar. Comparando os diferentes casos acima, passa ser possível, mesmo no senso comum fazer a distinção entre o lúdico e o lazer. Ao mesmo tempo, torna-se, ainda, mais fortalecida a tese de que a atitude diante das experiências de lazer é que parece garantir a possibilidade de expressão pessoal pela vivência do lúdico. Jogos Cooperativos Na teoria dos jogos, um jogo cooperativo é um jogo onde um grupo de jogadores (as coalizões), é instruído a demonstrar comportamento cooperativo, transformando o jogo em uma competição entre grupos ao invés de uma competição entre indivíduos. Um exemplo desse tipo de jogo é o jogo de coordenação, onde os jogadores precisam entrar em um consenso sobre o processo de decisão. Página 9
Bibliografia: Brotto, Fábio Otuzi. Jogos Cooperativos: o Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência. Ed. Projeto Cooperação, 2001. Homo Ludens : o jogo como elemento da cultura / Johan Huizinga ; Perspectiva, 2012. 7. Ed. (Estudos / dirigida por J. Guinsburg) Página 10