ATIVIDADES DE PESQUISA: A RELAÇÃO ENTRE SAGRADO E LINGUAGEM EM M. HEIDEGGER

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Transcrição:

ATIVIDADES DE PESQUISA: A RELAÇÃO ENTRE SAGRADO E LINGUAGEM EM M. HEIDEGGER Glória Maria Ferreira Ribeiro Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Tutora Cláudia Mariza Braga Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Co Tutora Caroline Martins de Sousa Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Fernanda Belo Gontijo Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Fernanda Sacramento Santos Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Guilherme Pires Ferreira Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico Josias Arantes de Faria Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico Karen Milla de Almeida França Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica ( MEC/SESu/DEPEM)

Leandro Assis Santos Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico Liliane Vivas Andrade Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Maria Aparecida Rafael Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Marcilene Aparecida Severino Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmica Marcos Paulo Alves de Jesus Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico Renan Figueiredo Menezes Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico Weiderson Morais Souza Grupo PET Ciências Humanas, Estética e Artes do Curso de Filosofia UFSJ Universidade Federal de São João del Rei Acadêmico RESUMO Visando a evidenciar a relação entre sagrado e linguagem em M. Heidegger, a pesquisa se estrutura desde o levantamento das fontes utilizadas por esse autor. Cada petiano pesquisa diferentes pensadores estudados por Heidegger dentro da discussão sobre o sagrado, tais como Mestre Eckhart, com quem Heidegger mantém diálogo na

segunda fase da sua produção filosófica; Hölderlin, a partir do qual o filósofo visa a compreender a relação entre existência, arte e sagrado (retomando rudimentos do pensamento arcaico); a questão da relação entre vida, jogo e mundo que, para Heidegger, se faz o horizonte de investigação das obras de Heráclito e Nietzsche. INTRODUÇÃO O objetivo geral da pesquisa do grupo é explicitar a relação entre o fenômeno do sagrado e da linguagem dentro do pensamento de Martin Heidegger. A nossa meta é evidenciar a obra de arte como o fenômeno de manifestação do sagrado. Cada integrante da pesquisa trabalhou um tema, que traduziu algumas das fontes utilizadas por Heidegger na elaboração da questão do sagrado e da linguagem tais como a questão do silêncio e da criação em mestre Eckhart, com quem Heidegger mantém diálogo na segunda fase da sua produção filosófica; a questão da gênese do mundo e da tensão entre mortais e imortais, discussão empreendida por Heidegger e oriunda das suas especulações em torno do pensamento antigo e da poesia de Hölderlin; a relação entre existência (vida), arte e jogo que se apresenta quer nas discussões de Heidegger com Nietzsche, quer nas que ele estabelece com Heráclito. DESENVOLVIMENTO Ao analisarmos o fenômeno da criação artística, desde a perspectiva ontológica instaurada pelo pensamento de M. Heidegger, evidenciou se que é no aspecto artesanal da obra que reside a sua essência. Por sua vez, a essência da obra de arte é poesia, que para Heidegger se revela como a expressão mais autêntica do fenômeno da linguagem sendo, assim, impossível dissociar a obra de arte do fenômeno da linguagem. Por poesia Heidegger compreende o fenômeno de eclosão de sentido (enquanto a possibilidade de atribuição de significado para o ser das coisas e dos homens) desde o qual o próprio mundo

se deixa e faz ver. Sentido que, por seu lado, se revela como a própria presença do sagrado entre os homens. Dessa forma podemos compreender o fenômeno da linguagem (ou seja, da poesia) como sendo o nexo que permite articular as noções de arte e de sagrado dentro do pensamento de M. Heidegger. No desenvolvimento dos nosso estudos sobre linguagem, arte e sagrado foi imprescindível a leitura da Origem da Obra de Arte, ensaio publicado pela primeira vez em 1950, originou se de três conferências realizadas no ano de 1936. O objeto principal deste ensaio é a explicitação da origem da arte. Através da análise da noção de obra, Heidegger desconstrói a compreensão que o senso comum, seja ele o senso comum filosófico ou cotidiano, possui do que seja a obra de arte. A análise empreendida por Heidegger neste ensaio realiza uma mudança paradigmática na concepção do que seja o fazer artístico. Fazer que está em sintonia com a realização de um acontecimento que irá determinar uma possibilidade do sentido do ser. Determinação que configura a realização de uma época histórica. No pensamento de Heidegger a compreensão da obra de arte se encontra indissociavelmente ligada à sua concepção de verdade e linguagem. Segundo o pensador, a essência (ou seja, o que uma coisa é e como é) da arte é a poesia. A poesia (que é experienciada no fenômeno do silêncio) é a forma mais radical da linguagem se caracterizando como um dizer projetante. A poesia não é tomada aqui no sentido de um genêro literário entre outros, mas é o dizer instaurador de mundo. Por sua vez, a essência da poesia é apresentada por Heidegger como sendo a própria dinâmica de instauração da verdade compreendida como alethéia. Outra obra de capital importância para o desenvolvimento de nossas atividades foi Ser e tempo, publicado em 1927 nos anais de Investigação Fenomenologica (Jahrbuch für Phänomenologische Forschung) obra capital do pensamento de Martin Heidegger, traça o plano para a recolocação da questão acerca do sentido do ser. Nesta recolocação, o filósofo elege a existência humana como o âmbito privilegiado para a elaboração desta questão, por se mostrar como o espaço da diferença entre ente e ser. Ser e tempo se mostra, como o lugar da elaboração da questão acerca do ser, ao proceder a uma analítica

da existência, onde o homem é apresentado na estrutura básica da sua existência como ser no mundo. Como um ser cujo, modo de ser imediato e cotidiano é o da impessoalidade que se encontra regido pelo falatório, que se move no âmbito da publicidade, da curiosidade e da ambigüidade. Heidegger, ao analisar o modo de ser mais imediato e cotidiano da existência, traz à tona a sua constituição mais própria. Qual seja: a finitude como a própria experiência da temporalidade, que se expressa propriamente no fenômeno do silêncio. Pois bem, na analítica da existência empreendida em Ser e Tempo, o papel da linguagem, em sua íntima relação com a existência humana, assume um papel de extrema importância.para a nossa pesquisa. Ao descrever a estrutura da existência, Heidegger nos faz ver que a nossa circunstância cotidiana se configura como uma trama conjutural de significados. Trama que é liberada pelo mundo, compreendido como um horizonte de significância. Segundo Heidegger, a estrutura básica da existência é ser no mundo; se por mundo, nos é dado compreender o horizonte de significância, temos que o homem é um ser lançado num horizonte de significância. Horizonte, onde o homem se encontra, constantemente, descobrindo se no significado do seu ser. Nesta descoberta é que acontecem as decisões que caracterizam o homem na sua ocupação com as coisas que o circundam. Nessas ocupações, ou no fazer que caracteriza o homem na sua existência, está em jogo uma relação própria com a linguagem, quando este fazer se mostra como uma necessidade radical da existência (o que caracteriza o âmbito do silêncio e da poesia), ou imprópria quando o fazer humano se mantém numa relação superficial com a linguagem (o que caracteriza a instância do falatório). Ser e tempo, é leitura obrigatória para todo aquele que se dispõe a estudar o pensamento de M. Heidegger. É nesta obra, que se encontram os pressupostos de toda a filosofia heideggeriana. CONSIDERAÇÕES FINAIS Através do fichamento dos 35, Falatório, e do 36, Curiosidade, da Obra Ser e Tempo, de 1927, podemos caracterizar o modo mais imediato de a linguagem acontecer. É

através da experiência radical deste modo de acontecimento do discurso cotidiano (falatório) que se abre uma nova compreensão para a experiência originária da linguagem (poesia/silêncio) na qual se dá a experiência do sagrado. Ainda dentro da leitura do 35, O Falatório, e do 36, Curiosidade, obtivemos como resultado a compreensão das noções de autêntico e inautêntico, que dizem respeito aos modos possíveis de o homem estar no mundo. Esses modos se relacionam diretamente com os modos a partir dos quais o homem se encontra na linguagem. O modo inautêntico revela o modo mais imediato de o homem se relacionar com o mundo, essa relação toma corpo no discurso cotidiano chamado por Heidegger de falatório. Por sua vez, o fenômeno do falatório se encontra diretamente relacionado com o da curiosidade, tais fenômenos são aqueles que mantêm a própria dinâmica do desenraizamento, própria do discurso da cotidianidade. O fenômeno da curiosidade é um modo de manifestação do que Heidegger chama de publicidade. A publicidade é a esfera do que é comum a todos; em que tudo é sabido por todo mundo. O sujeito público é aquele que se pauta pelos outros, pelo que os outros dizem e sabem. A publicidade é o fenômeno para o qual convergem tanto o falatório quanto a curiosidade. Pode se perceber em tais fenômenos que somente o outro é quem dá a medida da nossa existência, e em função disso é que essa nossa existência cotidiana é uma existência inautêntica. Por outro lado, o modo autêntico nos revela a maneira mais radical de o homem estar no mundo que se revela na e como poesia. Podemos perceber que, a partir da análise feita do falatório, deste modo imediato de estar no mundo, que a radicalidade da linguagem (representada pelo fenômeno da poesia) pode instaurar se a partir do momento em que levamos às últimas conseqüências o próprio falatório. Isso porque a poesia, enquanto manifestação mais própria da linguagem, encontra se em latência no nosso discurso cotidiano. O movimento em que essa relação entre autêntico e inautêntico se deixa ver, traduz o fenômeno do jogo que assegura o próprio movimento da vida, dandose como modo autêntico ou inautêntico, como pudemos perceber no capítulo VI: A Lida

Cotidiana que compõe a obra Passagem para o Poético: Filosofia e Poesia em Heidegger, do autor Benedito Nunes. Através da leitura e análise do sermão 57º denominado O Silêncio da Criação, de Mestre Eckhart, nos foi dado dimensionar a experiência do silêncio em sua estreita relação com o movimento de criação. Nesse sermão o mestre nos mostra como acontece o fenômeno da geração do Filho de Deus na alma humana. O momento de acontecimento dessa geração é o do meio silêncio. Esse fenômeno (do silêncio) nos remete para o fenômeno da própria criação das criaturas (e de certo modo, para o próprio acontecimento radical da linguagem). Ao se tecer uma análise sobre sermão nº57 do Mestre Eckhart, torna se evidente a relação entre linguagem e o sagrado como momentos essenciais para se compreender o pensamento de Mestre Eckhart e da mística alemã. Outra contribuição para a nossa pesquisa oriunda dos estudos de Mestre Eckhart foi a caracterização da experiência da pobreza de espírito pobreza indispensável para o acontecimento da geração do Filho na alma. A caracterização desse fenômeno nos permite compreender a condição necessária para que se dê o próprio processo de criação. Segundo o Mestre, o homem pobre é caracterizado como aquele que nada quer, nada sabe e nada tem. Em primeiro lugar podemos dizer que o homem pobre que nada quer é aquele que não encontra satisfação nenhuma junto as coisas que Deus criou, de tal modo que a sua vontade nada deseje.em segundo lugar, dizemos que o pobre que nada sabe é aquele que não sabe nem mesmo que está em Deus e da ação dele em sua vida. E por último, dizemos que o homem pobre que nada tem é aquele que é desapegado de tudo, estando totalmente livre de toda as coisas, sejam elas bem materiais ou espirituais. Desse modo, podemos dizer que os bem aventurados são aqueles que soa verdadeiramente pobres de espirito. São pessoas que se anulam a sua própria vontade para fazer apenas e unicamente a santa e sabia vontade de Deus. Porém esse homem é tão pobre que ele sequer pode dar se conta que está fazendo o que Deus quer que ele faça. O mestre nos diz ainda que para ser verdadeiramente pobre ele não pode querer fazer a vontade de Deus, pois sendo o homem um ser criado ele nada é pois tudo

lhe foi dado de empréstimo por Deus, até mesmo o seu próprio ser. Sendo assim homem não se apropria de coisas alguma, pois ele é nada sem Deus. Se o homem é assim esse nada então ele não pode ter uma vontade, ou melhor ele necessita de estar vazio de toda vontade, assim como ele se encontrava quando ainda não era, ou seja quando ele ainda estava em sua primeira causa.pois aí não existia diferença entre Deus e o homem, ambos eram um só, posto que o homem não tinha ainda recebido uma determinação, estando ele abandonado em Deus como pura possibilidade de Ser. A partir da análise dos fenômenos da Alethéia e Lethé, feita pela leitura das obras Mestres da verdade na Grécia arcaica, de Marcel Detienne, Teogonia, de Hesíodo, pudemos compreender que eles trazem à tona experiências próprias do aedo (poeta cantor do período da Grécia arcaica), pois estão intimamente ligados à memória sagrada da qual o aedo é o porta voz, isto é, a Alethéia é o fenômeno que possibilita ao poeta cantor ou aedo trazer à luz o Ser das coisas, através do tempo circular que conserva todas as coisas sempre vivas. Tem se também o fenômeno do esquecimento, ou melhor, Lethé, fenômeno esse que, contrário à Alethéia, joga o Ser originário que está sempre presente nas coisas nas sombras do esquecimento próprio do cotidiano. Sendo assim, os fenômenos de alethéia e lethé possibilitam e asseguram a própria estrutura de constituição do mundo. Os resultados obtidos através da leitura e análise analise do texto Fragmento 50, de Heráclito e Alethéia, in: Ensaios e conferências, de Martin Heidegger, foram: Uma primeira aproximação do termo Logos, que em Heráclito significa, basicamente, o princípio a partir do qual a realidade se dá isto é: a realidade se dá de um modo sempre contínuo, num fluxo que alterna o ser e o não ser. Outros resultados foram o reconhecimento da dinâmica do jogo em Heráclito, este como a alternância entre o ser e não ser, possibilitando e gerando a tensão na qual reconhecemos os limites que permitem a visualização do ser (limite) das coisas como tais. Heidegger nos diz no segundo parágrafo de uma conferência por ele pronunciada aos 7 de outubro de 1950, em Buhlerhohe, sob o título de "A Linguagem", que o fenômeno da

linguagem é o que há de mais próximo da razão humana, e, que o homem ao tomar consciência daquilo que está a sua volta, se depara frente a frente com a própria linguagem", tomando para si, o que esta mesma linguagem traz em seu dizer o que, por sua vez, permite ao homem recolher se no acontecimento apropriador do que está diante de si como coisa presente. Assim como no pensamento de Heráclito, o lógos é o raio que guia o discurso do que está exposto para nós em sua multiplicidade. O termo linguagem em Heidegger, é também como que uma palavra direcionadora, a qual traz à fala o próprio ser dos entes, isto é, o mundo em sua multiplicidade se nos dá como presença. Assim, a linguagem em Heidegger, ou o lógos no pensamento de Heráclito, enquanto o recolhimento daquilo que nos está presentificado, é tal como a ordem que rege o próprio mundo em seu todo. Logo, podemos dizer que tanto em Heidegger, como em Heráclito, a compreensão na qual o homem se vê desde sempre lançado, se compara a própria ordem desde a qual o mundo se dá e se deixa reger, e que, por sua vez, constitui o próprio discurso onde se dá a reunião ou, a unificação de tudo o que está presentificado diante de nós. Portanto, é na medida do próprio lógos que tudo ganha o seu ser, e é nele que se opera e, se torna compreensível o próprio discurso em que se dispõe toda a multiplicidade dos seres, sob a qual o mundo, como um todo, existe e vem a acontecer. A partir da leitura da introdução e das partes III, IV, V e VII da obra Assim falava Zaratrusta: um livro para todos e para ninguém nos foi dado compreender o fenômeno do jogo (de mando e obediência) apresentado pelo pensamento de Nietzsche como a dinâmica de criação mantenedora da vida (existência). Jogo cuja expressão mais genuína se plasma na obra de arte. Dentro da discussão desse tema busca se evidenciar como o pensamento de Nietzsche possibilita Heidegger (que se mostrou, ao longo da sua vida, um leitor e estudioso assíduo da obra de Nietzsche) dimensionar a questão da existência a partir da própria noção de jogo e de arte. O pensamento nietzscheano sempre vai priorizar a vida e tudo o que permita sua fluência. Assim temos o personagem Zaratustra como porta voz de Nietzsche e também

porta voz da própria vida. Sobre a vida podemos dizer que, entre todos os valores, ela é o maior, o mais importante, pois é a partir dela que todos os outros vão se pautar. Ela se liga diretamente à moral porque, para Nietzsche, a moral não é mais do que uma forma de bem viver, seja consigo, seja com o outro. A vida também não pode reduzir se a conceitos, isto é, ela não pode ser racionalizada, encerrada em medidas. Isso porque, quando racionalizamos algo, tentamos reduzi lo à nossa parca verdade sobre as coisas, tentamos limitar a vida para poder compreendê la desde essa nossa limitação. A vida também é um constante processo de superação de si mesma. Ela, como a criança, precisa ter liberdade para continuamente recriar se. Por conseguinte, a vida não se mantém estática, manifestando se de um mesmo modo sendo regulada por uma moral já institucionalizada, mas ela é um processo constante de auto superação. E mail: petufsj@yahoo.com.br Tel.: (32) 3379 2486